A GRANDEZA E A PEQUENEZ DE SANTA TERESINHA

Luciano Takaki | 2022

Quando rezamos o Rosário, na primeira dezena dos mistérios gozosos meditamos o mistério da Encarnação e pedimos, seguindo o método de São Luís de Montfort, a humildade. Isso nos ensina o livro do Santo francês: Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem. Esse mistério merece ser muito meditado, pois vemos Aquele que é (Ex. III, 14) assumindo a nossa fragilidade, assumindo o nosso nada, assumindo as nossas mazelas, nascendo de uma mulher (Gl. IV, 4). Deus, o Todo-poderoso, nosso criador, para dar a prova suprema do Seu amor infinito, assumiu a nossa carne para nela sofrer todas as nossas dores e nos dar a salvação. Deus, o Rei dos Reis, nos deu assim o modelo máximo de humildade, nascendo como um bebê, um bebê que precisou ser enrolado em panos para não sofrer com o frio de dezembro na Terra Santa, um bebê que precisou ser protegido, que precisou da ajuda dos pais para fugir para o Egito e não ser morto.

Vendo tudo isso, compreendemos por que os santos foram o que foram. A nossa gratidão deveria ser infinita e desejar ter o infinito para retribuir tamanha bondade. Santa Teresinha entendeu perfeitamente isso. Talvez ninguém tenha entendido na prática melhor do que essa doce, essa meiga freira de Lisieux.

Nosso Senhor Jesus Cristo é sem absolutamente nenhuma dúvida o modelo por antonomásia de santidade porque Deus é a própria santidade, seguido depois da Santíssima Virgem. Todavia, circunstancialmente, a Irmã Teresa do Menino Jesus e da Sagrada Face é o principal modelo de santidade que temos para os tempos, pois vemos que a sociedade completamente apóstata e a santidade não estão mais visíveis nos fiéis. Na sociedade atual, a santidade parece um ideal inacessível, mas Santa Teresinha nos ensina em A história de uma alma que não apenas é possível, mas que com pequenas obras aos olhos humanos, poderíamos obter grandes méritos. Santa Teresinha nos ensina que de pouco em pouco, podemos não apenas nos santificar, mas sermos grandes santos como ela foi uma grande santa, a maior dos tempos modernos no dizer de São Pio X, com tamanha santidade, Papa Pio XI a nomeou Padroeira das Missões.

Mas fica a pergunta, o que ela fez de tão extraordinário? Aos olhos humanos, nada. Aos que têm uma visão sobrenatural, muito. Santa Teresinha foi grande por perceber que certos pequenos sacrifícios em verdade são arduíssimos. Quem, afinal, de nós ficaria perto da pessoa que mais nos irrita para agradar a Deus? Quem evitaria todo tipo de reclamação aceitando toda contrariedade por menor que seja por amor a Deus?

Todas essas coisas demonstram que Santa Teresinha é o nosso modelo ideal de santidade para os tempos em que vivemos. Hoje vivemos num tempo em que o homem se coloca no lugar de Deus. O homem hoje decide o que é certo e o que é errado. A opinião quer subjugar os fatos. Vivemos numa época em que o amor de si até o desprezo de Deus se sobrepõe ao amor de Deus até o desprezo de si. É preciso dar uma ênfase a duas virtudes hoje que são as desprezadas: humildade e castidade. Santa Teresinha, como sabemos, tinha uma pureza praticamente angélica, pouco precisamos comentar. Mas uma castidade dessas não seria possível sem também uma humildade que imite ao máximo a humildade divina, a humildade do qual o Senhor Todo-poderoso decide se encarnar assumindo a nossa natureza. Santa Teresinha quis imitar como ninguém isso. Ela quis se fazer pequena e, se fazendo pequena, assim se fez gigante. Vemos que, ao contrário do que alguns dizem, não é uma devoção para menininhas, ou efeminados. Um homem que deseja ser como Santa Teresinha atinge o seu maior grau de virilidade, pois é necessário isso para ser humilde e ter tão grande espírito de resignação. A mulher devota real de Santa Teresinha imitará a sua feminilidade, que também é no seu mais alto grau, com tanta doçura. Se a Igreja a canonizou, é porque Santa Teresinha é modelo para todos e não temos modelo melhor para os nossos tempos.

Teresa de Lisieux nos mostrou como nos santificarmos num período em que quase ninguém quer ser santo. Nem mesmo os católicos. Com tantos católicos que ou negligenciam a doutrina ou negligenciam a piedade (ou mesmo ambas), Santa Teresinha é a resposta para ter esse equilíbrio. Não adianta sonharmos com grandes feitos, pois, de fato, quem hoje é chamado para ser um taumaturgo como São Vicente Ferrer? Podemos não ressuscitar mortos, podemos não sair em batalhas contra infiéis como os cruzados. Mas do que adianta desejar isso se não somos capazes sequer de ficar um dia sem cair em maledicência, de desejar o bem àqueles que nos ofendem, nem mesmo capaz de ficar um dia sem se queixar de uma contrariedade. Santa Teresinha conseguiu tudo isso. Por isso, foi a maior santa dos tempos modernos justamente pelos grandes méritos obtidos por obras que são desprezadas aos olhos humanos. Ela conseguiu ser a maior porque buscou o último lugar. Quis ser uma florzinha no Jardim de Deus e assim conseguiu ser uma grande roseira. Assim como Deus, que para realizar a gigante obra da Redenção assumiu a nossa natureza na forma de um indefeso e frágil bebê.

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