Padre Hervé Belmont
2011
“Quando Jesus chegou aos doze anos, foram eles a Jerusalém segundo o costume daquela festa. Passados os dias da festa, quando eles voltaram, ficou o menino Jesus em Jerusalém, sem que seus pais o percebessem. E, julgando que ele fosse na comitiva, caminharam uma jornada; e procuravam-no entre os parentes e conhecidos. Mas, não o encontrando, voltaram a Jerusalém em busca dele.
Três dias depois, o encontraram no templo, sentado no meio dos doutores, ouvindo-os e interrogando-os. E todos os que o ouviam estavam maravilhados com sua sabedoria e com suas respostas.
Quando o viram, admiraram-se, e sua Mãe disse-lhe: Meu filho, por que procedeste assim conosco? Eis que teu pai e eu te procurávamos, cheios de aflição. E ele disse-lhes: Para que me buscáveis? Não sabíeis que devo ocupar-me das coisas que se referem ao serviço de meu Pai? Mas eles não entenderam o que ele lhes disse.
E desceu com eles, e foi a Nazaré; e era-lhes submisso. Ora, sua mãe conservava todas estas coisas no seu coração. E Jesus crescia em sabedoria, em idade e em graça diante de Deus e diante dos homens.” (São Lucas, II, 42-52).
O Evangelho do reencontro do Menino Jesus no Templo nos é familiar, nós o meditamos ao recitar os mistérios gozosos do Santo Rosário. Ele contém uma lição para o nosso tempo sobre a qual convém determo-nos um pouco.
A Santíssima Virgem Maria e São José tinham fé, uma fé imensa e indestrutível. Eles sabiam, portanto, que Nosso Senhor Jesus Cristo é Deus, que Ele é todo-poderoso, que Ele é infinitamente sábio, que a Sua santa vontade se realiza sempre. Parece-nos, então, que eles deviam ter conservado o espírito tranquilo, que eles deviam ter experimentado grande serenidade, convictos de que nada de ruim poderia acontecer a Jesus. Não foi nada disso, e estes foram três dias de angústia, de oração suplicante, de aflição.
A fé, mesmo a maior fé do mundo como a de Nossa Senhora, não elimina a angústia; não retira o desgosto: seu papel não é de suprimir a cruz nem de libertar dos sofrimentos naturais, é de ordem inteiramente diversa. A fé ilumina a inteligência e nos conduz ao coração do mistério do amor de Deus.
Na crise da Igreja – em meio à qual o Bom Deus nos pôs para a nossa salvação eterna – nossa situação é análoga.
Nós cremos, nós sabemos, que a Igreja Católica tem as palavras de vida eterna. As portas do inferno não prevalecerão. Mas essa absoluta certeza não elimina a dor da batalha. A fé, por mais viva que a possuamos, não retira a angústia provocada por esta constatação: a crise perdura mais e mais; os combatentes amolecem; os erros pululam e a doutrina católica é cada vez mais esquecida. Mais angustiante ainda, os bispos sagrados no tempo da autoridade – aqueles que conservaram a fé – não se manifestam, e no entanto são eles que devem transmitir a sucessão apostólica e estar na origem da renovação (dolorosíssima, sem dúvida) do esplendor da Igreja.
É por isso que, especialmente, devemos unir o combate que temos a combater para permanecer fiéis e para, se agradar a Deus, contribuir para o retorno da ordem na Santa Igreja Católica, à angústia que São José e Nossa Senhora suportaram na sua procura de Jerusalém. Por que não oferecer todas as nossas preces e as nossas penitências na intenção da Santa Igreja Católica, da qual a Santíssima Virgem Maria é mãe e São José, o padroeiro celeste?
Aqueles que conheceram esta dilaceração do coração saberão fazer erguer-se perante o trono da misericórdia de Deus o nosso ardente desejo de que este pesadelo termine: que nós nos reencontremos humildemente ao pé do autêntico Magistério da Igreja, “maravilhados com sua sabedoria e com suas respostas”.
Trad. por Felipe Coelho.
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