Uma resposta aos anti-Nárnia
John S. Daly
2008
A edição do mês passado de The Four Marks trouxe um ponderado artigo do Pe. Rainer Maria Becher, da FSSPX, em que o autor contrastou quatro obras: O Senhor dos Anéis, de Tolkien; O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa, de C. S. Lewis; A Paixão do Cristo, de Mel Gibson; e as histórias Harry Potter, de J. K. Rowling.
Eu gostaria de objetar que os comentários do Pe. Becher sobre uma dessas obras — a de Lewis — mostram que ele malogrou em entender o gênero literário a que ela pertence e, por isso, ele a avaliou incorretamente.
Curiosamente, um outro sacerdote (o Pe. Eugene Berry, sedevacantista) há apenas dois anos cometeu erro similar sobre o mesmo assunto. Na consideração dos comentários desses dois padres (a quem não pretendo nenhum desrespeito), espero projetar alguma luz não somente sobre um único livro, mas sobre um leque muito mais amplo de assuntos.
O sumário que o Pe. Becher faz do livro de Lewis (peça central da série Nárnia) é o seguinte:
“Lewis faz a tentativa de oferecer a história da Redenção embrulhada num conto-de-fadas, o que, evidentemente, não tem como fazer justiça à importância e sinceridade do assunto.”
E o Pe. Berry observara:
“Alguns argumentam que nessas fantasias cinematográficas pode-se ver simbolismo cristão. É muito melhor alimentar a inteligência com a realidade das doutrinas de nossa Fé dada por Deus do que distorcer a Sua criação com as fabricações do homem (frequentemente aparentadas ao gnosticismo.)… Filmes como Nárnia, com o seu tênue verniz de ideias religiosas, são genuínas tentativas de desmamar as crianças da religião real…”
O Pe. Berry também aplicou a Nárnia o conselho de que “as Mestras não devem permitir que quem está sob sua tutela leia romances [novels (ndt)], ou outras obras de pura ficção, que têm muito mais probabilidade de prejudicar do que de instruir, para quem é jovem”, atribuído à Bem-aventurada Julie Billiart num livro de 1922: The Educational Ideas of Blessed Julie Billiart [As Ideias Educacionais da Bem-Aventurada Julie Billiart].
Ambos os críticos malograram inteiramente em estimar que a obra de Lewis é uma alegoria e em avaliá-la como tal.
A natureza da alegoria
Então, esforcemo-nos por corrigir o mal-entendido: todo o mundo conhece a metáfora, o uso de uma palavra para representar outra, como quando dizemos que um homem agonizante tem “um pé na cova”, se bem que ele, na realidade, pode estar na cama dele; ou quando dizemos que o dólar “despencou”, como se a moeda americana fosse uma fruta que se separou da penca e está em queda rumo ao chão; ou quando nos referimos aos “caciques” do liberalismo, porque, apesar de não serem líderes indígenas, esses demagogos são violentamente intolerantes; ou quando dizemos que um homem é um “bom samaritano”, muito embora ele não venha da Samaria.
Ora, uma alegoria é uma forma de metáfora contínua. Não é somente uma palavra única que designa outra coisa que não o que ela significa literalmente; é toda uma história na qual os eventos podem ser lidos tanto literalmente quanto simbolicamente.
Se formos comentar inteligentemente qualquer alegoria, devemos primeiro entender que, sejam quais forem as outras críticas que se lhe possa fazer, ela não pode ser condenada, nas palavras da Bem-aventurada Julie Billiart, como “pura ficção”, pois não é nada do tipo. O sentido literal pode ser verdadeiro (por exemplo, a peregrinação dos israelitas no deserto por quarenta anos realmente aconteceu, mas também — na intenção do Autor divino — simboliza o progresso da alma cristã na vida espiritual) ou pode ser falso, mas o significado escondido por trás do simbolismo tem o objetivo de ser verdadeiro.
Em segundo lugar, devemos estimar que a alegoria não pode ser censurável em si mesma, pois ela é empregada repetidamente por toda a Bíblia, pelo próprio Nosso Senhor (as parábolas são histórias, algumas literalmente verdadeiras, mas a maioria, até onde sabemos, fictícias no sentido literal, embora todas comunicando simbolicamente alguma verdade importante), bem como por homens santos; de fato, o Antigo Testamento inteiro é uma grande alegoria da religião cristã: “Ora, todas estas coisas lhes aconteciam em figura, e foram escritas para advertência de nós, para quem os fins dos séculos chegaram.” (1 Cor. x,11)
Em terceiro lugar, devemos reconhecer que, em todas as alegorias, o significado superficial é o menos importante, ao passo que o significado escondido é central e é a verdadeira razão pela qual a obra foi escrita e pela qual, idealmente, ela deveria ser lida. Por onde, as palavras do Pe. Berry são o exato oposto da verdade quando ele escreve que O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa, de Lewis, não tem senão um “tênue verniz de ideias religiosas”.
Seria que o Pe. Berry não tem imaginação? Nesse caso, isso poderia explicar tanto o malogro dele em entender a alegoria, como a sua escolha, quando ele próprio precisa de uma metáfora, de uma palavra tão inapropriada como “verniz”. Todos sabem que verniz é uma fina camada de material atraente fixado no exterior de alguma substância menos prezada, para dar a impressão de que o item inteiro é feito solidamente do que, na realidade, só está presente em aparência superficial e enganosa. Mas a obra de Lewis não oferece nenhum “verniz de ideias religiosas”, em absoluto. Não há qualquer menção ou alusão ao Cristianismo de uma ponta à outra de Nárnia! É bem o contrário: ao leitor exterior e superficial, O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa aparentaria não ter nenhum significado ou valor religioso. Na realidade, porém, a obra é tão repleta de Cristianismo como uma casca de banana está cheia de banana dentro. Apenas, é preciso descascá-la primeiro, para alcançar a fruta. O Pe. Berry parece não ter feito isso de modo algum, e o Pe. Becher confessa considerar isso muito difícil: “…durante a história toda, mal se consegue perceber qualquer relação com o suposto tema.”
Não há nada de surpreendente nessa reação, mas nada de particularmente edificante tampouco, pois é o resultado da inatividade. Qualquer leitor reflexivo verá que a verdadeira história por trás do mito de Lewis é a da salvação do homem. E novas reflexões sobre o livro serão recompensadas por descobertas quase indefinidas de simbolismo cristão, todas tão claras que não pode haver dúvida de que foram propositais, e todas elas podendo dar ao leitor luz de natureza apologética, doutrinal ou mesmo espiritual.
Claro que muitos lerão o livro por sua história ficcional e superficial, o que lhes causará pouco prejuízo e pouco bem, assim como gerações de crianças leram as Viagens de Gulliver sem perceber que, escondida por trás da ficção imaginária, está a sátira mais amarga e cínica jamais concebida da humanidade toda.
A utilidade da metáfora e da alegoria
Tendo esclarecido e afastado os mal-entendidos mais flagrantes, chegamos à pergunta: Por quê? Que vantagem tem a alegoria sobre o relato direto do fato? Por que não dizer logo as coisas claramente, se é que se as faz questão de dizer mesmo?
A resposta a essa pergunta é fundamental. Pois aqueles que não conseguem ver a resposta devem inclinar-se sempre para o realismo extremo. Para ilustrar e inculcar a frontalidade das definições do catecismo, exigirão eles o violento realismo áudio-visual de um filme como A Paixão do Cristo, do Sr. Gibson. Aqueles que conseguem ver a resposta têm exigências bem diferentes. Eles entenderam por que Deus e Sua Igreja fazem uso tão amplo do simbolismo. Eles têm ao seu dispor um tesouro abundante de riquezas de que nem suspeitam os literalistas.
A verdade é que há muitas boas razões pelas quais a alegoria é utilizada e é, em muitas circunstâncias, bem mais eficaz do que tanto a direta narração factual quanto a representação gráfica realista. Eis algumas dessas razões:
Verdade demais de uma só vez pode ofuscar
O sol é brilhante demais para ser olhado diretamente sem ofuscar nossos olhos corporais; devemos ser capazes de olhar outras coisas à luz dele, mas o próprio sol, só o podemos chegar a ver se ele for artificialmente filtrado ou obscurecido, por exemplo quando olhamos para o seu reflexo numa poça. Similarmente, muitas verdades são na prática tornadas mais claras ao não serem ditas explicitamente e tim-tim por tim-tim.
A alegoria contorna a cegueira induzida pelo pecado
Nossa visão direta é às vezes distorcida por hábito vicioso ou por interesse pessoal. A apresentação velada da verdade permite-nos perceber uma realidade que a contemplação direta havia, de fato, ocultado de nós. O segundo livro dos Reis, capítulo 12, oferece um exemplo famoso de alegoria usada para esse propósito, com efeito atordoante, pelo profeta Natã. O rei Davi caíra em adultério e assassinato, mas ele habituara-se a ocultar de si próprio a realidade de suas ações. A parábola de Natã, do homem rico que roubou a única e tão amada ovelhinha do homem pobre para sua própria mesa, abriu os olhos do pecador. A reação de Davi ao conto foi indistorcida, porque ele ainda não havia penetrado além do nível do relato superficial e, de fato, fictício. Natã precisou somente acrescentar: “Tu és este homem”, para Davi entender a sua falta e fazer penitência. Faria pouco sentido, se bem que seria perfeitamente verdadeiro, comentar sobre o conto de Natã que “…durante a história toda, mal se consegue perceber qualquer relação com o suposto tema.” Era esse o objetivo! Nem tampouco estava Natã balançando-se nas beiradas do gnosticismo!
A alegoria restaura a sensação
a inteligências entorpecidas pelo hábito
A alegoria também ajuda a livrar-nos do efeito amortecedor do hábito. Os cristãos como os não-cristãos já ouviram centenas de vezes a narração fundamental da Encarnação e da Redenção. Nossas reações são agora reflexos condicionados. Não conseguimos olhar para o Cristianismo como algo novo. Não conseguimos reagir a seus dogmas, sua moral, sua história como a algo que tem frescor. A finada Dorothy L. Sayers escreveu: “O dogma da Encarnação é o que há de mais dramático sobre o Cristianismo, e de fato o que de mais dramático já entrou na mente do homem; mas, se dizes isso às pessoas, elas te fitam com perplexidade.” E, como Chesterton mostra em The Everlasting Man [O Homem Eterno], assim que, por uma mudança de perspectiva, recuperamos a capacidade de enxergar o Cristianismo com o aspecto que ele deve ter tido para os contemporâneos de Cristo, as verdades sagradas nos alcançam: o descrente vê de um só golpe que a Fé é crível, o fiel é instigado a agir de acordo com o que ele acreditou letargicamente mas não assimilou plenamente.
Milhões de homens são incapazes de ouvir a mínima menção do Nome de Nosso Senhor sem ser vítimas de toda uma gama de instintivas reações negativas. Eles não têm essa repugnância por Aslam. É, portanto, possível a Aslam conduzi-los a Cristo de um modo que a apologética cristã explícita nunca teria podido. Suspeito que ele o possa ter feito com mais frequência do que o Sr. James Caviezel. Sendo assim, ele contribuiu para o desejo do Pe. Berry de que devemos “alimentar a inteligência com a realidade das doutrinas de nossa Fé dada por Deus”, ao permitir que viessem à fé os descrentes que, de outro modo, talvez não tivessem crido e ao permitir aos fiéis ser alimentados mais eficazmente do que poderia, de outro modo, ter acontecido, por verdades de que eles só tinham apreensão parcial. É claro que, como Lewis (diferentemente de muitos dos que ele influenciou) nunca completou a jornada rumo ao Catolicismo, o livro dele pode bem ser passível de críticas assim como o são algumas de suas outras obras, mas a crítica justa não pode estar fundada no mal-entendido. De minha parte, considero Nárnia tão católica quanto as obras pré-conversão de Chesterton.
A alegoria, como os símbolos e cerimônias,
leva em conta as necessidades do homem
A apresentação indireta e simbólica da verdade é particularmente apropriada quando as verdades são misteriosas em si mesmas e pedem reverência ou temor respeitoso. O Concílio de Trento explicou a necessidade de cerimônias místicas na liturgia:
“Como a natureza humana é tal que não consegue sem recursos exteriores elevar-se facilmente à meditação das realidades divinas, a Santa Madre Igreja instituiu certos ritos, a saber: que algumas coisas na Missa sejam pronunciadas em voz baixa e outras em voz alta; igualmente, em conformidade com a disciplina e tradição apostólica, ela empregou cerimônias, tais como bênçãos místicas, luzes, incenso, vestes e muitas outras coisas do gênero, por onde a majestade de tão grande sacrifício fosse acentuada e os espíritos dos fiéis fossem estimulados, por esses sinais visíveis de religião e piedade, à contemplação das realidades tão sublimes que estão escondidas neste sacrifício.”
Essas mesmas considerações podem se aplicar, na literatura, ao uso da alegoria e do simbolismo: o objetivo é estimular as inteligências dos fiéis à contemplação de realidades escondidas, em vez de satisfazer diretamente a curiosidade deles desvelando tudo e deixando-os num papel puramente passivo.
“Noli me tangere!”
Um ser humano presente diante de nossos olhos pode facilmente ser objeto de uma afeição demasiado sensual e natural. O amor divino que Cristo veio inspirar-nos é da vontade, não das emoções. Não há perigo de sentimentalismo quando a realidade é velada como a presença de Cristo foi retirada na Ascensão (ver o Catecismo do Concílio de Trento sobre as vantagens anexas conferidas pela Ascensão [parte I, cap. VII, § 8 (ndt)]), ou velada na Eucaristia, ou apresentada simbolicamente como em muitos de nossos rituais litúrgicos.
Entre aqueles que testemunharam a Paixão de Cristo em sua realidade sangrenta, Ele julgou necessário repreender as mulheres de Jerusalém por suas mal direcionadas lágrimas de mera piedade natural. Isso pode explicar em parte por que os cristãos recuaram, por vinte séculos, da representação direta de Cristo sem símbolo nem véu. Pode parecer assombroso de nossa perspectiva presente, mas a peça radiofônica de Dorothy L. Sayers de 1941 The Man Born to be King [O Homem Que Nasceu Para Ser Rei] foi considerada revolucionária pelo fato de a voz de um ator humano ter falado as palavras de Cristo. Em 1959, o filme Ben-Hur, protagonizado por Charlton Heston, permitiu aos espectadores ver Cristo de relance uma ou duas vezes sem jamais divisarem um rosto identificável. Qualquer outra coisa era inaceitável a cristãos devotos de todas as denominações e, em particular, aos católicos, cuja influência nos critérios do Comitê Hays naquele tempo era de suma importância. Somente em 1961, com o Vaticano II no ar e a influência monolítica da Igreja começando a diminuir, foi que o filme Rei dos Reis permitiu que um ator fosse claramente visto e ouvido como Nosso Divino Senhor. Se você dá por certo que as objeções feitas pelos católicos de uma geração ou duas atrás eram infundadas, pode ser que você esteja sofrendo de paroquialismo ideológico. A voz e o rosto do Verbo Encarnado, objeto de nosso amor reverente, certamente não podem ser imitados adequadamente por nenhum ator humano, e é duvidoso que seja apropriado aplaudir até a melhor das tentativas inadequadas.
Nada pode entrar na inteligência senão através dos sentidos
— “nihil in intellectu nisi prius in sensu”
O pensamento abstrato nunca é fácil para os homens, pois todo o nosso conhecimento deve passar pelos nossos sentidos, e é somente pela analogia que podemos adquirir qualquer conhecimento daquilo que nossos sentidos não conseguem perceber. É por isso que, para a maioria dos homens, a alegoria e o simbolismo são as únicas portas pelas quais é possível ganhar acesso à filosofia. O escritor religioso moderno professa escandalizar-se com expressões metafóricas tradicionais como aquela que afirma que Nosso Senhor está sentado à mão direita do Pai. Mas suas tentativas de despojar a linguagem religiosa da metáfora lograram somente substituir metáforas úteis por metáforas inúteis; suas tentativas de libertar os leitores de imagens supostamente enganadoras os deixam tanto sem imagens quanto sem ideias, um empobrecimento pelo qual ele os congratula como se fora um ganho.
Quanto mais vemos, menos pensamos
Todos concordarão que uma representação vívida e inteiramente assimbólica da Paixão de Cristo, como aquela realizada pelo Sr. Mel Gibson, proporciona um banquete para os sentidos. O espectador vê tudo. Mas pode-se duvidar de se isso é tão desejável quanto talvez pareça à primeira vista. O Papa Pio XII observou:
“Quando o homem vê tudo (‘l’uomo onniveggente’), ele fica quase inteiramente absorvido no exercício dos sentidos e é levado, inadvertidamente, a reduzir a aplicação da faculdade totalmente espiritual de ler dentro das coisas (i.e. a inteligência) e, desse modo, torna-se cada vez menos capaz de amadurecer as ideias verdadeiras pelas quais a vida é sustentada.” (Rádio-Mensagem de Natal de 1957).
Noutras palavras: quanto mais vemos, menos pensamos. Em contraste com isso, a alegoria e o simbolismo alimentam os sentidos e a imaginação de um modo que, ao invés de abafar o intelecto, estimula-o a atividade mais vigorosa. É por isso que a representação máxima da Paixão de Cristo não é aquela realizada na tela, mas aquela realizada no altar onde a auto-imolação do Deus-Homem é não somente tornada presente em realidade sacramental e mística, mas é também simbolizada por aquilo que incide sobre os sentidos. Por uma confusão similar, o Vaticano II, com sua convocação à participação litúrgica popular, levou a uma liturgia em que a única participação digna de haver (a do coração e da vontade, movidos pela ação da inteligência reflexiva) é tornada impossível. A Igreja sabe quais efeitos devem ser produzidos no coração do homem, e ela sabe melhor do que Hollywood como produzi-los.
O homem não é anjo
Perdoai-me se pareço ter divagado. Empreendi defender o uso literário da alegoria em questões religiosas, e me vejo contrastando a liturgia (que é ainda mais remota e simbólica do que a alegoria) com o cinema (que é ainda mais gráfico do que a narração literária mais realista). Exemplos extremos podem ajudar a esclarecer os princípios, e o princípio capital que eu quero ressaltar é que aquilo que é apresentado apenas indiretamente à nossa inteligência exerce frequentemente um efeito mais poderoso e mais salutar do que apresentações mais imediatas. Se temos de cooperar pelo esforço pessoal para nos beneficiarmos da alegoria e do simbolismo, isso não é um mal: nada que valha a pena ter vem sem esforço.
Há também outras razões pelas quais é de grande importância não considerar a alegoria como “distorcendo a criação [de Deus] com as fabricações do homem”. Não compreendendo bem a alegoria, não somente nos privamos desnecessariamente do alimento que ela oferece, mas também criamos para nós mesmos uma falsa consciência. Deus fez o homem num estado de dependência absoluta da metáfora. Devemos imperativamente, para a nossa salvação, conhecer verdades abstratas, mas nossa linguagem não tem uma só palavra, para qualquer abstração, que não tenha sido originalmente uma metáfora. Tentar emancipar-nos das metáforas, incluindo sua forma estendida, a alegoria, é mais uma variante do desejo de tornar-nos anjos. Mas a história dá testemunho de que homens que tentam se tornar anjos tornam-se demônios.
E já que, gostemos ou não, estamos rodeados pela metáfora e pela alegoria — e nós próprios usamo-las mesmo sem nos darmos conta disso —, devemos aprender a enxergá-las como realmente são. Assim como uma palavra literal designa uma coisa, uma metáfora é uma palavra que designa uma coisa que, por sua vez, designa outra coisa. Se você tomar uma verdade literal como metafórica, você se tornará um modernista, e se tomar uma metáfora como a verdade literal, você se tornará um fanático. A apreciação e o bom uso da metáfora e da alegoria são, portanto, parte necessária da educação que produz o indivíduo equilibrado e cultivado.
Trad. por Felipe Coelho.
Assisti uns vídeos da flor Carmélis que fala sobre os estranhos comportamento desses autores , como se reunissem numa espécie de sociedade secreta.
As parábolas de Jesus tratava de estória, mas coisas reais.
Nada de mundo encantado. Abraços!!!
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Salve Maria!
A obra literária não é má em si. Concordo mais com John Daly.
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SALVE MARIA! obrigado pelo se trabalho ,VIVA CRISTO REI! Enviado do Yahoo Mail no Android
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