Pe. Giovanni Battista Lemoyne, S.D.B. | 1903
[CAP. XXI. …Pio IX concede a seu povo várias reformas políticas, e as artimanhas dos sectários para alcançá-las – Os aplausos a Pio IX julgados pelo Arcebispo Dom Fransoni e por Dom Bosco – Gritai “Viva o Papa!” e não “Viva Pio IX!” – Cartazes no Oratório recordando a dignidade do Vigário de Jesus Cristo…]
Também em Roma, os cabeças das conjurações seguiam fielmente as instruções de Mazzini sobre o modo de fraudar os Papas e os outros soberanos.
“O Papa – escrevera ele – promoverá as reformas por princípio e por necessidade… Aproveitai a mínima concessão para reunir as massas, ainda que só para atestar o reconhecimento: festas, cantos, assembleias… dar ao povo o sentimento de sua força e torná-lo exigente… um degrau por vez… Obtida uma lei liberal, aplaudi e exigi a seguinte”.
O Papa, de fato, animado por santos pensamentos, disposto a fazer tudo pelo bem de seu povo, concedia-lhe certas liberdades que mais pareciam desejáveis; e, de súbito, organizaram-se imponentes demonstrações populares para agradecer-lhe e para pedir em alta voz novas reformas.
E Pio IX, em 15 de março, concedia a lei sobre a imprensa com uma liberdade dentro de justos limites, a qual, porém, não impediu que, em agosto, só em Roma se publicassem cinquenta jornais, em sua maioria detestáveis, corruptores do espírito dos cidadãos. A 14 de junho, ele nomeava um conselho de ministros, mas composto de eclesiásticos, e os sectários, esperando o momento oportuno para impor ao Papa um Ministério de leigos, fizeram ouvir, unidos aos gritos de Viva Pio IX, os de Viva Gioberti, Viva a Itália, e mesclados a hinos quase republicanos. Em 5 de julho, tendo poucas tropas às suas ordens, permitiu que fosse instituída a guarda cívica para a tutela da ordem pública, e, assim, os revolucionários obtiveram armas. Pouco tempo depois, decretado e nomeado o Conselho Municipal de Roma, inaugurava o Conselho de Estado, mas, entre os conselheiros que representavam as cidades individuais do reino, haviam sido eleitos não poucos conspiradores dos mais perigosos. E, entrementes, não havia louvor e glória que não fosse tributada a Pio IX.
Em Turim, chegavam as notícias de Roma e, também aqui, continuavam em todas as ocasiões os gritos frenéticos, obstinados, de Viva Pio IX. Dom Fransoni [o Arcebispo do Pe. São João Bosco (n. do t.)], porém, compreendera desde o início que, por trás daquelas exageradas expressões de entusiasmo, escondia-se o artifício das seitas, e, requisitado pelo Papa a mobilizar os fiéis em auxílio dos irlandeses que lutavam contra a fome, a 7 de junho de 1847 escrevia numa Carta Pastoral sua:
“Que aquele era um meio muito propício de mostrar obséquio ao Pontífice e, assim, de aplaudi-lo. Não como aqueles tais que aplaudem Pio IX, não pelo que ele é, mas pelo que quereriam que ele fosse. Deve-se ainda refletir que não é a batida fragorosa de palmas, nem a descomposta aclamação tumultuosa, que são os aplausos que podem ser-Lhe gratos, mas, sim, a escuta dócil dos Seus avisos e a prontidão em cumprir, não somente as Suas ordens, como também as Suas sugestões”.
Dom Bosco não pensava diferentemente de seu Arcebispo. Naturalmente, também no Oratório era uma gritaria a plenos pulmões de vivas e hosanasao grande Pontífice; tanto mais que Dom Bosco falava sempre do Papa com a máxima estima; repetia frequentemente ser necessário estar unidos ao Papa, pois ele é o elo de união dos fiéis com Deus; e preconizava quedas e castigos fatais aos que presumissem contrariar ou censurar, ainda que minimamente, a Santa Sé; e tanto era o amor que sabia infundir nesse sentido em seus jovens, que eles se sentiam dispostos a ser sempre obedientes e fiéis a ela, e a defendê-la mesmo pagando com a vida.
Os jovens, pois, repetiam: E viva Pio IX; mas ficaram pasmos de ouvir de Dom Bosco, que buscava mudar as palavras da boca deles:
– Não gritem Viva Pio IX, mas Viva o Papa!
– Mas por que, perguntaram a ele, quer [Ella vuole] que gritemos Viva o Papa? Pio IX por acaso não é o Papa?
– Vocês têm razão, replicava Dom Bosco, mas vocês não veem aí nada além do sentido natural das palavras; há certas pessoas que querem separar o Soberano de Roma do Pontífice, o homem de sua dignidade divina. Louva-se à pessoa, mas não vejo que se queira prestar reverência à dignidade com que está revestida. Por isso, se queremos estar seguros neste momento, gritemos: Viva o Papa!
– E todos os jovens repetiam: Viva o Papa!…
– E agora, continuava Dom Bosco, se quiserem cantar um hino em louvor ao glorioso Pontífice, entoe-se então aquele que foi composto faz pouco tempo pelo Maestro Verdi: Saudemos a santa bandeira que o Vigário de Cristo alçou.
E todos prorrompiam num coro fragoroso cantando aquele hino que, segundo a interpretação de Dom Bosco, era uma homenagem ao estandarte da Santa Cruz.
Mais de uma vez vieram no domingo, nos dias de maior efervescência, alguns senhores com palavras de bons cristãos, mas liberais. Entusiasmados de ver tantas centenas de moços intrépidos, após breves palavras de encorajamento convidaram-nos a gritar Viva Pio IX; mas sucedeu-lhes a ingrata surpresa de ouvir um trovejar de mais de quinhentas vozes respondendo: Viva o Papa! Não havia sido esquecida a lição de Dom Bosco; e, para que esta ficasse cada vez mais inculcada, ele colocou em toda a parte do pequeno Oratório cartazes impressos, convidando os jovens a obedecer ao Papa, a acatar-lhe as ordens com reverência, a respeitar-lhe a autoridade. Num destes se lia: Tu és Pedro, e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja – Noutro: Onde está Pedro, ali está Deus – Num terceiro: Estou convosco até à consumação dos séculos – Onde está Pedro, aí está a Igreja – Apascenta as minhas ovelhas.
Dom Bosco narrava ao Cardeal Bernabò em 1873:
“Em 1847, li alguns panfletos de exaltados revolucionários; neles estava escrito: ‘Comece-se a gritar Viva Pio IX mas nunca Viva o Papa; procure-se desacreditar os jesuítas, mas não toqueis no Pontífice. Os padres bons, louvai-os, encorajai-os e tentai insuflar neles o amor próprio com a lisonja; os padres maus, se logrardes atraí-los para o vosso lado, fareis um grande negócio’. E esse programa foi posto em prática à letra, e desde então, quem não estivesse cego podia ver como toda a manobra dos liberais se dirigia a tribular e destronar o Papa, tolhendo-lhe todos os meios e apoios humanos. Esses tais não cessam de repetir: ‘Quando ele não tiver mais nenhuma esperança de reconquistar o que lhe foi tolhido, terá simplesmente de ceder e dobrar-se às nossas vontades’.”
Trad. por Felipe Coelho, de Dom LEMOYNE, Os aplausos a Pio IX julgados pelo Arcebispo Dom Fransoni e por Dom Bosco – Excerto das Memórias Biográficas, vol. 3 (1903), cap. 21
Saudemos a santa bandeira que o Vigário de Cristo alçou. Incrível adorei a leitura. Salve Maria.
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