Pe. Michael Mendl, S.D.B. | 1997
Ensaio de Crítica Textual e Interpretação [1] (1997)
O Ambiente do “Sonho”
Em 26 de maio de 1862, Dom Bosco prometeu aos meninos do Oratório, como muitas vezes fazia, que teria “algo agradável” para contar a eles no último ou penúltimo dia do mês, [2] em sua conferência de Boa Noite à comunidade do Oratório. A Boa Noite é um costume salesiano que remonta a 1847, quando foi inaugurada pela santa mãe de Dom Bosco.
Pouco tempo depois de alojar-se em suas próprias instalações em Turim, Dom Bosco percebeu que alguns meninos precisavam de abrigo à noite. Ele arrumou o estábulo. Mas as primeiras experiências dele não foram encorajadoras. Ele conta-nos, em suas Memórias, que alguns daqueles meninos “repetidamente fugiam com os lençóis, outros com os cobertores, e no fim até mesmo o próprio colchão foi roubado.” [3] Então, numa noite chuvosa em maio de 1847, um órfão de quinze anos apareceu na porta, pedindo comida e abrigo. O Padre João e Mamãe Margarida o acolheram, deram-lhe um prato de sopa e secaram as roupas dele perto do fogo. Dom Bosco conversou com ele sobre o estado espiritual, educacional e empregatício dele. Depois de um tempo, o menino irrompeu em lágrimas e implorou abrigo, levando Margarida também às lágrimas e comovendo Dom Bosco igualmente. O diálogo, nas Memórias dele, segue-se deste modo: [4]
“– a Se eu pudesse ter certeza de que você não é ladrão, eu tentaria alojá-lo. Mas outros meninos roubaram alguns dos cobertores, e você poderia levar os que sobraram.
– Ah, não, senhor. Não precisa se preocupar com isso. Eu sou pobre, mas nunca roubei nada.
– Se você quiser, respondeu minha mãe, eu o alojarei esta noite, e para amanhã Deus proverá.
– Onde?, perguntei eu.
– Aqui na cozinha.
– Está arriscando até mesmo suas panelas.
– Vou me certificar de que isso não aconteça.
– Vá em frente, então. A boa mulher, ajudada pelo pequeno órfão, saiu e juntou alguns tijolos. Com estes, construiu ela quatro pequenos pilares na cozinha. Neles, ela deitou algumas tábuas e pôs um grande saco sobre elas, destarte fazendo a primeira cama no Oratório. Minha mãe deu ao menino um pequeno sermão sobre a necessidade do trabalho, da confiança e da religião. Por fim, ela convidou-o a fazer suas orações.”
Esse menino foi fiel à palavra dele e tornou-se o primeiro hóspede interno no albergue para jovens de Dom Bosco, o primeiro de centenas. E Margarida Bosco havia iniciado uma prática característica do método educacional salesiano. Após as orações da noite, isto é, por volta de 21:15, antes de os meninos seguirem para os seus dormitórios, Dom Bosco ou seu representante ficava de pé diante da comunidade reunida e dirigia algumas palavras a eles: sobre uma festa litúrgica vindoura, algum acontecimento na casa, algum incidente público, algum conselho baseado na Bíblia ou na vida de um santo etc., concluindo desejando-lhes “boa noite”. Assim, tantos os meninos quanto os salesianos eram mandados para a cama, e para o silêncio monástico que preenchia então a casa, com um bom pensamento. Esse costume ainda é observado em nossos internatos e, com modificações, em muitas de nossas outras obras, bem como em nossas próprias comunidades. Era geralmente nas Boas Noites que Dom Bosco narrava os seus sonhos para os meninos. Ao passo que a Boa Noite era geralmente bastante breve — Dom Bosco disse que devia durar, via de regra, somente três minutos [5] — alguns desses sonhos devem ter levado uma hora para relatar. E, no entanto, eram sempre aguardados com tremenda empolgação, e se Dom Bosco, por algum motivo, tinha de adiar a narração prometida de um sonho, os meninos não o deixavam em paz até ele cumprir a palavra. Esse contexto é importante. Com apenas um punhado de exceções, os sonhos de Dom Bosco diziam respeito aos seus meninos e seus salesianos. Eram “não para consumo externo”. Ele geralmente encorajava seus ouvintes a debater entre si as palavras dele e seu significado tanto quanto quisessem, mas muito frequentemente alertava-os explicitamente que não repetissem a ninguém fora da casa o que ele estava para dizer; os de fora não conheciam a atmosfera íntima e paternal que reinava na família salesiana, podiam interpretar mal as palavras dele, podiam expor o Oratório ao ridículo. Isso era assim, tanto quando ele previa que algum pupilo morreria antes de uma certa data, como quando ele contava alguma jornada mística com seus amados filhos que, de algum modo, revelava os corações deles.
E foi assim que, numa Boa Noite na sexta-feira, 30 de maio de 1862, ele finalmente cumpriu a promessa feita havia quatro noites a mais de quinhentos rapazes e algumas dezenas de sacerdotes e seminaristas, reunidos sob os pórticos onde eles diziam suas orações da noite quando o clima estava ameno. O Padre Lemoyne, é claro, ainda não havia encontrado Dom Bosco e não estava presente. Não temos versão alguma da história na escrita de Dom Bosco. O que temos são duas cartas independentes para um irmão leigo salesiano, Frederico Oreglia, que estava fora do Oratório naquela ocasião. Assim, temos um relato sólido da substância, mas não um relato literal, verbatim, daquilo que Dom Bosco disse. [6] Uma carta foi escrita na manhã seguinte, 31 de maio, por um seminarista de 20 anos de idade, João Boggero. [7] A outra foi escrita em 5 de junho por um leigo de 25 anos de idade, César Chiala. [8] É essa segunda narrativa que eu considerarei primeiro. Chiala vinha frequentando o Oratório havia cerca de doze anos. Ele trabalhava para o serviço postal real, era atuante na Sociedade São Vicente de Paulo, ensinava Catecismo no Oratório — o que pode explicar a presença dele na noite de 20 de maio — e, mais tarde, tornou-se salesiano. Chiala conta a Oreglia não ter escrito antes, porque esperava que ele voltasse ao Oratório a qualquer momento; ele confessa não conseguir mais se conter, e escreve tão apressadamente que se desculpa por suas rasuras e correções. Isso indica que ele não compôs nenhum rascunho preliminar e estava escrevendo de memória. A importância especial dessa carta advém do que ela nos conta sobre o contexto da narração, por Dom Bosco, de seu “sonho”. Após as orações da noite, diz ele, o Pe. Vítor Alasonatti, vigário de Dom Bosco, subira à pequena tribuna da frente para dar a Boa Noite. Se Dom Bosco prometera quatro noites antes revelar “algo agradável”, ele provavelmente não estivera presente nas três noites entrementes, e nesta noite o Pe. Alasonatti não deve ter percebido que ele estava presente afinal. “Quando o próprio Dom Bosco subitamente tomou a frente”, diz Chiala, o Pe. Alasonatti cedeu o lugar a ele “e todos os meninos começaram a gritar e dar vivas.” Embora Chiala não use aspas para as palavras de Dom Bosco, ele as põe na primeira pessoa. É óbvio que ele não está dando uma narração verbatim mas somente um resumo substancial. Dom Bosco começou dizendo: “É uma pena que, em meio a tão felizes boas-vindas, eu seja obrigado a abrir a boca para castigar alguns que ontem escalaram o muro e saíram do Oratório.” Os santos, mesmo os mais cativantes, podem ter problemas disciplinares com seus filhos. Dom Bosco então leu em voz alta os nomes dos meninos culpados e anunciou o castigo deles. A moldura é a direção ordinária do internato do Oratório: o pai e seus quinhentos meninos, incluindo um pouco de incerteza, de início, sobre se Dom Bosco estava presente, e um problema que Dom Bosco considerou séria ruptura da disciplina. Para dizê-lo de outro modo, o ambiente é inteiramente pedagógico. E é essa a chave para interpretar as palavras de Dom Bosco.
O Conteúdo do “Sonho”
Por fim, Dom Bosco anunciou: “Eu havia prometido narrar algo para vocês.” “Sim, Sim!”, exclamaram todos. “Mas está um pouco tarde”, Dom Bosco provocou. Todo o mundo gemeu. Novamente, a interação familiar do pai no seio de sua família. Assim, Dom Bosco começou. “Está bem, já que vocês querem que eu conte algo, escutem. Quero ver se vocês têm a cabeça boa. Vou lhes contar uma fábula, um símile. Prestem atenção [e vejam] se conseguem entendê-la.” Chiala relata que “Silêncio absoluto caiu sobre aquele grupo de mais de 500 cabeças que, pouco antes, ensurdecia as estrelas com o seu barulho.” [9] Note-se que Dom Bosco não disse, como usualmente fazia, que ele sonhara o que estava prestes a narrar, muito menos alertou os meninos que se lembrassem de que sonhos são somente sonhos, como ele frequentemente fazia. Ele disse explicitamente que era “uma fábula, um símile”. (A primeira carta, a de João Boggero, omite toda essa matéria introdutória. Por outro lado, no fim da carta, ele observa a Oreglia: “O que eu acho é que é um dos sonhos usuais dele”.) O próximo dos testemunhos mais antigos do que Dom Bosco disse também usa os termos fábula e símile. Esse testemunho vem da crônica cotidiana mantida pelo seminarista Domingos Ruffino, a qual é dependente da carta de Chiala. O rascunho preliminar do Padre Lemoyne, ordenando todos os materiais a partir dos quais ele mais tarde construiria as Memórias Biográficas, usa a mesma terminologia: fábula e símile. [10] O primeiro documento que chama essa narrativa específica de sonho parece ser o texto final dessas Memórias, no volume 7, [11] sem explicação para a mudança, a não ser que a explicação seja a observação final – e evidentemente pessoal – de Boggero: “Eu acho é que é um dos sonhos usuais dele”. Essa história textual, obviamente, não é testemunho muito convincente para um sonho. [12] Um dos problemas que encontramos ao estudar a vida de Dom Bosco está no que o Padre Lemoyne fez com o texto de suas fontes; [13] este é um exemplo. Portanto, pelo visto, Dom Bosco está propondo aos seus meninos e seminaristas uma parábola, o tipo de parábola frequentemente chamado de apólogo. Esse é um termo tomado de empréstimo dos estudiosos da Escritura, especialmente os que estudam as parábolas, e significa uma alegoria que ensina uma moral. É um termo apto para aquilo que Dom Bosco narrou na noite de 30 de maio de 1862, bem como para alguns de seus outros sonhos, por exemplo, o da serpente — óbvio símbolo do demônio — que foi morta por uma corda batida contra ela, após o que, a corda soletrou “Ave Maria”. [14] De volta agora às palavras de Dom Bosco tais como relatadas por César Chiala. “Imaginem – disse-nos ele – que vocês estão numa praia e não veem outro espaço de terra a não ser o que está sob os seus pés.” [15] Novamente, temos indicação de uma parábola. Dom Bosco é sempre um dos protagonistas nos sonhos dele; ele nem mesmo aparece nesta aventura. Embora os meninos dele muitas vezes tenham papéis atuantes nos sonhos dele, ele nunca pede a eles que “imaginem” que estão realmente fazendo ou testemunhando o que ele está prestes a descrever. Aqui ele é muito semelhante a Nosso Senhor dizendo aos camponeses da Palestina: “Escutai! Eis que saiu um semeador a semear…” (Marcos 4:1-12); ou dizendo a Simão fariseu: “Um credor tinha dois devedores: um devia- lhe quinhentos denários, o outro cinquenta. Não tendo eles com que pagar, perdoou a ambos a dívida. Qual deles, pois, mais o amará?” (Lucas 7:40-43). De fato, Dom Bosco, como Jesus, pedirá uma interpretação depois que terminar a sua parábola. Darei agora a narrativa de Dom Bosco sem interrupções, tal como Chiala a relatou:
“Em toda a superfície do mar vocês veem uma infinidade de navios, todos com um bico de ferro afiado que perfura tudo o que ele atinge. Alguns desses navios têm armas, canhões, fuzis; outros têm livros e materiais incendiários. Todos eles se apinham contra um navio que é consideravelmente maior, tentando abalroá-lo, incendiá-lo e fazer nele todo o tipo de dano possível. Imaginem que, no meio do mar, vocês veem duas colunas altíssimas. Sobre uma delas está a estátua da Santíssima Virgem Imaculada, com embaixo a inscrição: ‘Auxílio dos Cristãos’. Sobre a outra, que é ainda mais alta e imponente, há uma Hóstia de tamanho proporcionalmente grande em relação à coluna, e sob ela as palavras: ‘Salvação dos que creem’. Da base da coluna, pendem muitas correntes com âncoras, às quais é possível prender os navios. O navio maior é capitaneado pelo Papa, e todos os esforços dele são dirigidos para manobrá-lo em meio àquelas duas colunas. Mas, como eu disse, as outras barcas tentam de todo o modo bloqueá-lo ou destruí-lo, algumas com armas, outras com os bicos em suas proas, com o fogo de livros e periódicos. Mas todas as suas armas são inúteis. Toda arma e substância se esfacela e afunda. Vez por outra, os canhões abrem fenda profunda nalgum ponto dos flancos do navio. Mas uma brisa que sopra das duas colunas é suficiente para remediar toda a ferida e fechar as fendas. O navio, novamente, continua em seu curso. No percurso, o Papa cai uma vez, então se levanta novamente, cai segunda vez e morre. Assim que ele se encontra morto, outro imediatamente o substitui. Ele guia o navio para as duas colunas. Ao chegar, ele prende o navio com uma âncora à coluna com a Hóstia consagrada, com outra âncora à coluna com a Imaculada Conceição. Então, irrompe uma desordem total ao longo de toda a superfície do mar. Todos os navios que até aquele momento vinham combatendo a nau do Papa se dispersam, fogem, colidem uns com os outros, alguns naufragando e tentando afundar os outros. Os que estão à distância mantêm-se prudentemente afastados até os destroços de todos os navios demolidos terem afundado nas profundezas do mar, e então eles rumam vigorosamente para o lado da nau maior. Tendo se juntado a ela, eles também se prendem a si mesmos nas âncoras que pendem das duas colunas e ali permanecem em perfeita calmaria.”
Passo agora à carta de João Boggero ao Irmão Frederico Oreglia, escrita na manhã seguinte à Boa Noite de Dom Bosco. Esse seminarista tinha vivido no Oratório por mais de seis anos e foi um dos vinte e dois salesianos originais. Ele acabou se tornando padre diocesano. [16] Acerca do que Dom Bosco disse em 30 de maio, ele fez uma coisa que muitos alunos, mesmo seminaristas, já fizeram, vez por outra: ele escreveu uma carta durante a aula. Conforme a carta, ele começou a escrever às 10:30 da manhã e concluiu-a quando a aula estava chegando ao fim, às 11:00 da manhã; por onde, podemos suspeitar de um pouco de pressa. Ele concorda com Chiala que Dom Bosco começou convidando todos os meninos a se imaginarem numa praia. Ele difere num detalhe: Dom Bosco incluiu a si mesmo. Mas, como Dom Bosco não desempenha mais nenhum papel na ação, isso não tem significância. Boggero oferece uma porção de detalhes secundários que Chiala não apresenta, por exemplo, ele descreve os bicos dos navios inimigos como “afiados como uma flecha” e conta-nos que as duas colunas eram “pouco distantes uma da outra”. Por outro lado, ele omite alguns dos detalhes de Chiala; dissera este que os bicos eram de ferro e perfuravam tudo o que atingiam. Essas pequenas variações são interessantes, confirmam que os relatos são independentes, e não afetam a substância da história de Dom Bosco. Entre as armas inimigas listadas por Boggero estão não somente canhões, armas e livros, como também “mãos, punhos, blasfêmias e maldições”. O Papa cai a primeira vez por ter sido gravemente ferido; Chiala não dava uma razão. Quando ele cai pela segunda vez, morto, “um grito de júbilo se ergue entre os inimigos remanescentes”. Chiala era vago, apenas sugerindo depois do fim da batalha que alguns outros navios haviam estado aliados ao Papa, senão efetivamente combatendo por ele; Boggero observa que, depois que o navio papal é ancorado em segurança às duas colunas, “Então foram vistos muitos dos navios pequenos, alguns que haviam combatido por ele, outros à distância que haviam recuado por medo da batalha, correrem para as colunas e se ligarem àqueles ganchos, permanecendo ali totalmente a salvo e em segurança.” Embora Boggero ponha a história de Dom Bosco entre aspas e, numa ocasião, no início, note uma mudança no tom de voz dele, na realidade ele, como Chiala, está apresentando somente um resumo substancial.
A Interpretação do “Sonho”
Dom Bosco introduzira sua fábula ou símile com um desafio: “Eu quero ver se vocês têm a cabeça boa. Prestem atenção [e vejam] se conseguem entendê-lo.” Não era incomum ele apresentar uma interpretação de seus sonhos, perguntar aos ouvintes o que achavam, ou entrar em algum diálogo durante um sermão. Tendo concluído seu conto do navio do Papa no vasto oceano, segundo nossas duas testemunhas, ele chamou o Pe. Miguel Rua [17] e pediu- lhe que explicasse a fábula. Boggero, sem usar aspas, resume a resposta do Pe. Rua:
“Ele disse: Parece-me que o navio do Papa é a Igreja, da qual ele é o cabeça. Os outros navios são seres humanos, e o mar é este mundo, esta terra. Os que estavam defendendo a Igreja são as pessoas boas, que aderem à Santa Sé; os outros são os inimigos dela, que tentam destrui-la com todo tipo de arma. E as duas colunas da segurança são a devoção a Maria Santíssima a ao Santíssimo Sacramento da Eucaristia.”
Dom Bosco aprovou a resposta do Pe. Rua e fez uma correção na interpretação dele. Disse ele: “os navios inimigos são as perseguições vindouras à Igreja. O que aconteceu até agora é quase nada.” Então ele deu boa noite aos meninos.
O resumo de Chiala nota que Dom Bosco fez algumas sugestões de interpretação, mas, diferentemente de Boggero, ele não especifica quais foram. Ele fornece alguns detalhes ou variações sobressalentes: os navios que lutam contra a Igreja são “as potências do mundo”; a Igreja “de quando em quando sofre avarias, simbolizadas pelos buracos feitos no grande navio pelas armas, mas uma brisa do Onipotente e da Santíssima Virgem é suficiente para reparar esses danos, essas perdas de algumas almas.” Em conformidade com essa visão de que se trata de uma fábula ou apólogo, Chiala apresenta a moral, presumivelmente ainda parafraseando o Pe. Rua: “A moral, então, é que temos somente dois meios de ficar firmes nessa confusão, a devoção à Virgem Maria e a recepção frequente dos sacramentos, esforçando-nos de todas as maneiras em venerá-los e em difundir essa veneração”. Nem o Padre Rua nem Dom Bosco comentaram sobre a dupla queda e morte do Papa. De acordo com Chiala, quando Dom Bosco desceu da tribuna, ele disse ao seminarista Francisco Provera que, se lhe perguntassem isso outra noite, ele comentaria. Então, devia significar algo. Chiala arriscou suas próprias opiniões:
“Parece-me que ele quis indicar que o Pontífice vivo hoje não verá o fim dessas aflições, cairá uma vez de seu trono, mas retornará a ele, e que a paz será restaurada na Cristandade somente sob outro Papa, que sucederá a Pio IX imediatamente após a morte deste. Os navios à distância, penso eu, seriam as nações infiéis que se aproximarão da fé.”
Com o espaço acabando, Chiala concluiu sugerindo a Oreglia que, se ele quisesse “uma exposição mais genuína” das palavras de Dom Bosco, ele devia consultar o Padre Rua e então confirmar aquele relato com o próprio Dom Bosco.
Essas são as fontes primárias para aquilo que chamamos comumente de o “Sonho” das Duas Colunas. Coloco “Sonho” entre aspas porque, como vimos, Dom Bosco não o apresenta como sonho, mas como parábola. Quando foi registrá-lo nas Memórias Biográficas, o Padre Lemoyne acrescentou uma porção de passagens, [18] algumas importantes e outras não, incluindo uma em que Dom Bosco chamou seu conto de sonho, a referência a uma tempestade, uma esquadra dando apoio ao navio do Papa, duas reuniões, convocadas pelo Papa, dos capitães das embarcações aliadas, “regozijo indescritível” nas embarcações inimigas com a avaria que fizeram no navio do Papa, e um conclave dos capitães aliados para eleger um novo Papa. A mim, me parece que a esquadra de apoio e diversas reuniões do Papa e seus capitães são importantes, não somente detalhes que uma ou outra fonte pudesse ter acidentalmente omitido. O navio principal não é mais a Igreja, mas a Santa Sé, com esquadras de apoio que representam, ou as nações católicas, ou as igrejas locais. A reunião dos capitães na ponte do navio papal pode facilmente ser considerada o Concílio Vaticano I, ainda mais de sete anos no futuro. Mas e quanto à segunda reunião, que é realizada sob o mesmo Papa? E qual a fonte desse novo material? O Padre Lemoyne afirma que dependeu de quatro documentos: as cartas de Boggero e Chiala, a crônica de Ruffino, que já mencionamos, e um manuscrito de Secondo Merlone, um seminarista em 1862 que depois se tornou padre diocesano. O Padre Lemoyne diz que esse último documento foi escrito “muito tempo depois” da narração de Dom Bosco, mas isso é tudo que ele nos conta sobre o documento, e este não sobreviveu. Talvez seja a fonte de parte do material que aparece exclusivamente n’As Memórias Biográficas. Como quer que seja, o Padre Lemoyne insiste: “Todas as quatro narrativas concordam perfeitamente exceto pela omissão de alguns detalhes.” [19] Ora, como dissemos acima, alguns dos detalhes que ele introduz não são insignificantes. O Padre Lemoyne também nos conta de uma visita ao Oratório em 1886 do Cônego João Bourlot, que fora seminarista em 1862 e escutara a narrativa original por Dom Bosco. Ele recontou a parábola num jantar, em presença de Dom Bosco e do Padre Lemoyne, e pôs um terceiro Papa na narrativa. O Côn. Bourlot apareceu no Oratório novamente em 1907 e contou o conto inteiro novamente, ainda insistindo que houvera três Papas. [20] Obviamente o Padre Lemoyne não aceitou esse ponto. Mas é possível que o relato oral do Côn. Bourlot, fresco na mente do Padre Lemoyne quando este compunha o volume 7, tenha suscitado alguns dos detalhes inexplicados no texto final d’As Memórias Biográficas. Por outro lado, é preciso ser cuidadoso em aceitar testemunho oral vinte e quatro anos depois de um acontecimento, que é o hiato entre a Boa Noite de Dom Bosco e o primeiro relato dela pelo Côn. Bourlot na presença do Padre Lemoyne. Se, por um lado, Dom Bosco estava presente em 1886 para garantir a precisão do Cônego, ele não estava ali em 1907, quarenta e cinco anos depois do evento original. É uma infelicidade que não saibamos com base em que autoridade o Padre Lemoyne acrescentou os detalhes e substância que não temos como rastrear nas fontes primárias sobreviventes, especialmente dado que algumas delas não são inteiramente coerentes com as fontes sobreviventes. Sem descartá-los categoricamente, um pouco de ceticismo sobre esses detalhes é apropriado. Agora, o que devemos pensar da parábola de Dom Bosco? Temos de começar por onde ele começou, isto é, em 1862, num ambiente pedagógico entre seus meninos e seus salesianos. A imagem da Igreja como barca de Pedro era uma imagem comum que todos entendiam. O mar agitado pela tempestade é imagem prontamente reconhecível do mundo com seus perigos, e aparece com freqüência nos sonhos de Dom Bosco. A coluna com a Hóstia no topo é autoexplicativa. A outra coluna tinha uma estátua de Maria Imaculada, foco da devoção mariana de Dom Bosco desde o início de seu Oratório, em 8 de dezembro de 1841, até este período, quando seu foco mariano estava começando a passar para a Auxiliadora dos Cristãos. Essa transição pode ter sido inspirada pelo apelo de alguns Bispos italianos a Maria como Auxiliadora dos Cristãos para vir em socorro da Igreja e, talvez, por algumas recentes alegações de aparições num santuário mariano sob este título, perto da cidade de Spoleto. [21] “Auxílio dos Cristãos” era a inscrição no pilar; e essa festa específica acabara de ser observada, em 24 de maio. O título mariano “Auxílio dos Cristãos” origina-se da vitória naval cristã em Lepanto, 7 de outubro de 1571; o leque de imagens deste apólogo é sugestivo de Lepanto. Quando um inimigo anterior da Igreja, Napoleão, capturou o Papa Pio VII e levou-o ao exílio, o Papa retornou em triunfo a Roma em 24 de maio. Assim, o leque de imagens de Dom Bosco da Igreja e do Papa encontrando segurança no pilar da Auxiliadora dos Cristãos encaixava-se com a história da Igreja e também refletia acontecimentos contemporâneos. O que estava acontecendo na Itália em 1862? A Igreja estava sob ataque pesado em diversas frentes. Ela havia sido atacada política e militarmente. O rei Vítor Emanuel II, Camillo Cavour, Giuseppe Garibaldi e outros, em 1860, haviam unificado a maior parte da Itália em um único reinado. Juntamente com outros territórios, eles haviam capturado a maior parte dos Estados Papais, que haviam pertencido ao Papado durante mil anos; e não era segredo que se pretendia que Roma, que o Papa ainda detinha, acabasse por tornar-se a capital nacional. Embora hoje percebamos que um Estado minúsculo é suficiente para garantir a independência moral e espiritual do Papa, e o poder moral dele seja mais forte sem ser ele uma potência temporal, isso não era de modo nenhum claro em 1862. A Igreja também estava sob assalto religiosamente. Além da lei piemontesa de 1855 suprimindo as ordens monásticas, outras leis haviam despojado as cortes eclesiásticas de um bocado de sua autoridade, reduzido o número de feriados religiosos observados publicamente, eliminado a censura da imprensa e o controle da educação pela Igreja, e estabelecido tolerância religiosa, embora nominalmente o Catolicismo permanecesse a religião do Estado. Essas leis foram estendidas para outras regiões à medida que estas eram incorporadas ao reino da Itália. Exceto pela supressão dos mosteiros e a captura de suas propriedades e bens, esses passos redundavam, basicamente, na separação de Igreja e Estado, conceito este que a Igreja não aceitou formalmente até 1965. Na Europa do século XIX, isso era ainda considerado algo revolucionário e maligno. Que decorreram males dessa separação é inquestionável. A Igreja estava sob ataque culturalmente. Por diversas razões, a opinião pública começava a tornar-se anticlerical. O Papa tinha respaldo estrangeiro na manutenção de sua posse dos Estados da Igreja até 1860 e de Roma até 1870; a presença austríaca era particularmente odiosa para os patriotas italianos. No geral, a hierarquia italiana combateu com unhas e dentes todas as mudanças no status quo social e político. Sem o freio da censura eclesiástica, escritores de toda a espécie, de patriotas a protestantes evangélicos, a demagogos, a mascates de imundícies, eram todos livres para atacar a religião, a devoção popular, a Igreja, o Papa, os Bispos, a vida religiosa, as escolas paroquiais e os sacerdotes individuais. O leitor deve ter notado a presença de livros e periódicos no armamento dos inimigos da Igreja na alegoria de Dom Bosco. Padres, Bispos e mesmo Cardeais que se opunham ao novo regime eram hostilizados, encarcerados, exilados. Os católicos podiam muito bem sentir que a Igreja sofria uma nova perseguição como aquela infligida pela Revolução Francesa. [22]
Até Dom Bosco e seu Oratório estavam sob ataque. No começo da década de 1850 ele foi submetido a diversas tentativas de assassinato. Na década de 1860 elas cessaram, mas ataques vis na imprensa anticlerical tomaram o seu lugar. Políticos anticlericais também visaram-no, convencidos de que, bem na capital nacional, Turim, ele estava conspirando com o Papa contra a Itália. De tempos em tempos sua correspondência era interceptada, e onze vezes em 1860 oficiais de polícia apareceram no Oratório para vasculhá-lo, interrogar e intimidar mestres e pupilos, e saquear o aposento de Dom Bosco e seus papéis, em busca de provas que o incriminassem. Naturalmente, eles não encontraram nada que pudessem usar; graças não somente à prudência e posição apolítica do Santo, mas também a um de seus sonhos, que o alertou antes da primeira revista. Dom Bosco utilizou a oportunidade fornecida pelas buscas, para conversar com os oficiais sobre as almas deles. Alguns meses depois do “Sonho” das Duas Colunas, oficiais do departamento de educação tentariam desqualificar os professores de Dom Bosco e demonstrar que o Oratório ensinava subversão, para poderem fechá-lo. Se desejarmos interpretar a primeira queda do Papa na alegoria de Dom Bosco, e depois sua fatal segunda queda, podemos explicá-las deste modo: A primeira queda representava a temporária derrubada do poder temporal do Papa durante a Revolução de 1848, quando Pio IX foi empurrado ao exílio por cerca de um ano, e Garibaldi, Mazzini e seus amigos instauraram a efêmera República Romana. A fatal segunda ferida poderia representar o que muitas pessoas podiam prever em 1862: que o poder temporal da Igreja lhe seria completamente subtraído no futuro, como aconteceu em 1870. Dessa “fatalidade”, um novo tipo de liderança da Igreja emergiu. Isso, é claro, é uma hipótese. Não temos a explicação do próprio Dom Bosco. Outros poderiam aventar a hipótese de que os Papas sejam figuras pessoais: Pio IX, que viveria até 1878, e Leão XIII. Começar a especular sobre as conferências dos capitães aliados ao Santo Padre e o conclave que elegeu um novo Papa leva-nos às interpolações feitas pelo Padre Lemoyne n’As Memórias Biográficas, e adentramos terreno ainda menos seguro, por não termos certeza de que Dom Bosco descreveu essas coisas. Como quer que seja, tomando o que Dom Bosco inquestionavelmente disse, temos a Igreja e uma casa religiosa sofrendo a tempestade da perseguição. Dom Bosco poderia facilmente ter falado diretamente aos meninos e aos salesianos sobre a Divina Providência, a promessa de Jesus de que as portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja, o poder da Eucaristia, a proteção de nossa Mãe Santíssima. E assim fez ele constantemente. Mas usar uma história ou parábola pitoresca que ao menos sugerisse aos seus ouvintes os conhecidos sonhos dele seria uma ferramenta de ensino mais poderosa, como as inesquecíveis parábolas do Senhor. Com efeito, as imagens da Igreja assediada, da pilotagem segura do Santo Padre, do porto seguro oferecido pela proteção de Maria, da salvação garantida pelo Santíssimo Sacramento mantêm seu apelo a nós hoje. À luz do contexto pedagógico e das palavras dele tais como registradas pelas testemunhas, creio que isso é tudo o que Dom Bosco pretendia transmitir. A alegoria de São João Bosco é tão intemporal quanto a Igreja mesma. Sob esse aspecto, pessoas que encontram nesse sonho ou parábola “uma visão profética para o nosso tempo” acertam em cheio. Ora, alguns tentaram fazer desse sonho ou parábola “uma visão da Igreja Católica no fim dos tempos… uma visão reveladora de como a Igreja sobreviveria a perseguições terríveis no fim do século XX.” Espero que a exposição acima já tenha deixado claro que tal interpretação é uma distorção sem fundamento. Ademais, não há registro de que Dom Bosco estivesse interessado, ainda que minimamente, pelos últimos tempos ou dedicasse algum pensamento à especulação sobre eles. A preocupação dele com os seus meninos, e mesmo com os inspetores de polícia que perturbavam seu Oratório, era sempre pela salvação individual deles, de que estivessem pessoalmente prontos para o juízo inevitável que vem imediatamente após a morte. Esse é um tema constante em seus sermões, conferências de Boa Noite e sonhos, e é a moral que ele extrai do episódio que ele relatou da ressuscitação temporária de um menino morto. [23] Para alcançar a salvação devemos estar a bordo da arca da segurança, que é a Igreja; Maria oferece-nos sua certeira proteção materna em todas as circunstâncias; os sacramentos, particularmente a Penitência e a Santa Eucaristia, são nossos meios de salvação.
Epílogo
Talvez a ideia de que Dom Bosco estivesse prevendo alguma batalha apocalíptica entre a Igreja e os poderes do mal no fim do século XX venha de uma certa confusão que, lamentavelmente, parece amplamente disseminada. Pessoas frequentemente me ligam ou escrevem com perguntas sobre São João Bosco. De quando em quando, sou questionado sobre as datas nos dois pilares no mar. Como o leitor percebe, não existem datas. Como foi que datas entraram nesse “Sonho” das Duas Colunas, na cabeça de alguns? Minha teoria é de que algumas pessoas se depararam com dois parágrafos que estão no volume 9 d’As Memórias Biográficas. É 1869, e Dom Bosco construiu a Igreja de Maria Auxiliadora dos Cristãos no Oratório, mas os retoques finais ainda estão por ser dados. O Padre Lemoyne escreve:
“…trabalho adicional na Igreja de Maria Auxiliadora estava em curso. Cada um dos dois campanários flanqueando a fachada devia ter no topo um anjo, de quase 2,5 metros de altura, feito de cobre bruto dourado, de acordo com o plano do próprio Dom Bosco. O anjo da direita segurava uma bandeira…que continha a palavra “LEPANTO” talhada em letras grandes através do metal, enquanto o da esquerda oferecia…uma coroa de louros à Santíssima Virgem localizada sobre o domo.
Num desenho anterior, o segundo anjo também segurava uma bandeira na qual o número “19” estava talhado através do metal, seguido de dois pontinhos. Representava outra data, “mil novecentos”, sem os dois números finais indicando o ano específico. Embora no fim, como dissemos, uma coroa de louros tenha sido posta na mão do anjo, nunca nos esquecemos da data misteriosa que, em nossa opinião, apontava para um novo triunfo de Nossa Senhora. “Que venha logo este e reúna todas as nações sob o manto de Maria.”
Até aqui o Padre Lemoyne, na tradução publicada para o inglês. [24] Conferi com o original em italiano, [25] e uma frase importante está faltando no inglês: “Num desenho anterior, que nós mesmos vimos…” O Padre Lemoyne gosta muito do nós editorial. Ele quer dizer que ele o viu. Infelizmente, ele não diz especificamente que o desenho original fosse de Dom Bosco; ele é explícito sobre isso quanto ao desenho final, os anjos tais como realmente ficam no topo daqueles dois campanários. É razoável supor que o desenho não utilizado, a data incompleta do século XX do segundo anjo, também tenham vindo do nosso Santo; teria ajudado se o Padre Lemoyne o tivesse afirmado. Mas, apesar das procuras pelos arquivos, o desenho original nunca foi encontrado, e ninguém além do Padre Lemoyne jamais alegou tê-lo visto. Dizer algo além disso sobre o desenho ou a data é especulação. Se o primeiro desenho originou-se de Dom Bosco, teria a data misteriosa vindo de um sonho? É possível, mas isso também é somente especulação. Um pouco de especulação, então. A data 19.. pode ser qualquer data no século. Não há absolutamente nenhuma razão para dizer que deva ser no fim do século XX. Não há nem sequer razão alguma constringente para a data dever ser identificada. Mas, se alguém quiser adivinhá-la, deve procurar algo que tivesse algum paralelo com o evento de Lepanto, assinalado pela bandeira do primeiro anjo. Lepanto foi a vitória de uma aliança católica contra as legiões islâmicas reunindo-se para invadir a Europa cristã em 1571. A vitória era totalmente inesperada, resultado de boa fortuna, falando militarmente, e de uma estratégia de batalha bem executada. Foi atribuída, na ocasião e desde então, ao poder do Rosário, à assistência de Maria Auxiliadora. Se a data misteriosa veio de Dom Bosco, ele escolheu não publicá-la. Mas, se se quiser especular — e não há mal algum nisso —, eis uma hipótese razoável. O ano misterioso já passou, e não faz muito tempo. Foi o ano de uma sequência de eventos inesperada, de tirar o fôlego: o triunfo do Solidariedade nas primeiras eleições livres na Polônia, a liberação dos satélites soviéticos por toda a Europa, a queda do Muro de Berlim: eventos que pressagiaram o colapso da União Soviética. Essa série de acontecimentos tem, por alto, paralelo com a vitória de Lepanto. Nossa Senhora pediu-nos em Fátima, antes mesmo que houvesse uma Rússia comunista, que rezássemos pela conversão da Rússia. Em 1989, vimos alguns dos frutos visíveis de nossas orações. Isso é especulação, e outros podem oferecer outras ideias. De qualquer modo, aquele desenho angélico não usado é provavelmente de onde surgiu a ideia incorreta e sem fundamento de que haveria datas nas duas colunas no oceano. Não há absolutamente nenhuma conexão com as duas colunas. Logo, a ideia de que o “sonho” ou fábula das duas colunas preveja uma vitória específica para a Igreja no século XX não tem respaldo. O “sonho” ou fábula deve ser interpretado em seu próprio contexto do século XIX, incluindo sua plateia de meninos ginasianos. Oferece conselho muito bom e perene, como toda boa fábula: nesse caso, o conselho espiritual de que nossa Mãe Santíssima é nossa auxiliadora e protetora nesta vida contra os ataques de nossos inimigos espirituais; que nossa salvação vem de nos alimentarmos de Jesus na Santa Eucaristia, sacramentalmente e devocionalmente; que a Igreja Católica, pilotada pelo Sucessor de Pedro, nos guiará para o porto seguro. [26]
* * *
1. Este ensaio baseia-se num discurso proferido no Congresso Eucarístico Mariano em Columbus, Ohio, em 11 de outubro de 1997.
2. Giovanni Battista Lemoyne, The Biographical Memoirs of Saint John Bosco, trad. ingl. de Diego Borgatello, vol. 7 (New Rochelle: Salesiana, 1972), p. 107. Doravante citado como BM com volume e página.
3. Memórias do Oratório de São Francisco de Sales de 1815 e 1855, trad. ingl. de Daniel Lyons (New Rochelle: Don Bosco Publications, 1989), p. 313.
4. lbid., pp. 313-14.
5. “Il Sistema preventivo nella educazione della gioventù” [O Sistema Preventivo na educação da juventude], um apêndice a: Inaugurazione del Patronato di S. Pietro in Nizza a Mare (San Pier d’Arena: Salesiana, 1877), pp. 44- 65, à p. 58 (esta é uma publicação bilíngue, com os versos em italiano e as frentes em francês); reproduzido em Giovanni Bosco, Opere edite 28 (Roma: LAS, 1977), [422-43] na p. [436]; trad. ingl. “The Preventive System in the Education of the Young”, apêndice a: Constitutions of the Society of St. Francis de Sales [Constituições da Sociedade de São Francisco de Sales] (Roma, 1985), pp. 246-53, na p. 250.
6. Sigo aqui o tratamento das fontes pelo Pe. Stella: Pietro Stella, Don Bosco’s Dreams: A Historico-documentary Analysis of Selected Samples [Os Sonhos de Dom Bosco: Uma análise histórico-documentária de amostras selecionadas], trad. ingl. de John Drury (New Rochelle: Don Bosco Publications, 1996), pp. 55-60, e os textos das próprias fontes, pp. 77-84.
7. Manuscrito 275 Boggero nos Arquivos Centrais Salesianos (na Sede Geral, em Roma); Stella, Don Bosco’s Dreams, pp. 77-78.
8. Manuscrito 110 Chiala nos Arquivos Centrais Salesianos; Stella, Don Bosco’s Dreams, pp. 78-81.
9. Com tempo bom, as orações da noite eram rezadas sob os pórticos em torno do pátio do Oratório.
10. Giovanni Battista Lemoyne, Documenti per scrivere la storia di D. Giovanni Bosco, dell’Oratorio di S. Francesco di Sales e della Congregazione Salesiana (Arquivos 110 Lemoyne) 8:56-57; Stella, Don Bosco’s Dreams, pp. 82-84.
11. Memorie biografiche del venerabile Don Giovanni Bosco 7 (Turin: Salesiana, 1909), 169; BM 7:107.
12. O reitor-mor salesiano, Pe. Egídio Viganò, também referiu-se a esta narrativa como “o assim chamado ‘sonho’ das duas colunas” numa carta circular aos salesianos, “Our Fidelity to Peter’s Successor” [Nossa Fidelidade ao Sucessor de Pedro], 3 de setembro de 1985, Acts of the General Council [Atas do Concílio Geral] 66 (1985), n.º 315, p. 31.
13. Para mais sobre esse assunto, o leitor pode consultar nosso Ensaio Introdutório sobre os Sonhos de Dom Bosco.
14. Ver BM 7:143-144, 146-148.
15. Essa linguagem é bastante semelhante àquela que Dom Bosco usou ao pronunciar para a comunidade do Oratório o Lema de 1864, em que, também, ele falou de duas colunas representando a Eucaristia e a Virgem: sem nem sombra de menção a um sonho e sem referência a narrativa alguma (BM 7:354).
16. Ver BM 8:243-248.
17. Que acabaria sucedendo-o como reitor-mor e sendo beatificado pelo papa Paulo VI.
18. Memorie biografiche 7:169-71; BM 7:107-09.
19. BM 7:109.
20. Ibid., pp. 109-10.
21. Ver Pietro Stella, Don Bosco: Religious Outlook and Spirituality [Dom Bosco: Perfil Religioso e Espiritualidade], trad. ingl. de John Drury (New Rochelle: Salesiana, 1996), pp. 155-69.
22. Em “Our Fidelity to Peter’s Successor” [Nossa Fidelidade ao Sucessor de Pedro], p. 32, o Pe. Viganò nota esse contexto de ataque, assim como numa carta posterior: “The Eucharist in the Apostolic Spirit of Don Bosco” [A Eucaristia no Espírito Apostólico de Dom Bosco], 8 de dezembro de 1987, Acts of the General Council [Atas do Concílio Geral] 69 (1988), n.º 324, pp. 49-50.
23. Ver Lemoyne, BM 3 (1966):349-51, e Pietro Stella, “Don Bosco and the Death of Charles” [Dom Bosco e a Morte de Carlos], apêndice a Don Bosco: Life and Work, trad. ingl. de John Drury (New Rochelle: Salesiana, 2005).
24. Lemoyne, BM p. (1975), 276.
25. Lemoyne, Memorie biografiche del venerabile Don Giovanni Bosco 9 (Turim: SAID, 1917), 583.
26. Em “Our Fidelity to Peter’s Successor” [Nossa Fidelidade ao Sucessor de Pedro], o Pe. Viganò usou o “sonho” para frisar “o elo estreito que une a figura do Sucessor de Pedro com a de Maria”, loc. cit., pp. 31-34. Em “The Eucharist in the Apostolic Spirit of Don Bosco” [A Eucaristia no Espírito Apostólico de Dom Bosco] ele retorna ao “sonho”, para enfatizar a importância das devoções gêmeas a Maria e à Santíssima Eucaristia.
Tradução por Felipe Coelho.
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