DO “MITO DA SUBSTITUIÇÃO” À RELIGIÃO NOACHIDA

Michel Laurigan
2004

A crise que atualmente abala a Igreja de Deus, vista do céu, inscreve-se necessariamente no combate multissecular entre a Igreja e a Sinagoga de Satanás (Ap. 2, 9).
Nesse sentido, o século XIX assistiu ao desenvolvimento de um novo plano de assalto contra a cidadela católica, estratégia revelada em 1884 por Elías Benamozegh.
Este rabino cabalista de Livorno, mestre do pensamento judaico contemporâneo, propôs então não apagar o catolicismo da face da terra, mas “transformá-lo” segundo os critérios da lei de Noé (2).
O Vaticano II foi uma tentativa de implementar esse plano? Essa é a questão abordada por Michel Laurigan neste artigo.
O leitor perceberá toda a sua relevância consultando, nos documentos desta edição de Le Sel de la Terre (“O Sal da Terra”), a mensagem dirigida à B’nai B’rith por Monsenhor José Doré, Arcebispo de Estrasburgo.
Le Sel de la Terre, nº 40. Outono, 2003.

“Porei inimizade entre ti e a mulher,
entre a tua descendência
e a descendência dela” (Gn 3:15).

Por ocasião da entrega do prêmio Nostra Æetate (3) em 20 de outubro de 1998, na sinagoga Sutton Place (Nova York), concedido conjuntamente por Samuel Pisar e o Centro de Entendimento entre Judeus e Cristãos da Universidade do Sagrado Coração de Fairfield (EUA), o cardeal [judeu] Jean M. Lustiger, arcebispo de Paris, fez uma declaração (4) com um título promissor: O amanhã de judeus e cristãos. Essa afirmação, cuja importância não escapou a ninguém na época, ainda hoje merece nossa atenção. Diante dos líderes do mundo judaico, o cardeal apresentou um panorama histórico das relações judaico-cristãs e fez uma análise aprofundada da obra de salvação da humanidade. Seria de se esperar lembrasse ele alguns fatos da teologia católica sobre a história da salvação. Longe disso, foi antes a estreia de uma nova teologia da história. Algumas citações do cardeal nos permitirão compreender a seriedade de suas observações e introduzirão este estudo.

No momento da entrada no terceiro milênio da era cristã, iniciou-se uma nova época na história da humanidade. Está ocorrendo uma virada de página na história da humanidade. Nas relações judaico-cristãs, os cristãos finalmente abriram seus olhos e ouvidos para a dor e a mágoa dos judeus. Querem [os cristãos] carregar o peso sem transferi-lo para os outros e não querem parecer inocentes (5).

Qual é o pecado pelo qual os cristãos devem carregar um fardo? O cardeal se compromete a respondê-la no capítulo intitulado “Eleição e ciúme”, que deve ser citado na íntegra ao descrever a história da salvação de forma tão errônea.

“Com a Nostra Æetate, os bispos da Igreja Católica apresentaram pela primeira vez uma imagem positiva e ousada dos judeus infiéis”.

A escolha recai sobre o povo judeu infiel; nunca foi revogada por causa da “escolha do povo eleito”. O ciúme é uma coisa cristã:

A inveja em relação a Israel é tamanha, que rapidamente assumiu a forma de uma reivindicação de herança. Eliminar o próximo, ou seja, a alguém diferente de si mesmo! Os pagãos convertidos tinham acesso às Escrituras e aos feriados judaicos. Mas um movimento de ciúme humano, muito humano, levou-os a colocar os judeus à margem, ou mesmo fora (isto é, [expulsou-os de] seu judaísmo (6), de suas práticas, de seus ritos, de suas crenças).

Com efeito, diz o cardeal, “o número e a força dos pagãos convertidos vieram perturbar e inverter a economia da salvação”. Este movimento tendeu a esvaziar a existência judaica de seu conteúdo concreto, carnal e histórico, concebendo a vida da Igreja sob a figura de uma realização definitiva da esperança e da vida judaica (7). Assim se desenvolveu a “teoria da substituição” (8).

Avança o cardeal Lustiger, tentando provar terem os cristãos despojado os judeus de seu papel de povo eleito e de povo sacerdotal, portador da salvação dos homens:

Quando Constantino concedeu aos cristãos uma tolerância que equivalia ao reconhecimento do cristianismo na vida do Estado e o estabeleceu como a religião do Império, os judeus foram violentamente marginalizados. Esta foi uma maneira simplista e rude de rejeitar os tempos da redenção (9) e seu trabalho de parto.

O mito (10) da substituição do povo cristão pelo povo judeu foi alimentado, portanto, por um ataque secreto e indizível de ciúmes, e legitimou a apropriação da herança de Israel, cujos exemplos poderiam ser multiplicados. Para citar apenas um: a pretensão dos reis da França de serem descendentes de Davi, que determinou a seus conselheiros tivessem suas sagrações celebradas conforme o cerimonial dos reis de Israel, assim como nos conta a Bíblia e tal como já havia sido feito em Bizâncio (11).

Até o final de seu panorama histórico e de sua singular teologia da história, o cardeal tranquiliza seus ouvintes. Os tempos mudaram: o tempo do desprezo se extingue para dar lugar ao da valorização (12). Dentro em breve, a herança será devolvida ao seu legítimo dono, o povo judeu, a verdadeira Israel, que se torna novamente um povo sacerdotal (13), que trará a autêntica salvação às nações, a paz aos gentios e… aquela unidade de que o mundo tem necessidade. Sua conclusão termina nesta esperança:

A Igreja Católica condensou esta tomada de consciência na declaração Nostra Æetate do Concílio Vaticano II, que durante trinta anos deu origem a numerosas conquistas de posições, especialmente sob o impulso do Papa João Paulo II. Mas a esta nova compreensão ainda cabe transformar profundamente os preconceitos e as ideias de tantos povos pertencentes ao espaço cristão, cujos corações ainda não estão purificados pelo espírito do Messias. A experiência histórica mostra-nos isto: necessita-se uma longa “paciência” e um grande esforço educativo “para possuir a alma” (Lc 21, 8). No entanto, o curso empreendido é irreversível.

Em poucas palavras, trata-se de cristãos ciumentos, que assumem a herança dos judeus, suplantando-os no papel de povo de Deus e instrumento de salvação para o mundo; da admissão e confissão desta falta no século XX, depois da tomada de consciência no Concílio Vaticano II de dever esta herança ser devolvida aos judeus despossuídos; e da necessidade de reparar o erro cometido, dando tempo ao tempo para mudar o espírito dos cristãos. O movimento da história é irreversível.

Mais recentemente, em 2002, o cardeal Lustiger interveio — em um congresso judaico europeu (14), em um congresso judaico mundial (15) e perante o Comitê Judaico da América do Norte (16) — expondo uma “reflexão sobre a escolha e vocação de Israel e suas relações com as nações”.

O chefe da igreja conciliar João Paulo II abraçando o cardeal judeu Lustiger.

Seu judaico-cristianismo sincrético (17) parece agradar às elites do judaísmo, sem que ninguém no mundo católico se comova realmente com a heterodoxia de seu pensamento.

Como pode um cardeal se permitir reescrever a história da salvação até finais do século XX, a ponto de negar toda a obra redentora de Jesus Cristo, continuada por sua Igreja? Como foi operada a subversão espiritual do século XX? Foi no Concílio Vaticano II, como sugere o cardeal Lustiger? Se a Igreja não é mais a verdadeira Israel, o que acontece com essa nova teologia da história? Este estudo tenta responder a essas importantes questões.

“Redescobrir o patrimônio”:
tentativas ao longo da história

Originalmente escolhido por Deus para a magnífica missão de trazer o Salvador aos homens, o povo judeu foi a esperança e a honra da humanidade durante os dois mil anos antecessores à vinda de Jesus Cristo. Guardou a herança das promessas divinas, deu testemunho do verdadeiro Deus em meio à idolatria pagã, preservou no mundo a fé, a verdade, o culto puro e substancial do Pai que está nos céus e a esperança do Salvador do mundo. Os judeus foram verdadeiramente “o povo de Deus” até a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo; tendo nascido da raça de Abraão, Jesus Cristo a coroou e consagrou com sua própria santidade.

Mas o Calvário separou em dois o povo eleito: de um lado, os discípulos, os apóstolos e os primeiros cristãos, que reconheceram em Jesus crucificado o Messias que veio cumprir a Lei e [a profecia dos] Profetas, aderindo plenamente à sua mensagem, ao seu espírito e à sua seu corpo místico, a Igreja; do outro, aqueles sobre cuja cabeça, segundo seu desejo, caiu o sangue do Justo (18), o que lhes valeu uma maldição a perdurar enquanto persistirem em sua rebelião.

Aponta Monsenhor Delassus: “o deicídio abriu um abismo entre o antigo tempo e o novo, um abismo que a misericórdia divina fechará no dia em que sua justiça tenha terminado sua obra”.

Por dois mil anos, aqueles que repudiaram a Lei de Moisés para aderir ao Talmude se dedicaram a impedir a obra da redenção. Eles estiveram por trás de todas as rebeliões do espírito humano contra Deus, contra o seu Ungido — a quem não quiseram reconhecer —, e contra a sua Igreja, considerada [por eles como] “usurpadora”.

Protegendo-se deles e lembrando ao mesmo tempo o horror do deicídio, a Igreja nunca cessou de procurá-los por caridade para reconduzi-los ao redil, à fonte da graça, ao Calvário, onde foi derramado o sangue redentor. Esta caridade levou a Igreja a inclusive protegê-los, rechaçados como tantas vezes foram pelos povos cristãos. Os verdadeiros convertidos (19) têm frequentemente confirmado a caridade da Igreja a seu respeito.

No entanto, os artífices da iniquidade deixaram-se tocar pouco por esta mansidão dos pontífices romanos. A cada século, redobraram seus assaltos contra a Igreja e a sociedade católicas. Josué Jehouda, autor de O Antissemitismo, Espelho do Mundo (20), escreve sobre a era moderna e contemporânea:

O mundo judaico tentou três vezes purificar a consciência cristã dos miasmas do ódio; três brechas foram feitas na vetusta fortaleza do obscurantismo cristão, concluíram-se três etapas na obra de destruição do catolicismo dogmático.

Tais são: Renascimento, Reforma e Revolução.

O Renascimento, a Reforma e a Revolução constituem três tentativas de retificação do pensamento cristão, a fim de colocá-lo em sintonia com o desenvolvimento progressivo da razão e da ciência (21).

O autor especifica que, “apesar dessas três tentativas de purificar o antissemitismo do dogma cristão, a teologia católica ainda não suprimiu seu desprezo a respeito”. É por isso que “no decorrer do século XIX, foram feitas mais duas tentativas de limpar a mentalidade do mundo cristão: uma por Marx e outra por Nietzsche”.

O pensador judeu lamenta o fracasso parcial dessas duas últimas tentativas. A força do catolicismo lhe permite resistir. Será necessário esperar até depois da Segunda Guerra Mundial para lançar o ataque mais sutil e destrutivo contra a Igreja Católica Romana: mudar a teologia católica por intermédio dos próprios homens da Igreja. “Uma revolução de capa e tiara”, iniciada pelos Carbonários do século XIX, continuada pelos modernistas no século XX, e que triunfa no Concílio Vaticano II.

Vaticano II: a porta aberta…

A partir da Segunda Guerra Mundial, as organizações judaicas começaram a desafiar o mundo cristão sobre a necessidade de revisar os ensinamentos da Igreja acerca do judaísmo.

Em 1946, e sob os auspícios das organizações judaicas norte-americanas e britânicas, uma conferência realizada em Oxford reuniu católicos e protestantes para discutir os problemas que surgiram após a guerra: foi um simples contato.

Cardeal Bea, “judeu de coração”, com seus amigos.

Uma segunda conferência internacional organizada em Seelisberg (Suíça) tratou em particular do problema do antissemitismo. Em grande parte, foi uma reunião de especialistas (22). Entre os sessenta participantes, estava o padre Journet (23). Por sua parte, Jacques Maritain não pôde participar da conferência, mas enviou uma calorosa mensagem de encorajamento (24). Entretanto, o personagem “chave” da reunião foi Jules Isaac. A conferência foi encerrada com um documento intitulado “Os Dez Pontos de Seelisberg”, do qual se destacam:

  • Nº 5. Evitar rebaixar o judaísmo bíblico ou pós-bíblico com o fim de exaltar o cristianismo.
  • Nº 6. Evitar usar a palavra “judeu” no sentido exclusivo de “inimigos de Jesus”, ou a frase “inimigos de Jesus” para designar todo o povo judeu.
  • Nº 7. Evitar apresentar a paixão de tal forma a fazer recair sobre todos os judeus, ou somente sobre os judeus, tudo o quanto há de odioso na sentença de morte de Jesus.
  • Nº 9. Evitar conceder endosso à ímpia opinião de ser o povo judeu réprobo, maldito, e para o qual está reservado um destino de sofrimento.

Os arquivos de Jules Isaac (25) dão testemunho das abundantes atividades deste autor. Assim o demonstra André Kaspi, que acaba de dedicar uma biografia à personalidade de Jules Isaac, confirmando muitos fatos conhecidos e revelando outros. Uma das contribuições mais importantes de Jules Isaac foi a redação do livro “Jesus e Israel”, pretendendo provar não ter sido o povo judeu não nem deicida nem amaldiçoado, e ser o cristianismo responsável pelo antissemitismo ambientel devido ao seu antijudaísmo teológico. Na obra, expõe então vinte e um pontos, verdadeira “carta” de uma nova teologia das relações judaico-cristãs.

Cardeal Bea glorificado em uma publicação infantil, graças aos seus serviços prestados aos inimigos de Cristo.

Em 1948, Isaac funda a “Amizade Judaico-Cristã”, cujo objetivo é claramente indicado: “a retificação do ensinamento cristão”. Muitos católicos liberais participam das bem orquestradas reuniões. Kaspi escreve que “os dez pontos de Seelisberg e os vinte e um pontos de Jesus e Israel (26) estão distribuídos por toda parte”. Nessa época, Isaac foi persuadido a entrevistar o chefe da Igreja Católica. Pio XII o recebeu brevemente em Castel Gandolfo em 16 de outubro de 1949. Jules Isaac expôs ao Soberano Pontífice os dez pontos de Seelisberg. O resultado da reunião sairia bastante insatisfatório para o autor de manuais de história.

Em outubro de 1959, Cletta Mayer e Daniel Mayer — fundadores do “Centro Para Estudos de Problemas Atuais”, intimamente ligado à “Liga Antidifamação” (associação criada em 1913 pela loja maçônica B’nai B’rith) — “encontram-se com Jules Isaac no hotel Terminus em Paris e lhe falam sobre um possível contato com João XXIII. Jules Isaac aprova”. (27)

João XXIII havia lançado a ideia de convocar um Concílio alguns meses antes (28). Foi constituída uma comissão preparatória, da qual participaram muitos teólogos e homens eminentes. Entrementes, preparava-se um contra-Concílio pelas costas destes, evento que deveria suplantar o verdadeiro quando chegada a hora. Ralph Wiltgen prova isso abundantemente em “O Reno se Lança no Tibre” (29).

Em meados de junho de 1960 — e a conselho do bispo Julien —, Isaac recorreu ao cardeal Agustín Bea, um jesuíta alemão. “Encontrei nele forte apoio”. Diziam, é verdade, as más línguas, ser o cardeal Bea um “judeu de coração” (30). Isaac obteve mais apoio do que poderia esperar, pois sem muitas dificuldades conseguiu uma audiência com João XXIII em 13 de junho de 1960. Nessa ocasião, Isaac entregou um memorando ao Papa intitulado: Necessidade de uma reforma do ensinamento cristão a respeito de Israel. “Perguntei se poderia ter alguma esperança”, recorda Isaac. João XXIII respondeu que tinha direito a ter mais do que esperança, mas “que não era um monarca absoluto”. Após a partida de Isaac, João XXIII se esforçou para deixar claro aos oficiais da Cúria Vaticana que uma firme condenação do “antissemitismo” católico era esperada durante o Concílio cuja convocação ele acabara de proclamar. Desde então, sucedeu-se grande número de intercâmbios entre os escritórios do Concílio e o Comitê Judaico Norte-Americano, a Liga Antidifamação e a B’nai B’rith. Essas associações judaicas souberam fazer escutar fortemente sua voz em Roma (31).

Com efeito, se Isaac trabalhava por empreitada, ele não era o único a fazê-lo. O rabino Abraham J. Heschel, do Seminário Teológico Judaico de Nova York, que ouvira falar de Bea pela primeira vez há trinta anos em Berlim (32), tratou de encontrar o cardeal em Roma. Nesta ocasião, os dois homens discutiram sobre dois dossiês preparados pelo Comitê Judaico Americano, um sobre a imagem dos judeus no ensinamento católico e outro de 23 páginas sobre os elementos antijudaicos na liturgia católica.

Heschel afirmou que esperava purgasse o Concílio o ensinamento católico de qualquer sugestão de serem os judeus uma raça amaldiçoada. Desta sorte, acrescentou Heschel, o Concílio não deveria de forma alguma exortar os judeus a se converterem ao cristianismo (33).

Jules Isaac, agente muito influente e ativo da Sinagoga.

Ao mesmo tempo, o Dr. Goldmann, chefe da Conferência Mundial das Organizações Judaicas, também comunicou suas aspirações a João XXIII. Da mesma forma, a B’nai B’rith fez lobby para que os católicos reformassem sua liturgia e suprimissem nela quaisquer palavras que pudessem parecer desfavoráveis ​​aos judeus, ou lembrassem o “deicídio”.

Doutas cabeças mitradas, próximas à Cúria, alertavam fariam bem os bispos, na época do Concílio, em não “tocar” nesse tema, mesmo que fosse com báculos de três metros de comprimento. Só faltou consultar João XXIII, que disse que não o deviam fazer (34).

Em Roma, portanto, trabalhou-se na redação de um texto sobre o judaísmo, no qual intervieram o padre Baum e Monsenhor John Osterreicher (35), membros da equipe de Bea. A declaração contendo uma clara refutação da acusação de deicídio deveria ser apresentada na primeira sessão do Concílio a ser aberto em 11 de outubro de 1962. A redação agradou ao Congresso Judaico Mundial, cuja satisfação tornou expressa, tendo ainda decidido enviar o Dr. Cain Y. Wardi como observador não oficial do Concilio.

Protestos de países árabes, indignados com o tratamento preferencial concedido aos judeus, imediatamente choveram sobre o Vaticano. Em consequência, em junho de 1962, a Secretaria de Estado, de acordo com o Cardeal Bea, retirou da agenda a discussão sobre o “projeto de declaração sobre os judeus” elaborado pela Secretaria Para a Unidade dos Cristãos (36).

Uma agência — tão próxima da Cúria como para dispor dos endereços privados de 2.200 cardeais e bispos residentes temporariamente em Roma — enviou a cada um deles um livro de 900 páginas intitulado “Complô Contra a Igreja”, assinado sob o pseudônimo de Maurice Pinay (ver também: “Centinela contra judíos puesta en la torre de la Iglesia de Dios”, de Frei Francisco de Torrejoncillo, 1674). A tese do livro, referendada por muitos fatos e citações, consistia em que os judeus sempre tentaram se infiltrar na Igreja para subverter seus ensinamentos, estando agora prestes a atingir seu objetivo. O livro devia prevenir os Padres conciliares acerca de uma manobra subversiva no seio do Concílio, de sorte que era imperativo agir com muita prudência.

A exclusão, na primeira sessão do Concílio, do projeto de declaração sobre os judeus foi um fracasso total para Bea, que, no entanto, não se deixou abater. Em 31 de março de 1963, cercado pelo máximo sigilo (37), reuniu-se no Plaza Hotel, em Nova York, com as autoridades do Comitê Judaico Norte-Americano, que pressionaram os bispos a mudar a teologia da Igreja em relação à história da Salvação. “Acusam-se os judeus globalmente — disseram eles — de serem culpados de deicídio, e se supõe que sobre eles pesaria uma maldição”. Bea refutou ambas as acusações e tranquilizou os rabinos que, presentes na sala, queriam saber se a declaração diria explicitamente não passarem de erros da doutrina cristã o deicídio, a maldição e a rejeição do povo judeu por Deus. Bea respondeu evasivamente e todos se despediram, brindando com uma tacinha de xerez!

Pouco depois, foi lançado o filme “O Vigário”, de Rolf Hochhuth, que caluniava Pio XII por sua atitude durante a guerra. O meio de pressão era pouco elegante, mas poderia influenciar a assembléia conciliar.

Durante a segunda sessão do Concílio, no outono de 1963, foi entregue aos bispos a declaração sobre os judeus. Uma declaração sobre o ecumenismo fazia parte do capítulo IV, o que aparentemente permitiria passasse despercebida. O Sr. Schuster, diretor da área europeia do Comitê Judaico Norte-Americano, julgou ter sido a distribuição do projeto aos Padres Conciliares um “dos momentos mais importantes da história”. O texto foi longamente discutido (38), mas surpreendentemente retirado no final da sessão. Os representantes da ortodoxia católica acabavam de distribuir vários exemplares de “Os Judeus à Luz da Escritura e da Tradição” (39), que deveria alertar os Padres conciliares sobre as manobras do inimigo. Tudo parece indicar que, mais uma vez, as advertências foram ouvidas. “Algo sucedeu nos bastidores”, comentou a Conferência Nacional Católica de Assistência Social.

Sem entrar nos detalhes dessa longa história, digamos que outros dois projetos serão propostos e discutidos longamente durante as sessões III e IV. Entre 1964 e 1965, multiplicaram-se as intervenções judaicas perante Paulo VI. As figuras mais influentes junto ao Papa foram: Joseph Lichten, da Liga Antidifamação da B’nai B’rith; Zachariah Schuster e Leonard Sperry, do Comitê Judaico Norte-Americano; o Cardeal Americano Spellman; Arthur J. Goldberg, Juiz da Suprema Corte de Estados Unidos; e Rabi Heschel.

Cardeal Lustiger e o ator que o representa em um filme recente que o glorifica. (Filme: Lustiger, “O Cardeal Judeu”)

Roddy revela que (antes da III sessão) “seis membros do Comitê Judaico Norte-Americano foram recebidos em audiência papal”, em que “o Santo Padre expressou aos visitantes sua aprovação às declarações do cardeal Spellman no sentido da não culpabilidade dos judeus”.

Um pouco mais adiante, ele enfatiza que “Heschel se entrevistou com Paulo VI na companhia de Schuster, falando energicamente sobre o deicídio (40) e a culpabilidade, e solicitando que o Pontífice exercesse pressão a fim de obter uma declaração proibindo aos católicos todo o proselitismo com respeito aos judeus”. (41)

Em 20 de novembro de 1964, na sessão III, os bispos e cardeais reunidos votaram por ampla maioria o esquema provisório que trata da posição da Igreja em relação ao judaísmo (42). Léon de Poncins apressou-se em escrever um livrinho intitulado “O Problema Judaico perante o Concílio”, que foi distribuído a todos os Padres antes da quarta e última sessão. Era a última advertência. Em sua introdução, o autor comprova “por parte dos Padres conciliares uma profunda ignorância da essência do judaísmo” (43). O panfleto produziu efeito, permitindo refinasse seus argumentos a “coalizão de rejeição” (44). Esta Frente conseguiu fossem descartadas algumas frases da primeira versão, como “ainda que grande parte do povo eleito permaneça provisoriamente longe de Cristo, é injusto chamá-lo de povo maldito ou de povo deicida”, que foi substituído por aquela incluída na versão final da Nostra Æetate, finalmente adotada na sessão IV em 28 de outubro de 1965 por 2.221 votos contra 88: “Os judeus não devem ser apresentados como réprobos ou como malditos por Deus, como se tal derivasse da Escritura”.

Um texto de compromisso vem à tona depois de anos terríveis de uma guerra doutrinária sem precedentes, de lutas de influência entre a Cúria e entre os Padres Conciliares, de difusão de numerosos libelos (acusações) para defender a teologia da salvação ensinada pela Igreja por dois milênios. Em geral, por esperarem mais, os judeus ficaram desapontados com o conteúdo do documento. Contudo, uma porta acabava de se abrir e era difícil fechá-la novamente. De fato, com a Nostra Æetate, os bispos da Igreja Católica apresentaram, pela primeira vez, uma imagem positiva e atrevida dos judeus infiéis.

André Chouraqui recorda-o oportunamente: “de repente, a Igreja, afetada por uma amnésia mais ou menos total de dois mil anos, recorda o vínculo espiritual que a une aos descendentes de Abraão — Israel —, restituindo assim o privilégio da primogenitura no contexto da família do povo de Deus. Este reconhecimento teológico elementar foi enriquecido com um conteúdo que os séculos não poderão esgotar (…) Necessitaram-se vinte séculos para que a Igreja tomasse consciência renovada de suas raízes judaicas. (…) Além disso, a Igreja rejeita categoricamente todas as formas de proselitismo a seu respeito, proscrevendo o que anteriormente havia admitido”. (45)

Jean Halperin, membro do escritório do Congresso Judaico Mundial, com sede em Genebra, confirma as observações de Chouraqui durante um colóquio realizado em Freiburg:

Deve-se destacar que a declaração Nostra Æetate, de 1965, realmente abriu caminho para um diálogo absolutamente novo, e inaugurou uma nova perspectiva (46) da Igreja Católica com respeito aos judeus e ao judaísmo, manifestando sua disposição de substituir o ensinamento do desprezo pelo do respeito (47).

Menahem Macina (48) confirma esta afirmação:

É preciso não esquecer o imenso avanço que a declaração Nostra Æetate representa em relação à situação anterior. Uma única observação permitirá apreciar o caminho percorrido. Saibam que, quando são promulgados documentos destinados a toda a cristandade, os papas e concílios têm o hábito de buscar e citar textos de seus predecessores que vão no sentido do que pretendem ensinar, com o fim de demonstrar a continuidade da doutrina e da tradição eclesiais. No entanto, ao contrário do que acontece com a passagem que o Concílio dedica à religião muçulmana, na declaração sobre os judeus não há referência a qualquer precedente positivo, seja de Padres, escritores eclesiásticos ou Papa (49).

João Paulo II no Muro das Lamentações.

Poder-se-íam citar muitos testemunhos comprovadores desta análise, mas concluamos com o de Paul Giniewski em sua importante obra “Antijudaísmo Cristiano. Un cambio” (Anti Judaísmo Cristão – Uma Mudança): O documento sobre os judeus, que poderia ser considerado como a conquista de um objetivo, resultou, ao contrário e muito rapidamente, no princípio de uma nova era na feliz evolução das relações judaico-cristãs (50).

Uma porta foi aberta (51)… Os homens da Igreja admitiam já não serem os judeus “um povo amaldiçoado”. “Amaldiçoado” não, mas também não “réprobo”? “A partir de agora – diz ainda Chouraqui – “a Igreja reconhece a permanência do judaísmo nos desígnios de Deus e o caráter irreversível dos princípios estabelecidos pela Nostra Æetate, que batem de frente com toda restrição e ambiguidade no diálogo com os judeus.” A semente estava plantada, bastava esperar seu crescimento…

Portanto, a partir de então, era necessário avançar no caminho do reconhecimento mútuo de judeus e cristãos. Era impossível fazer um balanço de benefícios e perdas de dois mil anos sangrentos (52).

A purificação do espaço cristão (53) já podia começar…

Da purificação do “espaço cristão
à introdução da religião de Noé

1 – “Purificação do espaço cristão”

Em princípio (54), os cristãos disseram: “Nós também somos Israel”. Em seguida, declararam: “Nós também somos o verdadeiro Israel”. Um pouco mais tarde: “Só nós somos o verdadeiro Israel”. (F. Lovsky).

As discussões que se seguiram à “conscientização” do Concílio Vaticano II prepararam pouco a pouco o mundo cristão para assumir uma nova teologia das relações da Igreja com o judaísmo (55). O objetivo das diretrizes do Vaticano (56) e dos episcopados por quase quarenta anos se ordenou a transformar a mentalidade por meio de um “grande esforço educativo” dos povos do “espaço cristão”. Esse esforço tende a:

1. lembrar a perpetuidade da primeira Aliança;

2. inculcar apreço pelo povo judeu (infiel), “povo sacerdotal”;

3. renunciar à conversão dos judeus;

4. familiarizar-se constantemente com o diálogo e a cooperação com o judaísmo;

5. preparar os caminhos rumo à religião de Noachida.

As altas autoridades vaticanas induziram os episcopados a publicar declarações cujo conteúdo teológico se opõe claramente ao magistério da Igreja.

a) A nova “teologia da Aliança” segundo o episcopado

Podemos ilustrar nossa observação com dois exemplos: o texto da “Comissão do Episcopado Francês para as Relações com o Judaísmo” (Páscoa, 1973) e as “Reflexões sobre a Aliança e a Missão” do Episcopado Norte-Americano (13 de agosto de 2002). Na opinião dos judeus, são duas declarações cujo conteúdo supera em muito as afirmações do Concílio.

Os aspectos heterodoxos não escapam à consideração de ninguém.

Os cristãos não devem ver o judaísmo apenas como uma realidade social e histórica, mas essencialmente religiosa; não como uma relíquia de um passado venerável e acabado, mas como uma realidade viva através do tempo. Os principais sinais desta vitalidade do povo judeu são: o testemunho da sua fidelidade colectiva ao único Deus, o seu fervor no escrutínio das Escrituras para descobrir, à luz da Revelação, o sentido da vida humana, a busca da sua identidade na entre os outros homens, seus constantes esforços para se congregar em uma comunidade reunificada. Como cristãos, estes sinais levantam uma questão que toca o coração da nossa fé: qual é a missão própria do povo judeu no plano de Deus?

Uma eleição que perdura: a primeira Aliança não expirou. Ao contrário do sustentado em uma exegese tão antiga quanto questionável, não se poderia deduzir do Novo Testamento tenha sido o povo judeu privado de sua eleição. O conjunto da Escrituta, ao contrário, nos convida a reconhecer a fidelidade de Deus ao seu povo na preocupação pela fidelidade do povo judeu à Lei e à Aliança. A primeira Aliança, com efeito, não se torna abrogada pela nova. O povo judeu tem consciência de ter recebido, por sua particular vocação, uma missão universal diante das nações (57).

Qual é esta missão? Vamos estudá-la em uma próxima seção. A segunda declaração, mais recente, é a dos bispos norte-americanos. É realmente impressionante:

O pensamento católico romano manifesta um crescente respeito pela tradição judaica, postura desenvolvida desde o Concílio Vaticano II. O aprofundamento da valorização católica pela aliança eterna entre Deus e o povo judeu, bem como o reconhecimento da missão atribuída por Deus aos judeus de testemunhar o amor fiel de Deus, levam à conclusão de que as ações destinadas a converter os judeus ao cristianismo não são mais teologicamente aceitáveis ​​na Igreja Católica (58).

João Paulo II com o Rabino Elio Toaff em sua visita à Sinagoga de Roma.

b) “Mudar a teologia” dos teólogos

Os testemunhos de teólogos sobre a perpetuidade da primeira Aliança são tão abundantes que uma ladainha de citações poderia ser reproduzida. Aqui estão alguns:

Talvez seja necessário ir ao fundo da questão: vislumbrar, sob as novas perspectivas, a ideia de uma derrubada da religião-mãe pela religião-filha. A ideia de substituir a antiga Aliança pela nova está na própria origem da divisão judaico-cristã e suas consequências. Em um de seus grandes estudos teológicos, significativamente intitulado “A aliança nunca revogada”, Norbert Lohfink, um jesuíta, professor de pesquisa bíblica em uma universidade pontifícia em Roma, afirma categoricamente que “a concepção cristã ordinária sobre a Nova Aliança favorece o antijudaísmo”. (59)

Cremos ter Cristo estabelecido uma nova Aliança. Caducou, com isso, a antiga? Mantivemos isso por muito tempo e provavelmente há cristãos que ainda hoje pensam assim (60).

Num colóquio intitulado “Processo de Jesus: processo dos judeus?”, Alain Marchandour não hesita em afirmar:

Durante muito tempo, os cristãos perceberam Israel como uma espécie de órgão testemunha de uma realidade essencialmente absorvida pelo cristianismo, que se tornara o novo Israel. Semelhante linguagem é indefensável: Israel existe com sua história, suas instituições, seus textos. O Judaísmo não se extinguiu com a chegada do Cristianismo (…) Continua sendo o povo da Aliança (61).

Charles Perrot, professor do Instituto Católico de Paris, expressa uma ideia similar:

Se a Igreja substitui Israel, se ela o substitui, isso não significa que também o elimine, por absorção ou algo pior. Agora, expressar-se assim é perigoso. É admissível hoje? (62)

c) Fazer com que as elites “revisassem a história cristã”

Como à sua teologia, a Igreja deve “revisar” sua história. Nesse sentido, o Vaticano multiplica as reuniões de especialistas. Em Roma ou noutras cidades europeias realizam-se diversos colóquios cujo tema é a história da Igreja em relação à sua atitude perante o judaísmo. Em 30 de novembro de 1997, ocorreu em Roma um encontro sobre as raízes do antijudaísmo cristão. Historiadores de todo o mundo ouviram especialistas nas relações judaico-cristãs. Claude-Françoise Jullian nos conta no Le Nouvelle Observateur qual foi o assunto do debate:

Todos os especialistas reafirmaram as origens judaicas do cristianismo e qualificaram a teologia da substituição — ou seja, a nova Aliança em Cristo, que rompe com a antiga — como uma aberração. Abrindo o simpósio, o cardeal Etchegaray (presidente do Comitê de Organização do Jubileu) explicou com voz rouca, vindo das gargantas dos Pireneus: “Trata-se de examinar as relações muitas vezes alteradas entre o judaísmo e o cristianismo”. O pensamento foi retomado pelo animador do encontro, o dominicano suíço Georges Cottier, teólogo particular do Papa (e presidente do Comitê Histórico-Teológico do Jubileu), que recordou: “nossa reflexão aponta para o desígnio divino de salvação e ao lugar correspondente ao povo judeu, povo de eleição, aliança e promessas”.

“A aberração da teologia da substituição é um ponto essencial, admitido desde o Concílio Vaticano II, mas difícil de aceitar pelas bases” — afirma um participante (63).

O jornalista de um semanário se perguntava: “Por que Roma reúne especialistas dos cinco continentes para verificar algo que hoje parece ser uma verdade de fé?”.

Outro colóquio foi realizado na Universidade de Freiburg de 16 a 20 de março de 1998 sobre o tema do Judaísmo, antijudaísmo e cristianismo. As atas foram publicadas nas edições de Saint-Augustin do ano 2000 e todas as intervenções se revestem do maior interesse.

Ainda mais recentemente, o Congresso Judaico Europeu organizou em Paris, nos dias 28 e 29 de janeiro de 2002, os Encontros Europeus entre Judeus e Católicos sobre o tema: Depois do Vaticano II e da Nostra Æetate: aprofundamento das relações judaico-cristãs na Europa sob o pontificado de João Paulo II. Em seu transcurso, foram homenageadas várias personalidades envolvidas no diálogo entre judeus e cristãos.

Bento XVI com o rabino Riccardo Di Segni na sinagoga de Roma.

Algumas sessões vespertinas realizadas nos salões do Hôtel de la Ville de Paris em 28 de janeiro de 2003 reuniram cerca de 700 pessoas, entre judeus e católicos. A lista de oradores incluiu Maître Henri Hajdenberg, presidente dessas reuniões, Professor Jean Halpérin, do “Comitê de Ligação entre Judeus e Católicos”, Cardeal Lustiger, Rabino Chefe de Moscou Pinchas Goldschmidt, Rabino Chefe René Samuel Sirat, o Dr. Michel Friedman, Vice Presidente do Congresso Judaico Europeu e o Cardeal Walter Kasper, Presidente da Pontifícia Comissão para as Relações Religiosas com o Judaísmo. Em seus discursos, todos os palestrantes enfatizaram a importância dos passos dados desde a Nostra Æetate

Muito foi dito naquela tarde sobre as atuais relações judaico-cristãs. Soprou um novo espírito, que realmente tomava nota dos gestos, das palavras dos católicos, especialmente de João Paulo II. “Uma nova página, uma nova etapa”, esse é o sentimento que, por outro lado, iria se confirmar no decorrer do dia seguinte. Depois das apresentações dos diversos oradores e da projeção do filme “Papa João Paulo II na Terra Santa”, fez-se um grande silêncio na grande sala. No dia seguinte, 29 de janeiro, diante de um público mais limitado e na presença de vários cardeais, bispos e personalidades judaicas, de algumas delegações vindas da Alemanha, Áustria, Bélgica, Itália, Suíça e Polônia, no mesmo clima de positividade e de verdade, abordou-se o tema: “A evolução das relações judaico-católicas. Da teoria da substituição ao respeito mútuo. Sobre a necessária transmissão da memória da Shoa no contexto atual.”

À tarde, vários palestrantes falaram sobre “Os desafios da assimilação e da secularização, a evolução das relações judaico-católicas com o Estado de Israel e Jerusalém”. As jornadas foram concluídas com uma declaração conjunta de judeus e católicos”. (64)

Poderíamos multiplicar os relatórios sobre diferentes reuniões, congressos, simpósios, conferências etc…, que abundam ano após ano.

d) Mudar o conteúdo da pregação e da catequese

Os documentos romanos de 24 de junho de 1985 —Notas para uma correta apresentação dos judeus e do judaísmo na pregação e na catequese (65) — devem ser lidos e meditados à luz do que foi dito acima.

e) Mudar os ânimos por meio de gestos espetaculares

Exemplo desta afirmação é o gesto de João Paulo II à sinagoga de Roma em 13 de abril de 1986. A visita foi um símbolo completo: “A Igreja de Cristo, por meio de João Paulo II, se dirige à sinagoga e descobre seu vínculo com judaísmo, explorando seu próprio mistério”. Com este motivo, dirá João Paulo II:

A religião judaica não nos é “extrínseca”, senão que, em certo sentido, é “intrínseca” à nossa religião. Temos, pois, a seu respeito, relações que não temos com nenhuma outra religião. Vocês são nossos irmãos prediletos e, em certo sentido, pode-se dizer que são nossos irmãos mais velhos (66).

f) Os cristãos devem respeitar o direito dos judeus à terra de Israel, centro físico da Aliança

O evento mais importante para os judeus desde o holocausto foi o restabelecimento de um estado judeu na Terra Prometida. Como membros de uma religião baseada na Bíblia, os cristãos devem reconhecer que a terra de Israel foi prometida e dada aos judeus como o centro físico de sua aliança com Deus (67).

Funeral judaico do cardeal Lustiger.

Os cristãos não têm escolha a não ser se alegrar com a presença dos judeus na Terra Santa…

Paul Giniewski analisa o ensinamento dos últimos quarenta anos em termos do pensamento judaico (68) distinguindo três estágios:

  • viduy”, ou seja, o reconhecimento sincero do descumprimento e das faltas;
  • teschuva”, que supõe a conversão à conduta contrária;
  • por fim, o mais importante, “tikkun”, ou seja, a reparação.

Até onde temos chegado? — se pergunta o escritor judeu. Até o “teschuva”, responde ele, sem a menor margem de dúvida. Isso não vai acabar “até que o ensinameto do apreço se traduza em textos didáticos e sua propagação tenha despertado inúmeras vocações de alunos e professores da novidade. O objetivo é ambicioso: fazer ouvir e aceitar um ensinamento que dizia o contrário do até agora ensinado (…) Dessa forma se descrucificarão os judeus”.

Finalmente, a Igreja deve reparar. Alguns já descreveram o que será o “tikkun”…

Os judeus poderão então reassumir o seu papel no seio das nações, papel explicado em muitas obras e habilmente resumido num folheto assinado por Patrick Petit-Ohayon, A Missão de Israel, um povo de sacerdotes (69).

2) O pedido de perdão do ano 2000 ou “viduy

Em São Pedro, Roma, no dia 12 de março de 2000, João Paulo II, em nome da Igreja Católica, faz o “mea culpa(70) pelos pecados cometidos pelos cristãos ao longo da história. Este gesto não pode ser compreendido se não for colocado no contexto da consciência de uma Igreja que, “por causa da Inquisição” (71) (sistema de violência, de pressão), persegue o povo da Aliança, despossuído e oprimido ao mesmo tempo. Os cristãos, assim, acabam de fazer o seu “viduy”. 

E para que tudo fique suficientemente claro para cristãos e judeus, o texto de arrependimento foi colocado pelo próprio João Paulo II numa brecha do Muro das Lamentações (72), vestígio do Templo da primeira Aliança, que só aguarda sua reconstrução na capital religiosa da Aliança redescoberta: Jerusalém destrona Roma, a usurpadora (73).

3) Rumo à religião noaquida (de Noé)

Se a Igreja não é mais a verdadeira Israel, o que ela deve se tornar nessa nova teologia da salvação?

Neste estudo, por si só extenso, não podemos esgotar todos os aspectos da religião noaquida (ou noachida). Esta religião, introduzida no Vaticano II, deve suplantar o catolicismo (74). O tema é tão extenso que se poderia consagrar a ele alguns dias de estudo. Assinalemos, pois, alguns marcos históricos e destaquemos vários aspectos desse novo “catolicismo”.

O cardeal Bergoglio em uma sinagoga de Buenos Aires,
junto com seu amigo rabino Sergio Bergman.

Depois da Revolução Francesa, que emancipou os judeus e possibilitou sua inserção nas sociedades civis, os rabinos e pensadores do judaísmo levantaram a questão do problema religioso do mundo vindouro. Aproximava-se o regresso à terra de Israel e era preciso resolver a questão religiosa que se não deixaria de questionar. O que estava em jogo nos debates teológicos dos rabinos do século XIX pode ser resumido da seguinte forma: “Quando recobraremos nosso papel de povo que leva a salvação às nações? Como será a religião dos cristãos que pretenderam ser a nova Israel?”.

Elias Benamozegh, rabino de Livorno, o Platão do judaísmo italiano, “um dos mestres do pensamento judaico contemporâneo” (75), propôs uma solução que publicou em 1884 em sua principal obra Israel e a Humanidade (76). O sugestivo subtítulo é: Estudo sobre o problema da religião universal e sua solução. A solução de Benamozegh, à qual vão aderir gradualmente os seguidores do judaísmo, pode ser resumida da seguinte forma:

A Igreja Católica deve reformar três pontos do seu ensinamento:

• mudar sua visão acerca do povo judeu, que deve ser reabilitado como povo primogênito, povo sacerdotal, que “soube conservar a religião primitiva em sua pureza original”. Esse povo nem é deicida nem foi reprovado por Deus. Nenhuma maldição pesa sobre ele. Pelo contrário, cabe a ele pregar a felicidade e a unidade da humanidade. “Admitir — escreve Gérard Haddad (77), citando Benamozegh — o papel que São Paulo (78) pensou poder excluir”.

• “Renunciar à divindade de Jesus Cristo, este Filho do Homem, como Ele mesmo se chamava”. Simples rabino, Jesus era judeu e como tal permaneceu. Pregoar Jesus Cristo, mas um Jesus Cristo humano, que vem trazer uma moral para a felicidade de todos os homens.

• Aceite uma reinterpretação — não uma supressão — do mistério da Trindade.

Reunidas estas três condições, “a Igreja Católica é a Igreja do verdadeiro catolicismo”, verdadeiro catolicismo que Benamozegh chama de noachismo, uma religião destinada a todos os povos do “espaço cristão”, como disse Lustiger. A Igreja tem a missão de propagar a moral inerente ao noachismo (79). A declaração sobre o judaísmo do episcopado norte-americano de 13 de agosto contém uma referência explícita a esse respeito:

O judaísmo considera que todas as pessoas são obrigadas a observar uma lei universal. Esta lei, conhecida como os Sete Mandamentos de Noé, se aplica a todos os seres humanos. Essas leis são: (1) o estabelecimento de tribunais de justiça, de modo que a lei governe a sociedade, e a proibição (2) da blasfêmia, (3) da idolatria, (4) do incesto, (5) do derramamento de sangue, (6) do roubo e (7) de comer a carne de animais vivos.

Bergoglio, agora como “Papa Francisco”,
recebe um presente do primeiro-ministro de Israel,
Benjamin Netanyahu.

O novo objetivo da Igreja é evangelizar os povos neste humanitarismo noachida e promover sua unificação (80). A primazia romana será redefinida para facilitar a unidade dos cristãos. O noachismo será “a religião da moralidade natural”. Os não-judeus não devem procurar se converter ao judaísmo ou ao mosaicismo talmudista, religião reservada aos eleitos. A solução Benamozegh, silenciada por muito tempo, é agora retomada pelos líderes do mundo judaico. O rabino-chefe René Samuel Sirat, por exemplo, fez alusão à condição de não-judeu no enterro de um francês de 24 anos, vítima de um ataque ao refeitório da Universidade Hebraica de Jerusalém em 31 de julho de 2002:

David, meu querido David, havia escolhido aproximar-se espiritual e culturalmente de nossa comunidade judaica e ostentar perante o judaísmo o belo título de toshav, estrangeiro e cidadão ao mesmo tempo, que a Bíblia valorizava e que o rabino Elias Benamozegh, no século passado, explicou magnificamente em seu livro “Israel e a Humanidade”. Trata-se da livre escolha de se aproximar da tradição de Israel, de observar as Sete Leis — chamadas leis noaquidas — da moralidade natural, leis reveladas no passado a Noé, pai de todos os viventes (…) Pois, cumpre recordar, não é necessário se converter ao judaísmo para ter direito à salvação eterna”. (81)

Francisco conversa amigavelmente com seus amigos
rabinos e líderes judeus da Argentina,
dentro do Vaticano.

Conclusão

A nova religião que resulta do Vaticano II deve ser interpretada à luz desta nova luta, sempre velha e sempre nova, entre Jesus (Maria) e Satanás, entre a Igreja e a Sinagoga. No século 20, Satanás parece ter dado com seu Cavalo de Tróia (Vaticano II) e com aqueus resultantes de teologia subversiva.

No centro desse movimento de conversão, explicitamente ensinado por teólogos cristãos como Bouyer, Congar e de Lubac, se oculta a redescoberta da fé. Este é o trabalho de conversão que a Igreja Católica e muitos cristãos hoje querem fazer.

Com estas palavras o cardeal Lustiger encerra seu discurso na sinagoga de Nova York (82).

Não, senhor Cardeal. Católicos e romanos, nossa fé está em Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, nascido pelo poder do Espírito Santo do puríssimo seio da Virgem Maria; nossa fé está em Jesus Cristo, salvador dos homens, crucificado sob Pôncio Pilatos e ressuscitado dentre os mortos, vindo para cumprir a Lei e as Profecias, fundando a Igreja Católica, Apostólica e Romana, a nova e eterna Aliança, que não é a que você prega. Com a ajuda de Deus, com o auxílio do Magistério da Igreja e da sua Tradição bimilenar, não vamos terminar noachidas.

Talvez esta fidelidade permita aos judeus se beneficiarem das preciosas graças da redenção, graças que a Virgem Maria saberá distribuir em abundância, como já aproveitaram os Drach, os Libermann, os Ratisbonne, os Lemann, os Zolli e tantos outros, verdadeiros convertidos, verdadeiros filhos da Igreja Romana, verdadeiros filhos de Maria.

Deus de bondade, Pai das misericórdias, nós Vos suplicamos, pelo Imaculado Coração de Maria, pela intercessão dos Patriarcas e dos Santos Apóstolos, que dirijais vosso olhar de compaixão ao resto de Israel, para que conheça o nosso único Salvador Jesus Cristo e participe das preciosas graças da Redenção. Senhor, perdoai-os, porque não sabem o que fazem.
[Oração indulgenciada por Leão XIII e São Pio X]

***

Mensagem de Monsenhor Bispo Joseph Doré à B’nai B’rith (83)

A aplicação do “plano Benamozegh” descrito por Michel Laurigan nos “Estudos” desta edição está progredindo bem.
Para Monsenhor Joseph Doré, arcebispo de Estrasburgo, os judeus que rejeitaram nosso Senhor Jesus Cristo não podem ser considerados “infiéis”, nem “cegos”, nem estranhos ao verdadeiro sentido da Bíblia; não têm necessidade de se converter.
Por outro lado, até o Vaticano II, os cristãos eram “infiéis”, “cegos” e estavam em contradição com a Bíblia; e eles precisavam urgentemente se converter.
Reproduzimos aqui uma mensagem dirigida pelo Arcebispo de Estrasburgo à loja judaica “René Hirschler” (da ordem da B’nai B’rith), por ocasião da exposição “O judeu e o judaísmo na arte medieval da Alsácia” e que foi publicado no boletim diocesano “A Igreja na Alsácia” (agosto de 2003).
Não se diga que se trata de um excesso isolado: Monsenhor Doré, antigo decano da faculdade de teologia do Instituto Católico de Paris, expõe a teologia que prevalece hoje na Igreja conciliar. Suas idéias, de fato, não vão além das da Roma conciliar. Só tem o mérito de ser mais claro.
O Bispo Doré ousa afirmar que a doutrina tradicional da Igreja sobre Israel (ensinamentos dos Padres da Igreja, doutores, papas e todos os santos) “contradizia a própria Bíblia”.
Le Sel de la Terre, nº 40. Outono, 2003.

Cada vez que vemos tantas imagens gravadas, pintadas ou esculpidas dedicadas aos judeus pelos cristãos da Idade Média, tanto do passado como dos que lhes eram contemporâneos, nós cristãos somos tomados por vários sentimentos.

Primeiro, o assombro. Como é possível que os discípulos de Jesus tenham sido enceguecidos (84) a ponto de não verem nos judeus irmãos de sangue daquele que eles confessavam não só como Filho do Altíssimo, mas também como filho de Israel, profundamente ancorado na religião de seus pais?

Em continuação, a vergonha. Como entender que aqueles que, atentos aos seus últimos ensinamentos — “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” — se tenham revelado tão infiéis (85) a este mandamento de amor ao próximo quando este próximo era um judeu?

Por fim, a indignação. Não! Nós, os cristãos de hoje, não nos reconhecemos neste modo de ver os nossos irmãos judeus, que nos escandaliza, nos magoa; não queremos mais ver essas imagens, testemunhos de uma época pretérita que já não é nossa.

Então vêm ao nosso espírito as vigorosas palavras proclamadas uma e outra vez pelo Papa João Paulo II durante o nosso grande jubileu do ano 2000, convidando-nos a “purificar a nossa memória”, chamando-nos a “fechar as feridas do passado, para que nunca mais se abram” (discurso da sua chegada a Tel Aviv).

Para que as feridas sejam fechadas, há considerá-las cuidadosamente, mais além de qualquer rejeição que possam provocar. É por isso que uma exposição como esta não pode deixar de ser saudável. Ajuda-nos a contemplar com coragem o nosso passado e a reconhecer os erros pelos quais, no entanto, não somos pessoalmente responsáveis. Muitas dessas imagens traduzem a mensagem tida pelo cristianismo, durante séculos, sobre o povo judeu e o judaísmo, condensada magistralmente pelo grande historiador Jules Isaac na expressão “ensino de desprezo”: povo infiel, que não conheceu o tempo da visita de seu Messias, surdo aos seus apelos, cego aos seus sinais, incapaz de ler a sua própria Escritura e as promessas de salvação nela contidas, o povo judeu foi objeto de rechaço por Deus e amaldiçoado por ter prevaricado em sua missão. Isso é o mostrado por todas essas imagens negativas, apresentando os judeus seja de forma humilhante devido à sua cegueira, seja de forma desfigurada — como era o caso no final da Idade Média —, devido aos múltiplos defeitos a encobrirem seu pecado imperdoável de deicídio. Em qualquer caso, quer o judeu ainda preserve a sua dignidade no meio da sua miséria (como mostra a magnífica imagem da Sinagoga existente na Catedral de Estrasburgo), quer seja caricaturado, a mensagem teológica é sempre a mesma: a eleição agora passou ao povo cristão e a Igreja — verdadeiro Israel —, proclamadora da salvação trazida por Cristo, pode então triunfar.

Durante o Concílio Vaticano II, a Igreja Católica finalmente revisou esta doutrina e compreendeu o quanto esta contradizia a própria Bíblia (86) e, sobretudo, a palavra do próprio São Paulo, que afirma que “os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento”. (87)

O decreto conciliar Nostra Æetate (1965), ponto de partida da “nova perspectiva” da Igreja sobre os judeus, recordava o “patrimônio espiritual” que a une ao povo da descendência de Abraão, condenando sob acusação de deicídio (§ 4º). O episcopado francês, sob particular impulso de D. Elchinger, Bispo de Estrasburgo, publicou em 1973 um documento sobre as relações judaico-cristãs de um vigor ainda não igualado, enquanto João Paulo II recordava em muitas ocasiões a perpetuidade do primeiro Aliança (88) “nunca revogada” (Maguncia – 1980, etc).

Agora queremos trabalhar para a reconciliação e o diálogo fraterno com os nossos irmãos mais velhos. Mas devemos ter a humildade de reconhecer que o ensinamento do desprezo e a “teologia da substituição”, a qual considera a Igreja como o novo e único Israel de Deus, ainda permeiam muitos espíritos. Somente um longo trabalho de educação levará à erradicação de todo o germe do antijudaísmo. Só uma contínua purificação da memória, que nos torne conscientes das tentações que nos habitam, levará os cristãos à vigilância e à responsabilidade. A eles também se dirige o dito por Deus a Caim (89): “Que fizeste com teu irmão?”

A Igreja hoje pede aos cristãos se comprometam neste caminho de conversão, convidando-os a construir com os seus irmãos judeus um futuro onde juntos possam ser “uma bênção uns para os outros” (João Paulo II, 1983).

***

Encontro “histórico” do Papa com
os principais rabinos de Israel (90)

CIDADE DO VATICANO, sexta-feira, 16 de janeiro de 2004.

O diálogo oficial estabelecido entre a Igreja Católica e o Rabinato-mor de Israel é um sinal de grande esperança”, reconheceu João Paulo II ao receber os rabinos-chefes de Israel nesta sexta-feira.

Líderes religiosos viajaram a Roma para assistir ao “Concerto de Reconciliação” que terá lugar no sábado no Vaticano.

Não devemos poupar esforços para trabalhar juntos na construção de um mundo de justiça, paz e reconciliação para todos os povos”, disse o Santo Padre diante de Jona Metzgher, rabino ashkenazi, Slomo Amar, rabino sefardita, e Oded Wiener, diretor geral do Grande Rabinato.

Ao iniciar seu discurso, o Papa recordou: “Nos 25 anos de meu pontificado, procurei promover o diálogo judaico-católico e fomentar sempre uma maior compreensão, respeito e cooperação entre nós”.

Ele também descreveu como um dos momentos marcantes de seu pontificado sua peregrinação jubilar à Terra Santa, “que incluiu intensos momentos de lembrança, reflexão e oração no Yad Vashem [o memorial nacional israelense dedicado às vítimas do Shoah (Holocausto)], e no Muro das Lamentações”.

Durante a audiência, conforme relatado após o encontro com o Papa, “os rabinos se referiram ao fenômeno do anti-semitismo, enfatizando a dimensão atual das palavras pronunciadas no passado pelo Papa“, quando recomendou “ensinar as consciências a considerar o anti-semitismo e todas as formas de racismo como um pecado contra Deus e a humanidade”.

Os rabinos chefes de Israel também pediram “ao Papa que exerça sua influência sobre os fiéis diante da crescente onda de terrorismo, que atinge inocentes e põe em risco a reconciliação“, e o agradeceram haver instituído “o dia dedicado ao judaísmo” na Igreja católica.

Por fim, presentearam João Paulo II com um “presente emblemático: um candelabro (Chanukkiah) com Jerusalém como pano de fundo, cidade consagrada às três religiões monoteístas, símbolo da aspiração pela paz de toda a humanidade”. (91)

***

Um bispo e um rabino buscam caminhos
para o diálogo entre judeus e católicos (92)

ROMA, sexta-feira, 16 de janeiro de 2004.

Os caminhos pelos quais o diálogo entre judeus e católicos pode continuar avançando foi o tema central da conferência entre representantes das duas religiões, realizada nesta quinta-feira na Pontifícia Universidade Lateranense de Roma.

Do encontro participaram Dom Rino Fisichella, reitor da Universidade e presidente da Comissão da diocese de Roma para o ecumenismo e o diálogo, e o rabino chefe da comunidade judaica de Roma, Riccardo Di Segni.

A conferência serviu para preparar o “Dia do Diálogo com os Judeus”, que a Igreja Católica na Itália celebrará no próximo sábado, este ano com o lema retirado do capítulo 3 de Sofonias: “Servirão ao Senhor sob o mesmo jugo” (versículo 9).

Monsenhor Fisichella esclareceu: “Este é um compromisso não apenas para lembrar que somos amigos e irmãos, mas também para fazer visível a relação de amizade”.

Por sua parte, o rabino Di Segni se aprofundou acerca das dificuldades objetivas deste diálogo, particularmente no terreno da teologia.

Progressos teológicos notáveis deram-se, na visão do judaísmo, por parte da teologia cristã”, reconheceu. “O documento sobre as escrituras judaicas, acontecimento sem precedentes, dá importância à exegese rabínica”, em referência ao documento da Pontifícia Comissão Bíblica “O povo judeu e suas Sagradas Escrituras na Bíblia Cristã” (2001).

No entanto, o rabino continuou observando, “a reciprocidade no nível teológico não existeEntre os políticos é possível discutir e chegar a uma solução; entre teólogos, não”.

 A razão, continuou esclarecendo, é o caráter “único, mas totalmente assimétrico” a unir o cristianismo ao judaísmo.

O cristianismo nasce do judaísmo e, com esforços consideráveis, pode introduzir elementos da espiritualidade judaica. O contrário não é possível”, disse.

No entanto, concluiu, o versículo de Sofonias — “Servirão ao Senhor sob o mesmo jugo” — “nos move a trabalhar para ver como é possível realizar esse ideal”.

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Os rabinos pedem ao Papa que participe
das comemorações do “ano de Maimônides” (93).

ROMA, segunda-feira, 19 de janeiro de 2004.

Os grandes rabinos de Israel expressaram a João Paulo II seu desejo de que os católicos do mundo celebrassem um “Dia de Diálogo com os Judeus”, a fim de promover a compreensão mútua entre judeus e cristãos e, juntos, combaterem o anti-semitismo.

Da mesma forma, o rabino Yona Metzger (ashkenazi) e o rabino Slomo Amar (sefardita), sugeriram que o Papa se unisse com um gesto significativo na celebração do ano de Maimônides, filósofo e teólogo de Córdoba (1135-1204).

O “Dia do Diálogo com os Judeus” já existe na Itália há anos, e é celebrado no dia 17 de janeiro, véspera da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. Consiste em um dia de encontros entre judeus e católicos, seja em conferências, seja em visitas a sinagogas, ou em confraternizações para se conhecerem melhor.

Os rabinos expressaram o desejo de que, por ocasião do oitavo centenário da morte do grande filósofo e teólogo judeu “Rambam” Maimônides, a Santa Sé empreste (por um tempo ou mesmo indefinidamente) alguns de seus preciosos manuscritos — guardados na Biblioteca do Vaticano —, para que possam ser exibidos em Israel.

Ao mesmo tempo, os rabinos pediram ao Papa doasse um objeto de culto judaico em posse da Igreja Católica. Questionados sobre a que objeto se referiam, os rabinos responderam que deixavam o poder de escolha a critério de João Paulo II.

Em seu posterior encontro com os jornalistas, os dois rabinos insistiram no caráter “cordial”, “caloroso” e “amigável” do encontro. O rabino Metzger destacou estivera o Papa muito “atento” a tudo o que se lhe dizia e muito “caloroso” ao receber seus convidados.

O rabino Amar reconheceu que este encontro havia “feito crescer a esperança de reconciliação e a fraternidade entre as duas religiões”, bem como a “intensificação das relações”, sublinhando que o Papa e os seus colaboradores já usaram, no passado, “palavras fortes” para condenar o antissemitismo.

Questionados sobre os boatos segundo os quais o “Menorah” (candelabro de sete braços do Templo de Jerusalém) estaria no Vaticano, os rabinos declararam não desejar fazer considerações sobre “rumores”. É uma questão que deve ser deixada para o “Rei Messias”, disse, sorrindo, o rabino Amar, prosseguindo no “diálogo e no entendimento”, em vez de levantar questões conducentes a desacordos.

Para o rabino Amar, a maior dificuldade entre as pessoas e as comunidades é “a falta de comunicação”, a impossibilidade de “compeender” ou “escutar” ao outro, para que todos fiquem em suas posições. “Precisamos conversar”, insistiu o rabino.

No momento em que nos falamos “de maneira autêntica”, há “uma semente, um início de esperança”. Estes encontros inter-religiosos, sublinhou, podem “superar as dificuldades que se dão em nível político”.

O rabino-chefe Metzger revelou que, na audiência, eles tocaram na questão da luta contra o antissemitismo e o terrorismo, dizendo: “Ontem nos perseguiram porque não tínhamos um estado e, hoje, porque o temos”. Ele revelou ter lançado um apelo aos líderes religiosos muçulmanos para que impeçam o aumento do terrorismo sob pretextos religiosos.

Somos todos “filhos de Abraão”, lembrou, e é impossível que “este pai se alegre em ver os irmãos matando-se uns aos outros”. “Já chega de tanto sangue derramado!”, disse ele, recordando o mandamento “não matarás”.

Cumpre voltar a sentar “ao redor de uma mesa” para conversar, insistiu o rabino Amar, pois quando há diálogo, começa a solução. É preciso “paciência” e “tolerância” para construir “pontes” que conduzam ao diálogo e que permitam “escutar a sabedoria dos demais”, quando cada um “pensa ter razão”.

“Se todos tivéssemos essa disponibilidade, o mundo já seria outro”, concluiu o rabino.

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Declaração de Monsenhor Sean Brady,
Arcebispo de Armagh – Primaz da Irlanda (94)

A terça-feira, dia 27 de fevereiro, “Dia da Memória do Holocausto”, marca o aniversário da libertação do campo de concentração nazista de Auschwitz-Birkenau. Um dos propósitos de marcar este dia é tentar assegurar, em qualquer lugar do mundo, jamais se repitam os horrendos crimes cometidos durante o Holocausto (…)

O racismo e a intolerância continuam levantando suas inquietantes cabeças, bem mais próximos, embora em proporção bem menor, e em diferentes contextos e circunstâncias. Uma sociedade verdadeiramente democrática e tolerante, livre dos males do preconceito, do racismo e de outras formas de intolerância, reconhece e respeita a todo momento a dignidade de todos os seus cidadãos, independentemente de raça, religião, sexo ou condição social.

O “Dia da Memória do Holocausto” nos chama a todos a trabalhar para construir uma tal sociedade. Que o Deus de Abraão, Alá e Jesus Cristo, o Deus de misericórdia, justiça e amor, nos dê forças para contribuir na construção dessa sociedade.

Maio, 27 de janeiro de 2004.

NOTAS:

(1) [No título] Traduzimos “noachide” por “noachida”.

(2) A lei de Noé (lei noaquida) é aquela confiada por Deus a Noé depois do Dilúvio. O plano em questão, revelado por Elías Benamozegh em sua obra “Israel e a humanidade” (Israël et l’Humanité – Étude sur le problème de la Religion Universelle et s’a Solution, [em francêsem inglês], 1884), será exposto neste artigo. Citemos aqui apenas o que Jacob Kaplan, rabino-chefe de Paris, declarou a esse respeito em 1966: “Segundo nossa doutrina, a religião judaica não é a única a garantir a salvação. Aqueles que, não sendo judeus, acreditam em um Deus supremo e observam uma regra moral, obedecendo às leis que o Criador prescreveu a Noé, podem ser salvos (…) É por isso que os rabinos ensinam o direito de todos os justos, de todas as nações, à salvação eterna. Além das leis de Noé, as regras da Torá e da Lei de Moisés valem apenas para os judeus, porque têm sua razão de ser no projeto divino de formar um povo destinado a realizar uma ação religiosa no mundo. A esperança de Israel não é, portanto, a conversão da raça humana ao judaísmo, mas ao monoteísmo. Quanto às religiões bíblicas, segundo dois de nossos maiores teólogos, são confissões cuja tarefa é preparar junto com Israel a chegada da era messiânica anunciada pelos profetas. Por isso desejamos ardentemente trabalhar juntos na realização deste ideal essencialmente bíblico (…) Assim, poderemos acelerar a era messiânica, que será a era do amor, da justiça, da paz”. (Jacobo Kaplan, Diálogo com o Padre Daniélou S.J. em 1º de fevereiro de 1966 no Teatro dos Embaixadores de Paris, Paris, 1966).

(3) Prêmio laureador da personalidade que mais efetivamente trabalhou durante o ano em favor da aproximação entre cristãos e judeus.

(4) Veja a declaração completa em Nouvelle Revue Théologique, t. 120, n.º 4, Outubro/Novembro de 1998, p. 529-543. O cardeal abre seu discurso exclamando: “Como me comove ser recebido nesta famosa e venerável sinagoga de Nova York, já centenária!!!” O cardeal acaba de publicar uma síntese de seu pensamento, uma espécie de judaico-cristianismo sincretista, em uma obra intitulada “A Promessa”, edit. Parole & Silence, 2002. Claude Viguée assim avalia a obra do cardeal: “Jean-Marie Lustiger mostra que não se pode — sob pena de destruir o próprio cerne do cristianismo — rejeitar a escolha de Israel. Essa é a chave de seu livro. Para escrever estas linhas, a partir da situação social e espiritual em que se encontra, é preciso muita coragem. Há cristãos que não o perdoarão facilmente por ter lembrado que sem a eleição de Israel a eleição cristã é inconcebível (…) Observe-se que, se ele tivesse escrito a mesma coisa na época da Inquisição… certamente estaria na fogueira!” France catholique, nº 2857, novembro de 2002, p. 10.

(5) Ibidem, pág. 532.

(6) Esta precisão não aparece no texto original.

(7) Em seu último livro, o Cardeal Lustiger distingue duas igrejas, a de Jerusalém, “uma igreja que é, dentro da Igreja Católica, a continuidade da promessa feita a Israel (…) e que não durou, o mais tardar, até o século VI, destruída sob a pressão de Bizâncio. Esta é uma das perdas de consciência mais importantes para os cristãos. A memória da graça (da eleição, n.d.t.) que havia sido concedida foi virtualmente rechaçada, não digo pela Igreja como esposa de Cristo, mas pelos cristãos (p. 17)” e pelos pagãos-cristãos, contando desde o século VI ao Vaticano II: “o pecado incorrido pelos pagãos-cristãos, sejam clérigos, príncipes ou povo, foi apoderar-se de Cristo para desfigurá-lo e fazer dessa desfiguração o seu deus (…) Sua ignorância sobre Israel é prova de sua ignorância sobre Cristo, a quem dizem servir” (La Promesse, edit. Parole et Silence, 2002, p. 81) Seria ainda católico o cardeal Lustiger?

(8) Ibid., pág. 535.

(9) Lendo estas linhas, parece que o cardeal Lustiger condena os benefícios do Édito de Milão no ano 313. Além disso, Constantino teria rejeitado “os tempos de redenção” pela segregação dos judeus. Curiosa leitura da história da Igreja!

(10) Para o Cardeal de Paris, a substituição do povo da antiga Aliança pelo povo cristão seria simplesmente um mito…! “Em seu livro ‘A Promessa’, você rejeita a teologia da substituição, o que me agrada”, rabino Josy Eisenberg para J.M. Lustiger, Le Nouvel Observateur, nº 1988, 12-18 de dezembro de 2002, p. 116.

(11) O cardeal encaminha para La Franquerie, Ascendances davidiques des Rois de France (La Franquerie, ascendência davídica dos reis da França), Villegenon, 1984.

(12) Lustiger assume aqui uma expressão cara a Jules Isaac.

(13) Ver Patrick Petit-Ohayon, La Mission d’Israel, un peuple de prêtres (A Missão de Israel, um povo de sacerdotes), Paris, edit. Biblieurope & F.S.J.U., 2002.

(14) Paris, 28 a 29 de janeiro de 2002. A intervenção intitula-se: “De Júlio Isaac a João Paulo II: desafios para o futuro”. Veja o texto em A Promessa, p. 185-188 ou em Rencontres européennes entre juifs et catholiques (Encontros europeus entre judeus e católicos), organizado pelo Congrès Juif Européen, 28-29 de janeiro de 2002, edit. Parole et Silence, 2002.

(15) Bruxelas, 22-23 de abril de 2002. “Judeus e cristãos. O que eles devem esperar de seu encontro?” Intervenção publicada em La Promesa, p. 189-202. Ver o parágrafo com paladar de heresia intitulado: “Liberdade religiosa, chave da democracia”.

(16) Washington, 8 de maio de 2002. “O que significa o encontro de judeus e cristãos no contexto do choque de culturas?” Veja A Promessa, p. 203-218.

(17) Lustiger acredita em Jesus Cristo como o Messias, mas se trata de um Messias judeu. Devemos reler a obra muito oportuna “Deus, é anti-semita? Infiltração Judaica na Igreja Conciliar”, por Hubert Le Caron, edit. Fideliter, 1987. O autor estuda a “tentativa de judaização da Igreja romana” e as pontuações feitas pelo cardeal a France-Soir, datadas de 3 de fevereiro de 1981: “Sou judeu. Para mim, as duas religiões são uma; não trairei a de meus ancestrais” p. 83-115. No entanto, nem todos os judeus aderem a esse judaico-cristianismo. Veja o artigo “Não, Sr. Cardeal”, do rabino Josy Eisemberg em Le Nouvel Observateur, nº 1988, p. 116. Os silêncios do cardeal sobre a Virgem Maria são eloqüentes. Os padres Lemann, verdadeiramente convertidos, pregaram magnificamente Maria Corredentora.

(18) Os judeus infiéis tornaram-se instrumentos de Satanás em sua luta contra a Igreja e contra a Mãe de Deus. No Evangelho segundo São João, c. 8 v. 24 e 41-44, lê-se ter dito Jesus aos judeus: “‘Se não crerdes que eu sou o Messias, morrereis no vosso pecado (…) Se fôsseis filhos de Abraão, faríeis as obras de Abraão. Mas tu fazes as obras de teu pai’. Os judeus disseram-lhe: ‘Não somos filhos da fornicação; temos um só Pai, que é Deus’. Jesus disse-lhes: ‘Se Deus fosse o vosso Pai, vós me amaríeis, já que saí de Deus e venho Dele (…) O pai de onde vós saístes é o diabo e vós quereis cumprir a vontade do seu pai’”.

(19) Ver, em particular, a pequena obra de Théodor RatisbonneLa Question Juive (A Questão Judaica), Paris, edit. Dentu & Douniol, 1856, 31 p. Disponível online em www.gallica.bnf.fr .

(20) Josué Jehouda, El Antisemitismo, Espejo del Mundo, prefaciado por Jacques Soustelle, Genebra, ed. Síntese, 1958 283 p. Jehouda aspira a ser o sucessor de Elias Benamozegh, rabino de Livorno. Suas outras obras são de grande interesse: La Tierra Prometida, París, Rieder, 1925,122 p.; Las Cinco Etapas del Judaísmo Emancipado, Genebra, edit. Synthesis, 1946, 132 p. (Extrato da revista judaica de Genebra, 1936-1937); La Vocación de Israel, París, Zeluck, 1947, 240 p.; El Monoteísmo, doctrina de la unidad, Genebra, edit. Synthesis, 1952, 175 p., Instituto para o estudo do monoteísmo. Cahiers (I.E.M.), vol. 1, março de 1952; Sionismo y mesianismo, Genebra, Synthesis 1954, 318 p. Cahiers (I.E.M.) vol. 2, outubro de 1954; Israel y la Cristiandad. La Lección de la Historia, Genebra, Synthesis, 1956, 263 p.; Israel y el Mundo (síntese do pensamento judeu), París, edit. Científico, s. d.; El Marxismo frente al Monoteísmo y al Cristianismo, Genebra, Synthesis, 1962, 71 p. José Jehouda também prologou a obra de Élías Benamozegh, Moral Judía y Moral Cristiana, edição revisada e corrigida, Baconnière, 1946.

(21) Josué Jehouda, El Antisemitismo, Espejo del Mundo, p. 161-162. Citado no panfleto de Léon de Poncins, “El Problema judío ante el Concilio”, página 27. Este panfleto foi distribuído a todos os padres conciliares em 1965, antes da quarta sessão. Veja adiante as circunstâncias históricas de sua divulgação.

(22) A revista Unidad de los Cristianos, nº 109, publica a fotografia de todos os participantes.

(23) Ver Recuerdos de la Conferencia de Seelisberg y del padre Journet (Memórias da Conferência de Seelisberg e do Padre Journet), do Rabino A. Zafran, e La Carta de Seelisberg y la participación del cardenal Journet  (A Carta de Seelisberg e a participação do Cardeal Journet), de Mons P. Mamie, no Colóquio da Universidade de Freiburg, 16-20 de março de 1998, sobre o tema: “Judaísmo, Antijudaísmo e Cristianismo”, Saint Maurice, edit. Santo Agostinho, 2000, p. 13-35. Padre Journet foi convidado para a conferência proferida pelo R.P. de Menasce O.P., egípcio, judeu convertido. Já Jacques Maritain foi convertido pelo pároco genebriano Pierre Visseur.

(24) A íntegra do texto foi publicada na revista Nova y Vetera, 1946-1947, p. 312-317. Intitulava-se: “Contra o anti-semitismo”. Ali se lê: “Os cristãos também compreenderão que precisam rever e purificar diligentemente a própria linguagem, pois uma rotina nem sempre inocente, mas em todo caso particularmente despreocupada com o rigor e a exatidão, filtrou expressões absurdas como ‘raça deicida’, ou uma forma mais racista do que cristã de contar a história da Paixão, que convida as crianças cristãs ao ódio de seus colegas judeus (…)”

(25) André Kaspi, Jules Isaac, historiador, protagonista da abordagem judaico-cristã, Paris, Plon, 2002, p. 215.

(26) Ibid., pág. 216.

(27) Ibid., pág. 232.

(28) A famosa inspiração de João XXIII em São Paulo Extramuros permanece um enigma. Seria interessante saber se Jules Isaac ou as organizações judaicas tiveram algum papel na decisão por ele tomada. Sabe-se que, em 1923, os cardeais aconselharam Pio XI contra tal convocação. O Cardeal Billot tinha mesmo predito ao Sumo Pontífice: “Acaso não deveríamos temer fosse o Concílio ‘manipulado’ pelos piores inimigos da Igreja, os modernistas, que, como claramente mostram os informes, se prepararam para tirar proveito dos Estados Gerais da Igreja (isto é, um Concílio–n.d.t.) e fazer uma revolução, um novo 1789?” – Citado por Mons Tissier de Mallerais em Marcel Lefebvre, Clovis 2002, p. 289.

(29) Edit. Du Cedre, Paris, 1982.

(30) Os jornais egípcios o espalharam. Veja La Iglesia y los Judíos, de Bea, Cerf, 1967, e o artigo do Cardeal J. Willebrands “Contribución del cardenal Bea al movimiento ecuménico, a la libertad religiosa y a la instauración de nuevas relaciones con el pueblo judío” (Contribuição do Cardeal Bea ao movimento ecumênico, à liberdade religiosa e ao estabelecimento de novas relações com o povo judeu), D.C. 79. (1982), p. 199-207.

(31) Ver o artigo “Como os judeus mudaram o pensamento católico”, de Joseph Roddy na revista Look, 25 de janeiro de 1966, artigo traduzido e publicado na íntegra em Le Sel de la Terre, nº 34, outono de 2000, p. 196-215. Estas linhas referem-se a esse artigo.

(32) Muito poderia ser escrito sobre os anos de preparação para o Concílio (homens, relacionamentos, redes, projetos, publicações, planos, amizades, inimizades…).

(33) Léon de Poncins, El judaísmo y el Vaticano. Tentativa de Subversión Espiritual (Judaísmo e Vaticano. Tentativa de Subversão Espiritual), edit. Saint Remi, 2001, pág. 204. A semelhança encontrada com as reflexões expressas na declaração do episcopado norte-americano sobre os judeus, de 13 de agosto de 2002, é algo assustador: “Devem os cristãos convidar os judeus para serem batizados? É uma questão complexa, não apenas em termos da autodefinição teológica cristã, mas também por causa da história de batismos forçados de judeus por cristãos”. Em um estudo notável e atemporal apresentado na sexta reunião do Comitê de Ligação Internacional Católico-Judaico em Veneza, há vinte e cinco anos, o professor Tommaso Federici examinou as implicações missiológicas da Nostra Ætate em bases históricas e teológicas, argumentando que, na Igreja, não deveria existir nenhuma organização de qualquer tipo dedicada à conversão de judeus. “Reflexões sobre a Aliança e a Missão”, documento publicado pelo Comitê do Episcopado Norte-Americano para Assuntos Ecumênicos e Inter-religiosos, juntamente com o Conselho Nacional de Sinagogas, onde se afirma ser objetivo inaceitável a conversão dos judeus. Washington, 13 de agosto de 2002.

(34) Joseph Roddy, ibidem, p. 201.

(35) Esses dois personagens eram oficialmente convertidos do judaísmo.

(36) História do Concílio Vaticano II, obra dirigida por G. Alberigo, Paris, Cerf/ Peeters, 1997, t. 1 pág. 440-441.

(37) Joseph Roddy escreve: “Bea não queria soubessem a Santa Sé ou a Liga Árabe que ele estava ali para ouvir as perguntas para as quais os judeus esperavam uma resposta”, ibidem. pág. 202.

(38) “Os capítulos IV e V, relativos aos judeus e à liberdade religiosa, provocarão os mais tempestuosos debates entre renovadores e tradicionalistas. O que está em jogo é nem mais nem menos que a renúncia, por parte da Igreja, ao monopólio da única verdade”. Henri Tincq, L’Étoile et la Croix (A Estrela e a Cruz). Jean-Paul II-Israël-L´explication, Paris, J.C. Lattese, 1993, p. 30. Os patriarcas orientais defenderão valorosamente a teologia da Igreja. Entre eles, devemos mencionar: o Cardeal Tappouni, patriarca sírio de Antioquia; Máximo IV, patriarca melquita de Damasco; o patriarca copta Estevão I Sidarous; e o Patriarca Latino de Jerusalém.

(39) E também Os Hebreus e o Concílio, obra de certo Bernardo. V. René Laurentin, A Igreja e os Judeus no Vaticano II, Casterman, 1967.

(40) O deicídio à luz do Concílio é todo um tema a ser estudado. Com efeito, produziram-se os debates os mais animados e emocionantes. Por exemplo, Bea afirma que “embora seja verdade que o Sinédrio de Jerusalém representava o povo judeu, entenderam seus membros totalmente a divindade de Cristo? Se a resposta for negativa, então não houve deicídio formal”. Por sua vez, o arcebispo de Palermo, cardeal Ruffini, tomará a palavra para exclamar: “Não se pode dizer serem deicidas os judeus pela simples razão da impossibilidade de matar Deus”. Ver Henri Tincq, ibid, p. 36 e R. Braun, “É deicida o povo judeu?”, artigo publicado na revista Encuentros de Cristianos y Judíos, nº 10, suplemento, 1975, p. 54 a 71. O tema segue sendo extremamente atual em consequência da polêmica levantada em torno do filme de Mel Gibson, “A Paixão”, cuja estreia está marcada para a Páscoa de 2004. 

(41) Essas reuniões mantidas oficialmente em segredo causaram preocupação entre os bons bispos. Roddy revela que “foi esse tipo de reunião secreta de cúpula que levou os conservadores a afirmarem serem os judeus americanos o novo poder atuante por trás da Igreja”, ibid. pág. 206.

(42) Sobre o esquema preparatório, comenta Henri Fesquet: “Noventa e nove padres votaram negativamente; mil seiscentos e cinquenta, no afirmativo, e duzentos e quarenta e dois, no afirmativo com reservas. Os bispos orientais intervieram em bloco, declarando sua oposição em princípio a qualquer declaração sobre os judeus pelo Concílio. No entanto, o escrutínio final só ocorrerá no final da sessão IV em 1965” (Não = 99; Sim = 1.650; Sim c/ Reservas = 242), Le Monde, 27 de novembro de 1964.

(43) Léon de Poncins, El Problema Judío frente al Concilio (O Problema Judaico perante o Concílio), p. 7.

(44) Mons. Luigi Carli, fiel amigo de Mons. Lefèbvre no Cœtus Internationalis Patrum, publicou em seu boletim diocesano de fevereiro de 1965, que “os judeus da época de Cristo e seus descendentes até os dias atuais são culpados coletivamente da morte de Cristo”.

(45) André Chouraqui, La ReconnaissanceLe Saint-Siège, les juifs et Israël (A Santa Sé, os judeus e Israel), Paris, Robert Laffont, 1992, p. 200.

(46) Em itálico no texto.

(47) Colóquio da Universidade de Freiburg, 16-20 de março de 1998, sobre o tema: Judaísmo, Antijudaísmo e Cristianismo, Saint Maurice, edit. S. Agustín, 2000, ibid, p. 129.

(48) Criador do site: https://www.chretiens-et-juifs.org/ .

(49) O diálogo com a Igreja, é bom para os judeus?”, Bruxelas, setembro de 1997.

(50) Paul Giniewki, “Antijudaísmo cristão. Uma mudança”, Paris, Salvator, 1993, p. 506. A leitura desta obra é imprescindível para todo aquele que deseje compreender os acontecimentos à luz da luta entre a Igreja e a sinagoga.

(51) Em um discurso perante o Congresso Judaico Europeu, realizado em Paris, em 2002, o Cardeal Lustiger soube resumir de forma admirável a história das relações judaico-cristãs entre 1945 e 1965: “Os signatários de Seelisberg demoraram, Jules Isaac bateu na porta e o Concílio Vaticano II abriu-a por meio da declaração Nostra Æetate”. Dificilmente poderia ser melhor resumido. A Promessa, ibid, p. 187.

(52) Cardeal Lustiger, ibid., p. 187.

(53) A expressão pertence a Lustiger, em um discurso proferido na sinagoga de Nova York: “A Igreja condensou essa sua tomada de consciência na declaração Nostra Æetate do Concílio Vaticano II e, desde há trinta anos, deu origem a numerosas tomadas de posições, particularmente sob o impulso do Papa João Paulo II. Mas esta nova compreensão ainda deve transformar profundamente os preconceitos, as ideias de tantos povos pertencentes ao espaço cristão, cujos corações ainda não estão purificados pelo Espírito do Messias”, ibid. Que é este “Espírito do Messias”?

(54) F. Lovsky, O Reino Dividido: Judeus e Cristãos. Ed. São Paulo, 1987.

(55) As revistas Istina y Sens reproduziram amplamente os debates e os novos dados teológicos. Ver, entre outros, Ensayo de programa para una teología después de Auschwitz (Ensaio de programa para uma teologia pós-Auschwitz), de Franz Mussner, Istina, nº 36, 1991, p. 346-351.

(56) Ver “Católicos e judeus: uma nova visão. Notas da comissão vaticana para as relações com o judaísmo”, DC 82 (1985), p. 733-738. Ver também: “Discurso de João Paulo II aos delegados das conferências episcopais para as relações com o judaísmo”, CD 1827 (4 de abril de 1982), p.339-340.

(57) Veja o site do Serviço de Relatórios de Documentação Judaica e Cristã. A capa apresenta o site assim: “O que é o S.I.D.I.C.? Um organismo católico animado pelas Irmãs de Notre-Dame de Sion. Seu objetivo? Transferir, à vida dos cristãos, as diretrizes do Concílio Vaticano II sobre as relações entre a Igreja e o povo judeu. A quem se dirige? A todo cristão desejoso de aprofundar sua fé até suas raízes judaicas, de lutar contra o antissemitismo, de conhecer e reconhecer seu irmão judeu”. Onde está o espírito católico dos irmãos Ratisbonne, que queriam ganhar os judeus para o Cristo Redentor?

(58) Reflexões sobre Aliança e Missão, documento publicado pela Comissão do Episcopado Norte-Americano para Assuntos Ecumênicos e Interreligiosos e pelo Conselho Nacional de Sinagogas, afirmando constituir a conversão dos judeus um objetivo inaceitável, Washington, 13 de agosto de 2002.

(59) Paul Giniewski, “Antijudaísmo Cristiano. Un cambio” (Anti Judaísmo Cristão – Uma Mudança), Paris, Salvator, 1993, p. 391. As citações que se seguem foram extraídas desta obra.

(60) R. Padre Jean Dujardin, intervenção durante um “Encontro de Jovens”, março de 1998, revista Sens, nº 12, p. 533.

(61) Alain Marchandour, intervenção no colóquio Julgamento de Jesus, julgamento dos judeus?, novembro de 1996, Cerf, 1998, p. 11.

(62) Charles Perrot, “A Situação Religiosa de Israel Segundo Paulo”, em Julgamento de Jesus, julgamento dos judeus?ibid., p. 134-136.

(63) Le Nouvel Observateur, 22-28 de fevereiro, 1998, p. 110.

(64) A relação dessas jornadas se encontra no site das Irmãs de Nossa Senhora de Sião. Os segundos encontros europeus entre judeus e católicos tiveram lugar em Paris, 11 e 12 de março de 2003

(65) DC 1985, 733-738.

(66) Discurso de João Paulo II à sinagoga de Roma, em Judeus e Cristãos, Paris, Cerf, 1986, p. 54-55. Ver DC 1986, 433-439. O grave problema está no apreço demonstrado aos judeus infiéis, que não reconheceram Jesus Cristo como o Messias, nem a Igreja Católica como única arca de salvação. 

(67) Declaração dos Sábios Judeus Norte-Americanos, setembro de 2000. Veja o site https://www.chretiens-et-juifs.org/. André Paul, biblista e teólogo, parece rejeitar o “sionismo” do Cardeal Lustiger (A Promessa): “No galope de patética exegese, onde uma linguagem estereotipada ganha rédea solta à maneira de uma gnose judaico-cristã, seguem-se convites — quão louváveis! — ao ‘conhecimento mútuo’ (p. 189) entre judeus e cristãos, tudo para afirmar, desta vez sem rodeios, que o sionismo político estabelecido em 1948 é algo ‘necessário’ (p. 182), e mais ainda, que é um dom de Deus”. L’Express, nº 2683, 5-11 de dezembro de 2002, p. 96. Para os judeus, sua presença na Terra Santa se reveste obviamente de um caráter teológico. Quanto à reconstrução do Templo, o projeto está avançando bem.

(68) Paul Giniewski, “Antijudaísmo Cristiano. Un cambio” (Anti Judaísmo Cristão – Uma Mudança), ibid.

(69) Paris, ed. Biblieurope & F.S.J.U., 2002. Se o povo judeu é um povo de “sacerdotes”, o que acontece com o sacerdócio católico, alter Christus, nesta nova teologia? Não deve desaparecer? Deverá mudar sua natureza? Sabemos que Satanás sempre odiou o Santo Sacrifício da Missa, e por todos os meios pretende erradicar o sacerdócio e o Sacrifício da Nova Aliança. Em 1988, sofreu uma derrota: o Arcebispo Lefèbvre salvou o episcopado e o sacerdócio ao consagrar verdadeiros bispos católicos, os únicos a serem capazes, doravante, de ordenar verdadeiros padres católicos. O sacrifício redentor pode ser perpetuado e continuar a salvar as almas. (Nota da tradução em Portugês: O autor se esquece de referir [ou ignora] a “linhagem Thuc” de bispos e sacerdotes, que perdura até hoje, todos consagrados validamente; esta linhagem é composta principalmente por clérigos de posição “sede-vacante” desde a morte de S.S. o papa Pio XII, em 10/out/1958. Para uma linha-de-tempo sobre as sagrações de Monsenhor Thuc e de Dom Lefèbvre, ver Ordenações Pós Vaticano II).

(70) Veja o que André Chouraqui pediu oito anos antes (1992) em um capítulo intitulado “Por um grande perdão universal”: “Alguns cristãos gostariam organizasse, a Igreja Católica, uma cerimônia solene de expiação e um pedido de perdão pelos crimes, injúrias e danos causados ​​por cristãos direta ou indiretamente aos judeus”, ibid, p. 214. Ver também Frère Johanan, Judeus e Cristãos, de ontem para amanhã, Cerf, 1990, p. 56: “Infelizmente, o balanço geral da atitude dos cristãos em relação aos judeus ao longo da história é tremendo. A Igreja Católica tem o grave e urgente dever de expressar pública e oficialmente seu profundo pesar por todo o mal cuja causa principal está nos ensinamentos cristãos”. Chouraqui revela: “Este pedido de perdão foi sugerido desde 1945 por vozes autorizadas, em particular, por Jacques Maritain, Paul Claudel e, mais recentemente, pelo Cardeal Etchegaray”, ibid p. 214.

(71) Cf. estudo de Michel Ferretti, The Church and the Inquisition (A Igreja e a Inquisição), edit. Saint-Rémi, 2001. Os mitos e lendas negras sobre a Inquisição não têm mais lugar entre os historiadores. De Bennassar a Testas, a universidade tem produzido trabalhos sérios sobre o assunto. Mas esta verdade histórica está muito longe de ser conhecida ou admitida pelo mundo da mídia (incluindo os manuais escolares). Daí a utilidade da obra de Michel Ferretti, que oferece uma síntese clara e bem informada. Ferretti restaura verdades pouco conhecidas e rompe com certos “mitos” (Yves Chiron, Présent, 29 de dezembro de 2001). 

(72) A foto aparece na capa de muitas obras, inclusive nas do cardeal Lustiger. Os autores e editores entenderam todo o simbolismo desse gesto.

(73) Para aqueles desejosos de aprofundamento, v. Abraham Livni, O Retorno de Israel e a Esperança do Mundo, ed. de la Rocque, Hatsour Collection, 1984. Paul Giniewski, Os Cúmplices de DeusDefinição e Missão de Israel, Neuchàtel, edit. Baconnière, 1963.

(74) “O mundo não funciona bem exceto quando é noachida”, Gérar Haddad durante uma transmissão de Judaïca, 21 de setembro de 1996.

(75) Quarta página de um estudo publicado na internet intitulado: Le Noachisme et les Sectes Ocultes (O Noachismo e as Seitas Ocultas). Estudos bibliográficos em http://www.le-carrefour-de-lislam.com. O nome do autor não é mencionado. Ver também: Atas do Colóquio Internacional realizado de 10 a 11 de setembro de 2000, em Livorno, sob o alto patrocínio do Presidente da República Italiana, por ocasião do centenário da morte de Elias Benamozegh. Colóquio apresentado por Alessandro Guetta.

(76) Ver Elías Benamozegh, Israel et l’Humanité, Paris, Albin Michel, 1961. Infelizmente, a edição foi editada. Um site recém-criado sobre Benamozegh e sua obra — http://www.benamozegh.info/Benamozegh.html — permite acesso gratuito à obra completa de Israel et l’Humanité, reimpressa em 1914. O prefácio de Hyacinthe Loyson é ilustrativo.

(77) Gérard Haddad, “Aimé Pallière e a verdadeira religião” em Histoire, nº 3, novembro de 1979.

(78) Para muitos autores judeus, São Paulo é um grande traidor porque rechaçou os judaizantes para inventar o cristianismo, chamado com desprezo de paulinismo. Ver Shmuel Trigano, L´E(xc)lu entre Juifs et Chrétiens (Os escolhidos/excluídos entre Judeus e Cristãos), Paris, Denoël, 2003, c. 4, par. 2: O paulinismo, obstáculo ao diálogo judaico-cristão (p. 157).

(79) O Noahismo não parece estar reservado apenas “para o espaço cristão”. Os muçulmanos estão acompanhando com interesse esta mudança na religião católica. Você pode ler o estudo que eles escreveram intitulado Noahism and the Hidden Sects (Noachismo e Seitas Secretas), ibid.

(80) “A direção do diálogo judaico-cristão é irreversível. Faz parte do movimento de uma humanidade que se unifica, mesmo que à custa de rupturas”. Lustiger, Nouvelle Revue Thélogique, ibid p. 542.

(81) L’Arche, periódico mensal do judaísmo francês, nº 538, dezembro de 2002, p. 107.

(82) Hans Küng poderia estar na lista. Veja seu muito importante livro Judaism, Paris, Seuil, 1995. O mesmo com Teilhard de Chardin. Consulte a obra do Padre Julio Meinvielle, De la Cábala al Progresismo (tradução francesa de 1998). (Nota do autor do artigo.)

(83) “B’nai B’rith: associação fraterna judaica fundada nos Estados Unidos em 1843. B’nai B’rith significa ‘filhos da aliança’ em hebraico. O objetivo deste grupo é manter a tradição e cultura judaica, e lutar contra o antissemitismo (…) Os membros são chamados de ‘irmãos’, recebem uma iniciação e se reúnem em lojas (…)” (Dictionnaire Universel de la maçonnerie, Evry, Presses Universitaires de France, 1987.)

(84) Itálico (enceguecidos) por parte do periódico Le Sel de la Terre.

(85) Itálico (infiéis) por parte do periódico Le Sel de la Terre.

(86) Itálico (contradizia a própria Bíblia) por parte do periódico Le Sel de la Terre.

(87) Esta é a única passagem passível de ser citada pelo Bispo Doré com objetivo de tentar colocar em contradição o ensinamento tradicional da Igreja com a Bíblia. Ele toma muito cuidado para não fornecer a citação precisa (Romanos 11, 29). Acaso ele teme que a leitura do contexto permita aos leitores perceberem sua interpretação em sentido totalmente contrário? De fato, três versículos acima, São Paulo acaba de dizer que “o endurecimento veio sobre uma parte de Israel até que tenha entrado a plenitude dos gentios”. A igreja conciliar é campeã na arte de deturpar as Sagradas Escrituras (NDLR – Le Sel de la Terre).

(88) A nova teologia nunca fala da “antiga aliança”. Ela comuta esta expressão tradicional por outra: “primeira aliança”. A mudança não é inocente, porque tenta justamente fazer crer não ter sido substituída a aliança do Sinai pela do Gólgota (NDLR – Le Sel de la Terre).

(89) Caim, o primogênito, em quem os Padres da Igreja sempre viram uma imagem da sinagoga, torna-se, para o Mons. Doré, uma figura do povo cristão, que persegue os judeus. Todo o esforço teológico do Arcebispo de Estrasburgo parece visar a inverter radicalmente o ensinamento tradicional (NDLR – Le Sel de la Terre).

(90) Notícia divulgada pela agência Zenit (ZS04011605) em espanhol.

(91) Lembre-se serem os VII Mandamentos de Noé (noachismo) o menor denominador comum das três religiões monoteístas…

(92) Agência Zenit (ZS04011604) em espanhol.

(93) Lista de notícias divulgadas pela agência Zenit (ZS04011901) em espanhol, com acréscimos, em tipografia diferente, do que aparecia a esse respeito em francês (Z 04011603) e omitido na anterior.

(94) Zenith ZS04012709.

Trad. por Gislene Nogueira (site Virgo-Pridentíssima) de: Fonte: https://covaindeserto.blogspot.com/2014/01/del-mito-de-la-sustitucion-la-religion.html.

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