A ESCOLA SEM DEUS

Monsenhor Louis Gaston de Ségur
1873

I
ESTADO DA QUESTÃO — SUA EXTRAORDINÁRIA IMPORTÂNCIA

A QUESTÃO SOBRE a qual eu quero difundir alguma luz, para fazê-la compreensível aos pais e mães de família, resume-se no seguinte:

A escola para onde enviamos nossos filhos para receberem a instrução primária deve ser Cristã, e ajudar assim, a Igreja a formar Cristãos, ou esta não deve ocupar-se para nada da Religião, e deixar este cuidado exclusivamente ao sacerdote e aos pais?

A escola deve ser Cristã ou sem religião?

Qual é a solução do problema?

Sois Cristãos? Credes em Deus, em Jesus Cristo e em sua Igreja? Ou sois o que se chama hoje incrédulos, quero dizer, homens que vivem sem religião, separados de Jesus Cristo e da Igreja, e que erigem princípio que a sociedade deve proceder como eles? Tudo depende disso.

Se sois um Cristão, quereis sem dúvida que vosso filho seja e permaneça Cristão. Portanto deveis desejar que a escola para onde mandeis vosso filho vos ajude a fazer dele um Cristão. Deveis querer e quereis que o mestre ou a mestra a quem confiais vosso filho, não somente não o arrebate da fé de seu batismo, senão que coopere enquanto lhe for possível com a grande obra de sua educação, a qual deve ser Cristã antes de tudo, pois todo o Cristão é Cristão antes de tudo.

Para os pais e mães Cristãos, a questão da escola que tanto se agita em nossos dias, não tem pois mais que uma solução possível, lógica e razoável. “Sim, a escola onde fazemos que seja educado nosso filho deve ser Cristã. Deve ajudar-nos a fazer de nosso filho um Cristão”.

Para os incrédulos e livres-pensadores, a solução é oposta. Respondem pela voz de seus diários, de seus de-putados, de seus correligionários e de seus conselhos mu-nicipais: “Não queremos escolas Cristãs; queremos que a escola para onde enviamos nossos filhos seja como nós, sem Deus, sem religião”.

Quem se equivoca? Os Cristãos ou os incrédulos? Se os pais Cristãos estiveram em erro, se Jesus Cristo não fora o verdadeiro Deus vivo, a quem todo o Cristão deve obedecer, se a Igreja não fosse sua enviada, encarregada por Ele de salvar e santificar os homens, é bem evidente que os homens incrédulos teriam razão de não querer religião na escola ou em qualquer outra parte; seriam lógicos, e nós seríamos absurdos, cegos e estúpidos.

Para felicidade nossa, e para desgraça deles, os incrédulos estão em erro.

Sabendo ou não, de boa ou de má fé declaram guerra ao verdadeiro Deus; desconhecem ou ao menos ignoram a jesus Cristo e a sua Igreja; aclamam o que deveriam maldizer.

Repito-o: na grande questão da escola Cristã ou não Cristã, a solução depende inteiramente do ponto de vista em que cada um se coloca; da crença ou incredulidade dos que dela se ocupam. Para ter a solução verdadeira, única verdadeira, é indispensável subir mais alto, e resolver previamente esta tríplice questão, da qual depende toda a vida. Há um Deus e uma religião verdadeira? Jesus Cristo é Deus? A Igreja é a enviada por Jesus Cristo e a depositária da verdadeira religião? Em tanto que não tiverdes resolvido, afirmativa ou negativamente, estas três perguntas, que se reduzem a uma, jamais podereis resolver razoavelmente a questão da escola. Encarando a questão como fazem os incrédulos, parecem lógicos; mas o seu ponto de vista é falso; enganam-se no ponto de partida que os perde.

II
QUE NA PRÁTICA, NÃO TRATAR DA RELIGIÃO NA ESCOLA, E TORNAR IMPOSSÍVEL A INSTRUÇÃO RELIGIOSA DAS CRIANÇAS

DEIXEMOS AS TEORIAS, e miremos as coisas na prática. Se o sistema da escola sem religião chegasse a prevalecer, seria simplesmente a supressão da instrução religiosa, e por conseguinte, a perdição de nossos pobres meninos. Como assim?

Existem meninos que chegam na escola as oito da manhã para saírem as onze. Voltam a uma, para saírem as quatro, e às vezes as quatro e meia. São seis horas de aula por dia. Para meninos, alguns de onze anos, não é pouca coisa. Não se dá importância a isso. Seis horas de aplicação e atenção para meninos que, até na escola e fora da mesma, só pensam em brincar, comer e rir, é enorme.

Não é só isso: da escola levam tarefas para fazer em suas casas, lições para estudar, exercícios para escrever. Suponhamos que este trabalho não lhes tome mais que duas horas: com as seis horas da aula, são oito. Já é demasiado. Pergunte a todo homem de bom senso: é razoável, é possível exigir da cabecinha do menino um trabalho intelectual qualquer, além dessas oito horas?

E então? Que se faz da instrução religiosa? Que se faz do estudo, muito árduo para um menino, da letra do catecismo? Porque o fim, o trabalho do catecismo, o trabalho da instrução religiosa, é um trabalho intelectual, se os há. Demanda tempo, demanda aplicação.

É mister repeti-lo continuamente, porque o menino esquece tão prontamente como quando aprende.

Contestam-nos: não têm a quinta e o Domingo?

Nesses dias não há aula. Sim; porém em primeiro lugar, a quinta e o domingo são dias de descanso, de descanso necessário. Demais, há precisamente nesses dias repetições, destinadas não a aprender, senão a explicar a letra do catecismo. Se os meninos chegam à explicação sem estarem preparados pelo estudo do material da letra, o sacerdote perde seu tempo e nada pode… Esta preparação indispensável se há de tirar das oito horas consagradas ao estudo, à leitura, à memória. Repito-o: além dessas oito horas, já exorbitantes, é absurdo exigir do menino um trabalho intelectual.

E logo, dizei-me que idéia formará o menino do estudo da religião, seguramente o primeiro de todos, quando o vê desdenhado, e que acima dele colocam todos os demais, a gramática, a aritmética, a geografia etc.? Só verá nesse estudo uma maçada que lhe rouba o tempo de suas recreações. Enfim, é certo que se os meninos não ousam falar da religião mais que em dois pequenos e miseráveis momentos por semana, jamais chegarão a conhecê-la como é necessário; e, demais formarão naturalmente a falsa idéia de que a Religião nada tem que ver com sua vida diária. Praticamente, aprenderão a passar sem ela.

É isso, fundamentalmente, o que querem os inimigos da escola Cristã, digam o que quiserem. Porém, vós outros, pais e mães de família, vós outros que sois Cristãos, vós que haveis feito batizar vossos filhos, que desejais que façam uma boa primeira comunhão; que não vivam e não morram como pagãos, eu vos pergunto:

— É isso o que quereis?

A Igreja une-se a vós para reclamar todo o contrário; e porque sabe que sem escola Cristã, é impossível que esses mesmos aprendam como devem, sua religião. Com todas as suas forças, como o deveis fazer vós, repele o que eles chamam a separação da Igreja e da escola, quer dizer, a escola sem religião, a escola sem crucifixo, sem oração, sem Deus.

III
ERROS NOS RACIOCÍNIOS DOS ADVERSÁRIOS DA ESCOLA CRISTÃ

NOSSOS DEMAGOGOS E IDEÓLOGOS partem todos, mais ou menos, desta falsa idéia; ou que não há religião verdadeira e necessária, ou que Nosso Senhor Jesus Cristo não é Deus feito homem, como afirmam, por vezes, suas palavras e seus milagres: ou enfim, que a Igreja e o sacerdote, ministro da Igreja, não estão encarregados por Deus mesmo de ensinar a todos os homens a conhecer e a praticar a verdadeira religião, a religião de Jesus Cristo.

Quando se lhes diz isto, exclamam: “Nada disso. Queremos somente que não se confunda a Igreja com a escola. Queremos que se ensine a religião na Igreja e que não se trate dela na escola; cada um em sua casa. É isso o que queremos!” Sem dúvida, cada um em sua casa; e tampouco nós outros queremos confundir a escola com a Igreja, nem o preceptor com o sacerdote. Porém uma coisa é a confusão; e outra é a união. Nós queremos que a escola esteja unida à Igreja. É assim como entendemos a escola, não a casa onde se dá o ensino primário a nossos filhos, senão este ensino mesmo; assim por Igreja, entendemos, não a Igreja material, a casa de oração, senão a Igreja docente, o sacerdote que representa a Igreja e é o ministro da Religião. “Cada um em sua casa”, nos dizem?

Sim, cada um em sua casa. Porém algum há, que em todas as partes está em sua casa, e que não poderia ser legitimamente excluído de nenhuma: é Deus; é Jesus Cristo, o Dono e Senhor do Universo. Na escola mais que em qualquer outra parte, está “em sua casa”.

Os meninos, com efeito, a quem o mestre de escola ensina a ler, a escrever, a contar etc., não são de Jesus Cristo? Não estão batizados? Não são Cristãos? Não os há resgatado Jesus Cristo sobre a cruz com o preço de seu sangue? Não são filhos da Igreja?

Ora bem, é este um fato, um fato evidente. Quem se atreveria a refutá-lo? Jesus Cristo está, pois, em sua casa na escola.

A Igreja tem também ali seu posto, seu grande posto, seu posto principal. Está ali, não para ensinar os meninos a ler e a escrever, senão para inspirar-lhes a obediência e o respeito a seus mestres; para formar suas tenras inteligências e corações; para velar para que o ensinamento que se lhes dá, se conforme em tudo, não somente com a fé propriamente dita, senão com o espírito Cristão.

Eis por que a Igreja tem um direito absoluto, superior, inalienável, sobre o ensinamento e a educação da juventude, e por conseguinte, sobre a escola, e isto, sob pretexto de que “a religião nada tem que ver com o alfabeto, nem com a aritmética, nem com a gramática, nem com a geografia”. Não, seguramente. Porém, a escola tem a ver com outras coisas, e coisas muito mais importantes que tudo isto. Não esqueça: o que se oculta no íntimo do pensamento destas gentes, moderadas na aparência, que pedem a separação da Igreja e da escola, é o ódio à Igreja, o ódio à Jesus Cristo, o ódio à Deus e à Religião.

Eles já em nada crêem; e não querem para o povo, nem religião, nem sacerdote, nem Deus. Julgam-se estar simplesmente separados de Jesus Cristo; mas isto é uma quimera: não sabem que o filho de Deus há declarado formalmente: “O que não está comigo está contra mim”. Não estão com Jesus Cristo: estão, portanto, contra Jesus Cristo. Pedir que a escola já não seja de Jesus Cristo, pedem, saibam ou não, que a escola seja contra Jesus Cristo.

Escondam, quanto queiram as unhas, nem por isso deixam de ser gatos, e gatos com boas garras; e se chegassem a conseguir “a separação da escola e da Igreja” em nada teriam mais pressa em reclamar para esta força cega chamada “Estado”, que a destruição da Igreja, e que fossem postos fora da lei os sacerdotes, e tudo o que é Cristão. Testemunhas, os revolucionários de 1879 que, depois de haverem conseguido “a separação da Igreja e do Estado”, chegaram em menos de dois anos a decretar a supressão da Igreja pelo Estado, e a por fora da lei os Bispos e os sacerdotes fiéis! Testemunhas, também os comunistas de 1871, que, depois de haverem arrancado os crucifixos de todas as escolas, de nada se preocuparam mais do que profanar nossas Igrejas, encarcerar e assassinar a nossos sacerdotes.

Assim pois, no fundo desta questão da escola, não há, para quem sabe raciocinar, senão uma questão de fé. E se os incrédulos de toda a classe a resolvem em um sentido oposto ao nosso, é simplesmente porque não têm fé; é porque não conhecem a Jesus Cristo, ou porque o odeiam.

Pais e mães, vede, pois, a imensa importância desta questão, para o presente e para o futuro!

IV
POR QUE E COMO A RELIGIÃO É A ALMA DA EDUCAÇÃO DA JUVENTUDE E, POR CONSEGUINTE, DA ESCOLA

PORQUE LHES ENSINA o que é mais importante que tudo para sua felicidade, neste mundo e no outro.

Porque lhes ensina, e isso infalivelmente, em nome e da parte de Deus, a crer o que é verdade, a amar o que é bom, a admirar o que é puro, a respeitar e amar a autoridade de seus pais; a serem bons e castos; a amarem-se mutuamente e a perdoarem-se, a conservar bons costumes, a serem laboriosos, fiéis, conscienciosos, a preferir o dever ao prazer, a cortar tudo o que pode corromper já o espírito, o coração.

A religião faz tudo isto onde quer que a deixem trabalhar, e só ela tem o poder de produzir esse bem, e cortar esse mal. Que é, com efeito, a moral sem a religião? Uma teoria fastidiosa; grandes palavras, e quando muito, uma honradez exterior que basta apenas para não ser enforcado. Sem a religião, dizia em outro tempo Napoleão I, pouco devoto como todos sabem, porém homem de saber e de talento — sem a religião os homens se matariam pela pessoa mais bela ou pela pera mais bonita.

Sem a religião, não há fé nem moral; sem a fé e sem a moral não há educação. Educar um menino não é mais que formar seu espírito dando-lhe a verdade e a boa doutrina, formar seu coração fazendo-lhe conhecer primeiro, logo amar, depois praticar o bem? Ora bem, a primeira e mais importante de todas as verdades, não é evidentemente a verdade religiosa, que nos ensina o que somos, porque existimos, aonde vamos? Que nos ensina a lei das leis, a lei divina?

E que nos faz conhecer o que devemos fazer e o que devemos evitar para ir ao céu e para livrarmo-nos do inferno? Que são, dizei-me, em comparação com esta ciência, todas essas outras ciências que tanto se apregoam hoje em dia? Assim, o primeiro, o mais importante de todos os bens não é acaso o bem moral, o dever, a pureza do coração e da consciência? Esta verdade, este bem se estende a todos, como a luz e o calor do sol, que iluminam e fecundam tudo sobre a terra.

Somos Cristãos; nossos filhos, estão batizados, são Cristãos; para eles não há educação séria sem a benéfica intervenção da religião, e por conseguinte da Igreja, e por conseguinte do sacerdote. Sendo a escola, como a família, o santuário da educação, querer excluir dela a religião e a Igreja, é querer excluir a Deus, é querer excluir a educação. Aí está, por outra parte, a experiência que o demonstra diariamente e em todas as partes: as escolas sem Deus são mais ou menos focos de corrupção, de uma imoralidade mais ou menos encoberta, mas repulsiva; onde é quase impossível que um menino conserve sua inocência, onde só o temor mantém certa aparência de ordem; onde o menino aprende a detestar a autoridade do mestre, onde a pátria só vê um viveiro de futuros comunistas, sem fé e sem lei.

Repito-o: sem a religião não há educação. Portanto, a escola deve ser Cristã, Cristã primeiro que tudo.

Exigi-lo assim é um dever de consciência, tanto para os pais e mães de família, como para o sacerdote. Nisto consiste a salvação dos meninos.

V
POR QUE É QUE O ENSINO CLÁSSICO É INSEPARÁVEL DA EDUCAÇÃO RELIGIOSA?

PORQUE O ESPÍRITO é inseparável do coração.

Não se pode amar senão o que se conhece, o que se vê ser formoso, nobre, bom, digno de estimação e de amor. O coração segue a cabeça. Ora bem, o ensino é o que forma a cabeça, o dever, o que faz conhecer ao espírito tudo o que é útil saber. Daí deriva a imensa importância de só dar a verdade como alimento ao espírito do menino.

O erro corrompe o coração.

“Porém dizem, quando um mestre de escola ensina o alfabeto e a gramática, a aritmética e os demais conhecimentos elementares de seu programa, não pode enganar-se; e ainda quando se enganasse sobre certos pormenores que mal haveria nisto para a boa direção do espírito de seus colegas? A religião parece que nada tem a ver com este ensino”.

Bom, mas como já indicado, não é disto que se ocupa a Igreja. Ela se preocupa do ensino dado na escola, primeiramente de que a respeito de certos ramos deste ensino, tais como a história e alguns outros elementos de ciência natural, o mestre não dê aos meninos. noções falsas e perigosas, ao ponto de vista religioso. Do que se preocupa, é de que os livros de história, sejam verídicos, ortodoxos, e que não contenham, como tão a miúde sucede calúnias contra o clero e a religião.

No ensinar a História da França, por exemplo, quantas preocupações detestáveis contra os papas, contra os sacerdotes, contra as ordens religiosas, contra a influência da Igreja, pode inculcar todos os dias um professor irreligioso, ou simplesmente ignorante (e desgraçadamente abundam), no espírito de seus pobres discípulos?

E essas preocupações, essas mentiras, deixam vestígios que ficam indeléveis.

Sobre cem meninos, que, ao saírem da escola, escarnecem de Deus, afligem a seus pais, se entregam ao mal, pode dizer-se com segurança que há noventa que hão bebido o gérmen destas desordens nas más idéias que aprenderam na escola, mormente nos maus costumes que pululam nas más escolas. Quereis que vosso filho permaneça e cresça no bem? Há de ele primeiro crescer e permanecer na verdade; e a verdade é primeiro que tudo a verdade Cristã, o conhecimento de Deus e de sua lei.

Mas dizem também: “esta verdade deve ser inculcada aos meninos pelo sacerdote, e não pelo mestre de escola nem pelos pais”. Muito bem: o sacerdote, com efeito, e só o sacerdote, está encarregado oficialmente pela Igreja de ensinar a religião aos meninos de sua paróquia. Porém os pais e os mestres desses mesmos meninos têm o dever de ajudá-lo por todos os meios possíveis nesse laborioso ensino. Tudo deve contribuir para ele, no interior da família, e no interior da escola.

Os meninos, sobretudo os meninos do povo, são travessos, pouco inclinados ao estudo; é necessário que o ensino, as lições se façam penetrar em sua inteligência e sua memória, por todos os passos, a cada instante. Se quereis fazer um Cristão desse pobre homenzinho em flor, ponde debaixo dos olhos, nos ouvidos, sobre os lábios, na memória o que pode ajudá-lo a recordar as verdades, sempre um tanto abstratas, que são o fundo da religião Cristã.

Em vez de ensinardes a ler em certos livros insignificantes, ensina-lhes a ler no catecismo, no evangelho, em um resumo elementar, como há tantos, da moral Cristã. Ainda com esse socorro de todos os momentos, não se verá a Igreja livre de trabalho para fazer penetrar bem a fundo as luzes vivificantes da fé nessa pequena inteligência: que será, se o ensino da escola prescinde completamente do pensamento religioso, único (não poderia repeti-lo bastante), que tem o poder de formar Cristãos, isto é, verdadeiros homens de bem, homens de consciência, de coração, de dever? O mestre de escola deve necessariamente cooperar quanto lhe for possível para a grande obra da educação confiada por Deus mesmo a seus sacerdotes. O ensino da escola deve seguir, ajudar, recordar o ensino do catecismo. Sem isso, não há educação sólida; em outros termos, não há Cristãos, não há verdadeiros homens de bem para o porvir.

Tudo isto é incontestável. A decadência desconsoladora da França atual, procede sobretudo do esquecimento da lei de Deus; e este esquecimento tem em grande parte sua origem no ensino indiferente e irreligioso de nossas escolas primárias, para baixo, e de nossos colégios, para cima.

O ensino da escola deve, pois, ser Cristão, como deve ser Cristã a educação. Nesse grande trabalho de formação, o espírito do menino não deve estar separado de seu coração.

VI
TESTEMUNHO POUCO SUSPEITO DE UM ANTIGO REI DA PRÚSSIA QUE EM NADA ACREDITAVA

Os INIMIGOS DA FÉ de nossos filhos encontram aqui um adversário que não esperavam.

É o famoso rei da Prússia, Frederico o Grande, o íntimo amigo de Voltaire, mais incrédulo, se é possível, e mais descrente que o próprio Voltaire. Este acreditava, todavia, um pouco em Deus e na alma, no bem e no mal.

Frederico, em nada acreditava, e no seio da intimidade, pouco cuidava em ocultá-lo. Ora pois, aqui transcrevemos o que o bom senso social e político daquele malvado de gênio lhe fez proclamar e impor a todos seus súditos, em um regulamento geral, promulgado em Berlim, a 12 de Agosto do 1763 em pleno reinado do volterianismo:

Frederico, rei da Prússia, etc.
Desde o restabelecimento da paz, o verdadeiro bem-estar de nossos povos preocupa todos nossos instantes (inteiramente como diria hoje o piedoso Bismarck); portanto, julgamos útil e necessário cimentar esse bem-estar constituindo uma instrução tão razoável como Cristã, para proporcionar à juventude, com o temor de Deus, os conhecimentos úteis.
Art. I. Os meninos, de cinco a treze ou quatorze anos, não poderão sair da escola antes de serem instruídos nos princípios essenciais do Cristianismo e de ler e escrever bem.
Art. II. Os donos a quem a necessidade do trabalho obrigar a empregar meninos, serão seriamente advertidos que se hajam de modo que esses meninos não saiam da escola antes de saberem ler bem, antes de possuírem as noções fundamentais do Cristianismo… fatos que devem ser comprovados por certificados do pastor e do mestre de escola.
Art. XII. Como os bons mestres fazem as boas escolas, um mestre de escola deve estar em condições tais que toda a sua conduta seja um exemplo, e que não destrua com seus atos o que edifica com suas palavras. Os preceptores, mais que todos os demais devem estar animados de uma sólida piedade, e primeiro que tudo, possuir o verdadeiro conhecimento de Deus e de Cristo…
Art. XXIV. Em tudo o que diz respeito à escola, o preceptor deve apoiar-se nos conselhos e avisos de seu pastor.
Art. XXV. E nossa vontade expressa que, nas cidades e aldeias, os pais visitem as escolas postas sob sua jurisdição, duas vezes por semana, já de manhã, já de tarde, e interroguem por si mesmos aos alunos.

Não é um cura, não é um Bispo, nem um Papa que expediu esse decreto: é, repetimo-lo muito alto, um livre-pensador de primeira classe, cujos princípios religiosos eram absolutamente os mesmos que os de nossos incrédulos modernos mais adiantados. O bom senso era o que lhe arrancava essas confissões; o instinto da conservação da sociedade, da família, da ordem pública. Os inimigos da escola Cristã pretendem que a superioridade da Prússia proceda de suas escolas e de seu sistema de instrução obrigatória. Estejam pois, uma vez ao menos, de acordo consigo mesmos, e não tratem de impor-nos o contrário do que nos ponderam. Na Prússia, até 1872, as prescrições de Frederico, o Grande, tem feito lei; a instrução Cristã e o respeito prático da religião eram considerados, e com razão, como a alma da educação nas escolas. Se alguma coisa boa têm os prussianos, aí é que a têm haurido.

VII
O QUE SE DEVE ENTENDER POR ESCOLA “LAICA”

LAICA NÃO QUER DIZER sem religião. Um laico é simplesmente um homem que não é eclesiástico.

Todos os Cristãos, todas as Cristãs são laicos.

Vós, outros, — pais e mães que ledes estas pequenas páginas e que vos preocupais com tanta razão do porvir religioso de vossos filhos — sois leigos. Os únicos que não são laicos são os que têm a honra e a dita de consagrar-se a Deus no estado eclesiástico ou no estado religioso.

Nossos inimigos, que não são muito fortes tratando-se de assuntos religiosos, confundem ordinariamente essa noção tão simples, e por laicas entendem o que é, senão inimigo da religião, ao menos indiferente com religião e o sacerdote. Para eles a escola laica é a escola sem religião, a escola não Cristã. Eles aclamam e reclamam a escola leiga porque detestam a religião, a Igreja e o sacerdote. Se sabem muito bem o que querem, sabem apenas o que dizem.

Escolas laicas! Porém se nós outros também as queremos e as sustentamos, só pedimos antes que tudo, que essas escolas laicas sejam Cristãs. Não nos basta que não declarem a guerra ao catecismo e a Jesus Cristo; queremos, além disso e temos o direito e o dever de exigi-lo, queremos, como o dizíamos não há muito, que sejam os auxiliares do catecismo, e que o preceptor ou a preceptora trabalhem em harmonia com o sacerdote e com os pais, para formar nossos meninos no serviço e no amor de Jesus Cristo. Os preceptores e as preceptoras leigas tão elogiados pelos adversários da escola Cristã, são, note-se bem, professores professoras sem religião.

Logo que algum mestre de escola cumpre, na escola e fora da mesma, o primeiro de todos os seus deveres, que é servir a Jesus Cristo, imediatamente e ainda quando seja laico, taxam-no de clerical tendo que contar já senão com malevolência, às vezes até com verdadeiras perseguições.

Pelo contrário, o mestre que é laico, segundo o modo de julgar dos inimigos da fé, conta com uma proteção que às vezes toca ao escândalo e na mais indigna condescendência.

Que nossos filhos sejam educados de forma Cristã é tudo o que pedimos. E se geralmente nossos curas preferem os Irmãos e as Irmãs aos professores e aos professores leigos, é porque graças a indiferença religiosa, para não dizer à irreligião que domina em quase todas as escolas normais, donde se formam os professores e as professoras do Estado, sucede que raríssimas vezes sabem o necessário para cumprir dignamente sua grande e santa missão. A quem poderá parecer mal que um bom sacerdote não queira deixar os meninos, cujas almas lhe estão confiadas, entre as mãos de um preceptor ou de uma preceptora sem religião? O contrário seria para estranhar. Não por si, senão pela fé e pela salvação de seus fregueses reclama o cura a escola cristã. Que seja dirigida por um laico ou por um Irmão ou uma Irma, pouco importa, contanto que tudo se faça ali segundo a vontade de Deus; contanto que o ministro de Deus encontre ali o apoio a que tem direito para educar cristãmente a seu pequeno e querido povo.

VIII
POR QUE MOTIVOS A IGREJA REPROVA O QUE CHAMAM A ESCOLA “OBRIGATÓRIA E GRATUITA”

NOSSOS LIVRES PENSADORES, inimigos da Igreja e da pátria, têm uma réplica que repetem a cada instante a modo. de estribilho. “A escola laica, obrigatória e gratuita”.

Todo o veneno se encerra na palavra leiga, ou por falar mais propriamente, na idéia ímpia que ocultam sob essa palavra, muito inofensiva em si mesma, e é unicamente, entendido bem isto, é unicamente porque a escola leiga que eles querem impor é a escola sem Deus, a escola sem Jesus Cristo e sem religião, que a querem fazer obrigatória e gratuita. É uma verdadeira conspiração contra a fé da nossa pátria. “Em primeiro lugar, dizem eles, eduquemos a juventude fora da Igreja, é dizer, contra a Igreja; logo obriguemos os nossos pais a enviá-las a nossas escolas sem Deus, para que nada se nos escape; por último tiremos todo o pretexto de reclamarem fazendo pagar todas essas escolas pelo Estado, e não exigindo nada nem dos pais nem dos meninos. Com este sistema, a França será nossa dentro de quinze ou vinte anos”. Isto é tão abominável como bem combinado. É abominável, porque é a guerra a Deus e as almas; está, sabiamente combinado, porque se suas “escolas laicas” chegassem a prevalecer e a ser obrigatórias para todos, o resultado ímpio que eles esperam seria infalivelmente conseguido; a França perderia a fé.

Por isso, temos que rechaçar com toda energia dessa mesma fé a escola revolucionária “laica, obrigatória, gratuita”. Se a escola fora Cristã, qual deve ser, e como o ser sempre (assim o esperamos), se a escola fora Cristã, longe de achar mal que fosse obrigatória, a Igreja seria a primeira a apoiar um sistema que colocaria a todos seus filhos na feliz obrigação de serem tão instruídos e tão bem educados quanto fosse possível. O que Ela não quer por nenhum princípio, é que os pais Cristãos (isto é, noventa e nove por cento, novecentos e noventa e nove sobre mil) sejam obrigados a enviar seus filhos a escolas onde tudo contribui a apartá-los da religião, como o temos demonstrado mais acima.

Nisto, como sempre, com suas grandes palavras de liberdade, de progresso, das luzes etc., os incrédulos são tiranos e verdadeiros déspotas. Calcam aos pés a primeira e mais legítima de todas nossas liberdades, a liberdade religiosa. Porque eles não crêem, querem obrigar os outros a não crer; e não é a ciência nem a instrução o que querem inculcar-nos de grado ou por força, são meramente suas ímpias doutrinas.

Temos razão, pergunto-lhes, nós os Cristãos, de não querer sua instrução obrigatória? Não queremos sua instrução porque é falsa e perversa; e não queremos que obriguem nossos filhos a recebê-la, primeiro, porque nós não somos escravos, nem tampouco eles, e depois porque não queremos que nos obriguem a fazer envenená-los.

Quanto a escola “gratuita” desses cavalheiros há nisso também uma iniquidade digna deles. Essas famosas escolas sem religião serão tudo, menos gratuitas, posto que pagas pelo Estado, e com largueza. Ora bem, dizei-me: quem são os que enchem o tesouro nacional? São os Cristãos; a minoria dos contribuintes que se declara não Cristã, é tão insignificante que pode-se dizer que não se leva em conta. E assim, com vossa aparência de generosidade, de desinteresse, de amor ao povo, não quereis outra coisa, ó zelosos apóstolos! senão fazer-nos pagar a ruína moral de nossos filhos! Quereis obrigar uma nação Católica a suicidar-se com suas próprias mãos, a despojar-se por si mesma do manto real de sua fé! Vamos pois! isso é, em verdade, demasiada dissimulação.

Não, não queremos nem vossa instrução leiga, nem vossa instrução obrigatória, nem vossa instrução intitulada gratuita. Somos Cristãos, o queremos estar na liberdade de fazer educar cristãmente nossos filhos; e se vindes dizer-nos, todavia que rechaçamos vossas idéias só porque queremos manter o povo na ignorância, responder-vos-emos, com a franqueza da indignação, que sois estafadores e embusteiros. Vós sois os filhos das trevas; nós, discípulos da verdade o do Evangelho, somos filhos da luz, e, o que o mais, somos, como o há proclamado o Filho do Deus, a “luz do mundo”.

IX
SE É CERTO QUE NOSSAS ESCOLAS CRISTÃS SEJAM FOCOS DE OBSCURANTISMO, DE RETRÓGRADA POLÍTICA E DE REAÇÃO

DE REAÇÃO! Contra quem? Contra a impiedade e o vício! Sim, certamente. Contra as detestáveis doutrinas revolucionárias, subversivas da Religião, da autoridade, da família, da ordem social inteira? Sim, sim, mil vezes sim. E esse o motivo porque querem suprimi-las.

Focos de reação política, em qualquer sentido? Não, em sentido nenhum. E nossos radicais o sabem tanto como nós. Em nossas escolas ninguém se ocupa de política; tanto da política branca como da política tricolor ou roxa. E é isso o que atormenta os nossos democratas. Eles quiseram que nossas escolas, santuários da singeleza e da paz, se transformassem, debaixo da direção de seus mestres de escola comunistas, em espécie de pequenos clubes, focos de rebelião. Revolucionários, não sonham senão com revoluções; homens de rebelião querem semear por todas as partes a rebelião.

Isso é o que nós não queremos; isso é o que não fazemos; isso é o que nunca temos feito e o que não faremos jamais. Chamem-no “obscurantismo” quanto quiserem; chamem-no “reação em boa hora”. Sabemos o que é falar.

Acusaram nossos irmãos e nossas Irmãs de escola de que se ocupam de política, só para torná-los odiosos às povoações e para envolvê-los na cólera e nos ódios que os diários revolucionários suscitam contra o partido da ordem e da gente honrada.

Em nossas escolas, os Irmãos e as Irmãs se ocupam em fazer dos meninos que lhes estão confiados, Cristãos, homens de bem, e verdadeiros cidadãos. Deixam aos emissários da Revolução e das sociedades secretas, a criminosa tarefa de fazer-lhes perder a cabeça, sob pretexto de “liberdade” e de “república”.

Digam quanto quiserem, a política nada tem que ver com a escola.

X
SE É CERTO QUE A ESCOLA CRISTÃ SEJA INCAPAZ DE FORMAR CIDADÃOS

ISTO DEPENDE do que se entende por “cidadão”.

Por cidadão os revolucionários entendem uma espécie de exaltado, que sempre tem nos lábios a grande palavra, pátria, patriotismo, liberdade, igualdade, fraternidade, (ou a morte!); que está sempre pronto a fazer armas contra a autoridade legítima, isto é, não-revolucionária; chamem-na valente, e que sob pretexto de orgulho nacional, é ingovernável. Tal é o cidadão formado pela escola sem religião, pelo diário sem religião, pelo Estado sem religião. Em todas nossas revoluções vêmo-lo na faina, e não é muito belo certamente.

A escola Cristã, não só não forma cidadãos desta espécie, senão que tem por missão direta, evidente, impedir que se formem. Faz mal? Que é, dizei-me o “cidadão” revolucionário, senão homem de desordem e alvoroço, o turbulento, o comunista?

Deus e sua Igreja condenam esse composto horroroso de orgulho, de presunção, de ignorância, de cólera, de violência e quase sempre de intemperança e de luxúria. A escola Cristã faz outro tanto; reprova-o, e se esforça por preservar de todos esses vícios e de todos esses erros o espírito e o coração dos meninos que educa.

Porém se ela é inimiga do falso cidadão, é amiga do cidadão verdadeiro.

Vós aspirais, e não ó justo, a que vossos filhos façam algum dia honra a seus pais? Aspirais a que seja toda sua vida um homem de bem, um homem de seu dever, um homem de ordem e abnegação? Esse é o que se chama um bom cidadão; em toda a escala social. Aspirais a que vossa filha, seja esposa e por sua vez mãe de família, seja e continue a ser honrada, boa, virtuosa, pura?

Pois bem, é nesta grande obra em que trabalha, de acordo com o sacerdote e convosco, a escola Cristã.

Os demagogos pretendem que em nossas escolas não formamos mais que Cristãos, e que não nos ocupamos em formar cidadãos. Isto é falso: formando Cristãos, formamos por isto mesmo, cidadãos, bons e verdadeiros cidadãos.

“Os melhores Cristãos, dizia em outro tempo o rei protestante Gustave Adolpho, são sempre os melhores soldados”. Outro tanto se pode dizer dos cidadãos: “Os melhores Cristãos são sempre melhores cidadãos”, isto é, os homens mais verdadeiramente dedicados aos interesses e a prosperidade de seu país.

Nossos liberais de todo grau são os piores cidadãos que pode haver: debaixo da capa das grandes palavras que mais acima dizíamos, só tratam de lisonjear suas más paixões, de adquirir sem trabalhar, de empolgar alguns bons empregos bem lucrativos, sem preocupar-se no mínimo da causa pública. Dessa ordem os temos visto a lidarem na época da comuna; e tais como foram então, serão sempre.

Só a Religião pode formar verdadeiros homens de bem; e é por isso que a escola, que está encarregada de formar homens, deve ser Cristã, profundamente Cristã.

A escola sem religião, só formará incrédulos, rebeldes, ébrios, comunistas.

XI
DO CRIME DOS QUE ENVENENAM O ESPÍRITO E O CORAÇÃO DA JUVENTUDE

O CÓDIGO PENAL castiga com a morte os envenenadores, e tem razão. Nada há mais odiosa, nem mais covarde forma de crime.

Mas, dizei-me, quem é mais culpado, o que envenena e mata o corpo ou o que envenena e mata a alma? Não é a alma a que faz de nós homens? A alma é cem vezes, mil vezes superior ao corpo. Portanto, se envenenar, matar o corpo é um crime tão atroz, qual não será quando se trata da alma?

Mas a terra está coberta de gente que à vista e presença de todo o mundo, envenena as almas não com arsênico ou rosalgar, senão com abomináveis doutrinas, as quais penetrando pouco a pouco no espírito, fazem-no incrédulo, ímpio e rebelde; e chegando até ao coração, lhe inspiram o gosto pelo mal, o ódio a Deus, o hábito do vício.

Esses envenenadores públicos, são todos os que de um modo ou de outro, ensinam o erro, quer em religião quer em política. São os maus professores e más professoras, os mestres e as mestras de escola sem religião, sem princípios.

Que ensinam eles às pobrezinhas criaturas que se lhes confiam? A ler, a escrever, está bom; porém ensinam-lhes também e antes que tudo, tanto com seus exemplos como com suas palavras, a viver sem Deus, a depreciar as santas práticas da Religião, a falar mal do sacerdote, a desdenhar a oração e a santificação do domingo, as leis eclesiásticas, a confissão, o respeito à Igreja.

Acostumaram-nos a fazer o bem não por consciência ou por dever, senão a buscar primeiro que tudo, seu interesse pessoal, a ganhar dinheiro, a ser egoístas. Muito a miúde, especialmente nos momentos de crises políticas, esses mestres de escolas, essas preceptoras sem religião dão além disso escândalos, cujos vestígios ficam profundamente gravados na memória dos meninos.

Este envenenamento moral é um crime de primeira ordem. Ataca não somente a Igreja, senão a própria sociedade desde a raiz até ao coração. Prepara espantosas ruínas para o porvir. Os que os cometem deveriam ser tratados como os piores criminosos, tanto mais criminosos, quanto atacam aos pobrezinhos, inocentes sem defesa, que acreditam facilmente no que se lhes diz, e imitam seguramente o que vêem em outros.

Os que deixam cometê-lo, e, mais ainda, os que fazem cometer, são uns infelizes, inimigos de Deus e da sociedade; não há nome para dar-lhes. Se a justiça humana é bastante cega para não castigá-los, a inexorável justiça divina espera-os ao saírem deste mundo; e o tremendo Juiz, perante o qual comparecerão então aterrorizados, perdidos, declara-o em seu santo Evangelho: “Em verdade vos digo, qualquer que escandalizar um só destes pequeninos que crêem em mim, melhor fora que tivesse sido precipitado no fundo do mar, com uma pedra de moinho ao pescoço”.

Ora pois: não é só um menino, mas uma geração de meninos que escandalizam, quero dizer, perdem e corrompem, o mestre e a mestra de escola sem religião; e estando batizados estes meninos, e sendo Cristãos, deles é que fala aqui diretamente Jesus Cristo. Escandalizá-los, é cometer um assassinato, e um assassinato sacrílego. É arrebatar a Deus o espírito e o coração de seus filhos. Desgraçado do homem que tal crime comete! E desgraçada a sociedade que o deixa cometer! Ai dos diários que o apregoam! Ai dos homens públicos que se atrevem a erigi-lo em lei!

Toda a lei contrária à lei de Deus é nula e de nenhum valor. A consciência proíbe submeter-se a ela; seria apostatar. Se nossos ímpios conseguem fazer erigir em lei seu sistema de educação anticristã, entraremos no caminho da perseguição declarada, e esse será o caso tanto para os pais e mães como para os filhos, para os sacerdotes como para os leigos, de repetir a grande palavra pronunciada em outro tempo pelos lábios dos Apóstolos;

“É preciso obedecer a Deus antes que aos homens”.

XII
DO CRIME E INSENSATEZ DOS PAIS QUE EDUCAM SEUS FILHOS SEM RELIGIÃO

OS PAIS E MÃES que educam ou fazem educar sem religião seus pobrezinhos filhos, não são menos culpados que os maus mestres de escola — e como estes, darão conta disto a Deus.

São ao mesmo tempo culpados e insensatos. Culpados porque faltam gravemente a seu dever de pais, que é ajudar, quanto lhes seja possível, a Igreja a salvar e a santificar os filhos que Deus lhes dá insensatos, porque algum dia colherão o que têm semeado, e se aperceberão, porém, demasiado tarde, de que uma educação má não produz mais que frutos ruins.

Em pouco tempo seu filho chegará a ser um libertino e um malvado sem fé e sem temor de Deus, se entregará a suas paixões, ditoso ainda se o mal não o conduzir até a desonra; sua filha correrá o risco de perder-se e causar-lhes esses desgostos que não têm nome. Tão poucas pessoas há que continuem a ser honradas e que conservem bons costumes, quando não se tem para contê-los o saudável freio da consciência, o temor de Deus, e o onipotente socorro dos sacramentos!

Portanto, pais e mães, ponde os olhos nele bem cedo! Olhos, na conta que Deus vos pedirá da alma, da fé, dos costumes de vossos filhos. Guarde-os por vós mesmos e no interesse de vossa própria ventura neste mundo, a qual resultará, quase infalivelmente, da educação que lhes derdes ou tiverdes feito dar. Não olvideis que não tendes direito para educar nem deixar educar vossos filhos sem religião. É para vós um dever de consciência, sob pena de cometer um pecado grave, não somente fazer vossos filhos rezarem em vossa casa e ensinar-lhes com vosso exemplo a servir a Deus, senão também a confiá-los senão a mestres ou mestras de escola capazes de ajudar-vos em vossa grande tarefa. Nada de bom conseguireis se a escola não trabalhar no mesmo sentido que vós, se a escola não for Cristã, bem como a família.

É que isto desgraçadamente nem sempre é possível; boas paróquias há que, devido a um delegado ou a um conselho municipal ímpios, têm por professor, por único professor, um homem sem fé nem lei, às vezes até um comunista, um homem de costumes depravados, mil vezes indigno do posto que ocupa. Isso é uma desgraça imensa. Porém longe de desanimar-vos, deveis redobrar vossa vigilância e vosso zelo para inculcar a vosso pobre filho, sólidos princípios religiosos. Deveis lutar, quanto possais, e com toda constância, contra a má influência da escola para onde vos vedes obrigados a enviá-lo. Deveis recomendar-lhe muito mais com os exemplos que com as palavras, e ser solícito em que cumpra convosco todos os seus deveres religiosos.

Se à frente dessa escola corruptora, o zelo de vosso cura conseguir levantar uma escola livre, uma escola Cristã, não olvideis que é para vós um dever enviar para ali vossos filhos quanto antes, e livrá-los, enquanto podeis, do perigo que os ameaça ali onde estão.

Para a família, como para a Igreja e a sociedade, a escola sem Deus, a escola sem crucifixo e sem orações, é a ruína e a perdição.

XIII
POR QUE A ESCOLA DEVE SER PARA A IGREJA O QUE É UMA FILHA PARA SUA MÃE

NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, no enviar ao mundo sua Igreja, encarregou-a de “ensinar a todas as nações”. Isto é, para o Papa, para os Bispos, para os sacerdotes, não somente um direito, senão um dever; um direito de que nenhum homem poderia legitimamente despojá-los; um direito ao qual não podem subtrair-se sem arriscar sua salvação; um dever que cumprem não para dominar, — como almas baixas e ignorantes têm ousado dizê-lo —, senão para fazer reinar Jesus Cristo no mundo e para procurar a salvação de seus irmãos.

No ensino, como dizíamos, há duas coisas distintas porém unidas e subordinadas uma à outra: há os conhecimentos que nos são úteis e ainda mais ou menos necessários a todos para ganhar nossa vida e para cumprir os deveres de nosso estado; tais como saber ler, escrever, contar; saber nosso idioma e um ou outro idioma estrangeiro, saber mais ou menos a história, a geografia, as ciências naturais, até se quisermos, o latim, o grego etc.; e há a grande ciência, a ciência divina da salvação, da qual nada pode abster-se, e que ensina o homem a conhecer, a servir, a amar a seu Deus neste mundo, afim de possuí-lo eternamente e de ser eternamente feliz no outro. É nisto que consiste o ensino.

Ora, pois, a Igreja está autorizada por Deus mesmo para este último ensino. Está encarregada, não de ensinar os homens a ler, a escrever, a contar, etc., senão de velar atentamente para que ninguém se aproveite do ensino dos conhecimentos naturais para alterar a doutrina Crista e para apartar de Jesus Cristo os espíritos e os corações.

Está encarregada de velar muito de perto para que a educação Cristã esteja inseparavelmente unida a toda classe de ensino, e o homem se habitue desde sua juventude a santificar seu trabalho pela oração e por pensamentos de fé.

Com esse título, está a Igreja encarregada por uma ordem expressa de Deus, do fazer a escola profundamente Cristã, de velar com cuidado pelo ensino, de fazer reinar nele Jesus Cristo, por todos os meios que pode sugerir uma caridade engenhosa, principalmente pelos bons exemplos dos mestres e das mestras, pela escolha de livros de texto, pelas pequenas orações que precedem, acompanham e seguem o estudo, pelos crucifixos e as imagens santas, em uma palavra, por toda classe de hábitos de fé e de religião.

Quanto ao ensino direto da grande ciência, da ciência da Religião, a Igreja, quer dizer, o sacerdote, é certamente o único oficialmente encarregado dela. Porém assim como um bom pai e uma boa mãe devem cuidar para que seu filho aprenda bem seu catecismo, lhe devem explicar o melhor possível e ajudá-lo a compreender. Assim como devem falar-lhe a miúdo de Deus e fazer-lhe praticar o que ensina o sacerdote, assim também na escola, os mestres e mestras devem, se quiserem ser dignos de sua missão sagrada, dedicar-se a fazer esse mesmo ofício para com os meninos que a frequentam.

Os partidários culpados e cegos da escola sem religião pretendem que, porque a religião se ensina na Igreja, deve ser excluída da escola. Se isso fora certo, deveria dizer-se outro tanto da família. Essa pobre gente não sabe que a Religião se estende a tudo, tem direito a tudo, que em todas as partes está em sua casa, que não é estranha em nenhuma parte, que é não somente útil senão necessária em todo lugar, e na escola mais que em outra parte qualquer.

De boa ou de má fé, querem expulsar Jesus Cristo de seus domínios, quero dizer do coração e do espírito dos meninos. Como os Judeus na Sexta-feira Santa, exclamam por mil e mil bocas: “Não queremos que Este reine sobre nós”.

Entretanto, Este, Jesus Cristo, quer e deve reinar sobre todos, e é muito justo, pois é o Criador, o Soberano Senhor, o Salvador de todos.

Como a família deve estar subordinada à Igreja, em tudo quanto respeita a direção do espanto e do coração dos meninos, a escola deve estar unida à Igreja.

Esta submissão, esta subordinação, não absorvem a escola na Igreja ou a família na Igreja. Porque em um regimento os oficiais estão submissos ao coronel, e os soldados ao oficial? Quem ousaria dizer que os movimentos, o valor, a autoridade dos que obedecem estão absorvidos pela autoridade dos que mandam? Dessa subordinação, muito ao contrário, nasce a bela ordem que é a glória e a força do regimento.

O mesmo sucede com a subordinação de toda as coisas à Igreja, e a Deus pela Igreja. A escola, a educação, o ensino, a família, a sociedade, a direção dos assuntos públicos, o governo dos estados, tudo, em uma palavra, na terra, deve estar submisso a Deus, e por conseguinte subordinado à doutrina divina, à santa direção de sua Igreja. Ali somente está o segredo da ordem, o segredo da felicidade pública. Ali está a ressurreição verdadeira de nossa querida pátria, e o triunfo de todas as boas coisas sobre o inimigo de Deus e da sociedade, que há mais de cem anos assola o mundo, e cujo sinistro nome é “O LIBERALISMO”.

A questão da escola é, em primeiro lugar uma questão religiosa, cuja solução depende desta outra precedente questão: É o Liberalismo ou a Igreja que ensina a verdade? A religião Cristã é verdadeira, ou é falsa? Devemos nós todos obedecer a Deus, sim ou não?

O povo Cristão, o verdadeiro povo responde: “Sim”. A seita anticatólica, ou, para explicar melhor, a maçonaria, que se atreve a chamar-se a nação, responde audazmente: “Não”.

Esta é a que já não quer religião nem na escola nem em parte nenhuma. Nós porém, Cristãos e Cristãs de coração, a queremos na escola e em todas as partes.

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FIM

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