O P. Maximiliano KOLBE, O.F.M. Sub.
“Vianney”
2015
Lido na biografia do Padre Kolbe (*) escrita por Maria Winowska (Le Fou de Notre-Dame, cap. XII, p. 196):
« Já faz anos que a Russia o assombra. Quando ele estava no “sanatório”, ao longo das horas intermináveis na espreguiçadeira, ele se aplicava a estudar russo. Depois, ele sempre se esforçou em ficar a par da literatura ateia, publicada na Rússia, e guardava-a consigo, sob chave, num cofre. O grande sonho da vida dele era publicar a sua revista em russo. Perto do fim da vida, pouco tempo antes da guerra, ele dirá:
“Vereis um dia a estátua da Imaculada no centro de Moscou, no topo do Kremlin!”
Muitas testemunhas escutaram essas palavras, pronunciadas em tom de tranquila certeza; mas um só, o Padre Pignalberi, um dos “sete fundadores”, recolheu uma confidência:
“Antes de isso acontecer, nós teremos de passar por uma prova de sangue.” »
Seríamos naturalmente tentados a não atribuir crédito algum a esse gênero de predição, mas o fato é que, até aqui, as [previsões] do Padre Kolbe parecem nunca ter sido contraditas pelos acontecimentos ulteriores. Na página seguinte da mesma obra, leio por exemplo:
« Ele acaba de obter do Capítulo provincial a autorização de fundar uma verdadeira sucursal japonesa de Niepokalanow e de abrir um noviciado para os indígenas. Trata-se pois de construir uma casa, o quanto antes.
O Padre compra um terreno nos arredores de Nagasaki, numa encosta bastante íngreme que resvala de um longo cume, no sentido oposto ao da cidade. Todo mundo o critica. Onde já se viu construir em tais condições? Por que dar as costas à cidade?
O Padre sorri — e finca o pé.
Depois do cataclismo da bomba atômica, Mugenzai no Sono — textualmente: o Jardim da Imaculada — ficará praticamente intacto, porque abrigado pelo cume. Apenas os vidros se quebraram. Ninguém morreu dentro das imediações do convento. Então, mas somente então, eles compreenderam… »
V.
(*) ADENDOS (pelo tradutor [F.C.]):
O livro citado pelo Sr. M. T. (“V.”) tem tradução portuguesa de Miguel Mário Pupo Correia: Maria Winowska [1904-1993],Maximiliano Kolbe: o louco de Nossa Senhora; 3ª. ed., Fátima: Cidade do Imaculado Coração de Maria, 2003, 175 p. Em português brasileiro, da Autora, temos Maximiliano Kolbe – Um Mártir de Auschwitz, tradução de José Américo de Assis Coutinho; São Paulo: Edições Paulinas, 1983, 1ª., 192p. Não sei dizer se são o mesmo livro em traduções diferentes. Trago a seguir dois trechos correspondentes da obra que possuo, que traz detalhes suplementares muitíssimo interessantes: P. Antônio Ricciardi O. F. M. Conv., P. Maximiliano Kolbe, Apóstolo da Boa Imprensa e Mártir da Caridade, Trad. br. de Luís Leal Ferreira, de: L’Eroe di Oswiecim, P. Maximiliano Kolbe, dei Frati Minori Conventuali. Petrópolis: Vozes, 1950, 250 p.
1] À pág. 119-120:
« Mugenzai No Sono
O terreno onde em menos de um mês surgiu o barracamento que abrigou as primeiras máquinas tipográficas acionadas a mão, as macas para o repouso dos trabalhadores, a improvisada cozinha ao ar livre, um ângulo para o trabalho redatorial de “O Cavaleiro”, era dominado por um alto morro em cujo vértice se elevava uma estátua de Buda. Isto, naturalmente, não podia agradar aos novos apóstolos. Como trabalhar por Maria à sombra do ídolo repugnante?
Outro propósito louco: embora sem meios, o P. Maximiliano decide adquirir toda a encosta da colina para apoderar-se… do Buda e destroná-lo! Não sabemos de onde tenham vindo os meios, mas disto sabemos com certeza: que, a breve distância de tempo, podia ele adquirir todo aquele terreno, desembolsando-lhe em duas prestações o inteiro preço de 3.500 yens. A Imaculada! A Providência!…
Assim, sobre o alto morro elevava-se a estátua cândida da Imaculada, que ainda hoje ali domina, e que, iluminada de noite, é um místico farol de chamamento à sua “cidade” para os que erram nas trevas do paganismo.
Em poucos anos uma casa, uma capela, um pavilhão para as máquinas (linotipos, rotativa, dobradora, perfuratriz, todas acionadas eletricamente), um outro pavilhão para a central elétrica, uma ampla [119/120] sala destinada ora a cinema ora a reunião de pagãos para as instruções catequéticas, formaram a cidadezinha, sonho missionário do P. Maximiliano, por ele hoje protegida do Céu. Lícito nos seja o reconhecimento desta proteção na mortífera explosão da segunda bomba atômica que destruiu em grande parte a cidade de Nagasaki, poupando totalmente a “Mugenzai No Sono”, certamente protegida pela colina, porém não menos protegida – é certo – pelo Céu, nessa terrível conjuntura.
Verdade é que, antes do P. Maximiliano Kolbe, outros pioneiros, também franciscanos, o precederam consagrando com seu sangue a terra do xintoísmo [11. A 5 de Fevereiro de 1597, vinte e três mártires franciscanos dos Menores Reformados, e em 1622 outros cinquenta e dois missionários tingiram com o seu sangue a terra do Sol nascente.]; verdade é que o trabalho de outros missionários elevou a 1.000.000 os católicos entre os 80 milhões de pagãos habitantes do arquipélago japonês; porém bem verdade é também que o P. Maximiliano, com a sua obra para ali transplantada, favoreceu grandemente nestes últimos anos toda a ação missionária, abatendo muitos dos obstáculos que se lhe opunham, com a difusão da imprensa mariana, cuja eficácia teremos em breve ocasião de documentar. »
2] À pág. 135:
« Mesmo em 1930, “a ideia fixa” da Rússia atormenta-o. Idéia que ele [P. Maximiliano Kolbe] nunca abandonou, nem mesmo ante as crescentes dificuldades; porque ainda em [134/135] 1937, depois do Japão, depois da Índia, chamado de novo à Polônia e vindo a Roma para a comemoração oficial do vintenário da fundação da M. I. [Milícia da Imaculada], assim se exprimia ele em tom que diríamos profético, na conferência que fez na “Sala da Imaculada”, nos SS. Apóstolos:
“Não cremos nem longínquo nem um puro sonho o advento do dia grandioso em que, por obra dos seus milicianos, a estátua da Imaculada dominará no próprio coração de Moscou!” [9. Relação na Crônica Sede Primária, M. I., Roma, a 11 de Fev.o de 1937; cf. o Osservatore Romano 14-15 de Fev.o de 1937, Chiminelli, op. c. [Dr. Piero Chiminelli,Milícia Mariana, Pádua, 1943], p. 206.]
Chegados a este ponto, e prevenindo tudo o que ainda deverá ser narrado, não podemos calar uma condição preposta pelo próprio P. Maximiliano à realização do seu sonho: condição calada na conferência comemorativa, mas revelada a um dos primeiros sete da M. I., ainda hoje vivo, o P. Quirico Pignalberi. Reproduzimo-la com as palavras do afortunado confidente:
“O P. Maximiliano narrou-me em toda a extensão o desenvolvimento da obra (M. I.), as dificuldades encontradas e por encontrar, e que tinha como certo que, dentro de não muito, também no centro da Rússia, ou seja em Moscou, se elevaria uma grande estátua da Imaculada; mas que antes se teria de fazer a prova de sangue. Enquanto eu ficava estupefato e tonto, ele parecia ver nisso tão claro como se estivesse em presença dos fatos…
… Quando voltei, estando nós ainda juntos, tornou ele a tocar no assunto aludido, isto é, que esperava para si a prova de sangue, acrescentando que esta era necessária…” [10. Relação do P. Quirico Pignalberi.]. »
Trad. por Felipe Coelho, de: « Russie: une prédictio, du “fou de Notre-Dame” » par Vianney, 2015-04-10.
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