Luciano Takaki | 2021
RAZÕES DO PRESENTE ARTIGO
Bons apologistas cristãos nunca faltaram. Depois dos apóstolos que Cristo escolheu diretamente, tivemos os Padres da Igreja e outros autores da Patrologia Grega e Latina que não necessariamente eram padres (casos do Tertuliano e São Justino Mártir) que dedicaram sua vida a defender a fé da Igreja do Nosso Senhor Jesus Cristo, que é a Igreja Católica Romana. Esses bravos defensores da fé existiram até os dias atuais, como vemos nos padres que se opõem à religião humanista do Concílio Vaticano II, a grande tragédia do século XX.
Durante a história também tivemos falsos defensores da fé cristã, pois esses falsos cristãos atribuíram a si o título de cristãos, mas não de católicos. Isso vem desde Lutero e assim se segue até os dias hoje, onde até os heréticos da religião conciliar que se acham católicos chamam esses falsos cristãos de cristãos não-católicos, um eufemismo para hereges ou cismáticos, contrariando o Syllabus publicado por Sua Santidade Pio IX, cujo 18º erro proscrito diz: “[o] protestantismo não é senão outra forma da verdadeira religião cristã, na qual se pode agradar a Deus do mesmo modo que na Igreja Católica”. Assim sendo, o protestantismo nada tem a nos oferecer e nem os protestantes, em assuntos sobre religião, tem nada a nos ensinar. Um protestante professor de química pode ensinar química a um católico ignorante em química, mas jamais um pastor protestante, por mais douto que seja e mesmo que saiba de cor toda a Sagrada Escritura, pode ter algo a ensinar a um católico mesmo que seja inculto e analfabeto com uma catequese básica. Nós, católicos, não podemos em absolutamente nenhuma hipótese beber de fontes protestantes, que são tóxicas e venenosas.
Com a onda de intelectualismo popularizado por gurus da neodireita brasileira, virou moda autoproclamados católicos lerem de tudo, lerem os “clássicos”. Veja o caro leitor como surgiram muitas livrarias virtuais por entre esses ditos católicos que vendem tais bebidas venenosas. Neodireita que exalta protestantes e judeus sionistas, maçons como José Bonifácio e Joaquim Nabuco, assim como os Estados Unidos, essa nação que promove todo tipo de perversidade. Assim, não seria surpresa nenhuma que os mesmos da neodireita, sob o pretexto de combater a esquerda e/ou comunismo, recomendem todo tipo de hereges e infiéis que supostamente se opõem a essa ideologia política, mas veremos aqui que isso é uma mentira deslavada, pois a exposição mostrará que o autor que denunciarei não é tão opositor da esquerda. Isso mostra como os direitistas são um lado da mesma moeda revolucionária.
A PESSOA DO C.S. LEWIS E O CONTEXTO DO LIVRO CRISTIANISMO PURO E SIMPLES
Agora vejamos quem é Clive Staples Lewis. Lewis nasceu em Belfast, Irlanda do Norte, terra conhecidíssima pelo domínio protestante, em 29 de novembro de 1898. Todavia, Lewis nem sempre foi protestante, pois por muito tempo foi ateu e deixou de ser em 1929. Lewis foi amigo do católico J.R.R. Tolkien e, numa discussão de boteco com o mesmo, se convenceu do erro e insensatez do ateísmo. Lewis, enfim, se converteu, mas infelizmente não abraçou a mesma fé do seu amigo também escritor, muito provavelmente por, como se verá, pusilanimidade, que é uma espécie de orgulho disfarçado. Podemos dizer que Lewis quis agradar o mundo, ainda que esse mundo envolva as pessoas que se dizem cristãs. Ademais, ele escreveu muito e foi, de certa forma, útil para tirar os incrédulos da impiedade do ateísmo, mas para desviar para a impiedade do protestantismo e, pior, confirmar os mesmos no erro. Lewis, infelizmente, morreu aparentemente obstinado na sua heresia em 22 de novembro de 1963, uma semana antes do seu aniversário de 65 anos. Que Deus tenha misericórdia de sua alma (há relatos de que ele teria se convertido no fim de sua vida, mas não encontramos nenhuma retratação dele, nenhum bilhete renunciando à heresia, nada documentando. Logo, esse rumor é muito improvável, infelizmente).
Nesse breve escrito, justamente em razão da sua intencional brevidade, utilizarei somente um livro para analisar o seu pensamento. Tenho outros, mas a minha intenção é escrever um artigo e não um livro de estudo. Utilizarei o livro Cristianismo Puro e Simples (original em inglês Mere Christianity), publicado pela Editora WMF Martins Fontes, edição de 2014. Esse livro foi originalmente publicado em 1952 e é baseado num compilado de três conferências dadas por Lewis durante a Segunda Guerra Mundial a pedido do anglicano James Welch, que ficou admirado com livro The Problem of Pain (mal traduzido por O Problema do Mal). Welch era diretor dos assuntos religiosos da BBC e foi para a BBC que Lewis proferiu tais conferências e sabemos que a BBC, como boa emissora liberal e Lewis, também sendo liberal, provavelmente gostou do resultado e veremos que o resultado é um livro que se diz de apologética cristã, mas que está mais para um livro de apologética maçônica.
COMENTANDO PREFÁCIO DO LIVRO
Não direi que Lewis era maçom porque isso não me interessa e não importa para a análise do livro, mas é fato sim que Lewis escreve como um maçom. A decorrência disso se deve provavelmente por ser anglicano e a Igreja Anglicana possui estreitíssima relação com a maçonaria. Podemos ver o espírito anglo-maçônico quando Lewis escreve o seguinte:
O leitor deve saber desde já que não oferecerei a ninguém que esteja hesitante entre duas denominações cristãs [sic]. Não sou eu [Lewis] que vou lhe dizer se você deve seguir a Igreja Anglicana, a Católica Romana, a Metodista ou a Presbiteriana. Esta omissão é intencional […]. […] [N]ão busco converter ninguém à minha posição. [!] […] [A]s questões que dividem os cristãos entre si quase sempre envolvem pontos da alta teologia ou mesmo de história eclesiástica, que devem ser tratados apenas pelos verdadeiros conhecedores da matéria (pp. X-XI).
Sabemos que Lewis era herético, mas o pensamento liberal maçônico anglicano fica explícito aqui. Lewis, que se dizia cristão, não se mostra nem um pouco convencido da sua própria posição. Quem adere a essa opinião ímpia deve entender que, para nós, verdadeiros cristãos, o que causa essa divisão não são questões disputadas da “alta teologia” (sabe Deus o que ele quis dizer com isso) ou história eclesiástica, mas sim a soberba dos cismáticos (como foi Henrique VIII) e hereges (como Lutero, Calvino e outros). Agora, se um autêntico católico – não alguém que segue a falsa religião instituída pelo Vaticano II, muito semelhante à religião do autor comentado – resolvesse escrever um livro com as mesmas propostas do que parece pretender o título do Lewis, deverá fazer de tudo para converter o leitor do livro. Veja bem o que Lewis escreve: não busco converter ninguém à minha posição. Considerei chocante tal afirmação, pois para o autor qualquer posição que se diga cristã pode levar à salvação. Mas isso estaria correto?
Lewis era anglicano e a Igreja Anglicana surgiu com um simples cisma do Henrique VIII, que ainda não era necessariamente herético, mas simplesmente cismático, pois tal cisma se deveu mais na parte disciplinar pois a intenção não era o divórcio em si, condenado pela Igreja Católica, mas a nulidade matrimonial que a Santa Sé não quis reconhecer. Depois da morte do Henrique VIII, a seita passou a se tornar de fato herética com a influência do bispo apóstata Thomas Cranmer com a negação de diversos dogmas, como a transubstanciação e a Presença Real do Nosso Senhor Jesus Cristo na Eucaristia, para citar dois exemplos. Mas voltemos ao cisma de Henrique VIII: o seu cisma se deveu à negação do reconhecimento da nulidade matrimonial. Henrique VIII rejeitou ouvir o Papa e passou a crer que se deveria haver uma Igreja nacional não mais se submetendo ao Papa (o que hoje é uma heresia). Lembremo-nos o que Cristo disse: “Quem vos ouve, a mim ouve; e quem vos rejeita, a mim rejeita; e quem me rejeita, rejeita aquele que me enviou” (Lc 10, 16). Podemos nos perguntar: os anglicanos estariam no caminho da salvação visto que o fundador da seita não se submeteu a um legítimo sucessor dos apóstolos? Ora, Henrique VIII não ouviu um sucessor dos apóstolos e assim não ouviu a Cristo e assim também não ouviu à Santíssima Trindade. Ao aderir à Igreja Anglicana, Lewis aderiu a uma rebelião contra Deus e crê que isso não faria nenhuma diferença. O mesmo podemos dizer das outras seitas citadas que decorrem da mesma rebelião contra um sucessor dos apóstolos: o Romano Pontífice. “Quem vos ouve, a mim ouve”. Ó Lewis, tu, ao rejeitar o que o Romano Pontífice ensina estando numa seita herética e cismática, não estaria rejeitando o que Cristo ensina na passagem mencionada? Logo no começo, Lewis rejeitou o que Cristo ensinou por mero respeito humano.
Lewis ainda dirá que se omitiu sobre a Virgem Maria porque seria penetrar em “regiões altamente controvertidas” porque “[é] muito difícil discordar do católico sem, ao mesmo tempo, não parecer a seus olhos um mal criado ou mesmo um herege” (p. XIII). Ora, quem discorda dos católicos sobre a devoção à Santíssima Virgem é herege sim. Ademais, não cabe aqui discorrer sobre isso. Teólogos escreveram milhares de páginas explicando a veneração à Maria e refutando as objeções dos hereges, dentre os quais incluo o Lewis. Ao menos ele acerta ao dizer que “é difícil discordar do protestante [sobre o desprezo deles sobre veneração mariana] sem parecer a seus olhos algo pior do que um herege – um pagão” (loc.cit.). Talvez com medo que parecer um pagão diante dos hereges, preferiu se juntar a eles.
É evidente que o pior erro do livro é esse, mas o que vem depois piora o que escreve. Depois, ainda no prefácio, ele faz várias omissões que podem resultar em consequências graves. Um exemplo é que, num assunto que hoje é muito caro a nós, católicos, Lewis escreve:
[…] [N]ão me pronunciei a respeito do controle de natalidade, pois não sou mulher, não sou nem mesmo um homem casado [Lewis mais tarde se casaria, com Helen Joy Davidman, uma mulher divorciada], nem sou sacerdote. Não caberia a mim emitir sobre as dores, os perigos e o preço daquilo de que estou protegido. Não exerço nenhuma atividade pastoral que me obrigue a isso (pp. XVI-XVII). [grifos meus]
Essa declaração expressa como ele não se opõe à agenda esquerdista. Ao se silenciar (ou prevaricar?), enquanto (supostamente) apologista cristão, sobre esse assunto, ele promove. Lewis, ainda que um herege e cismático, era muito influente e conhecido e poderia, materialmente, cooperar com algo bom. Lewis poderia fazer grande bem à humanidade se opondo contra o controle de natalidade num livro tão conhecido, mas preferiu se silenciar. . Aqui encaixo as palavras de São Tiago: “Aquele que souber fazer o bem, e não o faz, peca” (Tg IV, 17). Como pretexto, Lewis usou o fato de ser homem e julgou injusto expor uma posição sobre o assunto por estar na condição de protegido de males que mulheres padecem com a gravidez e o parto.
Ora, como somos católicos, temos uma autoridade que nos guie sobre esses assuntos. Homem sim e, portanto, “protegido” do preço que se paga por ser mãe. Mas esse homem é aquele que cuja pena escreve o que Cristo ensina quando exerce o seu Magistério. Assim sendo, se a Igreja Católica condena o controle de natalidade (até mesmo dentro do contexto da Religião Conciliar como se lê em Humanae Vitae de Paulo VI, apesar de não ser com a mesma firmeza e ter pontos problemáticos que não tratarei aqui, e esse documento custou uma oposição feroz mesmo de muitos prelados mais modernistas que o próprio Paulo VI, uma vez que a seita modernista é uma verdadeira Babel onde quase ninguém se entende), nós, católicos, devemos reprovar juntamente com ela como uma abominação.
COMENTANDO O LIVRO EM SI
O começo do livro não há heresias em si, mas vemos problemas filosóficos. Lewis mostra uma oposição feroz ao método escolástico. Quando Lewis comenta sobre como podemos conhecer a Deus, mostra a sua deliberada objeção ao tomismo:
[A Lei Moral] é uma prova melhor do que a primeira [a partir do universo]. Descobrimos mais coisas a respeito de Deus a partir da Lei Moral do que a partir do universo em geral, da mesma forma que sabemos mais a respeito de um quando conversamos, com ele do que quando examinamos a casa que ele construiu. Partindo desse segundo vestígio, concluímos que o Ser por trás do universo está muitíssimo interessado na conduta correta […]. (p. 40)
Aqui vemos uma oposição ao tomismo evidente. Para Santo Tomás, Deus não é evidente em si mesmo e que só pode ser conhecido pelo raciocínio quia, dos efeitos para a causa (S.Th. I, q. 2, a. 2, corpus.), e essa opinião contradiz a própria afirmação do Apóstolo: “Porquanto o que se pode conhecer de Deus eles o lêem em si mesmos, pois Deus lho revelou com evidência. Desde a criação do mundo, as perfeições invisíveis de Deus, o seu sempiterno poder e divindade, se tornam visíveis à inteligência, por suas obras; de modo que não se podem escusar” (Rm I, 19s) [grifos meus]. Santo Tomás escreve:
A natureza, operando para um fim determinado, sob a direção de um agente superior, é necessário que as coisas feitas por ela ainda se reduzam a Deus, como à causa primeira. E, semelhantemente, as coisas propositadamente feitas devem-se reduzir a alguma causa mais alta, que não a razão e a vontade humanas, mutáveis e defectíveis; é, logo, necessário que todas as coisas móveis e suscetíveis de defeito se reduzam a algum primeiro princípio imóvel e por si necessário, como se demonstrou (S.Th. I, q. 2, a. 3, ad. 2).
A criação (universo) é o que nos dá as evidências que nos leva ao conhecimento de Deus. A Lei Moral é um conhecimento interno, Lewis entende a Lei Moral como uma base da consciência no livro II, assim o argumento lembra muito o mal chamado “argumento ontológico”. Assim, o argumento de Lewis é mais subjetivista do que muitos querem fazer parecer. Veja que em última instância parte do sujeito para Deus, como se todo conhecimento de Deus dependesse unicamente de nós.
Acima disse que Lewis escreve como maçom e, de fato, assim o faz. Lewis não disfarça, no seu jeito liberal de escrever e usando o seu talento de literato para produzir textos mais deleitáveis, o estilo maçônico. Se Lewis não era maçom, provavelmente admira. Vejamos o que ele escreve depois do texto antitomista:
Um território ocupado pelo inimigo – assim é este mundo. O cristianismo é a história de como o rei por direito desembarcou disfarçado em sua terra e nos chama a tomar parte numa grande campanha de sabotagem. Quando você vai à igreja, na verdade vai receber os códigos secretos mandados pelos nossos amigos: não é por outro motivo que o inimigo fica tão ansioso para nos impedir de frequentá-la (pp. 60s).
Esse trecho mostra bem o pensamento maçônico. Temos aí não apenas uma linguagem maçônica (e blasfema), mas também com símbolos maçônicos. Veja que para Lewis, recebemos “códigos secretos” na igreja, não o ensinamento da verdade revelada por Deus para a salvação dos homens. Não recebemos “códigos secretos” na Igreja (repare o leitor o “I” maiúsculo), mas a revelação que Deus ordenou nos ensinar: “ide e ensinai”, “o que digo às escuras, proclamai sobre os telhados” etc. Não tem nada de secreto. Numa carta, um brâmane, admirado com os milagres do São Francisco Xavier, pediu para que os ensinasse a realizar os prodígios que não contaria a ninguém. Francisco se recusou a ensinar se o mesmo não ensinasse a todos.
Chama a atenção é dizer que os inimigos não querem que as pessoas recebam esses “códigos secretos”. A comparação é análoga à inimizade entre Igreja Católica e a maçonaria. A Igreja não quer que as pessoas vão às lojas maçônicas “receber códigos secretos” e isso depois comparar Cristo, de forma blasfema, de um rei por direito que organiza um plano de sabotagem. Ora, não é o que a maçonaria faz: organizar uma conspiração contra a Igreja e, hoje, a sabotando?
Não quero aqui me estender demais sobre um autor só. Pretendo, se Deus me permitir, me aprofundar e desdobrar mais a crítica e comentar mais obras em outro escrito futuro. Além de ensino superficial e errado sobre as virtudes teologais, não abordarei sobre isso pois creio que o que expus basta para rejeitar a sua obra má. Mas aprofundarei aqui o que achei mais grave. Vejamos o que ele escreve sobre a paixão:
A principal crença cristã [sic] é que a morte de Cristo de algum modo acertou nossas contas com Deus e nos deu a possibilidade de começar de novo. As teorias sobre como isso ocorreu são outro assunto. […] As teorias a respeito da morte de Cristo não são o cristianismo: são explicações de como funciona. Os cristãos não precisam todos concordar com a importância delas. Minha própria igreja, a Anglicana, não propõe nenhuma delas como a única teoria correta. A Igreja Romana [sic] vai um pouco mais longe. […] Elas provavelmente admitiriam que nenhuma explicação é perfeitamente adequada à realidade (p. 72s). [grifo meu]
E continua: “A meu ver, todas as teorias que construímos para explicar como a morte de Cristo operou tudo isso são perfeitamente dispensáveis: meros esquemas ou diagramas que podem ser deixados de lado quando não nos ajudam e que, quando são úteis, não devem ser tomados pela própria realidade” (p. 74s) [grifo meu].
O que se lê nas citações é muito grave, pois Lewis trata os elementos presentes da Paixão como algo opinativo e os despreza como supérfluo, enquanto nós, católicos, usamos para meditar e rezar, especialmente durante o Rosário. As circunstâncias e outros elementos são importantes para os católicos em muitos aspectos. Como criarmos dores pelos nossos pecados sem meditar na Paixão e sem usar a imaginação para compor o que aconteceu? É próprio do católico meditar essas coisas. Porém, se crermos que a divindade saiu do corpo de Cristo depois da morte, seríamos hereges. O que há de tão importante em crer nisso? Simples: a ressurreição de Cristo se deu por virtude própria ao contrário das outras três ressurreições relatadas no Evangelho, que se deu por intervenção do mesmo. Para que isso se desse, foi necessário que a divindade estivesse unida ao corpo e também a alma. O fato da divindade estar no corpo de Cristo é também essencial para nossa devoção porque assim o próprio corpo de Cristo crucificado pode ser adorado, coisa que os hereges repugnam.
Ademais, existem muitas coisas que o que para nós, católicos, chamamos de dogmas, hereges como Lewis chama de “teorias”. Esses trechos mostram o desprezo que Lewis tinha por dogmas católicos ou mesmo métodos católicos de meditação. E isso se extende ao pensamento moral e social.
Mais adiante, Lewis disse que, pelo zelo do cuidado para com os pobres e repugnância a avareza, usura etc, a sociedade autenticamente cristã seria “de esquerda” sem mencionar “direita” em nenhum momento, apesar de mencionar o zelo pela ordem e submissão à autoridade (p. 111). Lewis em nenhum momento defende um estado cristão, muito pelo contrário, o tempo rejeitar a ideia como algo que não devemos defender porque seria injusto impor a moral cristã e usa de exemplos como “cristãos não iriam gostar de maometanos impondo proibição de bebidas”. Ora, se o cristão morasse num país islâmico que proíba a bebida, a ordem seria obedecida docilmente (exceto o padre, para rezar a Santa Missa, pois o vinho é necessário por ser uma das matérias da Eucaristia). O que não seria obedecido é se obrigasse a pregar um Deus não trinitário. Pregar isso, ainda que apenas da boca para fora, seria apostasia. Ademais, como a Religião Católica é a verdadeira, é ela que deve ser guia do estado, a base das leis e mesmo é a ela que o estado deve se submeter.
A teoria (teologia é nenhuma) moral de Lewis é uma tragédia. Lewis, como bom protestante do século XX, tem o modernismo como um hábito conatural e escreve:
[…] [E]nquanto a regra da castidade é a mesma para todos os cristãos em todas as épocas, a regra do pudor muda. Uma moça das ilhas do Pacífico, praticamente nua, e uma dama vitoriana completamente coberta, podem ambas ser igualmente “modestas”, pudicas e decentes de acordo com o padrão da sociedade em que vivem. Ambas, pelo que suas roupas nos dizem, podem ser igualmente castas (ou igualmente devassas) (p. 124s).
Essa passagem é iníqua. Lewis ignora que mesmo os habitantes de locais onde se anda completamente nu passaram a vestir modestamente a partir do momento em que se convertiam. Isso mesmo entre protestantes de antigamente! Convém lembrar que a moralidade cristã é a verdadeira e mesmo os hereges protestantes estão mais próximos da verdadeira moral que o paganismo da moça das ilhas do Pacífico. Ademais, é impossível ter castidade sem pudor e nas tribos primitivas em que se andam assim não devem guardar bem a castidade. Mas o pior é quando Lewis, que se casou com uma mulher divorciada depois de escrever o livro, trata sobre o matrimônio. A certa altura ele escreve:
Um grande número de pessoas parece pensar que, se você é cristão, deve tentar tornar o divórcio difícil todo mundo. Eu não penso assim. Pelo menos creio ficaria bastante zangado se os muçulmanos tentassem proibir que o restante da população tomasse vinho. Minha opinião é que as Igrejas devem reconhecer que francamente que a que a maioria dos britânicos não [é cristã], e, portanto, não se deve esperar que leve cristã. Deve haver dois tipos de casamentos: um governado pelo Estado, com regras aplicáveis a todos os cidadãos, e outro governado pela Igreja, com regras que ela mesma aplica a seus membros (p. 148).
Aqui é um efeito da rejeição do Reinado Social de Nosso Senhor Jesus Cristo. Dificultar o divórcio é um bem porque dificulta um mal. O ideal para uma sociedade autenticamente cristã é na verdade é proibir o divórcio e não somente dificultar dado os efeitos devastadores que já são evidentes e demonstrados: liberalização sexual, famílias destruídas e baixa natalidade. Veja, leitor, que o mesmo Lewis quis deliberadamente se silenciar sobre o controle de natalidade e aqui não quis defender as restrições ao divórcio. Apenas reprova subjetivamente.
Essa passagem mostra o liberalismo de Lewis, que é moral e doutrinal. Lewis é inclusive admirado por pensadores liberais e libertários e muitos católicos (liberais) recomendam sem entender o problema. Lewis é o tipo de autor que, em outros tempos, seria condenado.
CONCLUSÃO
Aqui expus comentários ao seu livro mais famoso, que é o seu principal na sua apologética “cristã”. Não me interessa avaliar os seus livros ficcionais. Lewis é um autor pernicioso, iníquo e venenoso. O seu livro Cristianismo Puro e Simples poderia ser útil para um ateu deixar de ser ateu (apesar do seu argumento horroroso e antitomista contra o ateísmo), mas não para tornar alguém católico a não ser acidentalmente. Lewis é tão liberal, mas tão liberal que chega ao cúmulo de igualar a própria religião com as seitas e a Religião Católica. Se fosse possível algo análogo ao Concílio Vaticano II no protestantismo, certamente ele seria para os protestantes o que Karl Rahner foi para os católicos.
Lewis, ao tratar da virtude teologal da esperança, escreve ainda que “[f]oi quando os cristãos deixaram de pensar no outro mundo que se tornaram tão incompetentes nesse aqui” (p. 179). Essa afirmação é ou ingênua ou cínica. Quando um herege diz “cristãos” inclui-se católicos e membros de seitas. Os “cristãos” deixaram de pensar no outro mundo por causa do humanismo, que, ainda que tenha começado em seio católico, começou com pessoas que se desviaram do ensinamento católico a ponto de fazer surgir o protestantismo. Isso ele diz depois de elogiar os protestantes de acabar com a escravidão, o que constitui uma falsificação histórica escandalosa. Ademais: heresias, linguagem liberal maçônica, relativismo moral, antitomismo, falsificação histórica… tudo isso encontramos em Lewis. Para que perdermos tempos com um autor tão cheio de erros se temos vários livros de apologética e espiritualidade católica, autores santos ou mesmo o tesouro dos documentos magisteriais? Rejeitem os autores heréticos, fiquemos somente com o que é nosso.
Obrigado por nos alertar sobre um escritor herege e que é recomendado por modernistas da seita conciliar.
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Até onde a lei da oferta e da demanda é real? Teria a Igreja alguma preferencia na visão econômica? Onde posso achar a Doutrina Social da Igreja ( Só achei a do Jao Paulo II)?
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É pecado ler livros que estiveram no índex? Gosto de literatura antiga e no meio das leituras me deparo com umas coisas mais picantes.
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Na dúvida, eu não leio, uma vez que nenhum papa o aboliu.
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