PONTOS DE MÉTODO

Padre Michel-Louis Guérard des Lauriers, O.P.
1980

Pedimos aos que não aceitam nossas conclusões que nos dessem a conhecer suas objeções.

Segundo as respostas recebidas, fica claro que alguns não sabem muito bem o que essa palavra [“objeção”] significa. Por isso, eis algumas precisões a esse respeito.

Seja uma conclusão (C) apresentada como termo de uma demonstração. Uma OBJEÇÃO é um discurso racional que resulta na negação de (C).

A objeção pode visar, quer a existência de (C) [questão quia], quer a natureza, ou essência, ou conteúdo de (C) [questão propter quid].

A objeção que visa a existência de (C) deve, se ela é real, manifestar: ou que as premissas da demonstração são falsas; ou que o raciocínio é incorreto.

A objeção que visa a essência (ou conteúdo) de (C) consiste, se ela é real, em mostrar que (C) acarreta necessariamente uma consequência falsa.

Se existir uma objeção real quanto ao conteúdo, muito embora não exista objeção real quanto à prova (quanto à existência), encontramo-nos em presença de uma “antinomia”. E é a teoria pela qual ao mesmo tempo (C) e sua negação puderam ser provadas que deve ser rejeitada como não consistente.

A teologia tem como princípio o Dado revelado; ela é, pois, expressiva da Realidade, e por conseguinte ela não tem como dar margem a antinomias.

É por isso que, concretamente, toda objeção “quanto ao conteúdo” contra uma conclusão deve vir acompanhada, para chegar a termo, de uma objeção “quanto à existência”. E reciprocamente, quem afirma (C), se é confrontado com uma objeção “quanto ao conteúdo”, deve mostrar que essa objeção nada mais é que pseudo, ou seja, que ela comporta vício nas premissas ou no raciocínio.

Perante uma conclusão, na falta de objeção, pode-se apresentar “dificuldades”.

Diferentemente da objeção, a DIFICULDADE não prova. Consiste ela em mostrar (quiçá em insinuar) que, estando (C) admitida, determinada questão se põe cuja solução não é manifesta, precisamente porque se admite (C). A dificuldade é, portanto, alguma coisa que é difícil de compreender… em função daquilo que já se conhece. Sendo (C) objeto de certeza, a dificuldade de compreender determinada coisa em função de (C) vem de se possuir dessa coisa uma noção deformada. O conhecimento de (C) pode, pois, ser ocasião de retificar aquilo que estava falseado.

Vê-se, porém, que, contrariamente à objeção, a dificuldade não infirma a conclusão. Segue-se que não se pode exigir de quem afirma uma conclusão que resolva todas as dificuldades que lhe possam ser apresentadas. E inversamente, a existência de dificuldades suscitadas por uma conclusão bem demonstrada não pode dispensar de aderir a essa conclusão.

Simplesmente, é muitas vezes oportuno examinar atentamente uma dificuldade, precisamente para mostrar bem que ela não é uma objeção, e para retificar a noção deformada que está na sua origem.

Por exemplo:

A questão: “Mas então, que resta da visibilidade da Igreja?” expõe uma dificuldade, e não uma objeção. Logo, essa questão não pode dispensar quem a formula de aderir à nossa conclusão. A dificuldade vem de se possuir uma noção somente esquemática, descritiva, da visibilidade da Igreja. É preciso, para resolver essa objeção, recuperar a essência da visibilidade da Igreja, e determinar a partir daí as modalidades da necessidade e da duração desse atributo. Um trabalho desses, como explicamos, não se impõe a nós. Daremos todavia alguns elementos de solução. Mas esse trabalho se imporia a quem quisesse construir uma objeção a partir da visibilidade da Igreja.

Em contrapartida, se alguém afirma, com uma argumentação, que o texto do Vaticano II sobre a liberdade religiosa não é da alçada da infalibilidade, esse alguém formula uma objeção quanto à prova. A nós incumbe então refutar sua argumentação. É o que foi feito acerca da posição da revista De Rome et d’Ailleurs (cf. Cahiers de Cassiciacum, N.º 2, p. 87-92).

Finalmente, se alguém afirma que é impossível João Paulo II não ser Papa, porque toda a Igreja docente o aceita, estamos lidando com uma objeção quanto ao conteúdo. Devemos refutá-la, mas o objetor deve, por seu turno, responder aos argumentos que demonstram nossa tese.

Esses pontos de método estando precisados, podemos percorrer as objeções que nos foram apresentadas, assim como algumas dificuldades que apresentam especial interesse para a questão debatida.

Trad. por Felipe Coelho, de : Cahiers de Cassiciacum 5 [XII/1980] 162-164.

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