COMO A HERANÇA DE WEISHAUPT, FREUD E BERNAYS CORROMPE O MUNDO
Em 2019, um especial de Natal do grupo de blasfemadores Porta dos Fundos despertou a ira dos católicos e mesmo protestantes. Lançaram várias campanhas de boicote e, de fato, muitos o fizeram. Mas não demorou para muitos retornarem com suas assinaturas e, no fundo, a maioria nem liga muito. A maioria não aguentou ficar muito tempo sem os seriados e filmes. A Netflix conseguiu prender os seus clientes de tal forma que a maioria sem saber colocou o sentido de suas vidas no seu catálogo. Isso se prova em como muitos, até mesmo católicos tradicionais que sabem de toda essa podridão não cancelam a assinatura sob a alegação da necessidade de um passatempo lúdico para a alma.
Mas como a Netflix conseguiu essa proeza de manipulação? A resposta simples para essa questão está na pessoa do seu cofundador Marc Bernays Randolph, sobrinho-neto de Edward Bernays, pai da publicidade moderna e sobrinho de Sigmund Freud. Marc Randolph aprendeu muito com o trabalho de seu tio e aplicou na sua empresa. Os administradores da empresa também, tanto que mesmo após a saída de Randolph, a empresa ganhou projeção e cresceu muito. A técnica de Bernays quase que faz certas empresas ganharem vida própria.
Para entender como isso se deu, precisamos remontar à época em que o iluminismo ganhou força na Europa no século XVIII. Mais precisamente com Adam Weishaupt.
COMO A HERANÇA DE FREUD E BERNAYS CORROMPE O MUNDO
Antes da Revolução, o Ocidente já estava em boa parte dominado pela peste das sociedades secretas, especialmente as seitas maçônicas. Uma dessas sociedades foi a Ordem Illuminati, ou a dos Iluminados, fundada por Adam Weishaupt.
Weishaupt era um conspirador ambicioso. Louis Blanc dizia que ele era “o mais profundo conspirador que jamais surgiu” e era mais conhecido na sua seita pelo apelido de Spartacus (apud MONSENHOR HENRI DELASSUS; A Conjuração Anticristã, Castela, 2016, p. 97). Ele era professor de Direito na Universidade de Ingolstadt e decidiu, após algumas experiências frustradas, fundar sua própria sociedade secreta, que é a dos Iluminados. Weishaupt dizia que não poderia “empregar os homens tais como eles são: é preciso que eu os forme; é preciso que cada classe de minhas ordens seja uma escola de provas para a prova seguinte” (apud A Conjuração Anticristã, p. 98). Louis Blanc, citado por Monsenhor Delassus, descreve assim os planos de Weishaupt:
Submeter, unicamente através do mistério, o único poderio da associação, a uma mesma vontade e animar com um mesmo sopro milhares de homens em cada região do mundo, mas inicialmente na Alemanha e na França; fazer desses homens, por intermédio de uma educação lenta e gradual, seres inteiramente novos; torná-los obedientes até ao delírio, até à morte, a chefes invisíveis e ignorados; com semelhante legião avaliar secretamente os corações, envolver os soberanos, dirigir à sua vontade os governos e levar a Europa a tal ponto que toda superstição (leia-se toda religião) fosse apagada, toda monarquia abatida, todo privilégio de nascimento declarado injusto, o próprio direito de propriedade abolido: tal foi o plano gigantesco do Iluminismo (apud A Conjuração Anticristã, pp. 103s).
Mas como Adam Weishaupt conseguiu isso? Talvez a resposta para essa incrível capacidade de manipulação esteja no fato de a Universidade de Ingolstadt estar na época na administração da Companhia de Jesus até antes de Adam Weishaupt entrar lá. Alguém poderia me perguntar se isso culpa os jesuítas, mas a resposta é não. Antes é necessário dar algumas explicações: o Papa Clemente XIV foi obrigado a suprimir a Companhia de Jesus “diante da pressão violenta das cortes bourbônicas … para a pacificação dos ânimos … Cessada a borrasca, Pio VII houve por bem restaurá-la” (Pe. LEONEL FRANCA; A Igreja, a Reforma e a Civilização, Editora Centro Dom Bosco, 2020, p. 207). Aqui é bom deixar claro que o Santo Padre Clemente XIV, de feliz memória, não tinha escolha, pois tanto a supressão ou a não supressão traria consequências trágicas. Não estamos no Céu, qualquer ato nosso pode trazer efeitos bons por um lado e maus por outro, assim, não podemos de forma alguma culpar o Papa.
A influência de Weishaupt atingirá diversos pensadores como Sigmund Freud, que manipulará as pessoas individualmente e depois o seu sobrinho Edward Bernays, que criará um programa de manipulação coletiva. Isso é continuado na cultura do consumo e na Revolução Sexual pensada pelos pensadores da Escola de Frankfurt, que não tratarei aqui. Hoje o grande herdeiro disso é o sobrinho-neto de Edward Bernays: Marc Bernays Randolph, cofundador da Netflix.
Netflix reflete bem as consequências das ideias de Weishaupt, Freud e Bernays: uma multidão de pessoas viciadas, afetivamente apegadas a seriados cheios de ode e incentivos ao pecado. O homem com vícios é exaltado e os mais ascéticos caçoados e vistos como infelizes, ingênuos, idiotas ou mesmo imorais. Para Freud é terrível que um homem reprima suas paixões e Bernays seguirá a isso. Eles são os herdeiros dessa visão de que podemos controlar o homem por meio de suas paixões. Mas isso é impossível se o homem for convertido e encorajar e incentivar a apostasia será necessária. A Igreja, por fim, deve ser combatida para esse fim.
O MUNDO COMO ARMA
Antes de expor os manipuladores, gostaria de expor também brevemente o que é o mundo porque é essencial para entender o que será exposto aqui. A alma humana tem, como bem sabemos, três inimigos: a carne, o demônio e o mundo. Frequentemente atuam juntos. A carne é o mais perigoso de todos, mas o mundo com o passar do tempo tem ganhado cada vez mais força.
Mas o que seria o mundo? O Padre Adolphe Tanquerey conceitua o mundo como “o conjunto daqueles que se opõem a Jesus Cristo e são escravos da tríplice concupiscência” (Compêndio de Teologia Ascética e Mística, n. 210). Essa tríplice concupiscência é a que São João lista na sua primeira epístola: concupiscência da carne, concupiscência dos olhos e a soberba da vida (1Jo 2, 16). Frei Royo Marín, sem diferir em praticamente nada do Padre Tanquerey, dá ao mundo o seguinte conceito, reconhecendo ser impossível dar uma definição cabal a ele devido a sua complexidade: “[O mundo é] em última análise, o ambiente anticristão que se respira entre as multidões que vivem totalmente esquecidas de Deus e entregues por completo às coisas da terra” (Teología de la Perfección Cristiana, n. 208). Mais abaixo, veremos como os manipuladores o utilizam. A nota comum em todos eles é o ódio explícito à Religião Católica, que é a verdadeira, pois ela nos ensina o combate. Assim, apenas tendo a verdadeira fé e as virtudes que poderemos ter a autêntica resistência a esse sistema iníquo.
A DOUTRINA DE ADAM WEISHAUPT
Foi dito acima que Adam Weishaupt tinha a intenção de formar os seus próprios membros buscando uma unidade de pensar. Quando os jesuítas deixaram na Universidade de Ingolstadt exemplares do Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola e Adam Weishaupt se aproveitou desse livro, que tantas almas santificou (basta ver santos do calibre do Pedro Fabro, Francisco Xavier, José de Anchieta, Pedro Canísio, Luís Gonzaga, Roberto Belarmino etc), para elaborar sua técnica de manipulação por meio de controle das paixões. “Corruptio optimi pessima est”, a corrupção do ótimo é péssima. A corrupção das melhores coisas produz os piores efeitos. Basta ver no que se tornaram as mais nobres criaturas de Deus quando estes se desviaram do seu fim, que são os anjos que se tornaram demônios. Aristóteles escreve em seu livro sobre Política: “O homem perfeito é o melhor dos seres vivos, assim também o que se afasta da lei e da justiça é o pior de todos” (Política, 1253a). Adam Weishaupt evidentemente não poderia tornar esse livro em si mau, mas criou para si uma técnica de manipulação inspirada em algo ótimo para se fabricar uma poderosa máquina de manipulação.
Infelizmente a influência do Weishaupt é subestimada. Particularmente conheço dois autores que conhecem bem o papel de Weishaupt no movimento da Revolução atualmente: E. Michel Jones, que é um católico modernista conservador mais de linha ratzingeriana, especialmente em seu livro Libido Dominandi (Vide Editorial, 2019); e o já mencionado Mons. Henri Delassus. Ambos se baseiam muito na obra do Pe. Augustin Barruel, Mémoires pour servir à l’histoire du Jacobinisme.
Adam Weishaupt era um homem extremamente ambicioso. Admirado com a técnica inaciana de exercícios espirituais, procurou despojá-la o máximo possível de sua espiritualidade. Assim descreve o Prof. Jones: “Ao copiar livremente jesuítas e maçons, Weishaupt criou um sistema extremamente sutil baseado na manipulação das paixões. Tomou emprestado dos jesuítas a idéia do exame de consciência e da Igreja Católica a Confissão sacramental, criando um sistema de seelenspionaget [literalmente ‘espionagem da alma’] que lhe permitiria controlar seus adeptos sem que tivessem consciência do controle” (Libido Dominandi, p. 19). E ainda: “Nosce te ipsum, nosce alios (conhece a ti mesmo, conhece aos outros) é o mote que Weishaupt tomou do oráculo de Delfos. Os illuminati também eram uma manifestação concreta da afirmação de Bacon de que o conhecimento era poder. Neste caso, o conhecimento da vida interior do adepto era traduzido em controle. Quando extrapolado para o Estado que funcionava de acordo com os princípios illuminati, esse conhecimento se traduzia em poder político. O que Weishaupt propôs foi uma técnica de compulsão incorpórea, anteriormente praticada pelos jesuítas, mas agora posta a serviço de uma utopia secular que desconhecia todas as restrições colocadas pela Igreja sobre a Companhia de Jesus. Ao controlarem esses Maschinenmenschen [homens-máquinas], Weishaupt e Von Knigge vislumbraram em primeira mão um maquinário estatal capaz de criar a ordem pelo controle invisível de seus cidadãos” (ibidem, p. 29).
Até aqui fica claro o que pretendia. As técnicas de exploração das paixões serão exploradas por todo movimento liberal, que é essencialmente maçônico. Agora a própria moral passou a ser dissociada do nosso Fim Último, que é Deus. A regra principal da moral passa a ser vontade humana, seja do indivíduo, seja do povo, seja do próprio Estado. Weishaupt queria que seus interesses se propagassem pela Europa contra tudo o que é tradicional:
Aliás, como Voltaire, ou melhor, como d’Alembert, ele se esforçava em colocar seus homens junto aos príncipes, a introduzi-los em seus conselhos, a fazê-los penetrar em seus congressos [Ver Barruel, IV, pp. 47, 52, 174 etc]. “A história sem dúvida um dia dirá com que arte ele soube, no congresso de Rastadt, fazer combinar os interesses da sua seita com os das Potências e com seus juramentos de destruí-las todas”. Dentre seus discípulos, quem melhor o seguiu nesse aspecto foi Xavier Zwack: “Ninguém jamais soube melhor aparentar ares de um servidor zeloso por seu príncipe, por sua pátria e pela sociedade, ao mesmo tempo em que conspirava contra seu príncipe, sua pátria e a sociedade (A Conjuração Anticristã, p. 101).
E convém colocar in extenso uma parte do que ensinava esse homem inspirado e guiado pelas forças do inferno:
“A grande arte de tornar infalível uma Revolução qualquer, é a de esclarecer os povos. Esclarecê-los é, insensivelmente, conduzir a opinião pública para o desejo das mudanças que constituem o objeto da Revolução meditada. // Quando o objeto desse desejo não puder aflorar sem expor aquele que o concebeu à vingança pública, é nas intimidades das sociedades secretas que é preciso saber propagar a opinião. // Quando o objeto desse desejo é uma Revolução universal, todos os membros dessas sociedades que tendem ao mesmo objetivo, apoiando-se uns nos outros, devem procurar dominar invisivelmente e sem aparência de meios violentos, não somente a parte mais eminente ou a mais distinta de um só povo, mas os homens de toda condição, de toda nação, de toda religião. Soprar por toda parte um mesmo espírito, no maior silêncio e com toda atividade possível, dirigir todos os homens dispersos pela superfície da terra em direção ao mesmo objetivo. // Eis aí sobre o que se estabelece o domínio das sociedades secretas, aquilo a que deve levar o império do Iluminismo. // Um império cuja força, uma vez estabelecido pela união e pela multidão dos adeptos, suceda ao império invisível; atai as mãos de todos os que resistem, subjugai, sufocai a maldade no seu embrião, isto é, tudo o que resta de homens que não puderdes convencer (A Conjuração Anticristã, p. 106s).
Na nota de rodapé com respeito a esse discurso lemos:
Instruções dadas àquele que recebe o grau de Epopte ou padre iluminado, para a direção dos Iluminados de ordem inferior. // “Foi para realizar nossos trabalhos que um dia foste chamado. Observar os outros dia e noite; formá-los, socorrê-los, vigiá-los; reavivar a coragem dos pusilânimes, a atividade e o zelo dos mornos; pregar e ensinar aos ignorantes; relevar os que caem, fortificar os que balançam, reprimir o ardor dos temerários, prevenir a desunião, ocultar as faltas e fraquezas, prevenir a imprudência e a traição, manter, enfim, a subordinação reativamente aos superiores, o amor dos Irmãos entre si, tais e ainda maiores são os deveres que te impomos… Auxiliai-vos, apoiai-vos mutuamente; aumentai vosso número. Tornaste-vos numerosos em determinado ponto? Fortificaste-vos por vossa união? Não hesitai mais; começai a tornar-vos poderosos e formidáveis relativamente aos maus (isto é, aos que resistem a nossos projetos). Pelo só fato de serdes suficientemente numerosos para falar em força, e por falar nela, os maus, os profanos começam a tremer. Para não sucumbirem ao número, vários tornam-se bons (como nós) por si mesmos e se alinham sob nossas bandeiras. Logo sereis bastante fortes para atar as mãos dos outros, para subjugá-los”. Barruel, III, p. 171, 199.
Vemos aqui toda a síntese da manipulação moderna. O germe de toda a manipulação presente na imprensa, na psicanálise, na publicidade, na mídia. Expondo assim essa doutrina de Weishaupt, podemos ir a um outro pensador que muito provavelmente se inspirou nele (que provavelmente também pode ter sido da seita de Weishaupt): Sigmund Freud.
A MALDITA HERANÇA DE SIGMUND FREUD E SUA LIGAÇÃO COM WEISHAUPT
Freud foi um dos mais eficientes manipuladores da história. Dono de uma incrível capacidade de manipulação, arrancou muito dinheiro prendendo seus pacientes mais abastados sendo uma espécie de confessor às avessas. Em lugar de fazer as pessoas se livrarem dos seus pecados, as encoraja a manter neles. Em lugar de pregar a mortificação, prega uma total entrega aos impulsos mais baixos.
A psicanálise envolve uma falsa troca. O paciente paga para ter uma falsa libertação de sua própria consciência enquanto o manipulador busca com isso desenvolver melhor sua técnica de manipulação e escravizar o paciente. A psicanálise evidentemente usa a técnica de Weishaupt. E. Michael Jones demonstra isso:
No coração da psicanálise encontramos Freud, como o analista paradigmático a encenar, em suas próprias palavras, o papel de “padre confessor”. A manipulação da confissão e do exame de consciência que está no centro do método illuminati é um fato bem estabelecido. Adam Weishaupt estudou com os jesuítas por oito anos. Ao criar sua sociedade secreta, ele simplesmente se apropriou dos Exercícios Espirituais de Inácio de Loyola, mais especificamente o exame de consciência, e os “iluminou”. Weishaupt, no que diz respeito aos jesuítas, foi um estudo de caso sobre a ambivalência. Ele os odiava, mas ainda assim disse a Friedrich Muenter que quando jovem quase se tornou um deles (“das er als junger Mann ‘selbst nahe dabey war, Jesuit zu werden’”) [Manfred Agethen, Geheimbund und Utopie: Illuminaten, Freimaurer und deulsche Spaetaufklaerung. Minchen: R. Oldenbourg Verlag, 1984, p. 189] Ao extrair todo conteúdo sobrenatural do exame de consciência e remover os controles estabelecidos pela Igreja sobre o confessionário (mais notavelmente a confidencialidade intrínseca ao selo confessional), Weishaupt transformou a confissão em um instrumento de manipulação e controle. O exame de consciência retirado do confessionário se tornou a Seelenspionage. Em vez de libertar o penitente de seu pecado, ele o tornava escravo do controlador, passível de chantagem, mas mais usualmente sendo manipulado de acordo com as paixões que ele descrevia em detalhe para seu “confessor”. O método illuminati não é a adoção da espiritualidade de Inácio: é a sua perversão (Libido Dominandi, p. 175s).
Freud, como tratamento pseudopsiquiátrico, propunha uma autodivinização do homem, tal como Weishaupt. Ele combina a libertação dos grilhões morais da Igreja com a transvaloração do homem de Nietzsche. Freud identificava a paixão dominante do paciente e mostrava ao paciente como satisfazer tal paixão. Freud recomendava todo tipo de perversão, até mesmo a fornicação e adultério. Não raro receitava cocaína. Com o paciente controlado, viciado e dominado, Freud conseguia escravizar o paciente e assim arrancar o dinheiro dele. Porém, um outro homem irá mais longe que ele.
TAL TIO, TAL SOBRINHO: COMO EDWARD BERNAYS DESENVOLVEU A TÉCNICA DE FREUD
Sigmund Freud não compartilhou com quase ninguém as suas técnicas mais secretas. Nem mesmo com seu principal discípulo Carl Jung. Como vemos, Freud tinha uma técnica bem desenvolvida (provavelmente por uma inspiração preternatural) e seria um desperdício não comunicar a alguém algo em que tanto trabalhou. A pessoa escolhida provavelmente foi Edward Bernays.
Edward Bernays provavelmente aprendeu com Freud as técnicas de manipulação que não foram nem mesmo comunicadas a Jung. Era um homem extremamente sagaz, inteligente e extremamente observador. Bernays não era alguém que individualmente almejou altos cargos. Se contentava em ver suas ideias aplicadas. Tanto que não trabalhou em cargos de relevância e era um péssimo orador. Ele não ficou conhecido também por seus discursos, conferências etc. Ele era o homem dos bastidores. Escreveu pouco também, mas o que escreveu ganhou extrema relevância. Bernays jamais escondeu o intuito manipulador e ainda defendeu isso explicitamente no seu livro Propaganda. Bernays com efeito escreve:
A manipulação consciente dos hábitos e opiniões organizados das massas é um elemento de importância na sociedade democrática. Os que manipulam este elemento oculto da sociedade constituem o governo invisível que detém o verdadeiro poder que rege o destino de nosso país. // Os que nos governam, modelam nossas mentes, definem nossos gostos ou nos sugerem nossas ideias são em grande medida pessoas das quais nunca ouvimos falar. Isso é resultado lógico de como se organiza a nossa sociedade democrática. Grandes quantidades de seres humanos devem cooperar desta sorte se é que querem conviver numa sociedade funcional sem sobressaltos (Propaganda, Editorial Melusina, S.L., 2008, edição em espanhol).
Bernays não poderia ter sido mais cínico porque ele mesmo fazia parte desse poder invisível e a sua história mostra isso. Se ele teve certos períodos de insucesso, já foi num período em que todos aderiram às suas ideias e certas empresas foram mais competentes ainda ou tiveram mais sorte. O que importa aqui é a influência de suas ideias.
É interessante também o título do seu livro: Propaganda. Isso se deve ao fato de que, apesar de Bernays ter sido chamado de o “Pai da publicidade moderna”, a tal publicidade moderna não é mais que uma propaganda feita por meio da publicidade. A publicidade tem por fim a empresa colocar ao conhecimento do público o seu produto, serviço ou estabelecimento, o que é perfeitamente legítimo porque se alguém quer oferecer algo, precisa divulgar. A propaganda já tem por fim a persuasão de certa ideia, doutrina etc, por meio de uma propagação que pode se dar por meio da publicidade. O que significa que hoje as empresas não mais fazem publicidade, mas propaganda pura e simplesmente. E sobre como isso se deu na prática pela primeira vez com Edward Bernays, voltemos no tempo, no ano de 1929, em Nova Iorque.
Edward Bernays já era conhecido pelas suas ideias. Ele já tinha escrito Crystallizing Public Opinion (Cristalizando a opinião pública, 1923, em tradução livre) e Propaganda (1928), mas faltava coroar suas ideias com uma aplicação prática. A oportunidade veio quando George Washington Hill, presidente da American Tobacco Company o contratou. O sr. Hill queria ampliar a sua clientela e julgou que seria necessário estender o consumo de cigarro da Lucky Strike às mulheres. O problema é que na época havia o tabu das mulheres fumando, pois, esse costume, ao menos em público, era mais visto entre as prostitutas. Bernays procurou um meio para que esse preconceito acabasse. Assim, ele entrou em contato com o psicanalista Abraham Arden Brill para melhor pensar em como convencer mais mulheres a fumar. Brill disse que as mulheres veem no cigarro um símbolo fálico. Assim, Bernays e Brill compreenderam que para ter mais clientes mulheres era necessário romper com os grilhões morais. Bernays precisava ser mais eficiente que seu tio Freud. A manipulação de Freud era individual, Bernays precisava assim criar um meio para manipular as pessoas coletivamente.
A ajuda de Bill a Bernays foi preciosa. Bernays chamou sua secretária Bertha Hunt e pediu a ela para fosse a um ponto de ônibus e acendesse o seu cigarro no meio de homens. Antecipadamente, Bernays avisou a imprensa local do que ocorreria e já pensou na campanha “Torches of Liberty”, “Tochas da Liberdade”. No ponto de ônibus, após acender o seu cigarro, a Bertha Hunt foi repreendida e ela resolveu fazer escândalo, e assim que repórteres apareceram, ela disse que queria “fumar o seu Lucky Strike em paz”. A moda pegou. As pessoas compadeceram da jovem moça e se iniciou a campanha que havia sido pensada por Bernays. Cartazes com moças pouco modestas em pleno ano de 1929 da Lucky Strike apareceram e assim no período de um ano a marca fez o lucro da American Tobacco aumentar em 32 milhões de dólares em pleno início da Grande Depressão Americana. Edward Bernays se consagrou. Bernays provou a eficácia de sua técnica ao mesmo tempo que deu um poder jamais visto ao movimento feminista até então (cf: Libido Dominandi, pp. 347-352).
A MANIPULAÇÃO, ENFIM, APLICADA
A técnica de manipulação de Bernays se dá no seguinte: a empresa oferece o produto nem tanto pela sua utilidade e aspectos funcionais, mas como ele também pode satisfazer suas paixões. Bernays certamente conhece melhor que muitos católicos a tríplice concupiscência e sabia como ninguém explorar isso, tal como seu tio sabia. Se a pessoa fizer a publicidade de um celular expondo apenas os aspectos funcionais, certamente não venderá tanto quanto se fizer um comercial persuadindo de como o mesmo celular satisfará suas paixões. Justamente por isso os comerciais exploram imagens de pessoas felizes e satisfeitas usando o produto em meio as situações mundanas. A propaganda tal como pensada por Bernays é a psicanálise aplicada de forma coletiva. Foi exatamente assim que Marc Randolph fez ao criar a Netflix: um serviço para satisfazer a concupiscência dos olhos e sendo sempre convidativo. Bernays assim também criou uma eficiente técnica de manipulação de opinião pública que não convém descrever agora em prol da brevidade do artigo, mas creio que o exposto aqui nos dá a essencial noção de como funciona.
Bernays simplesmente fez com que as empresas em conjunto criassem um novo tipo totalitarismo. Agora, com a propaganda, as empresas fazem com que os clientes criem com ela uma espécie de laço afetivo a tal ponto que as pessoas fazem no seu dia a dia comercial para essas empresas ostentando a sua marca. O exemplo clássico disso são as camisas com o logotipo aparecendo. Não basta ter uma camisa, a camisa para satisfazer a pessoa precisa ter o logotipo visível. Isso se dará em empresas de todos os tipos. Principalmente na indústria do entretenimento e esportes, onde vemos uma idolatria explícita. Isso será reforçado ainda com a Revolução Sexual e hoje vemos o seu apogeu com a tal ideologia de gênero (ou Teoria Queer). As empresas comprometidas com a agenda progressista, pensada pelos controladores do mundo, se aproveitam desse vínculo afetivo para induzir os seus clientes a apoiar o que eles apoiam. Daí vermos tanta gente apoiando essa agenda nefasta ao mesmo tempo que as empresas também apoiam, por exemplo, tornando seus logos coloridos com a bandeira LGBT.
Sabemos que Edward Bernays, ao menos publicamente, parecia ser um anticomunista, pois sempre esteve do lado dos maiores capitalistas (judeu, tal como seu tio, sempre ligado à elite financeira, não poderia ser muito diferente). Todavia, ele criou um outro tipo de comunismo. Não é um comunismo unipartidário, como é o bolchevismo, mas sim um totalitarismo feito por empresas privadas. Um totalitarismo onde a escravidão não é mais o julgo repressor e violento do Estado tirânico, mas sim uma escravidão prazerosa, atraente e que vicia. O totalitarismo que vemos hoje é uma mescla da distopia pensada por George Orwell e por Aldous Huxley, que cito aqui como ele já sabia o que estava por vir:
Um Estado totalitário realmente eficiente seria aquele em que um executivo todo-poderoso de chefes políticos e seu exército de administradores controlam uma população de escravos que não precisam ser coagidos, pois amam sua servidão. Fazer com que a amem é tarefa designada nos atuais Estados totalitários, aos ministros da propaganda, editores de jornais e professores (Brave New World, Nova York: Modern Library, 1946, p. 10. Apud Libido Dominandi, p. 415).
Os donos do mundo viram nisso o meio perfeito para controlar o mundo. Começou nas lojas maçônicas e hoje também está nas salas de reuniões das grandes empresas. Isso mostra que pouco adianta sermos contra o comunismo se não formos também contra o liberalismo. Ainda que publicamente Bernays se diga anticomunista, o seu ideal termina de um jeito ou de outro no comunismo. As grandes empresas oprimem e suprimem as menores por esse meio.
CONCLUSÃO
O católico simplesmente deve exercitar as suas virtudes, praticar a piedade e rezar. Sabemos que a alma tem três inimigos secundários após o pecado: a carne, o demônio e o mundo. A manipulação moderna iniciada com Weishaupt e culminada e coroada com Bernays nada mais é outra arma do mundo. Eles são muito fortes, mas não invencíveis porque ao nosso lado está o Todo-poderoso, Aquele que é. Deus está ao nosso lado e basta que nos mantenhamos também ao lado dele.
Devemos pedir ajuda para que não caíamos nas tentações. Devemos evitar ao máximo dar dinheiro para essa gente inimiga de Deus. Não temos todos uma vocação extraordinária da vida monástica e consagrada. Todavia, podemos ter muitos méritos vivendo no mundo sem necessariamente fazer parte dele e quem sabe atrair as almas que hoje infelizmente estão mergulhados na escravidão e na imundície.
Infelizmente muitos não perceberam. O que é uma simples assinatura na Netflix se lá temos uma ou outra coisa católica? Creio que não valha a pena procurar pérolas numa latrina mesmo que tenha. A Netflix é mais do que um fruto do sobrinho daquele que pensou a destruição moral de várias gerações. É parte, um membro, de um monstrengo que quer devorar almas. Não vamos alimentá-lo. Ainda que o nosso boicote seja ínfimo e inútil para matá-lo, será útil para nossa alma e nossa consciência. Pois assim teremos a consciência limpa por não ter contribuído com esse extermínio de almas.