O ENSINAMENTO DOS MANUAIS DE TEOLOGIA

Mons. Joseph Clifford Fenton | 1963

Uma das personalidades mais genuinamente simpáticas dentre os peritos na primeira série de reuniões no Segundo Concílio Ecumênico do Vaticano era o sacerdote agostiniano canadense, Pe. Gregory Baum. Os que tiveram a dita de conhecê-lo vieram a admirá-lo por seu admirável caráter sacerdotal e sua depurada cortesia. Ele é, com toda a certeza, o tipo de homem que as pessoas escutam e que chama a atenção.

Recentemente, ele escreveu um artigo para a revista Commonweal, no qual ele fez uma declaração altamente questionável sobre o status da teologia dos manuais escolásticos no Concílio Vaticano II. O ensinamento, que poderia ter passado despercebido se tivesse vindo de algum homem menos capaz e destacado, naturalmente chama a atenção, pois é uma afirmação do Pe. Baum. E, infelizmente, é uma afirmação que poderia ser seriamente desviante se fosse levada a sério por nossos católicos, especialmente pelos estudantes no campo da sagrada teologia.

O Pe. Baum concluiu seu artigo com esta assertiva:

“O conflito no concílio não é entre homens que tentam introduzir novos insights e métodos modernos e aqueles que tentam permanecer fiéis à grande tradição do passado. É, antes, entre os que buscam renovar a vida da Igreja mediante o retorno à mais autêntica tradição católica de todas as eras e aqueles que buscam consagrar como eterna sabedoria católica a teologia dos manuais da virada do século e a ênfase antimodernista que os permeava.” 
[1. Commonweal, LXXVII, 17 (Jan. 18, 1963), 436.]

Já de si, esta é uma declaração alarmante. A despeito da manifesta e extraordinária amabilidade, conhecimento e sinceridade do Pe. Baum, é definitivamente importante que os católicos, especialmente os sacerdotes católicos, examinem qual a exatidão e quais as implicações daquilo que ele teve a dizer sobre o “conflito” no Segundo Concílio Ecumênico do Vaticano. Este é, definitivamente, um assunto sobre o qual não podemos nos dar ao luxo de estar mal informados.

Para garantir que não estejamos cometendo erro algum neste campo, temos de examinar o contexto do artigo mesmo do Pe. Baum. Neste artigo, a única história que poderia ser considerada de algum modo indicativa de “conflito” é a narrativa feita pelo Pe. Baum do fato de que após uma votação dos Padres do Concílio, e após uma decisão do Soberano Pontífice, o esquema sobre as Fontes da Revelação (agora conhecido como o esquema sobre a Revelação) foi enviado de volta a uma comissão mista, para ser refundido. Como nos contaram muitas vezes os relatos dos jornais, nesta ocasião os Padres do Concílio votaram não continuar com a consideração minuciosa do esquema antes de sua refundição pela comissão. Cerca de sessenta por cento dos presentes não quis prosseguir com a consideração do esquema tal como ele era. Cerca de quarenta por cento manifestaram a disposição de proceder à consideração do esquema tal como eles o haviam recebido do Santo Padre, o qual, por seu turno, recebera-o da Comissão Preparatória Central, a qual, por sua vez, recebera-o da própria Comissão Teológica Preparatória.

Segundo nos contaram os jornais, essa votação não foi decisiva. Foi somente quando o Santo Padre interviera pessoalmente que o esquema foi enviado à comissão mista para ser esclarecido e abreviado. Presumivelmente, o mesmo material, em novo formato, será submetido novamente ao concílio como um todo, depois que a comissão mista e a nova comissão central interina tiverem dado fim nele.

No evento mesmo, nada havia que pudesse de algum modo justificar a linguagem bastante sensacional empregada pelo Pe. Baum. Não houve, certamente, indicação alguma de que os homens que procederam ao exame do esquema tal como ele era estivessem tentando “consagrar como eterna sabedoria católica a teologia dos manuais da virada do século”. Nem, tampouco, houve a menor indicação de que os homens que quiseram fazer com que o esquema fosse retrabalhado antes de o concílio considerá-lo detalhadamente estivessem tentando “renovar a vida da Igreja mediante o retorno à mais autêntica tradição católica de todas as eras”. Na medida em que se pode decifrar, com base em suas próprias declarações tais como foram reveladas nos comunicados de imprensa oficiais do Vaticano, esses homens estavam meramente insatisfeitos com a forma com que o ensinamento sobre as fontes da revelação fora apresentado no texto original do esquema.

Outro indivíduo, escrevendo no mesmo fascículo de Commonweal, alega que:

“Até mesmo os participantes do Concílio admitem…que a oposição entre os dois grupos majoritários foi tamanha, que a sessão seguinte teve de ser adiada para setembro próximo, para permitir que as facções esfriassem a cabeça.” 
[2. Ibid. O autor do segundo artigo é Gunnar D. Kumlien.]

Se a asseveração do Pe. Baum sobre a natureza “do conflito no Concílio” fosse de algum modo justificada, definitivamente haveria necessidade de um período para esfriar as cabeças, e de mais ainda do que isso. Mas não há [N. do T. – O A. escreve em abr. 1963…] absolutamente prova nenhuma de que essa asseveração seja verdadeira. Com efeito, pareceria que este bom padre jovem não somente se enganou acerca do que realmente transpirou no concílio, como descreveu um conflito ou oposição que não teve, nem pode ter lugar no seio dos Padres do Concílio Vaticano II.

O padre Gregory fez um desserviço à causa da verdade católica ao representar mal as motivações que influenciaram os Padres Conciliares a votar a favor ou contra o prosseguimento do estudo detalhado do esquema sobre as fontes da revelação divina pública. Precisamente, a questão era a aceitabilidade da formulação do esquema, e especialmente a aceitabilidade de seu estilo e extensão. Alegaram alguns que o concílio poderia atuar com maior eficácia se uma comissão remodelasse o esquema inteiro. Outros acreditavam que seria melhor proceder à consideração do documento já existente, e fazer as mudanças em sentenças e parágrafos individuais, como resultado das observações do concílio inteiro. A posição destes últimos foi enfraquecida pelo fato de todos os Padres e peritos saberem que um procedimento desses levaria, efetivamente, um longo tempo.

O Pe. Baum só pode estar falando dos homens que votaram em prol da continuação da consideração do esquema então existente quando ele falou daqueles que “buscam consagrar como sabedoria católica eterna a teologia dos manuais da virada do século e a ênfase antimodernista que os permeava”. E ele devia estar descrevendo os que votaram por não proceder ao exame minucioso deste esquema quando ele falou daqueles “que buscam renovar a vida da Igreja mediante o retorno à tradição católica mais autêntica de todas as eras”. Num caso como noutro, a designação não é nem precisa, nem de modo algum aceitável.

Se a alegação do Pe. Baum acerca do “conflito no Concílio” foi escrita com seriedade (e não há razão para supor que não tenha sido), então ele implicou clarissimamente que a teologia dos “manuais da virada do século” era e é, em certa medida, não só distinta como até mesmo oposta à “mais autêntica tradição católica de todas as eras”. Ele obviamente deseja que façamos a inferência de que, no parecer dele ao menos, a vida da Igreja Católica pode em alguma medida ser “renovada” se a Igreja abandonar os ensinamentos teológicos, que estavam contidos nos – ou ao menos que eram característicos dos – grandes manuais em uso nas universidades católicas e nos seminários católicos durante os primeiros anos do século XX.

Além disso, é bastante óbvio a partir das declarações dele, que o Pe. Baum deseja implicar que a oposição à heresia do modernismo manifestada nestes manuais seja de algum modo inaceitável para a Igreja Católica na hora presente. Ao menos quer ele que imaginemos que a Igreja seria aprimorada ou “renovada” se o ensinamento antimodernista que permeou os melhores dentre os manuais de Sacra Teologia do início do século XX viesse a ser contornado ou modificado.

Ademais, o Pe. Baum obviamente quer que os leitores dele acreditem que, no momento presente, a doutrina transmitida aos nossos seminaristas no interior da Igreja Católica esteja, de algum modo, fora da “mais autêntica tradição católica de todas as eras”. Se temos de fazer com que a Igreja “retorne” a uma tal tradição, então ao que parece essa tradição teria sido, em alguma medida, perdida ou ao menos obscurecida, no decurso do século vinte. Certamente a afirmação do Pe. Baum envolve a implicação de que a tradição na qual aqueles sacerdotes que estudaram os manuais teológicos do começo do século XX foram educados não era, definitivamente, a mais autêntica tradição doutrinal da Igreja Católica.

Estas são implicações que nós, definitivamente, temos de examinar. Não há absolutamente prova nenhuma, é claro, de que os homens que votaram no concílio sobre a aceitabilidade do esquema acerca das fontes da Revelação, tal como ele fora entregue ao concílio, estivessem de algum modo preocupados com as implicações carregadas pela declaração do Pe. Baum. Contudo, é um fato que, especialmente desde o encerramento da primeira porção do concílio na Festa da Imaculada Conceição ano passado, foram muitos os que fizeram declarações que, de um modo ou de outro, envolviam as implicações contidas na declaração do Pe. Baum. A maior parte do tempo, estas implicações foram feitas menos energicamente do que o foram pelo Pe. Baum. Todavia, é definitivamente necessário examiná-las, e verificar, de uma vez por todas, se estas implicações são ou não são aceitáveis.

A Doutrina dos Manuais Teológicos

Obviamente, se formos examinar as alegações do Pe. Baum seriamente, primeiro temos de nos indagar sobre a identidade dos manuais teológicos da virada do século XIX para o século XX. A questão de que tratava o esquema sobre o qual votou o concílio era a da Revelação e das fontes da Revelação. Portanto, devemos supor que, quando o Pe. Baum fala dos manuais afrontosos, ele está se referindo àqueles que tratam da teologia dogmática fundamental, e particularmente das seções De Revelatione e De Fontibus Revelationis. Acontece que, neste campo, houve grande quantidade de manuais muitíssimo influentes e bem redigidos produzidos durante os primeiros anos deste século.

Estamos falando, é claro, dos manuais no campo da teologia dogmática fundamental que estavam em uso e foram influentes na virada do século XX e depois dela. Alguns destes foram escritos originalmente durante os últimos anos do século XIX, mas, em edições publicadas subsequentemente à publicação do Lamentabili Sane Exitu, da Pascendi Dominici Gregis, e do Sacrorum Antistitum, estes manuais adquiriram a ênfase antimodernista, que parece tão desagradável ao Pe. Baum.

Provavelmente os mais importantes de todos estes manuais foram os de Louis Billot, que certamente será contado entre os mais capazes dos teólogos que laboraram pela Igreja durante o começo do século. Estes livros, que se referem muito imediatamente ao material contido no esquema sobre o qual votaram os Padres do Segundo Concílio Ecumênico do Vaticano, foram publicados pela Editora da Universidade Gregoriana em Roma, e foram reeditados muitas vezes. Um deles foi o De Inspiratione Sacrae Scripturae Theologica Disquisitio, [3] outro foi o magnífico De Immutabilitate Traditionis Contra Modernam Haeresim Evolutionismi. [4]

[3. Uma quarta edição desta obra foi publicada em Roma pela Universidade Gregoriana em 1929.

4. A Universidade Gregoriana também publicou uma quarta edição desta brilhante obra antimodernista em 1929, pouco depois de Billot ter renunciado ao Colégio dos Cardeais.]

Mais amplamente difundida até do que as obras de Billot foram as do sulpiciano Adolfo Tanquerey. Muitos milhares de sacerdotes foram introduzidos no estudo da sagrada teologia, e particularmente da teologia dogmática fundamental, por cursos baseados na obra de Tanquerey De Religione: De Christo Legato: De Ecclesia: De Fontibus Revelationis, o primeiro dos três volumes de sua Synopsis Theologiae Dogmaticae ad mentem S. Thomas Aquinatis accommodata. [5] Esse volume específico entrou na vigésima-primeira edição em 1925. Se as teses ensinadas por Tanquerey se opusessem às da “tradição católica mais autêntica de todas as eras”, então milhares de sacerdotes, instruídos durante a primeira parte do século vinte, estavam sendo levados ao erro pelos homens que Nosso Senhor constituíra guardiães de Sua mensagem revelada.

[5. Esta coleção foi publicada por Desclée & Co., de Paris, Tournai & Roma. Edições posteriores destes manuais foram preparadas pelo sulpiciano Pe. J. B. Bord.]

Igualmente de primordial importância nos primeiros anos do século XX foram as duas obras de Van Noort sobre o tema da teologia dogmática fundamental, De Vera Religione [6] e De Ecclesia Christi. [7] A influência destas duas excelentes obras foi tremendamente aumentada como resultado da tradução e adaptação para a língua inglesa destas obras por parte dos padres sulpicianos Castelot e Murphy. Outro manual enormemente e merecidamente popular traduzido em inglês foi a Fundamental Theology de Brunsmann, [8] disponibilizada aos nossos estudiosos pelo célebre Arthur Preuss.

[6. A terceira edição desta obra foi preparada pelo Padre E. P. Rengs, e publicada em Amsterdã por C. L. Van Langenhuijsen em 1917.

7. Van Langenhuijsen publicou a terceira edição desta obra em 1913. As traduções em inglês foram publicadas por Newman Press em 1955 e 1957.

8. A Handbook of Fundamental Theology, pelo Rev. John Brunsmann, S.V.D. Livremente adaptada e editada pro Arthur Preuss. Quatro Volumes. St. Louis: B. Herder Book Co., 1928, 1929, 1931, 1932.]

O primeiro volume da Theologia Dogmatico-Scholastica ad mentem S. Thomae Aquinatis do Arcebispo Dom Zubizarreta, igualmente, influenciou muitos estudantes para o sacerdócio no começo deste século. Este volume intitulava-se Theologia Fundamentalis. [9] Continha o mesmo material encontrado no primeiro volume da série de Tanquerey. Assim como Tanquerey, Zubizarreta escreveu um tratado mais breve sobre teologia dogmática, colocando a matéria abrangida nos quatro volumes da edição regular dentro do conteúdo de um só volume. A de Tanquerey foi a Brevior Synopsis Theologiae Dogmaticae.[10] Zubizarreta intitulou a dele Medulla Theologiae Dogmaticae. [11]

[9. A firma de Elexpuru em Bilbao, na Espanha, publicou uma terceira edição desta Theologia Fundamentalis em 1937.

10. Desclée publicou uma sétima edição desta obra, produzida com a cooperação de J. B. Bord, em 1931.

11. Uma segunda edição da Medulla Theologiae Dogmaticae foi publicada por Elexpuru em 1947.]

Em 1930 o brilhante jesuíta germânico Hermann Dieckmann continuou a tradição dos manuais da virada de século publicando seu De Revelatione Christiana: Tractatus Philosophico-Historici. [12] Previamente, ele publicara os dois volumes de seu De Ecclesia: Tractatus Historico-Dogmatici. [13] Contemporâneo dos manuais de Dieckmann, e igualmente de primordial importância na história da teologia do século XX, foi o texto de três volumes do jesuíta Pe. Emílio Dorsch, Institutiones Theologiae Fundamentalis. [14] Alinhada com os ensinamentos de Dorsch está a doutrina contida num manual americano sumamente importante, The Theory of Revelation,[15] pelo grande teólogo de Rochester, Mons. Joseph J. Baierl.

[12. Friburgo em Brisgóvia: Herder, 1930.

13. Friburgo em Brisgóvia: Herder, 1925.

14. Esta obra foi publicada por Rauch em Insbruque, na Áustria. Uma segunda e terceira edições do primeiro volume apareceram em 1930, uma segunda edição do segundo volume em 1928, e uma segunda edição do terceiro volume em 1927.

15. Este livro foi publicado por The Seminary Press, em Rochester, N.Y. O primeiro volume apareceu em 1927, e o segundo em 1933.]

O manual de Tanquerey foi certamente o mais amplamente distribuído entre todos aqueles que apareceram durante a primeira metade deste século. Na perspectiva da história, tudo indica que dois autores devem compartilhar do troféu por acume teológico. Um deles, é claro, foi Billot, cujo texto De Ecclesia Christi: sive Continuatio Theologiae de Verbo Incarnato [16] permanece ainda o melhor tratamento teológico sobre a Igreja produzido durante o curso dos últimos cem anos. O outro foi o dominicano francês Pe. Reginaldo Garrigou-Lagrange, cujo clássico De Revelatione per Ecclesiam Catholicam Proposita [17] ainda é basicamente o melhor manual de apologética escolástica disponível ao estudante hoje.

[16. Uma quinta edição do primeiro volume desta obra foi publicada pela Universidade Gregoriana em Roma em 1927. Uma terceira edição do segundo volume, bem menor mas ainda assim imensamente importante, apareceu em 1929. O De Ecclesia é geralmente reconhecido como o melhor de todos os escritos teológicos do Cardeal Billot. É preciso nunca esquecer que o finado Papa Pio XII, em Discurso aos Alunos da Gregoriana, citou nominalmente Billot como teólogo que deveria servir de modelo para todos os professores de Sacra Doctrina em nosso tempo.

17. A casa editora Ferrari em Roma publicou uma terceira edição do De Revelatione completo (em dois volumes), em 1929 e 1931. A edição original apareceu em dois volumes e o prefácio data da Festa do Santo Rosário em 1917. Posteriormente houve uma edição em um volume só, que não foi bem-sucedida. Ferrari publicou uma quarta edição da obra de dois volumes em 1945.]

Posterior ao manual de Tanquerey, mas assim como este destinado a um sucesso tremendo no mundo dos estudos eclesiásticos, foi o primeiro volume do Manuale Theologiae Dogmaticae de Hervé, intitulado De Vera Religione: De Ecclesia Christi: De Fontibus Revelationis. [18] O primeiro volume dos Précis de Théologie Dogmatique de Bartmann, [19] um livro-texto muito popular há um quarto de século, tratou das fontes da Revelação e de outros tópicos que entraram naquilo que o Pe. Baum chama de “o conflito” no Concílio Vaticano II.

[18. Este primeiro volume foi publicado em Paris por Berche & Pagis em 1929.

19. A tradução desta obra para o francês foi feita pelo Padre Marcel Gautier. Uma segunda edição do primeiro volume, traduzido a partir da oitava edição do original alemão, foi publicada em Mulhouse, na França, por Les Éditions Salvator em 1935.]

Tremendamente influentes em seu tempo foram outros manuais de teologia dogmática fundamental, que não são de uso comum hoje. Entre estes estão os Elementa Apologeticae sive Theologiae Fundamentalis [20] pelo sacerdote austríaco Anton Michelitsch. Os Elementa Theologiae Fundamentalis, [21] do franciscano italiano Clemente Carmignani é outro desses textos. Na mesma classe temos que inserir o Compendium Theologiae Dogmaticae do Cardeal Vives, [22] o primeiro volume das Theologiae Dogmaticae Institutiones de Mannens, [23] que foi intitulado Theologia Fundamentalis, e o primeiro volume dos Commentarii Theologici de MacGuiness, livro este que continha os tratados De Religione Revelata Ejusque Fontibus e De Ecclesia Christi. [24]

[20. Uma terceira edição deste livro foi publicada pela firma de Styria em Graz e Vienna em 1925.

21. Elementa Theologiae Fundamentalis de Carmigiani foi publicado em Florença pela Libreria Editrice Fiorentina em 1911.

22. A firma de Pustet publicou uma quinta edição desta obra em 1903.

23. O primeiro volume das Theologiae Dogmaticae Institutiones de Mannens, a Theologia Fundamentalis, foi publicado por J. J. Romen & Filhos em Roermond, na Holanda, em 1910.

24. A terceira edição do primeiro volume foi publicada em Paris por Lethielleux e em Dublin por Gill em 1930.]

No mundo de língua espanhola as Lecciones de Apologética [25] do Padre Nicolás Marín Negueruela foram extraordinariamente populares. Há um bocado de material sobre teologia dogmática fundamental nas Institutiones Theologiae Fundamentalis do Padre John Marengo e na Summula Theologiae Dogmaticae do Cônego Marchini. [26] A publicação destes livros na última década do século XIX marca-os como genuinamente “da virada do século”, e eles incorporam o tipo de ensinamento teológico que parece desagradar ao Pe. Baum. Muito mais influente, porém, foi o tratado De Theologia Generali, no primeiro volume das Institutiones Theologiae Dogmaticae de Herrmann, [27] obra esta que, incidentalmente, valeu ao seu autor Carta de agradecimento do próprio São Pio X.

[25. A Libreria Internacional em San Sebastian, na Espanha, trouxe a lume uma quinta edição desta obra de dois volumes em 1939.

26. A Editora Salesiana em Turim publicou uma terceira edição da obra de dois volumes de Marengo em 1894. A Summula de Marchini foi publicada em Vigevano em 1898.

27. O editor Emmanuel Vitte publicou uma sétima edição das Institutiones de Herrmann em Lião e Paris em 1937.]

O primeiro volume do Compendium Theologiae Dogmaticae [28] de Mons. Cesare Manzoni contém um típico tratado “da virada do século” sobre teologia dogmática fundamental. Assim também o Enchiridion Theologiae Dogmaticae Generalis [29] do bispo Dom Egger. O mesmo tipo de doutrina também pode-se encontrar na Theologia Fundamentalis [30] do franciscano Gabriel Casanova, na Synthesis sive Notae Theologiae Fundamentalis [31] do Padre Valentín Saiz Ruiz, e na Theologia Generalis seu Tractatus de Sacrae Theologiae Principiis [32] do Padre Michael Blanch.

[28. A quarta edição do primeiro volume de Mons. Manzoni foi publicada em Turim em 1928 por Lege Italiana Cattolica Editrice.

29. O editor Weger de Bréscia trouxe a lume a sexta edição da obra do bispo Dom Egger em 1932.

30. Esta obra foi publicada em Roma pela Typographia Sallustiani em 1899.

31. A Editora e Livraria del Centro Católico publicou esta obra em Burgos, na Espanha, em 1906.

32. O livro do Padre Blanch foi publicado pela Ed. Montserrat de Barcelona em 1901.]

O primeiro volume de quase todo conjunto de manuais de teologia dogmática publicado durante o começo deste século e da última década do século XIX trazia um tratado sobre os fundamentos do dogma. Típicas obras destas foram as Institutiones Theologicae de Tepe, os Theologiae Dogmatica Elementa de Prevel, [33] as Institutiones Theologiae Dogmaticae de Lercher [34] e as Praelectiones Dogmaticae de Christian Pesch [35]. Os textos de Pesch e Lercher foram especialmente influentes no treinamento dos seminaristas ao longo da primeira metade deste século.

[33. O livro de Tepe foi publicado por Lethielleux em Paris em 1894. Em 1912 o mesmo editor trouxe a lume uma terceira edição do primeiro volume de Prevel. Foi editado pelo Padre Miquel, SS.CC.

34. A segunda edição do primeiro volume de Lercher apareceu em 1934, publicada em Insbruque por Rauch. O Padre Schlagenhaufen, S.J., editou uma utilíssima quinta edição deste volume, que foi publicada pela Herder em Barcelona em 1951.

35. Herder de Friburgo em Brisgóvia trouxe a lume uma sexta e sétima edições desta obra em 1924.]

Os dois volumes da Apologetica sive Theologia Fundamentalis de Hilarin Felder [36] foram amplamente utilizados durante as últimas décadas. E, na parte histórica da apologética, Christ and the Critics, de Felder [37], foi e continua sendo de valor praticamente único. Também destacada neste campo foi a obra de dois volumes, Jésus-Christ: Sa Personne, Son Message, Ses Preuves, [38] de Leonce de Grandmaison.

[36. Uma segunda edição dos dois volumes da Apologetica de Felder foi publicada em Paderborn em 1923 por Schoeningh.

37. A tradução para o inglês foi feita pelo famoso John L. Stoddard e foi publicada em Londres em 1924 por Burns, Oates, & Washbourne, Ltda.

38. O brilhante original em francês, uma das obras mais pujantes no campo da apologética católica, foi publicado por Beauchesne em Paris. Saiu uma décima-sétima edição em 1931. Um dos tristes fenômenos nas letras católicas em inglês foi a aparição, dois anos atrás, de uma pequena e relativamente desimportante seção desta obra, apresentada como um livro completo. Esta edição radicalmente expurgada está publicada como Jesus Christ por Leonce de Grandmaison, S.J., com prefácio de Jean Daniélou, S.J., e foi lançada no mercado por Sheed & Ward em Nova Iorque.]

O Padre Berthier, fundador dos Missionários da Sagrada Família, escreveu, durante o reinado do Papa Leão XIII, um Abrégé de Théologie Dogmatique et Morale, [39] que contém um tratado relativamente completo e tipicamente “da virada do século” de teologia dogmática fundamental. O brilhante Padre Bainvel publicou um tratado De Vera Religione et Apologetica, [40] que teve ampla e pujante influência. E, entre os escritos numerosíssimos e hoje quase esquecidos do Cardeal Lépicier, havia um Tractatus de Sacra Doctrina [41] e um Tractatus de Ecclesia Christi [42].

[39. Uma quinta edição foi publicada por Vitte em Lião e Paris em 1928.

40. Beauchesne de Paris publicou esta obra em 1914.

41. Roma: Edições da Boa Imprensa, 1927. Basicamente esta obra é um comentário à primeira questão da Pars Prima da Summa Theologica. Incorpora, porém, um bocado de ensinamento antimodernista.

42. Roma: Buona Stampa, 1935.]

O jesuíta americano Pe. Timothy Cotter publicou uma eminentemente bem-sucedida e exata Theologia Fundamentalis. [43] Dentre os mais recentes de nossos manuais de teologia dogmática fundamental do século XX está a Theologia Fundamentalis, primeiro volume do texto de Iragui e Abarzuza. [44] O padre capuchinho Iragui é o autor deste primeiro volume.

[43. O livro foi publicado pelo Weston College, em Weston, Massachusetts, em 1940.

44. A Theologia Fundamentalis do Padre Serapius de Iragui, O.F.M. Cap., foi publicada pelas Ediciones Studium em Madrid em 1959.]

De primordial importância em meio aos manuais eclesiológicos do nosso século são os dois volumes da Theologica De Ecclesia, [45] do bispo jesuíta Dom Miguel d’Herbigny. Outros textos fortemente influentes na mesma área são o De Ecclesia Christi [46] do jesuíta Pe. Timóteo Zapelena e o De Ecclesia Christi [47] do franciscano Pe. Antonio Vellico.

[45. Beauchesne publicou terceira edição dos dois volumes em 1927 e 1928 em Paris. O manual de D’Herbigny é fora de série, por sua utilização de literatura teológica cristã oriental.

46. A quarta edição do primeiro volume desta bela obra foi publicada em Roma pela Universidade Gregoriana em 1946. A primeira edição pública do segundo volume não apareceria senão em 1954. Edições prévias, como a de 1940, eram “ad usum auditorum”.

47. Roma: Arnodo, 1940. O texto de Vellico é extraordinariamente valioso.]

Outro manual excelente e amplamente utilizado neste campo é The Church of Christ: An Apologetic and Dogmatic Treatise, [48] pelo finado Padre E. Sylvester Berry, de Mount Saint Mary. E, no Canadá, encontramos um par de manuais extraordinariamente útil, a Apologetica de autoria dos padres sulpicianos Yelle e Fournier, e o De Ecclesia et de Locis Theologicis, [49]redigido pelo Padre Yelle. Da Espanha, vem um dos melhores de todos os manuais tradicionais recentes sobre esta matéria, a Theologia Fundamentalispelos padres jesuítas Salaverri e Nicolau. [50] Trata-se do primeiro volume da renomada Sacrae Theologiae Summa.

[48. A Herder de Saint Louis publicou uma segunda edição deste livro em 1927.

49. Estes utilíssimos volumes foram publicados ambos pelo Grande Seminário de Montreal, em 1945.

50. A Biblioteca de Autores Cristianos (B. A. C.) publicou uma quinta edição desta Theologia Fundamentalis em Madrid em 1955.]

Propaedeutica Thomistica ad Sacram Theologiam de Pègues [51] contém uma atestação inusual de muitas das teses centrais da teologia dogmática fundamental tradicional. Outro dominicano, o Pe. Joachim Berthier, redigiu um Tractatus de Locis Theologicis, [52] no qual ele trata com precisão da questão das Fontes da Revelação e da Igreja. A tradição dominicana no campo da eclesiologia foi mantida na literatura da “virada do século” por, entre outros, o Padre De Groot, que publicou sua magnificamente acurada Summa Apologetica de Ecclesia Catholica ad mentem S. Thomae Aquinatis [53]; pelo Padre Gerard Paris, que seguiu o ensinamento de De Groot em ampla medida no seu Tractatus de Ecclesia Christi; [54] e pelo Padre Reginaldo Schultes, cujo De Ecclesia Catholica: Praelectiones Apologeticae [55]é ainda um clássico neste campo.

[51. Este foi publicado pela Libreria del S. Cuore em Turim em 1931.

52. Uma segunda edição deste foi publicada por Marietti em Turim em 1900.

53. Saiu a lume, pela casa editora de Manz em Ratisbona, uma segunda edição deste em 1892.

54. O título integral desta obra é Ad mentem S. Thomae Aquinatis tractatus de Ecclesia Christi ad usum studentium Theologiae fundamentalis. Marietti publicou-a em Turim em 1929.

55. Uma edição posterior desta obra, editada pelo Padre Edmund Prantner, O.P., foi publicada em Paris por Lethielleux em 1930.]

Quarenta anos atrás, a controvérsia de destaque entre os teólogos era o debate acerca da definibilidade da conclusão teológica. No debate, Schultes e o Padre Francisco Marín-Sola eram os porta-vozes mais proeminentes de cada um dos lados. O ensinamento de Schultes foi exposto na sua Introductio in Historiam Dogmatum. [56] Marín-Sola apresentou os ensinamentos dele em seu L’Évolution Homogène du Dogme Catholique. [57] Ambos os autores, contudo, estavam “permeados” por aquilo que o Pe. Baum chamou de “ênfase antimodernista”. E o material nestes livros, definitivamente, influenciou o conteúdo dos manuais subsequentes no campo da teologia dogmática fundamental.

[56. Lethielleux também publicou esta obra, que apareceu em 1922.

57. Uma segunda edição desta obra de dois volumes foi publicada em Friburgo, na Suíça, em 1924 pela Imprimerie et Librairie de l’Oeuvre de Saint Paul.]

Houve escritos consideráveis no campo da teologia dogmática fundamental, em linha com a tradição “da virada do século” da teologia católica e antimodernista, por parte de sacerdotes anglófonos. Imensamente popular há alguns anos foi a Christian Apologetics de Devivier, [58] em tradução editada e arranjada pelo Bispo Dom Messmer, um dos primeiros membros do corpo docente da Universidade Católica da América. Na mesma linha dos ensinamentos do Pe. Garrigou-Lagrange, houve The Principles of Catholic Apologetics do Pe. Walshe [59] e meu próprio We Stand With Christ. [60]

[58. Esta tradução foi publicada em 1903 por Benziger Brothers de Nova Iorque.

59. Longmans, Green & Company publicou a este em 1919.

60. Milwaukee: The Bruce Publishing Company, 1942.]

O jesuíta Pe. John T. Langan escreveu uma magnífica Apologetica, [61] que foi demasiado pouco utilizada por seus compatriotas americanos. Outro jesuíta, o Pe. Joseph de Guibert, publicou um De Ecclesia [62] que é reconhecido como um dos textos mais finos neste campo produzidos ao longo do nosso século.

[61. Chicago: The Loyola University Press, 1921.

62. Uma segunda edição desta obra “in auditorum usu” foi publicada em Roma pela Editora da Universidade Gregoriana em 1928.]

Ao longo dos últimos vinte anos, tivemos muitos textos mais que conservaram os ensinamentos e o espírito dos manuais da virada do século, e que certamente continuaram sua ênfase antimodernista. E, entre estes, podemos mencionar de passagem a Theologia Fundamentalis[63] do jesuíta Pe. Francis X. Calcagno, a Theologia Fundamentalis [64] do arcebispo Parente, atual Assistente do Santo Ofício, e a Theologia Fundamentalis [65] do franciscano Pe. Maurus Heinrichs, bem como o magnífico tratado De Revelatione Christiana [66] de autoria do Pe. Sebastian Tromp. Há também a mui completa e precisa Theologia Fundamentalis [67] do Pe. Joseph Mors S.J., o primeiro volume dos Elementa Theologiae Scholasticae [68] de Conrad Baisi e o primeiro volume das Theologiae Dogmaticae Theses[69] do Cônego Joseph Lahitton.

[63. Nápoles: D’Auria, 1948.

64. Turim: Marietti, 1946.

65. O Studium Biblicum Franciscanum de Tóquio deu a lume uma segunda edição desta obra em 1958.

66. Quinta edição, Roma: Ed. da Univ. Gregoriana, 1945.

67. Este é um texto de dois volumes, cuja segunda edição foi publicada em Buenos Aires pela Editorial Guadalupe em 1954 e 1955.

68. Milão: Editrice Ancora, 1948.

69. Paris: Beauchesne. 1922.]

O espírito da “virada do século”, e a ênfase antimodernista tão deplorada pelo Pe. Baum, também estão bastante manifestos nos artigos publicados no Dictionnaire de Théologie Catholique e no Dictionnaire Apologétique de la Foi Catholique.

A Posição do Padre Baum

Agora, cumpre notar que não existe completa concordância entre as obras que acabamos de mencionar (e mencionamos somente uma pequena parte da literatura que poderia ser chamada de manuais de teologia dogmática fundamental do século XX), com referência às opiniões teológicas. Certamente que existem teses no livro de Christian Pesch que são impugnadas na obra de Réginald Garrigou-Lagrange. E nem tudo o que é ensinado por Tanquerey é aprovado nos manuais de Louis Billot.

Porém, se examinarmos de perto a questão, a oposição do Pe. Baum visa, não alguma opinião ou grupo de opiniões individuais dentro do campo da teologia dogmática fundamental, mas o ensinamento comum de todos esses textos. A altercação do Pe. Baum é que um dos grupos contendedores no Segundo Concílio do Vaticano está buscando “consagrar como eterna sabedoria católica a teologia dos manuais da virada do século e a ênfase antimodernista que os permeava”. Se as palavras dele têm algum significado, ele deve estar convencido de que aquilo que é o ensinamento comum de todos esses manuais da virada do século, e o ensinamento comum dos manuais que os seguiram ao longo do século XX, definitivamente não é sabedoria católica, e que esse ensinamento tem de ser abandonado para que a vida da Igreja possa ser renovada, e para que possamos retornar àquilo que ele chama de “a mais autêntica tradição católica de todas as eras”.

Agora, é bastante óbvio que o ensinamento comum dos manuais de teologia dogmática fundamental desde a virada do século XX foi a doutrina ensinada aos candidatos ao sacerdócio dentro da Igreja Católica, ao menos até os últimos meses. Estamos lidando com livros que foram empregados no ensino nos seminários e universidades. Se esses livros contêm todos ensinamento comum oposto ou mesmo distinto da genuína doutrina católica, então o magistério ordinário e universal da Igreja Católica esteve muito em erro no decurso do século XX.

Há que notar que estamos falando do ensinamento comum desses textos ou manuais de teologia dogmática fundamental. O Pe. Baum lança a acusação de que um dos grupos em conflito no Concílio Vaticano II estava tentando “consagrar como eterna sabedoria católica a teologia dos manuais da virada do século”. Claro que esse é o linguajar do marketing e não do salão de conferências universitário. É calculado para fazer os leitores dele imaginarem que muitos dos Padres do concílio estavam tentando dar aos manuais de teologia dogmática fundamental qualificação de que esse ensinamento anteriormente não gozava.

O que parece desagradar ao Pe. Baum é o fato de que o ensinamento unânime dos teólogos escolásticos em toda e qualquer área relativa à fé ou à moral é o ensinamento do magistério ordinário e universal da Igreja. Os manuais, como aqueles a que fizemos referência, são livros efetivamente utilizados na instrução dos candidatos ao sacerdócio. São escritos por homens que efetivamente ensinam nos colégios aprovados da própria Igreja, sob a direção da hierarquia católica e, em última instância, através da atividade da Congregação dos Seminários e Universidades, sob a direção do próprio Soberano Pontífice. O ensinamento comum ou moralmente unânime dos manuais neste campo é, definitivamente, parte da doutrina católica.

É bastante óbvio que as opiniões individuais de autores individuais não constituem doutrina católica, e não poderiam ser apresentadas como tal. Mas há um fundo de ensinamento comum (como aquele que nos informa de que existem verdades que a Igreja propõe a nós como reveladas por Deus e que não estão contidas de maneira nenhuma dentro dos livros inspirados da Sagrada Escritura), que é a doutrina unânime dos manuais, e que é a doutrina da Igreja Católica. O ensinamento unânime dos teólogos escolásticos sempre foi reconhecido como norma da doutrina católica. É lamentável que hoje haja alguma tentativa de desencaminhar as pessoas fazendo-as imaginar que ele deixou de ser tal norma no século XX.

O Pe. Baum tenta fazer parecer que havia um grupo considerável em meio aos Padres do concílio que pensava que a vida da Igreja poderia ser renovada e que poderíamos retornar “à mais autêntica tradição católica de todas as eras” pondo de lado o ensinamento comum e unânime dos teólogos escolásticos do nosso tempo. Em contrapartida, é o ensinamento de Sylvius, que segue aqui Melchior Cano quase verbatim, que: “concordem omnium theologorum sententiam in rebus fidei aut morum rejicere, si non est haeresis, est tamen haeresi proximum.” [70] [70bis] Especialmente em vista de não haver absolutamente nenhuma prova de que houvesse partido algum no concílio com objetivos semelhantes aos descritos pelo Pe. Baum, tudo indica que seria mais sábio seguir o ensinamento católico fundamental expressado por Cano e Sylvius.

[70. Controvérsias, livro 6, q. 2, art. 4, concl. 3. A passagem na obra de Melchior Cano encontra-se em De Locis Theologicis, livro 8, cap. 4, concl. 3.]

[70 bis. (N. do T.) – Tradução:
“Rejeitar sentença concorde de todos os teólogos em questões de fé ou moral, se não for heresia, é próximo da heresia.”
(SYLVIUS, Controv. lib. 6 q. 2 a. 4 concl. 3; cf. Melquior CANO, De locis theol., lib. 8 cap. 4 concl. 3).
Ora,
“Poder-se-ia fazer uma lista impressionante das teses ensinadas em Roma antes do Vaticano II como as únicas válidas, e que foram eliminadas pelos Padres conciliares.”
(Cardeal SUENENS, in: ICI – Informations Catholiques Internationales, de 15 de maio de 1969).
Isso se explica porque o Vaticano II não foi realmente um concílio ecumênico da Igreja Católica, tendo-lhe faltado a promulgação por um verdadeiro e legítimo Papa. (Fim da Nota do Tradutor.)]

Ênfase Antimodernista

Foi sumamente infeliz que o distinto padre canadense viesse a se pronunciar sobre o tópico do modernismo neste contexto específico. No artigo dele, fica claro que ele considera a “ênfase” antimodernista dos manuais teológicos da virada do século, e, por inferência, daqueles manuais que seguiram no mesmo caminho tradicional ao longo do século XX, como algo que pode e deve ser abandonado. Os modernistas originários tentaram frequentemente iludir as pessoas de modo a fazê-las imaginar que a oposição aos ensinamentos errôneos deles constituísse uma espécie de excesso teológico, e que um verdadeiro equilíbrio doutrinal seria atingido somente quando uma espécie de meio termo entre o modernismo e o antimodernismo fosse alcançada. Talvez não intencionalmente, o Pe. Baum parece estar promovendo a mesma mensagem.

Na realidade, o modernismo foi uma heresia, ou, para fazer esta colocação com maior exatidão, um cacho de heresias. Se alguém quiser saber quais foram realmente os ensinamentos condenados dos modernistas, tem somente que ler as proposições condenadas em Lamentabili Sane Exitu [71] e ver o conteúdo do Juramento Contra os Erros do Modernismo.[72] Se fizer este estudo, descobrirá que os dogmas católicos negados pelos modernistas são os ensinamentos fundamentais que Deus revelou a nós sobre a Sua Igreja e sobre a Sua mensagem. Como havia uma campanha visando levar os católicos a rejeitar esses ensinamentos, era e permanece necessário a todo e qualquer tratado exato e competente no campo da teologia dogmática fundamental afirmar – ou, se o Pe. Baum preferir esta palavra: enfatizar – esses ensinamentos que foram negados pelos modernistas, e que foram proclamados doutrina católica básica e autêntica pelo magistério infalível da Igreja Católica.

[71. Denz., 2001-65.

72. Denz., 2145 ss.]

O sacerdote católico sabe perfeitamente bem que nunca haverá, e que nunca pode haver, nenhum “retorno” a uma tradição doutrinal católica mais autêntica mediante o abandono do ensinamento comum de todos os manuais de teologia dogmática fundamental do século XX. O magistério vivo e infalível da Igreja Católica nunca abandona a tradição católica mais autêntica. Essa tradição está manifesta no ensinamento comum dos manuais do século XX, e nas condenações das várias proposições modernísticas.

O abandono dos dogmas atacados ou questionados pelos primeiros modernistas ou por seus sucessores seria um abandono do ensinamento divino no seio da Igreja Católica. Podemos dar graças a Deus que não há prova alguma de que grupo algum dos Padres do Concílio Vaticano II quisesse, do modo que fosse, abandonar esta doutrina.

Trad. por Felipe Coelho, de: “The Teaching of the Theological Manuals”, in: The American Ecclesiastical Review [A Revista Eclesiástica Americana], edição de abril de 1963, pp. 254-270.

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