Na imagem destacada, a Nebulosa de Helix, conhecida também como o “Olho de Deus”.
Jacques Maritain
1921
A palavra panteísmo é uma palavra relativamente recente, introduzida no vocabulário filosófico por Toland, no séc. XVIII. Mas a coisa que ela designa é tão antiga como os primeiros erros filosóficos.
Para que uma doutrina seja, com toda a justiça, qualificada de panteísta, não é necessário que declare formalmente que Deus e as coisas não fazem senão um (neste sentido bem poucos panteístas se confessam como tais). Basta que as afirmações, por ela assentadas, sejam logicamente inconciliáveis com a distinção absoluta entre Deus e as coisas.
Esta observação é particularmente importante no que concerne às filosofias orientais das quais o panteísmo é o pecado comum. Com efeito, esse panteísmo provém do próprio modo de pensar que elas empregam e que parece consistir, antes de tudo, no uso de conceitos análogos (que se realizam diversamente em coisas diferentes) como se existissem tais quais fora do espírito, como se por conseguinte houvesse coisas que permanecessem as mesmas enquanto se tornam essencialmente outras, em “planos” diferentes do real. É assim que Atman é ao mesmo tempo o Princípio supremo do universo, superior a toda multiplicidade, e o princípio constitutivo e distintivo de cada personalidade. [Como os escolásticos, mas por motivos diferentes, os hindus distinguiam a personalidade (que é, para nós, a subsistência espiritual da alma) da individualidade material (que provém das disposições do corpo).]
Este modo de pensar – que encontramos também mais ou menos acentuado em todas as doutrinas de tendência “teosófica” – permite, em aparência, escapar à censura de panteísmo, pois que, graças à contradição básica que ele comporta, permite afirmar diversidades essenciais entre termos que, logicamente, deveriam ser identificados. Mas, precisamente porque tais afirmações são apenas possíveis graças a uma contradição de fundo, implica na realidade um panteísmo inextirpável.
Excerto de: JACQUES MARITAIN, Elementos de Filosofia. I – Introdução Geral à Filosofia. Livraria Agir Editora, 1948 [1.ª edição], pp. 190-191.
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