Na imagem de destaque, Karl Rahner e Henri de Lubac.
Pe. Matthias Gaudron, F.S.S.P.X.
1997
[NOTA: aqui não estamos de acordo com a posição do autor, que reconhece a autoridade dos falsos papas conciliares e pós-conciliares. Publicamos esse excerto pela sua utilidade.]
Graças ao apoio de João XXIII e de Paulo VI, as forças liberais e neomodernistas introduziram nos textos do Concílio, um grande número de suas ideias. Antes do Concílio, a Comissão Preparatória havia preparado com cuidado, esquemas que eram o eco da Fé da Igreja. É sobre esses esquemas que a discussão e o voto deveriam ter sido feitos; mas eles foram rejeitados na primeira sessão do Concílio e substituídos por novos esquemas preparados pelos liberais.
Não houve no Concílio defensores da Doutrina tradicional?
Houve no Concílio um grupo de mais ou menos 250 a 270 bispos decididos a defender a Tradição da Igreja. Acabaram por formar o Coetus Internationalis Patrum. Mas contra ele, estava já constituído e perfeitamente organizado, um grupo de Cardeais e de bispos liberais, que se chamou Aliança do Reno.
De onde vem esse nome, Aliança do Reno?
O nome Aliança do Reno vem do fato de que os dirigentes desse grupo liberal eram, quase todos, bispos de dioceses às margens do rio Reno. A cada dia, esse grupo inundou o Concílio com folhas datilografadas, nas quais se dizia aos bispos em que sentido deviam votar. É por isso que um jornalista, o Pe. Ralph Wiltgen, pôde intitular O Reno se lança no Tibre [Ed. Permanência, Rio de Janeiro, 2007], seu livro que contava a história do Concílio.
Os inovadores eram majoritários?
Como toda revolução, o Vaticano II não foi conduzido pela maioria, mas por uma minoria ativa e bem organizada. A maioria dos bispos estava indecisa e pronta para seguir os conservadores. Mas, quando viram que os dirigentes da Aliança do Reno eram amigos pessoais do papa e que alguns dentre estes (os Cardeais Döpfner, Lercaro e Suenens) tinham até sido nomeados moderadores do Concílio, eles os seguiram.
Os textos do Vaticano II, portanto, não são representativos do que pensava a maioria dos bispos na abertura do Concílio?
Um teólogo da ala progressista, Hans. Küng, exprimiu um dia, sua alegria de que um sonho de uma pequena minoria se havia realizado no Concílio: “Nenhum daqueles que vieram aqui para o Concílio voltará para sua casa igual ao que era antes. Pessoalmente, nunca teria esperado que os bispos falassem de modo tão ousado e tão explícito na aula conciliar”. [O Reno se lança no Tibre, p. 65]
Quem é esse teólogo Hans Küng?
Hans Küng manifestou, desde o Concílio, a que espírito se filia. Além da infalibilidade pontifícia e da Divindade de Cristo, esse eclesiástico nega a maior parte dos dogmas cristãos, de tal maneira que mesmo a Roma Conciliar teve que lhe retirar a autorização de lecionar.
Outros teólogos hereges exerceram influência no Vaticano II?
O jesuíta Karl Rahner (1904-1984), mesmo sendo mais prudente e menos explícito, espalhou teses análogas em suas obras. O Santo Ofício, desde 1949, impôs-lhe silêncio sobre certas questões. Teve, no entanto, sobre o Concílio Vaticano II uma influência imensa; Ralph Wiltgen chega a dizer que foi o teólogo mais influente do Concílio:
“A posição dos bispos de língua alemã sendo regularmente adotada pela Aliança europeia (Aliança do Reno), e a posição da Aliança sendo, por sua vez, a mais frequentemente adotada pelo Concílio, bastava que um só teólogo fizesse suas visões serem adotadas pelos bispos de língua alemã para que o Concílio as fizesse suas. Ora, um tal teólogo existia: era o Pe. Karl Rahner”. [Id. p. 85]
Há outros testemunhos sobre a influência de Rahner no concílio?
O Pe. Congar conta:
“O clima virou: Rahner dixit, ergo verum est [Rahner disse, então é verdade]. Dou um exemplo. A Comissão doutrinal era formada pelos bispos, cada um tendo a seu lado seu próprio perito, mas também por alguns Superiores gerais (como o dos Dominicanos ou dos Carmelitas). Ora, sobre a mesa da Comissão havia dois microfones; mas Rahner praticamente havia tomado um somente para si. Rahner era um pouco intrometido, e muito frequentemente o Cardeal de Viena, Franz Konig, cujo perito era Rahner, virava-se em sua direção e dizia-lhe para que falasse: Rahner, quid? Naturalmente, Rahner intervinha (…)”. [Yves Congar, em Trinta Dias (edição francesa), nº 3, 1993, p. 26.
Qual era o pensamento de Karl Rahner?
Karl Rahner era um revoltado contra o ensinamento tradicional da Igreja que, para ele, era só “monolitismo” e “teologia de escola”. Uma carta que escreveu em 22 de fevereiro de 1962, por ocasião da tradução italiana de seu Pequeno Dicionário Teológico esclarece-nos sobre seus sentimentos em relação ao Magistério da Igreja:
“(…) Uma tradução italiana é claramente um problema especial, em razão da presença, em Roma, de líderes e guardiães da ortodoxia. Por outro lado, estou cada vez mais fortificado em minhas posições. Também se poderia dizer que esse pequeno léxico está redigido de tal modo que essas pessoas não compreendam nada e não vejam, portanto, o que está dito contra sua estreiteza”. [Herbert Vorgrimler, Karl Rahner verstehen, Fribourg, Herder, 1995, p. 175]
Karl Rahner manifestou, durante o Concílio, sua revolta contra a Tradição e o Magistério da Igreja?
Durante o Concílio, o Cardeal Ottaviani, Prefeito do Santo Ofício, exprimiu um dia em seu discurso, sua inquietação quanto a algumas inovações. Falava sem texto, por estar quase cego, e ultrapassou seu tempo para falar. Então, o microfone simplesmente lhe foi cortado. Rahner comentou o acontecimento em uma carta escrita a Vorgrimler, em 5 de novembro de 1962: “Você já deve ter sabido que Alfrink, de novo, simplesmente cortou a palavra a Ottaviani, porque ele falava por muito tempo. Começou-se a aplaudir (o que não é habitual). Moral: A alegria sádica é a alegria mais pura”. [Deutsche Tagespost, 10 de outubro de 1992]
Encontra-se, na correspondência de Karl Rahner, outros elementos sobre seus sentimentos durante o Concílio?
A publicação, em 1994, da correspondência trocada entre o Pe. Karl Rahner e a poetisa austríaca Luise Rinser (1911-2002) fez estourar o escândalo: no momento mesmo em que mandava chover e fazer bom tempo no Concílio, Karl Rahner estava em correspondência amorosa com essa mulher, escrevendo-lhe, em sua paixão, até três cartas por dia (276 só no ano de 1964).
Outros maus teólogos influenciaram o Vaticano II?
Pode-se citar, entre outros, os Padres Congar e De Lubac, já apresentados anteriormente; o Pe. Schillebeeckx, o Pe. John Courtney-Murray etc.
Qual foi a influência do Pe. Congar no Concílio?
Mons. Lefebvre conta:
“No início do Vaticano II, eu ia às reuniões [dos bispos franceses] em Saint Louis-des-Français. Mas ficava estupefato de ver como aquilo acontecia. Os bispos se comportavam literalmente como garotinhos diante dos Congar e outros peritos que gravitavam em torno. O Pe. Congar subia à mesa da presidência e, sem o menor pudor, dizia: ‘Mons. Fulano, o senhor fará tal intervenção sobre tal assunto. Não tenha nenhuma preocupação. Nós lhe prepararemos o texto e o senhor só terá que ler’. Não podia crer no que meus olhos viam, nem no que meus ouvidos ouviam! E parei de ir a essas reuniões (…)”. [Mons. Marcel Lefebvre, Fideliter, nº 59, p. 53]
Há outros testemunhos sobre a influência do Pe. Congar?
Mons. Desmazières, Bispo-auxiliar de Bordeaux, conta:
“(…) De tarde os trabalhos continuavam. Eu ia ao meu, dirigido pelo Pe. Congar, sobre a Escritura e a Tradição. Éramos uma dúzia. A nós cabia prever as intervenções a serem feitas no dia seguinte (…). Pediram-me para tomar a segunda. Não me recusei, mas com a condição de que o Pe. Congar preparasse o meu texto. Estava de acor-do. Ele mo passará amanhã no ônibus (…) Tomei conhecimento do texto no trajeto; não estava decidido a mudar o que quer que fosse. Desembarcando em São Pedro, inscrevi-me para falar: era o vigésimo primeiro (…)”. [Mons. Desmazières, L’Aquitaine (semaine religieuse de Bordeaux), dezembro de 1962, p. 580]
O que disso dizia o Pe. Congar?
O Pe. Congar, normalmente, minimizava sua influência no Concílio. No entanto, assim resumiu sua ação: “A preparação do Concílio havia estado sob a dominação dos homens da Cúria e do Santo Ofício.(..) Tudo consistiu, praticamente, em os colocar em minoria. [Yves Congar O.P., em Una vie pour la ver la vérité, Jean Puyo interroge le père Congar, Paris, Centurion, 1975, p. 140] Era para ele uma vitória. Dez anos antes, punido por seus Superiores, anotava em seu diário pessoal as seguintes resoluções:
“Continuar, ao máximo, a escrever no mesmo sentido, utilizando todas as chances de liberdade. Aí está, sobretudo, meu combate. Eu sei (e ‘eles’ sabem!) que, em maior ou menor escala, tudo o que digo e escrevo é a negação do sistema. Sim, aí está meu verdadeiro com-bate: em meu trabalho teológico, histórico, eclesiológico e pastoral. O curso que eu componho, neste momento, de Ecclesia, exatamente como não se tratasse de nada, uma verdadeira resposta; é minha verdadeira dinamite sob a cadeira dos escribas”. [Yves Congar O.P., notas manuscritas de fevereiro de 1954, citadas por François Leprieur O.P., Quand Rome condamne, Paris, Plon/Cerf, 1989, p. 259]
Depois do Concílio, declarou:
“O Concílio liquidou o que eu chamava de incondicionalismo do sistema. Entendo por sistema todo um conjunto muito coerente de ideias comunicadas pelo ensinamento das Universidades romanas, codificadas pelo Direito canônico, protegidas por uma supervisão estrita e bem eficaz sob Pio XII, com resumos, apelos à ordem, submissão dos escritos a censuras romanas etc. Pelo fato do Concílio, o sistema foi desintegrado”. [Yves Congar O.P., em Una vie pour la vérité, Jean Puyo interroge le père Congar, Paris, Centurion, 1975, p. 220]
Quem é o Pe. Courtney-Murray?
O Pe. John Courtney-Murray, jesuíta americano (1904-1967), havia sido condenado em 1955 pelo Santo Ofício, por causa do seu estudo The Problem of Religious Freedom (O problema da liberdade religiosa). Foi, no entanto, convidado, como perito, ao Concílio Vaticano II, a partir de 1963. Durante os debates sobre a liberdade religiosa, propunha-se aos bispos que redigissem suas intervenções, e assim ele exerceu uma influência considerável. No fim de sua vida, tentou demonstrar que o ensinamento da Igreja sobre a contracepção podia evoluir, como havia evoluído o ensinamento sobre a liberdade religiosa.
O que se pode concluir disso tudo?
Que homens tais como Küng, Rahner, Congar, Lubac, Courtney-Murray etc. tenham exercido uma influência sobre o Concílio não advoga em seu favor, nem a favor de suas reformas. Infelizmente, algumas declarações do Papa [sic] João Paulo II também não lhe trazem vantagem. Tal como esta, que fez em 1963 (quando era um simples bispo):
“Jamais um Concílio conheceu tamanha preparação, jamais se sondou de maneira tão ampla a opinião católica. Não somente os bispos, as universidades católicas e os superiores gerais das congregações exprimiram suas opiniões sobre os problemas conciliares; mas também uma grande porcentagem de católicos leigos e mesmo de não católicos. Teólogos tão eminentes quanto Henri de Lubac, J. Daniélou, Y. Congar, H. Küng, R. Lombardi, Karl Rahner e outros tiveram um papel extraordinário nesses trabalhos preparatórios”. [citado por M. Malinski, Mon ami Karol Wojtyla, Paris, Le Centurion, 1980, p. 189].
Excerto de Pe. MATTHIAS GAUDRON, F.S.S.P.X.; Catecismo Católico da Crise na Igreja, Editora Permanência, 2011, pp. 58-63.