Juan Morales
1991
Que este trabalho valha como proclamação da Instauração do Reinado de Nosso Senhor Jesus Cristo, nestes tempos de apostasia. Que o Espírito Santo ilumine os corações e clareie o entendimento daqueles que o lerem.
Sursum corda!!
Dezembro de 1991.
Juan Morales.
INTRODUÇÃO
Muito se disse e se diz do Opus Dei. Nós apenas pretendemos, neste trabalho, mostrar qual é o espírito que dá ânimo ao Opus, o qual faz desta organização um verdadeiro cavalo de Tróia dentro da Igreja.
Limitamo-nos a reunir os textos e citações mais significativos, que revelam o que é o Opus Dei. Os textos são extraídos de autores promovidos pela Obra, cujos livros foram editados pela mesma, através de seu editorial Rialp. A importância das citações vem daquilo que o próprio Opus Dei diz acerca de si, sendo este o melhor testemunho, pois são [atestados de] seus próprios textos.
O Opus Dei se caracteriza por ter uma mentalidade laical, que responde, em última instância, a um espírito laico e secular, o qual permite afirmar que o Opus se identifica, neste aspecto, com o espírito modernista do Vaticano II.
I. A MENTALIDADE LAICAL DE ESCRIVÁ DE BALAGUER
“Para nós, o sacerdócio é uma circunstância, um acidente (sic), pois dentro da Obra, a vocação dos sacerdotes e dos leigos é a mesma”.
No livro “Opus Dei”, de Peter Berglar, encontramos no capítulo VIII (p. 236), intitulado “A Revolução Aprovada”:
“Oito semanas depois da morte de Monsenhor Escrivá de Balaguer, o Cardeal Frings – que havia sido Arcebispo de Köln de 1942 a 1969 – escrevia uma carta ao Papa Paulo VI na qual definia o fundador do Opus Dei como um pioneiro da espiritualidade laical que havia reconhecido com clarividência os perigos e as necessidades dos tempos; na carta, pressagiava para a Obra uma importância capital no futuro da Igreja”.
Tanto é assim, que Berglar (ibidem, pág. 216) não hesita em afirmar:
“(…) todos os membros do Opus Dei têm ‘mentalidade laical’, que é uma condição indispensável para sua vocação específica, já que esta consiste em ir pelos caminhos de santidade e de apostolado, cumprindo com a maior perfeição possível o trabalho profissional e os deveres e direitos de estado na metade do mundo. Para querer alcançar a santidade, não fará falta repelir ou alterar este estado”.
Esta mentalidade laical não muda nem mesmo nos sacerdotes do Opus, conforme explica Berglar a seguir:
“Aqueles leigos que são chamados ao sacerdócio (uma porcentagem muito pequena em relação à totalidade dos membros) não sofrem, portanto, um conflito interior, uma ‘crise de identidade’; sua vocação ao Opus Dei permanece inalterada e íntegra. A ordenação sacerdotal – segundo explicava o fundador – em nada muda a essência da vocação à Obra: a ‘mentalidade laical’ de um sacerdote, sem sombra de dúvida, consiste em exercer com a maior perfeição possível seu trabalho ‘profissional’, ou seja, seu ministério sacerdotal, devido ao qual levam anos sendo membros do Opus Dei, e devido à mentalidade laical que os sacerdotes da Obra haviam adquirido, são especialmente capacitados para uma ação pastoral no mundo. E essa mentalidade lhes faz totalmente alheios a qualquer tipo de clericalismo: não se intrometem em questões incompatíveis com seu trabalho sacerdotal, nem em setores que competem à responsabilidade livre e pessoal dos leigos. O mesmo fundador, ao longo de toda sua vida, deu exemplo desta mentalidade laical que pregou com tanta intensidade e que exigiu com tanta força”.
Tamanha era a audácia desse espírito laical do Opus Dei e de seu fundador, que o mesmo Berglar o reconhece nos seguintes termos (p. 218):
“O que hoje se lê sem surpresa e se considera como algo natural e conhecido, no começo dos anos 1940 era algo novo e parecia muito ousado. Nem sequer os que tinham que ver com ele [o fundador da “Obra”] mais diretamente compreenderam de repente toda a profundidade da conexão interna e a íntima unidade que existia entre ‘alma sacerdotal’ e ‘mentalidade laical’: aqueles três que viriam a ser os primeiros sacerdotes do Opus Dei haviam recorrido durante quase dez anos a um caminho de entrega como leigos no mundo, segundo o espírito da Obra; a vocação ao sacerdócio, pois, não lhes poderia parecer, num primeiro momento, como uma contradição com respeito à sua genuína vocação laical? O que hoje é ‘transparente’ para qualquer um, para Josemaría então o teria de explicar, passo a passo, a seus filhos. Havia se esforçado, durante anos, por encontrar a solução jurídica para um problema por todos os meios difícil e (inclusive) contraditório, ainda que essa contradição – como logo se veria – fosse só aparente, não real. Quando, em 25 de junho de 1944, três filhos seus receberam a ordenação sacerdotal pela primeira vez, [Josemaría] se sentia ao mesmo tempo – como o diria mais tarde – muito feliz e muito triste: ‘Amo de tal maneira a condição laical de nossa Obra, que eu sentia com verdadeira dor fazê-los clérigos; e, por outro lado, a necessidade do sacerdócio era tão clara, que teria de ser grato a Deus Nosso Senhor por esses meus filhos chegarem ao altar’”.
Salvador Bernal também cita este trecho em seu livro “Monsenhor Escrivá de Balaguer” (ed. Rialp, p. 152). Não nos surpreende que, para Escrivá, não havia distinção, dentro do Opus, entre um leigo e um sacerdote. Todos são iguais.
“Ainda que o sacerdócio seja o maior dom que Deus pode dar a uma alma, também fica claro na mente do fundador do Opus Dei que para nós o sacerdócio é uma circunstância, um acidente, porque – dentro da Obra – a vocação dos sacerdotes e dos leigos é a mesma”.
No Opus Dei todos somos iguais. Somente há uma diferença prática: os sacerdotes têm mais obrigação que os demais de pôr seu coração no chão qual um tapete, para que seus irmãos pisem suavemente.
As obras do Opus, mesmo as “sobrenaturais”, se efetuam com esta mentalidade laical (pág. 309):
“(…) o modo de dirigir as obras (…) apostólicas promovidas pelo Opus Dei. Estes trabalhos – como se sabe – respondem a uma finalidade sobrenatural. Porém, se projetam e governam com mentalidade laical; por essa razão, não são confessionais”.
Segundo eles mesmos explicam, a não confessionalidade (que veremos mais adiante) do Opus Dei, radica nesta mentalidade laical (p. 87).
“Monsenhor Escrivá de Balaguer – explica Bernal – foi um sacerdote que não falava mais que de Deus. Era ostensivo, clamorosamente patente. E viveu também muito a fundo essa mentalidade laical que tanto pregou, com todas as consequências práticas que dela derivam: para um sacerdote, não [se deve] mandar nas almas, não se [deve] intrometer no que lhe é alheio, [mas deve] respeitar a liberdade das consciências, abominar privilégios e isenções…”
Vemos como, desta mentalidade laical, eles chegam a tomar atitudes não somente anticlericais (como veremos), senão também a ter um “espírito liberal” baseado no respeito à liberdade e à dignidade do homem.
Andrés Vázquez de Prada, em seu livro “O Fundador do Opus Dei” (ed. Rialp, p. 235), não deixa de manifestar também essa profunda e inovadora mentalidade laical de Escrivá:
“Divertia-se o Padre contemplando escorregões e emaranhados, mas no fundo, ao considerar o bom aproveitamento de seus filhos, lhe alegrou a alma com legítimo orgulho de pai. Todavia, vendo-os vestidos de preto, lhe emanava também uma sensação indizível de pena ao pensar que perderia para sempre três filhos leigos. Tão profundo era seu espírito laical que tinha dentro!!
Nesses instantes de novidade circunstancial, as fibras de seu ser vibraram qual diapasão de garfo, cujos dois farpados eram as duas vertentes de seu espírito: alma verdadeiramente sacerdotal e mentalidade plenamente laical”.
A mentalidade laical respira por toda parte, pois como disse o mesmo autor (ibidem, p. 351):
“Na Obra (…) a mentalidade laical que a acompanha era palpável até no aspecto numérico”.
II. ESCRIVÁ DE BALAGUER E SEU AMOR PELO MUNDO
“Para que os membros do Opus Dei estejam atualizados, compreender o mundo moderno é algo natural e instintivo, pois são eles – junto com os demais cidadãos, iguais a eles – que fazem este mundo e dão-lhe sua modernidade”.
A mentalidade laical de que tanto se vangloriam os membros da Obra se identifica com o mundo, ao ponto de chegarem a dizer que não precisam adaptar-se a ele, o que pressupõe que têm a mentalidade do mundo (ibidem, p. 352).
“Deus Nosso Senhor – dizia o fundador – havia posto o dia da Obra de uma vez para sempre, dando-lhe essas características peculiares, laicais, e não terá jamais a necessidade de adaptação ao mundo, pois todos os seus membros são do mundo”.
Bernal, em seu livro “Monsenhor Escrivá de Balaguer” (p. 138), cita um trecho da reportagem, publicado no livro “Conversas com Monsenhor Escrivá de Balaguer”, no qual nos mostra esse mundo que o fundador tanto ama e é expresso por ele mesmo da seguinte maneira:
“Para os membros do Opus Dei estarem atualizados, compreender o mundo moderno é algo natural e instintivo, pois são eles – junto com os demais cidadãos, iguais a eles – os que fazem nascer este mundo e dão-lhe sua modernidade”.
Na pág. 173 do mesmo livro, expressa o autor, referindo-se a Escrivá:
“Seu coração transbordava carinho: até a Deus, até aos homens, até ao mundo. Amar o mundo de forma cativante é o título da homilia que pregou em 1967 no campus da Universidade de Navarra”.
O relacionamento da Obra e de seu fundador com o mundo é tamanho, que constitui sua verdadeira espiritualidade e uma plena harmonia com o Concílio Vaticano II, de acordo com seu espírito liberal e modernista que o caracteriza. Vázquez reflete-o aqui (p. 31):
“Sendo este o espírito de nossa Obra, compreendeis que foi uma grande alegria para vós ver como o Concílio [Vaticano II] declarou solenemente que a Igreja não rejeita o mundo em que vive, nem seu progresso e desenvolvimento, senão que o compreende e o ama. Por outro lado, [o progresso] é uma característica central da espiritualidade que os membros da Obra – desde há quase quarenta anos – se esforçam por viver (…)”.
Por isso, Vázquez de la Prada, em seu já mencionado livro “O Fundador do Opus Dei”, enfatiza que Escrivá “amava o mundo de forma cativante” (p. 420). Tudo que nos leva à novidade e inovação da espiritualidade de Escrivá e do Opus (tachado de revolucionário por alguns, herético por outros).
Ana Sastre, em “Tempo de Caminhos” (ed. Rialp, p. 95), comenta:
“Estes fatos ajudam a compreender, de modo extraordinário, uma instituição com as características do Opus Dei. O clima de secularização e iniciativa pessoal no qual se move [a Obra] levará seu fundador a ser qualificado de progressista, herege e louco”.
O mesmo disse Vázquez (p. 336), reconhecendo o aspecto inovador e outrora herético, porém atualmente validado pelo Concílio Vaticano II:
“(…) seu colaborador e sucessor (refere-se ao então Monsenhor Álvaro del Portillo), que seguiu o Vaticano II de dentro, contribuindo para o seu desenvolvimento, comenta: ‘em quantas ocasiões, durante a aprovação dos documentos do Concílio, houvera sido justo falar com o fundador do Opus Dei e repetir-lhe: que alegria, pois o que há em sua alma e o que havia ensinado de forma incansável desde 1928 havia sido proclamado solenemente pelo Magistério da Igreja!!
Ao recorrer à doutrina que vivifica os documentos do [Concílio] Vaticano II, no qual são repetidos os ensinamentos tradicionais, renovando sua roupagem – velha como o Evangelho e como o novo Evangelho – surpreende-nos ver com que facilidade o que já fora pregado pelo fundador [Escrivá] se ajusta aos textos oficiais. Aquela doutrina, a qual há trinta anos, alguns consideraram descabida e herética, agora estaria revestida de solenidade oficial”.
Um espírito inédito, como confessa Ana Sastre, intitulando, assim, um dos capítulos de seu livro Tempo de Caminhar e que, na sequência, diz (p. 97):
“Desde o primeiro momento, Dom (sic) Josemaria se entrega plenamente à missão que lhe havia sido confiada. Apesar da claridade meridiana com que viu o caminho, compreendeu que sua realização implica um fenômeno teológico inédito dentro das linhas de espiritualidade existentes, nesse momento, dentro da Igreja”.
Não é de se estranhar que Escrivá afirma, tal como destaca Salvador Bernal em seu livro “Monsenhor Josemaría Escrivá de Balaguer” (p. 257):
“A Obra surgia, no mundo e na Igreja, como uma novidade. A solução jurídica que [o Opus] buscava foi impossível. Porém (…), não podia esperar a que as coisas fossem possíveis. Vocês têm chegado – disse um alto representante da Cúria Romana – com um século de antecedência. E, no entanto, havia que tentar o impossível. Milhares de almas que se entregaram a Deus na Obra me pediram, com aquela plenitude de nossa dedicação, para fazer apostolado na metade do mundo”.
Em “Conversas com Monsenhor Escrivá de Balaguer” (p. 117), também vemos que a identificação do fundador com o mundo é total e confessa seu amor apaixonado por este:
“(…) e não cabe, de modo algum, falar de adaptação ao mundo ou à sociedade moderna: ninguém se adapta ao que lhe tem como próprio; está no que se tem como próprio.
(ibidem, p. 229): “Mas o Senhor não me havia dado vocação religiosa e desejá-la para mim seria uma desordem. Nenhuma autoridade na terra pode obrigar outrem a ser religioso, assim como nenhuma autoridade pode me forçar a contrair matrimômio. Sou sacerdote leigo: sacerdote de Jesus Cristo, que ama o mundo de forma apaixonada”.
A mentalidade laical e o amor ao mundo de Escrivá fê-lo um “furibundo” anticlerical. Bernal no-lo expõe da seguinte maneira:
“E eis que, neste ponto, sua marcante aversão a toda sorte de clericalismo jamais fê-lo acreditar ou dizer que ele desceu do templo ao mundo para representar a Igreja e que suas soluções são as soluções católicas para aqueles problemas. Isto não pode ser, filhos meus!! Isto seria clericalismo, catolicismo oficial ou como o quiserdes chamá-lo. Em qualquer caso, é fazer violência à natureza das coisas”.
Esta paixão pela liberdade é uma heresia rica e fecunda que o fundador do Opus Dei deixa aos membros da Obra e a todos os cristãos:
“Tereis que difundir por todas as partes uma verdadeira mentalidade laical (…)”.
Neste último ponto, poderíamos acrescentar um parêntese, tomando como referência o [supracitado] livro “Conversas com Monsenhor Escrivá de Balaguer” (p. 228), que diz o seguinte: “(…) e esta mentalidade cristã laical permiti-los-á fugir de toda intolerância, de todo fanatismo (…)”.
Voltando a Bernal, continua nos dizendo no mesmo sentido (p. 86):
“Porém, a autenticidade de seu sacerdócio se desfiguraria se a pudéssemos separar de sua mentalidade laical (…). Monsenhor Escrivá de Balaguer se caracterizava por seu decidido apoio ao laicato”.
A novidade do Opus Dei é tamanha, que carrega um espírito profundamente liberal e revolucionário, espírito que eles mesmos, exaltando-se, reconhecem.
José Miguel Cejas, em “Estudos sobre O Caminho” (ed. Rialp), comenta em seu artigo intitulado “Uma revolução silenciosa” (p. 100):
“O fato de que a mensagem espiritual do fundador do Opus Dei – desenhada em linhas largas nos pontos do “Caminho”) – seja hoje vivida por milhões de pessoas e aprovada solenemente pelo Concílio Vaticano II, não deve fazer esquecer o profundo impacto (às vezes, perplexidade) que produziu nos leitores do “Caminho” dos anos 1930, 1940 e 1950. Luís Alonso lembra que essa doutrina constituía algo revolucionário a tal ponto que o fundador do Opus Dei “teve de sofrer sendo tratado como um sonhador, fora da realidade (…)”. A novidade dos ensinamentos de Mons. Escrivá de Balaguer não consistia apenas em “novos modos” de pôr em prática uma tarefa apostólica mais ou menos semelhante ao que se vivia naqueles tempos da Igreja. Foi uma verdadeira revolução no conceito e na prática do apostolado.
No famoso livro “Caminho”, é expresso seu caráter novo e mesmo escandaloso (ibidem, p. 100):
“(…) as páginas do “Caminho” representam uma novidade quase – e sem “quase” – escandalosa”.
III. A LIBERDADE, ESCRIVÁ DE BALAGUER E O OPUS DEI
“Daria minha vida cem vezes por defender a liberdade de tua consciência” (Escrivá de Balaguer).
Os cooperadores não-católicos (inclusive os judeus) formam parte inseparável do Opus Dei, segundo reconhece o próprio Escrivá, completando-se, assim, a “família espiritual”. Novamente, é Berglar quem confirma a seguir:
“Sou amigo da liberdade – proclamava Mons. Escrivá de Balaguer – porque é um dom de Deus, porque é um direito da pessoa humana, porque, com liberdade pessoal e responsabilidade pessoal, ter-se-ia evitado a maior parte dos crimes do mundo”.
Em “Tempo de Caminhar”, Ana Sastre também destaca as palavras de Escrivá (p. 252):
“Em um dos corredores, encontrei um grande letreiro escrito por algum inconformista, onde se lia: ‘cada caminhante siga seu caminho’. Quiseram tirá-lo, mas eu os parei: ‘deixai-o – disse-lhes –, isto me agrada’ (…). Desde então, estas palavras me haviam servido muitas vezes de razão para pregar. Liberdade: cada caminhante siga seu caminho”.
Escrivá, como “paladino da liberdade”, teve suas dificuldades. O mesmo o reconheceu com as seguintes afirmações coletadas por Bernal em seu livro (pp. 208-209):
“(…) a Obra. Quando apenas havia nascido, já encontrava oposição dos inimigos da liberdade individual e de pessoas tão aferradas às ideias tradicionais, que não podiam entender a vida dos membros do Opus Dei: cidadãos comuns, que se esforçam por vier plenamente sua vocação cristã sem deixar o mundo.
(ibidem, p. 272): “Assim há que amar a liberdade: com responsabilidade pessoal (…). Penso eu que sou – lhes dizia brincando – o último romântico, porque amo a liberdade pessoal de todos – a liberdade dos não católicos também – (…). Amo a liberdade dos demais, a vossa, a daquele que passa agora mesmo pela rua, porque se não a amasse, não poderia defender a minha.
O supracitado autor prossegue (p. 299):
“O assombroso – quero destacá-lo – foi a fidelidade do fundador a esse espírito nos anos 1930 e 1940, quando falar de liberdade e pluralismo entre os católicos ordinariamente era nadar contra a corrente.
(p. 310): “O fundador do Opus Dei viveu o amor à liberdade em extremos heróicos”.
Ana Sastre também declara em “Tempo de Caminhar” (p. 615):
“Levava o amor à liberdade na mais profunda raiz de seu ser humano e cristão”.
Os extremos “heroicos” com que Escrivá defende a liberdade parecem não ser outros senão o pluralismo. Seu amor por esta levou-lhe a converter as casas do Opus Dei em residências interconfessionais, pois nelas, como se nos diz claramente em “Conversas com Mons. Escrivá de Balaguer” (p. 126):
“(…) vivem estudantes de todas as religiões e de todas as ideologias”.
Se voltarmos ao livro de Salvador Bernal, encontraremos (p. 311):
“A afirmação do pluralismo entre os católicos foi, nos primeiros anos do Opus Dei, novidade ininteligível para muitos, pois haviam sido formados em uma linha justamente contrária”.
Portanto, e como resultado de seu patente amor e fidelidade para com a liberdade, fez-se firme e obstinado porta-voz do pluralismo; em “Conversas com Mons. Escrivá de Balaguer”, é o mesmo fundador quem nos dá a prova confiável, pois declara:
“Sou muito amigo da liberdade, e que cada um siga seu caminho” (…) (p. 70).
“O pluralismo não é temido, senão amado como legítima consequência da liberdade pessoal” (p. 190).
Continuando com a obra de Bernal (Monsenhor Escrivá de Balaguer), chegaremos à conclusão de que a liberdade foi uma das paixões do fundador do Opus Dei (p. 284):
“Em 27 de junho de 1975, na ‘Vanguarda Espanhola’ de Barcelona, Alfonso Balcells Gorina, testemunha de exceção das dificuldades naquela cidade, escreveu de improviso: ‘Quando, em princípios dos anos 1940, houve em Barcelona desentendimentos e calúnias, [Escrivá] ensinou-nos o amor à liberdade e o respeito à liberdade de todos.
(p. 287): “Uma das coisas que mais me haviam emocionado ao conversar com Mons. Escrivá de Balaguer, além de seu calor humano, de seu entusiasmo e de seu sentido sobrenatural, foi o seu amor à liberdade”, afirmou em “La Libre Belgique” Mons. Onclin, poucos dias depois do falecimento do fundador do Opus Dei.
(p. 296): “Mons. Escrivá de Balaguer tratou com lealdade às almas. Defendeu a liberdade de suas consciências (…)”.
O mesmo autor destaca em seu livro o que disse o fundador da Obra a uma metodista (p. 297):
“Daria minha vida cem vezes por defender a liberdade de tua consciência”.
IV. A “LIBERDADE, IGUALDADE E FRATERNIDADE”: EMBLEMA DO OPUS DEI
Assim como a Revolução Francesa e o Concílio Vaticano II, Escrivá e o Opus Dei se fazem porta-vozes da “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”.
LIBERDADE
“No Opus Dei, o pluralismo é querido e amado” (Escrivá).
No livro “Tempo de Caminhar”, de Ana Sastre (ed. Rialp), podemos encontrar o seguinte na p. 610:
“A Obra era, assim, a primeira associação da Igreja que abria fraternalmente seus braços a todos os homens, sem distinção de credo ou confissão.
Este respeito à liberdade das consciências é algo que Mons. Escrivá de Balaguer havia gritado em todos os idiomas do mundo. Havia dito reiteradas vezes que daria a vida por defender a liberdade da consciência de uma só pessoa. Libérrimos!!… repetira constantemente a seus filhos”.
Porém, antes de continuar com o que Ana Sastre comenta em sua obra, façamos um parêntese para referir-nos, uma vez mais, a “Conversas com Mons. Escrivá de Balaguer”, onde encontramos (p. 127):
“Como consequência do fim exclusivamente divino da Obra, seu espírito é um espírito de liberdade, de amor à liberdade pessoal de todos os homens. E como esse amor à liberdade é sincero e não um mero enunciado teórico, nós amamos a necessária consequência da liberdade: quer dizer, o pluralismo. No Opus Dei, o pluralismo é querido e amado, não facilmente tolerado e de modo algum impedido.
O cristão deve amar os demais e, portanto, respeitar as opiniões contrárias às suas e conviver em plena fraternidade com quem pensa de outro modo (p. 128).
Voltando, pois, a Ana Sastre em “Tempo de Caminhar”, podemos ler na p. 610:
“A Obra proclama aos quatro ventos que, acima de toda ideologia e crença, mantém profundo respeito à pessoa humana e à sua liberdade”.
Na “defesa da liberdade”, o Opus Dei faz a melhor garantia de sua missão “sobrenatural”. Em “Conversas com Mons. Escrivá de Balaguer”, afirma-se (p. 129):
“Este é um ponto em que ninguém no Opus Dei poderá jamais admitir o menor desvio, porque deve defender não só sua liberdade pessoal, como também a natureza sobrenatural do trabalho ao qual se havia entregue. Penso, por isso, que a liberdade e a responsabilidade pessoais são a melhor garantia da finalidade sobrenatural (sic) da Obra de Deus”.
A liberdade de Escrivá e do Opus Dei culmina, como é de se esperar, na liberdade religiosa, da qual [o referido fundador] é seu “paladino incomum”, pois tem-se em conta que se tratava do ano de 1928, quando fundou a Obra.
A posição desta, ante a declaração do Concílio Vaticano II acerca da liberdade religiosa, se nos dá a conhecer, com as próprias palavras do fundador, quando foi interrogado por um jornalista, coletadas depois por Bernal em “Mons. Escrivá de Balaguer” (p. 296):
“Quanto à liberdade religiosa, o Opus Dei, desde que foi fundado, nunca havia feito discriminações; trabalha e convive com todos, pois vê em cada pessoa uma alma à qual se há de respeitar e amar. Não são só palavras; nossa Obra é a primeira organização católica que, com autorização da Santa Sé, admite como cooperadores os não-católicos, cristãos ou não. Havia defendido sempre a liberdade das consciências. Não compreendo a violência: não me parece apta nem para convencer; o erro se supera com a oração, com a graça de Deus, com o estudo; nunca com a força, sempre com a caridade. Compreenderá que, sendo esse o espírito que desde o primeiro momento temos vivido, só as alegrias podem produzir em mim os ensinamentos que sobre este tema o Concílio havia promulgado”.
Mais adiante, Bernal assinala (p. 299):
“Estaria disposto a dar cem vidas que tivesse para defender a liberdade das consciências”.
Para Escrivá, a santidade deriva da liberdade e do trabalho do homem, dada sua dignidade. Daqui se pode dizer que o Opus Dei e seu fundados têm uma mentalidade “tecnocrática” revestida de apostolado. Prestemos, pois, atenção ao que se nos diz na obra “Opus Dei”, de Berglar (p. 102):
“O núcleo desta renovação havia sido e será sempre o mesmo: a santidade de todos os membros da Igreja. Não se trata da ‘emancipação’ dos laicos, senão de sua santidade, que nasce de sua liberdade e a assume”.
(p. 218): “(…) servimos – disse Escrivá – a toda a Igreja com um serviço de caráter profissional, de cidadãos que levam o testemunho cristão do exemplo e a doutrina até aos últimos rincões da sociedade civil”.
(p. 306): “(…) chega um sacerdote espanhol, Josemaría Escrivá de Balaguer, e proclama uma nova ‘teologia do trabalho’, na qual a ‘labuta’ é um meio imprescindível de santificação para o cristão atual. Não é isto uma provocação? Ou só se trata de uma ‘loucura’”?
(p. 306): “A tripla fórmula – santificar o trabalho, santificar-se no trabalho, santificar os demais com o trabalho – é uma das autodefinições que mais são citadas quando se trata de descobrir o Opus Dei, uma fórmula que não falta nunca, nem mesmo na resposta breve à pergunta sobre a essência do Opus Dei, sobre o que realmente é e o que pretende a Obra; e, no entanto, sabemos por experiência que é um dos pontos mais difíceis de entender. A dificuldade não é fictícia, nem tampouco consequência da superficialidade ou do não querer entender, senão que tem aspectos objetivos, pois toca em problemas fundamentais do homem, sobretudo em nossa época, com sua civilização global”.
(p. 312): “Na espiritualidade do Opus Dei – dizia Escrivá em certa ocasião – o trabalho é fundamental, porque toda a Obra se apoia, como porta na dobradiça, no exercício de um ofício ou trabalho no meio do mundo; de tal maneira que qualquer que exclua um trabalho humano honesto – importante ou humilde –, afirmando que não pode ser santificado e santificante, podemos dizer-lhe com toda segurança que Deus não lhe havia chamado à Obra”. Palavras inequívocas, quase implacáveis, esculpidas na primeira pedra do Opus Dei. Com elas, [Escrivá] voltava às reflexões que já havia expressado identicamente em 1932 e dezesseis anos mais tarde escreveria novamente: não há incompatibilidade entre a moral cristã, entre a perfeição cristã e qualquer profissão lícita, intelectual ou manual, dessas que a gente qualifica como importantes ou dessas que considera humildes”.
(p. 312): “Precisamente por ser tão categóricas essas afirmações de Mons. Escrivá, é necessário explicá-las, pois não se pode crer que sejam tão simples como possam parecer à primeira vista; se referem ao núcleo mais central do Opus Dei e revelam uma característica totalmente irrenunciável da vocação à Obra”.
É assombroso, sem mencionar nada relativo à graça, se chegue a afirmar (dentro da mesma obra de que nos ocupa) que:
(p. 320): “A única condição (indispensável, claro) para que o trabalho seja obra santificante e santificadora é que seja um trabalho honesto e honrado”.
O trabalho é, para Escrivá e sua Obra, o que vincula o homem ao mundo; e esta é a chave: o trabalho como meio de união com o mundo ao qual tão apaixonadamente ama.
Também Ana Sastre, em “Tempo de Caminhar”, o descreve:
(p. 598): “Uma característica essencial do espírito do Opus Dei é a valorização do trabalho profissional. Essa é a tarefa que vincula o homem ao mundo”.
Muito antes do Concílio Vaticano II, Escrivá mostra o laço entre santidade, trabalho e dignidade do homem, melhor que qualquer modernista pós-conciliar:
(p. 95): “O trabalho, todo trabalho, é testemunho da dignidade do homem, de seu domínio sobre a criação (…). Não somente é o âmbito no qual o homem vive, senão meio e caminho de santidade, realidade santificante e santificadora”.
Voltando a Bernal, seu enfoque (o de Escrivá) da santidade e do trabalho são absolutamente novos. Assim o manifesta o autor (p. 115):
“O fundador do Opus Dei não quis resolver nenhum problema imediato. O enfoque com o qual abordava a santificação do trabalho era absolutamente novo, original”.
(pp. 137-138) O próprio fundador explicou esta ideia central numa infinidade de ocasiões com palavras precisas e atraentes. Eis aqui algumas delas, extraídas de várias de suas respostas a vários jornalistas, que foram publicadas num livro com o título conhecido por “Conversas com Mons. Escrivá de Balaguer”:
“O Senhor suscitou o Opus Dei em 1928 para ajudar a lembrar aos cristãos que, como conta o livro do Gênesis, Deus criou o homem para trabalhar… As condições da sociedade contemporânea, que valoriza cada vez mais o trabalho, evidentemente facilitam que os homens do nosso tempo possam compreender o aspecto da mensagem cristã que o espírito do Opus Dei vem sublinhar. Porém, mais importante ainda é o influxo do Espírito Santo, que, em sua ação vivificadora, quer que nosso tempo seja testemunha de um grande movimento de renovação em todo o cristianismo. Lendo os decretos do Concílio Vaticano II, vê-se claramente que parte importante da renovação havia sido precisamente a revalorização do trabalho ordinário e da dignidade da vocação do cristão que vive e trabalha no mundo”.
Podemos tirar a conclusão de que a santidade não implica, para Escrivá, um espírito oposto ao mundo, senão o contrário. Foi, portanto, uma alegria para ele ver como o Vaticano II não repudiava o mundo que tanto amava. No “Opus Dei” de Peter Berglar, comprovamo-lo novamente:
(p. 217): “Sua mensagem de que o mundo pode e deve ser santificado, desde dentro, pelos cristãos atuais que vivem ‘no meio da rua’ rompeu os esquemas habituais que faziam crer que a luta pela santidade exigia a retirada deste mundo(“mundo” aqui entendido como o reino cujo príncipe é o inimigo de Deus) e a mudança de estado [de vida], ao estado religioso de “almas consagradas a Deus”.
Vázquez no-lo confirma em “O Fundador do Opus Dei”:
(p. 338): “Que alegria a de Mons. Escrivá de Balaguer, vendo que o Concílio endossava solenemente que a Igreja ‘não repudiava o mundo em que vive, nem seu progresso e desenvolvimento, senão que o compreende e o ama’”.
A novidade é tal, que não a podem ocultar. Assim o expõe Bernal:
(p. 141): “e o fundador do Opus insistia, consciente da novidade dessa abordagem: o autêntico sentido cristão – que professa a ressurreição de toda carne – enfrentou sempre, como é lógico, a ‘desencarnação’, sem medo de ser tachado de materialismo. É lícito, portanto, falar de um materialismo cristão, que se opõe com audácia aos materialismos fechados ao espírito”.
“O trabalho é, pois, a matéria-prima que há de santificar, o instrumento de santificação dos demais” (Escrivá de Balaguer).
IGUALDADE E FRATERNIDADE
“Em nossa Obra, todos os homens, católicos ou não, sempre haviam encontrado um lugar amável (…)” (Escrivá).
Os cooperadores não-católicos (inclusive os judeus) formam parte inseparável do Opus Dei, segundo reconhece o próprio Escrivá, completando-se, assim, a “família espiritual”. Novamente, é Berglar quem confirma a seguir:
(pp. 244-245): “Quando, em 1950, o fundador obteve finalmente da Santa Sé a permissão para admitir, na Obra, os sacerdotes diocesanos e para poder nomear acatólicos, inclusive os não-cristãos Cooperadores da Obra, se ‘havia completado’ a família espiritual do Opus Dei. O que para uma ‘família natural’ são os amigos e conhecidos, para a ‘família sobrenatural’ do Opus Dei são seus cooperadores (…). Já em maio de 1935, o fundador havia previsto sua existência naquela instrução à qual deu forma definitiva em 1950: os Cooperadores – diz-se nela – constituem – sem ser membros de nossa família – uma associação própria e inseparável da Obra”.
Vázquez também faz menção acerca disso em “O Fundador do Opus Dei”:
(p. 258): “A aprovação definitiva de junho de 1950 produziu também um engrandecimento do trabalho. Com amplitude de afeto que caracterizava o fundador, para todas as almas, conseguiu – com luta filial – que a Santa Sé admitiu como cooperadores todas aquelas pessoas (católicos, não-católicos, até não-cristãos) que desejassem colaborar, material ou espiritualmente, nos apostolados da Obra. Era algo inédito no evento pastoral da Igreja aquele deslizar de ferrolhos e escancarar portas, integrando almas de benfeitores: protestantes, cismáticos, judeus, muçulmanos e pagãos. Somente conforme as décadas passassem e se iniciasse uma nova corrente ecumênica, esse passo ousado, que poderia haver gerado muitas incompreensões, já fluía com naturalidade na história contemporânea. Conversando um dia com João XXIII, comentava o Presidente-Geral: ‘Santo Padre, em nossa Obra, todos os homens, católicos ou não, sempre haviam encontrado um lugar amável; não aprendi o ecumenismo de Vossa Santidade’. E o Papa sorria, satisfeito”.
Como conclusão, diremos que o espírito ecumênico do Opus Dei é proverbial, já que, sob uma aparente fachada de conservadorismo, oculta-se uma mentalidade progressista e notoriamente modernista, na qual se reflete na composição dos membros da Obra chamados cooperadores, visto que são de qualquer “religião” (inclusive judeus), para poder, assim, financiá-lo.
Escrivá, segundo testemunho de Andrés Vázquez em seu livro “O Fundador do Opus Dei” (p. 317), teria amizade com Mikhail Suskin, um judeu de origem russa que frequentava [o Opus]. O mesmo ocorreu no caso de Hilary Schlesinger, inglesa, porém de origem judia, que a tornou duplamente querida pelo fundador (Tempo de Caminhar, p. 613).
A amizade de Escrivá com judeus era tão comum, ao ponto de tê-los como cooperadores na Obra. Que contradição!! “Opus Dei” (Obra de Deus) com judeus que cooperam e financiam-na. Parece ser mais “Opus Judaei” (Obra dos Judeus), pelo que se também deduz do que foi dito pelo Padre Julio Meinvelle (p. 26).
Leiamos o que nos apresenta a já citada Ana Santre em “Tempo de Caminhar” a este respeito:
(p. 614): “Sua origem judia [fala de Hilary Schlesinger] a torna duplamente querida pelo Padre [Escrivá] que, em mais de uma ocasião, respondeu a um judeu que o ama, porque seus dois grandes amores da terra são Jesus Cristo (que era judeu) e Sua Mãe, Maria, (também judia). Confirmando essa atitude, cabe anotar a resposta de uma mulher pertencente à Associação de Amizade Judeo-Cristã de Madri. Numa reunião celebrada em 1964, em uma sinagoga, um participante de origem sefardita levantou-se para perguntar ‘por que o Opus Dei perseguia os judeus’. Eu não era moderadora, porém levantei-me e disse-lhe: ‘só quero atestar um fato, e é que o Opus Dei, longe de persegui-los, tem cooperadores judeus nos EUA desde 1948. Um aplauso fechado acolheu as palavras (…). Logo fiz constar que não pertencia ao Opus Dei, mas que o defendia por justiça”.
Assustador!! O Opus e seu fundador sendo aplaudidos em uma sinagoga. Estes judeus cooperadores dos EUA são os mesmos que financiam a Obra, pois os cooperadores têm por “apostolado” o cooperar economicamente.
Ana Sastre prossegue:
(ibidem, p. 615): Quando Peter Forbarth lhe interroga em sua entrevista de 15 de abril de 1967, a resposta será afirmação pública desta feliz realidade da Obra:
– Como o Opus Dei se sustenta economicamente?
– Seus membros e eu trabalhamos duro. E quem trabalha, ganha. Assim, podemos promover obras corporativas de ensino, de assistência social, etc., que raramente ficam sozinhas. Para mantê-las além dos membros do Opus Dei, há outras pessoas que ajudam; alguns deles não são católicos, e muitos, muitíssimos, há que não são cristãos. Porém, eles veem o trabalho, sentem-se e ficam entusiasmados de verdade. Por isso, aproveito para dizer agora que sou devedor de muitas pessoas, inclusive de não-católicas e de não-cristãs.
Que não se diga, depois destas declarações do próprio Escrivá, que o Opus Dei não é financiado por judeus – ao menos em boa parte –, já que, como é sabido, em matéria de finanças e dinheiro, estes são os mestres do mundo. Mas, além disso, Bernal faz uma clara alusão em relação a este ponto:
(p. 309): “Semelhante compreensão do verdadeiro alcance do Opus Dei se deu em Londres, quando a residência Netherhall House se dispusera a duplicar suas instalações, para estender ainda mais seu trabalho com estudantes do Terceiro Mundo. O Patronato formado para arrecadar fundos fora presidido por um não-católico, Bernard Audley(…)”.
O que é inusitado e escandaloso é que uma instituição que se diz católica e da Igreja tenha pública e oficialmente cooperadores não-católicos… Terás visto um maior espírito liberal e modernista!!
Mas sigamos com a mesma autora, que continua explicando:
(p. 611): “Os cooperadores não-católicos da Obra ajudam nas iniciativas sociais, educativas e culturais do Opus Dei, e ao calor e ao exemplo desta atitude firme e humana, alguns chegaram à verdade da Igreja Católica pelo caminho da amizade, do respeito, da liberdade. Por esta dupla postura de abertura e firmeza, o Cardeal Primaz da Espanha – Dom Marcelo González Martín –, podia escrever alguns dias depois da morte do fundador do Opus Dei: ‘Muito antes do Concílio Vaticano II, Monsenhor Escrivá de Balaguer trabalhou como ninguém na promoção do laicato, na autêntica e profunda promoção, não nas ridículas e tristes experiências que tanto abundaram e continuam aparecendo nos anos posteriores ao concílio; e no campo do ecumenismo e no diálogo com o mundo moderno e no reconhecimento efetivo da sã autonomia das realidades temporais (…) porque sabia ser um autêntico progressista, foi também – como não podia deixar de ser – um conservador determinado e destemido.
A atitude ecumênica do Opus é proverbial:
(ibidem, p. 610): “Se o Opus Dei pratica esta acolhida abertamente com todos os credos da terra, pede, em troca, que se reconheça a liberdade de seu espírito”.
V. ESCRIVÁ: “PROFETA DOS TEMPOS ATUAIS” E “PRECURSOR DO VATICANO II”
O Concílio Vaticano II promulgou solenemente o que Monsenhor Escrivá de Balaguer e o Opus Dei já ensinavam (…) desde há muitas décadas.
Escrivá foi um “profeta dos tempos atuais”, pois estava um século à frente. Foi por isso que teve que esperar o Concílio Vaticano II, para que sua Obra tivesse aceitação plena e definitiva.
Sem mudar de obra, em “Tempos de Caminhar” (de Ana Sastre), se nos expõe claramente o dito anteriormente:
(p. 326): Em meados de junho de 1956, chega a Madrid uma carta de Dom Álvaro del Portillo para o fundador do Opus Dei. Em suas linhas, esperançosas, mas realistas, anunciava-lhe ao Padre o desenlace dos esforços levados a cabo durante estes meses para conseguir o “Decretum Laudis”. Os organismos competentes da Santa Sé chegaram à convicção de que tal concessão é, no momento, impossível. A Obra não se encaixa em nenhuma das formas associadas reconhecidas pelo Direito da Igreja. Uma figura importante da Cúria Romana disse a Dom Álvaro: “Vocês chegaram com um século de antecedência”. Está claro que, para salvar esta dificuldade, é necessária a presença do Padre. Somente ele, com sua autoridade de fundador, poderá conseguir o que, visto com olhos humanos, parece uma iniciativa impossível.
(ibidem, p. 328): Anos mais tarde, o fundador do Opus Dei recordava que, em 1956, diziam em Roma que a causa legal da Obra quebrou os moldes do Direito Canônico.
E acrescenta:
“A Obra aparecia ao mundo e à Igreja como uma novidade. A solução jurídica que procurava era como impossível. Porém, filhas e filhos meus, não poderia esperar que as coisas fossem ‘possíveis’”.
“Vocês chegaram (disse uma figura importante da Cúria Romana) com um século de antecedência. E, no entanto, havia que tentar o impossível”.
A Igreja Tradicional não podia deixar de rejeitar o Opus Dei. Foi exigido que a fumaça de Satanás penetrasse na Igreja para que um Concílio como o Vaticano II acomodasse o referido instituto.
(p. 653): “O vácuo legislativo para acolher o verdadeiro espírito do Opus Dei, que se referia aos cristãos atuais, obrigou o fundador a recorrer temporariamente a fórmulas legais inadequadas, mas a Obra nunca esteve dentro de um marco idôneo, já que havia aspectos que contradiziam princípios essenciais de seu caráter laical”.
Monsenhor Álvaro del Portillo declarava em 1983:
“O fundador (…), ao aceitar essas soluções – em 1943 e 1947 –, já chamou atenção da autoridade eclesiástica competente, que esperou se abrirem outras causas legais que pudessem resolver satisfatoriamente – de acordo com sua genuína natureza – o problema institucional do Opus Dei. A última etapa começa com o Concílio Vaticano II, que abrirá o horizonte jurídico necessário”.
No número 10 do decreto “Presbyterorum Ordinis”, o Concílio deliberou sobre a utilidade apostólica das Prelazias Pessoais, que deverão ser erigidas pela Santa Sé para levar a cabo iniciativas peculiares dentro da Igreja, tanto a nível regional como a nível nacional e, inclusive, universal. O Colégio Episcopal, reunido com o Sucessor de Pedro e sob a autoridade da Suprema Assembleia Conciliar, introduziu no Direito da Igreja esta nova estrutura jurídica de caráter pessoal e laical.
Escrivá foi um verdadeiro precursor do Concílio Vaticano II, conforme acabamos de comprovar, ao qual tomou a frente:
(ibidem, p. 659): “Ao fazê-lo, estava [Escrivá] 50 anos à frente de uma das decisões mais abrangentes e importantes do Concílio Vaticano II: impulsionar a santidade à imensa parcela dos cristãos no meio do mundo, com uma livre decisão de pôr Cristo em todas as atividades da terra. Por isso, sublinhava este fato João Paulo II em sua Alocução de 19 de agosto de 1979 a um grupo de profissionais membros do Opus Dei: ‘É certamente grande vosso ideal, que desde o início antecipou a teologia do laicato e que mais tarde caracterizou a Igreja do Concílio e do pós-concílio”.
Os filhos de Mons. Escrivá de Balaguer viram assim alegremente confirmado o espírito de seu fundador e, com eles, por palavras do Cardeal Baggio: “As razões de sua alegria são também razão de alegria para todos os homens de boa vontade na Igreja inteira”.
Voltando uma vez mais ao livro “Opus Dei”, de Peter Berglar, leremos o seguinte:
(p. 14): “O Concílio Vaticano II promulgou solenemente o que Mons. Escrivá de Balaguer e o Opus Dei ensinavam e praticavam, com sua espiritualidade e com sua vida, desde há muitas décadas”.
Assim, o título de “precursor do Vaticano II” refere-se ao espírito modernista de Escrivá. (ibidem, p. 303): “O fundador do Opus Dei, depois de muitos anos de incompreensões, teve a satisfação de que prominentes padres conciliares, como os Cardeais Frings (Köln), Küning (Viena), Lercaro (Bologna) e outros, o reconheceram como um verdadeiro precursor do Vaticano II, sobretudo com respeito àqueles pontos importantes que, para o Concílio, marcaram o caminho a seguir no futuro”.
Tampouco são gratuitos seu espírito ecumênico e o espírito de seu progressismo:
(ibidem, p. 246): “Neste sentido, ser verdadeiramente ‘romano’ é ser verdadeiramente ‘ecumênico’ e vice-versa. Muitas vezes se esquece isto em nossos dias. Diante dos jornalistas, Mons. Escrivá comentou que, por ocasião de uma audiência, disse ao Papa João XXIII: ‘Em nossa Obra, todos os homens, católicos ou não, sempre encontraram um lugar amável: não aprendi o ecumenismo com Vossa Santidade’. Este comentário, que talvez soa algo pretensioso, expressa uma ideia tão importante para o fundador que o disse duas vezes: na primeira, numa revista francesa; na segunda, numa revista espanhola
(…).
Mais adiante, Bernal se refere ao mesmo, enfatizando o fato inédito de que havia cooperadores do Opus sem fé:
(pp. 295-296) Por último, para completar este rápido panorama, é preciso referir-se à sua atitude para com os não-católicos.
“Não inventei uma ‘frase’ quando declarava que estava disposto a dar cem vezes sua vida para defender a liberdade de uma consciência. De fato, tive que lutar muito com uma luta filial, para que a Santa Sé aprovasse algo inédito na história das associações da Igreja: que pessoas sem a fé católica pudessem ser Cooperadores do Opus Dei”.
Em 1966, Escrivá contou a um jornalista, Jacques Guillémé Brulon, do jornal Le Figaro, o que havia comentado uma vez ao Papa João XXIII, comovido pelo encanto afável e paterno de seu tratamento: “Santo Padre, em nossa Obra, todos os homens, católicos ou não, sempre encontraram um lugar amável: não aprendi o ecumenismo de Vossa Santidade”. Ele riu-se, emocionado, pois sabia que desde 1950, a Santa Sé havia autorizado o Opus Dei a receber como associados cooperadores os não-católicos e mesmo os não-cristãos.
(ibidem, p. 267): Um sacerdote conhecido por Dom Juan Ordóñez Márquez publicou numa revista de Sevilha, um dia depois do falecimento de Mons. Escrivá de Balaguer, que ele havia sido “possivelmente o homem a quem o Vaticano II pouco ou nada de novo teve a dizer, porque desde há muito [Escrivá] já trilhava seus caminho”.
“Algo semelhante apontaria algumas semanas depois o Cardeal Primaz da Espanha, Dom Marcelo González Martín: muito antes do Concílio Vaticano II, ele [Escrivá] trabalhou como ninguém na promoção do laicato, na autêntica e profunda promoção, não nas ridículas e tristes experiências que tanto abundaram e continuam a aparecer nos anos posteriores ao concílio; e no campo do ecumenismo e no diálogo com o mundo moderno e no reconhecimento efetivo da sã autonomia das realidades temporais”.
Neste ponto, poderíamos acrescentar o que Berglar comenta a respeito no “Opus Dei”:
(p. 247): “Desde o princípio da Obra – e não só desde o Concílio –, procurou-se viver um catolicismo aberto, que defendesse a legítima liberdade das consciências, que levasse a tratar com caridade fraterna a todos os homens, sejam católicos ou não, e a colaborar com todos, participando das diversas nobres ilusões que movem a humanidade”.
(p. 249): Sabemos que Paulo VI utilizava “Caminho” para sua meditação pessoal. João XXIII, por sua vez, comentou a seu secretário, o futuro Prelado Loreto, que a Obra ‘è destinata ad operares nella Chiesa su inattesi orizzonti di universale apostolato’ [está destinada a abrir na Igreja horizontes desconhecidos do apostolado universal]. Para os papas João Paulo I e João Paulo II, o Opus Dei e seu fundador foram fatos históricos objetivos que supunham o começo de uma nova época do cristianismo.
Portanto, o que hoje soa familiar graças ao Vaticano II, era uma verdadeira “revolução” em 1928, como o mesmo Bernal comenta:
(p. 113): “Depois do Concílio Vaticano II, boa parte da mensagem que o fundador do Opus Dei difundiu desde 1928, ‘soa familiar’”.
VI. O VATICANO II E A “CANONIZAÇÃO” DE ESCRIVÁ
“O fundador do Opus Dei é um ‘conservador’ (…) com uma profundidade e uma convicção tais que se convertem, de uma só vez, no maior ‘revolucionário católico’ dos últimos 200 anos”.
Não é de se surpreender que hoje o Opus Dei não só tem sido reconhecido por João Paulo II, senão também que a canonização de Escrivá de Balaguer é solicitada, pois na verdade é um verdadeiro precursor do Concílio Vaticano II e de seus princípios modernistas tais como a liberdade religiosa, o ecumenismo, a mentalidade laical, a conformidade com o mundo, nova “santidade”, exaltação da “dignidade do homem”, com seus pseudodireitos e os princípios da Revolução Francesa: Liberdade, Igualdade, Fraternidade.
Escrivá foi ecumenista muito antes do Concílio Vaticano II e foi precursor do mesmo. Daí sua canonização solicitada a todo custo, custe o que custar.
Os membros do Opus Dei hoje podem dizer que o Vaticano II fez suas muitas ideias de Escrivá. Ao referir-se, por exemplo, à tarefa de “servir aos leigos”, Bernal comenta em sua obra:
(p. 154): “(…) Esta é a tese que Mons. Escrivá de Balaguer defendeu desde há muito tempo e que o Concílio Vaticano II fê-la sua”.
O mesmo autor cita mais adiante a alegria de Escrivá diante do Vaticano II, que proclama o que ele vinha fazendo há 30 anos:
(ibidem, p. 261): “Uma de minhas maiores alegrias havia sido precisamente ver como o Concílio Vaticano II proclamou com clareza a vocação do laicato. Sem me vangloriar de forma alguma, devo dizer que pelo que se refere ao nosso espírito, o Concílio não supôs um convite à mudança, senão que, ao contrário, confirmou o que – pela graça de Deus – vínhamos vivendo e ensinando desde há tantos anos (…)”.
Palavras que Vázquez também cita em seu livro “O Fundador do Opus Dei” (p. 339).
É sumamente revelador como o Opus participou ativamente no Concílio, tal como relata Berglar (lembremo-nos que seu livro “Opus Dei” foi editado por Rialp, editorial da Obra):
(p. 299): “Dom Álvaro del Portillo participou, desde o primeiro momento, na preparação do Concilio, especialmente no referente ao tema os leigos na Igreja’; mais tarde foi nomeado Secretário da Comissão Conciliar ‘De disciplina cleri et Populi christiani’ [Sobre a disciplina do clero e do povo cristão] e perito de algumas outras outras comissões. Desta maneira, o Opus Dei participou ativa e intensamente no Vaticano II. Obviamente, Escrivá e Del Portillo falaram de todos os problemas que se levantaram, com a união que os caracterizava; não houve um só dia, ao longo dos quatro anos do Concílio, no qual não se desse uma conversa a portas fechadas entre ambos, aos quais podíamos quase chamar ‘alma’ e ‘corpo’ do Opus Dei”.
Pelo que se pode ver, o Opus não foi alheio ao Concílio Vaticano Il, senão o contrário. Voltando à obra de Vázquez, encontramos:
(p. 329): Na fase inicial, o Secretário Geral do Opus Dei, Dom Álvaro del Portillo, teve de trabalhar como Presidente da Comissão preparatória sobre leigos. Em seguida, como membro de outra Comissão preparatória; e, finalmente, como Secretário da “Comissão sobre a disciplina do clero e do povo cristão”, além de perito em outras Comissões.
Os ideais do Opus seguem as demandas dos tempos modernos. Ana Sastre o expõe com clareza:
(P. 484): (..) eis os elevados ideais que o Opus Dei vos propõe, tão bem adaptados às exigências dos novos tempos (…)
Tempos modernistas iguais ao Vaticano II.
(ibidem, p. 485): “Ao longo do Concílio, vários aspectos que o espírito do Opus Dei vem expondo e praticando desde 1928 vieram a ser referendados e propostos pela Igreja Católica reunida na maior assembleia de sua história”.
Escrivá foi consciente de seu espírito modernista. Ele mesmo chegou a dizer que, em outros tempos, anteriores aos do Concílio, acusaram-lhe de herege.
(ibidem, p. 486): “Por haver proclamado a vocação universal à santidade, desde que fundou o Opus Dei em 1928, Mons. Josemaria Escrivá de Balaguer foi unanimemente reconhecido como o precursor do Concílio, precisamente naquilo que constitui o núcleo fundamental de seu Magistério, tão fecundo para a vida da Igreja”.
(ibidem, p. 486): “Hoje, ao concluir o Concílio Vaticano II, o Padre recorda o árduo caminho que teve que abrir no mundo, este espírito ‘velho como o Evangelho e, como o Evangelho, novo’”.
“Havemos de estar felizes ao terminar este Concílio. Faz trinta anos que me acusaram de herege por pregar coisas de nosso espírito que o Concílio agora reconheceu solenemente, na Constituição Dogmática ‘De Eclesia’. Vê-se que avançamos, que temos rezado muito:
(p. 594): O Opus Dei constituía em 1928 uma revolução ordem teológica e religiosa por sua doutrina modernista. A grande admiradora do Opus, Ana Sastre, disse em seu citado livro “Tempo de Caminhar”, relativo à doutrina da Obra com respeito à concepção religiosa de Escrivá: “Esta doutrina, hoje estendida e consagrada pelo Concílio Vaticano II, implicou uma revolução de conceitos teológicos, ascéticos e jurídicos”.
Que não se diga, portanto, que a mentalidade de Escrivá não era revolucionária e modernista em matéria de religião ou que são exageros e tergiversações.
Não nos esqueçamos que as edições Rialp são uma das tantas que a Obra possui. Logo, tudo o que sai nas ditas edições é endossado pelo Opus Dei
Outro grande admirador do Opus, Peter Berglar, em seu livro “Opus Dei” – editado, obviamente, por Rialp –, afirma como um grande elogio o poder ver:
(P. 243): “(…) que o fundador do Opus Dei é um ‘conservador’, ou – digamo-lo como uma metáfora – uma ‘rocha primordialmente cristã’ ou – se quiser – uma rocha primordialmente cristã, com uma profundidade e uma convicção tais que, por sua vez, o convertem no maior revolucionário católico dos últimos duzentos anos”.
Por isso, o Vaticano II, que é o concílio da Revolução, fará o indizível para canonizar Escrivá. Bernal, em sua obra, comenta:
(p. 138): “Em um extenso artigo, publicado no jornal milanês ‘Avvenire’ em 26 de julho de 1975, o Cardeal Baggio sublinhou a ideia: santidade para o homem da rua, não ideal para privilegiados; o que para muitos pareceu heresia, depois do Concílio Vaticano II se converteu em princípio indiscutível: O que continua sendo revolucionário na mensagem espiritual de Mons. Escrivá de Balaguer é a maneira prática de orientar até a santidade cristã a homens e mulheres de toda condição; em uma palavra: ao homem da rua”.
(ibidem pp. 138-139): “O modo de concretizar na prática esta mensagem baseia-se em três novidades características da espiritualidade do Opus Dei:
• 1) antes de tudo, os leigos não devem abandonar nem desprezar o mundo, senão que se entregar por dentro, amando e compartilhando a vida com seus concidadãos;
• 2) ficando no mundo, os leigos devem saber descobrir o valor sobrenatural de todas as circunstâncias normais de sua vida, incluídas as mais prosaicas e materiais;
• 3) em consequência, o trabalho cotidiano significa que o que ocupa a maior parte do tempo e caracteriza a personalidade da maioria das pessoas é a primeira coisa a ser santificada e o pimeiro instrumento de apostolado.
Portanto, não é de se estranhar que Roma, inspirada hoje pelo Vaticano II, queira canonizar Escrivá. Como disse Berglar:
(p. 305): “Assim, portanto, vê-se claramente que não é causalidade que o Opus Dei nasceu no primeiro terço do século XX. A Obra supõe, na Igreja, um novo despertar dos cristãos no mundo; é um impulso de renovação cristã, cuja validade universal inspirada no futuro ficou clara graças ao Concílio Vaticano II”.
Claro que não é causalidade!! Por isso, é de muito suspeitar, pelo menos, que o Opus seja isso que eles querem negar a todo custo, como se se tratasse de falsas acusações.
Eles habilmente trazem estas “falsas acusações” para que se dissolvam as suspeitas que mais lhes afetam. Se não, leiamos o que Bernal nos expõe:
(p. 280): “Acusavam o Opus Dei de ser um ‘ramo judaico’ dos maçons, ou uma seita judaica em relação aos maçons”.
Tudo nos leva a pensar que é verdade o que se suspeita do Opus Dei e que eles mesmos tratam de evitar, como se pode ver pelo que dizem de si mesmos para se defenderem (Opus Dei: Ficção e Realidade):
(p. 10): “O sensacionalismo em torno do Opus surgiu pouco depois do jovem sacerdote Dom Josemaria Escrivá fundá-lo na Espanha em 1928. Uma das primeiras acusações, feitas diante de um tribunal especial, era que o Opus Dei constituía um ramo judaico da maçonaria”.
O Padre Julio Meinvelle disse, com respeito ao Opus, algo sumamente revelador (“Os três povos bíblicos na luta pela dominação do mundo”):
(p. 292): “Esperanças melhores prometia a Cruzada anticomunista da Espanha de 1936, donde requetés e falangistas, opondo-se à bravura de leões ao avanço judeu-comunista, detiveram este perigo na Europa Ocidental. Mas ali, o povo judeu aprendeu tão somente uma lição: a raça hispânica é imbatível de frente, mas só de frente. Pode ser traída se se acerta em proporcionar-lhe um tratamento devidamente moderado de ‘cristianismo e mundo moderno’, com o que, sob a aparência de apostolado, se lhe inoculam os vírus da anti-religião e da anti-pátria. Tal veio a ser a missão do ‘Opus Dei’ na Espanha franquista. A heróica Espanha de 1936 tem sido totalmente violentada e aviltada, e na década de 1970, ela foi totalmente ganha para o mundo judeu”.
CAMINHO
Convém dizer algo sobre “Caminho”, o livro mais difundido do Opus Dei, antes de terminar com este compêndio de citações e textos que representam o espírito e atividade da Obra, tal como Escrivá a havia fundado.
Porém, deixemos uma vez mais que sejam eles que falem.
Sobre o espírito ecumênico de “Caminho”, disse o então Mons. Álvaro del Portillo em “Estudos sobre o Caminho”:
(p. 48): “Esta realidade ‘ecumênica’ do Caminho nos faz perguntar como algumas páginas, cuja origem editorial tem contextos tão marcados, puderam se difundir entre pessoas pertencentes a meios culturais, não mais diferentes do Caminho original, senão que tão diversos entre si. Qual é a inspiração profunda deste livro, capaz de dar razão – além da atuação da graça que Deus concede como e quando quiser – do bem que fez e segue fazendo em pessoas tão distintas?”
O Caminho exalta a dignidade da pessoa humana, independentemente da religião:
(ibidem, p. 52): “Esta dimensão humana de Caminho explica a capacidade demonstrada pelo livro de conectar as esperanças e aspirações de qualquer homem ou mulher que sinta verdadeiramente sua própria dignidade, independentemente de suas convicções religiosas, oferecendo ao leitor a ilusão e o impulso para levar uma vida humanamente mais limpa e mais nobre”.
O Vaticano II e o Caminho estão em uníssono, pelo que disse Mons. Álvaro del Portillo:
(p. 65): “Durante meu trabalho nas comissões do Concílio Vaticano II, pude comprovar as abordagens da vida cristã e os critérios pastorais, que são como que a atmosfera do Caminho, abriam caminho em seus documentos, às vezes com enorme dificuldade. Um livro que, doutrinalmente, reflete a firme e gozosa recepção que o seu autor faz da fé transmitida pela Igreja e que, por sua vez, a projeta na vida real de todos os homens”. (…)
(p. 113): “Várias décadas depois do que foi lembrado em Caminho e depois que o Mons. Escrivá de Balaguer o expandiria pelo mundo até penetrá-la, como doutrina e como vida para muitos milhares de almas, o Concílio Vaticano II proclamou a universalidade da vocação à santidade ao apostolado, convidando todos os homens à precavida reivindicação das novas inflexões da história da salvação”.
(p. 115): “Os traços do apóstolo cristão, tal como os expressa com traço firme, respondem aos sinais dos novos tempos da história da salvação em que estamos nos adentrando” (…).
Lembremo-nos como Álvaro del Portillo nos mostra que há uma mesma atmosfera entre o Vaticano II e o “Caminho” (Estudos sobre o Caminho). A obra, segundo del Portillo, ensina a acolher os ensinamentos mais revolucionários que hoje são difundidos graças ao Vaticano II:
(p. 53): “A obra Caminho foi preparando, durante este tempo, milhões de pessoas para entrar em sintonia e acolher em profundidade alguns ensinamentos revolucionários os quais trinta anos mais tarde a Igreja no Concílio Vaticano II promulgaria solenemente”.
Texto revelador do espírito do Caminho e do Opus em sua missão revolucionária, amparada pelo Vaticano II.
Conclusão final
Que não se diga que, depois de haver lido todo o exposto, são exageros ou invenções. Todos os textos e citações são os mesmos difundidos pelo Opus, os autores são membros ou amigos da Obra; a editora Rialp também pertence à mesma, com o qual tudo isto nos garante que estes escritos são os que o Opus Dei admite e, portanto, deseja difundir em seu favor, a menos a modo de propaganda.
Mais ainda, o mesmo Escrivá é tão liberal, que reconhece todo o direito a criticá-lo, pois, como reforça Bernal em sua obra “Mons. Josemaria Escrivá de Balaguer” (p. 271), foi ele – Escrivá – quem disse a um jovem que participou de uma manifestação na qual se ouviram gritos contra o Opus: “Pois fez muito bem. Estava em seu direito; se pensava assim, deveria fazê-lo”. Não é para menos: se amou tanto a liberdade e, por conseguinte, a liberdade de consciência, assim é que não tem do que queixar-se.
Pois bem, estamos, segundo o fundador, em nosso direito a fazê-lo, sem que se ofendam os mencionados…
Amém.
Juan MORALES.
BIBLIOGRAFIA
• “Caminho” – Josemaría Escrivá de Balaguer – Rialp.
• “Conversas com Mons. Escrivá de Balaguer” – Rialp.
• “O Fundador do Opus Dei” – A. Vázquez de Prada – Rialp.
• “Estudo sobre ‘Caminho’” – Rialp.
• “Mons. Escrivá de Balaguer” – Salvador Bernal – Rialp.
• “Tempo de Caminar” – Ana Sastre – Rialp.
Trad. por Victor Marcelino Santoianni.