SÉBASTIEN FAURE EXPOSTO E REFUTADO

UMA REFUTAÇÃO COMPLETA AO ENSAIO
“DOZE PROVAS DA INEXISTÊNCIA DE DEUS”
E A VERDADEIRA FACE DO
ATEU ANARQUISTA SÉBASTIEN FAURE

Luciano Takaki
2024

INTRODUÇÃO

Quando era ateu, fiquei admirado com os argumentos de um ensaio escrito pelo ateu anarquista Sébastien Faure, “Doze provas da inexistência de Deus” (“Douze preuves de l’inexistence de dieu” no original, com “dieu” com “d” minúsculo, mas aqui uso com inicial maiúscula mesmo). O ensaio tinha sido reputado por mim por uns anos e até hoje se segue assim com muitos ateus que, impressionados com a extensão e os argumentos usados, acabam nem mesmo se esforçando para entender o que o outro lado diz.

Hoje, completamente convicto da existência ou, melhor, do ser de Deus e, além disso, convencido de que a Religião Católica é a única verdadeira religião revelada por Deus, graças à virtude teologal da fé, proponho-me a refutar este ensaio. Não irei citá-lo extensivamente em prol da brevidade deste artigo, mas analisarei o cerne principal de cada um dos argumentos, conforme expresso nos títulos de cada tópico pelo próprio autor.

O AUTOR DO ENSAIO

Primeiramente, leiamos a biografia inserida na tradução do ensaio disponível:

“Sebastien Faure nasceu no ano de 1858 na França. Criado em uma família burguesa e muito conservadora, recebeu ensino em um estabelecimento religioso. Os dirigentes do colégio, padres jesuítas, detectaram nele inteligência e vocação para seguir o ‘caminho de Deus’, e, aos dezessete anos entrou no noviciado. Foi um noviço exemplar. Por dezessete meses se aprofundou numa fé rigorosa e cega. Até que num dia recebeu um telegrama dizendo que seu pai estava gravemente doente. Visitou o seu pai, que disse-lhe que devia deixar a sua vida religiosa para sustentar a família. Seu pai morreu. Ele voltou a sua vida normal e, com o tempo, foi vendo a farsa em que ele estava acreditando. Se tornou ateu e anarquista, pelo qual lutou por quase toda a sua vida. Faleceu em 1942.”

Essa biografia pareceu omitir muitas coisas. Então, resolvi investigar quem é o autor e descobri que valeria muito a pena colocar aqui uma biografia sua para os meus caros leitores.

Auguste Louis Sébastien Faure, ou simplesmente Sébastien Faure, nasceu numa família católica em 6 de janeiro de 1858. Ele se tornou noviço jesuíta e estudou para ser sacerdote. No entanto, movido pelo espírito revolucionário, fugiu do seminário e tornou-se militante socialista. Mais tarde, Faure tornou-se anarquista e cooperou com terroristas. Faure, durante toda sua vida, lutou contra a Igreja, toda forma de outras religiões, militou e pregou o triunfo do materialismo, pregou o pacifismo (apesar de preconizar anistia para terroristas), foi franco-maçom até 1917 (foi iniciado na Loja Vérité, do Grande Oriente, em 1884; e em 1905 se filiou à Loja Le Progrès) e forte combatente contra o antissemitismo (cf. Sobre la Anarquía y otros Temas, “Sébastien Faure (Vida y Obra)”). Sébastien Faure, segundo os próprios anarquistas, também era um pedófilo e predador sexual. Quem o acusa disso não sou, mas os próprios anarquistas e o afirmam sem nenhuma margem para dúvidas (cf. Union Communiste Libertaire, “1917-1921: Et la pédocriminalité fit chuter Sébastien Faure”).

Faure “se casou” em 1881 e se divorciou em 1888. Foi a partir daí que seguiu sua vida de militante anarquista. Em 1914, publicou o seu famoso ensaio aqui refutado e em seguida deu início a sua campanha pacifista. Em 1918, foi preso pela primeira vez por abuso de menores ao tocar meninas maliciosamente. Ele seria preso novamente em 1921 pelo mesmo motivo. Ele sempre alegou ser injustiçado, mas a abertura de inúmeros arquivos em 2018 confirma a veracidade das acusações a tal ponto que não tem mais como negar.

Depois, entre 1925 e 1934, iniciou o projeto Encyclopédie anarchiste. Durante a Guerra Civil Espanhola, ficou do lado dos republicanos. Iniciando a Segunda Guerra Mundial, Faure ficou em Royan, onde se juntou novamente com sua ex-esposa. Lá, ele morreu de congestão cerebral em 14 de julho de 1942 aos 84 anos.

Essa breve biografia nos dá uma luz sobre o autor que vamos refutar.

O ENSAIO EM SI

O ensaio foi publicado em 1914. O ensaio se divide em três séries de argumentos: a primeira, com seis argumentos, trata do Deus-Criador; a segunda, do Deus-Governador, com quatro argumentos; e, por fim, do Deus-Justiceiro, com dois argumentos.

Antes da exposição dos argumentos, Fauré nos coloca uma introdução explicando as razões de fazer a sua exposição, que comentaremos abaixo.

ANTES DA INTRODUÇÃO DOS ARGUMENTOS

A breve biografia do Sébastien Faure já nos dá uma luz sobre ele argumentará. Principalmente com respeito aos argumentos contra o “Deus-Justiceiro”. Faure coloca na epígrafe, uma citação clássica do Bakunin:

“A existência em Deus implica necessariamente a escravidão de tudo abaixo dele. Assim se Deus existisse, só haveria um meio de servir a liberdade humana: seria o de deixar de existir.”

Como “bom” anarquista, Faure adere à noção liberal de liberdade, que ensina que liberdade é um ato e não potência. Se a liberdade for vista como fim, poderá, para os que não são cristãos, como o próprio Faure e outros anarquistas, degenerar em libertinagem. Como o próprio Faure caiu, se tornando um pedófilo e predador sexual. Isto é, não existiria o pensamento anarquista se antes não houvesse o próprio pensamento liberal, especialmente com John Locke. No entanto, Bakunin (e Faure) vai muito mais longe por conta de uma metafísica falsa. Como já vimos neste espaço e veremos neste artigo, é absolutamente impossível uma mente sã, honesta e bem-informada negar o ser de Deus.

Em seguida, ele admite que o Deus que pretende refutar é aquele em que nós, católicos, acreditamos. Ele escreve:

“Com um gesto potente e fecundo, este Deus fez todas as coisas do nada: o ser do não-ser. E, por sua própria vontade, substituiu o movimento pela inércia, a vida universal pela morte universal. É um Deus Criador!
“Este Deus é o Deus que, terminada a obra da criação, em vez de volver à inatividade secular, ficando indiferente à coisa criada, ocupa-se de sua obra, interessando-se por ela, intervém nela quando o julga necessário, rege-a, administra-a, governa-a: é um Deus Governador ou Providência.
“Este Deus é o Deus arvorado em Tribunal Supremo, obriga, depois da morte, a comparecer à sua presença todos os indivíduos. Uma vez aí, julga-as segundo os atos de suas vidas; pesa, na balança, as suas boas e más ações e pronuncia, em último extremo — sem apelo nem agravo — a sentença que fará do réu, pelos séculos dos séculos, o mais feliz ou o mais desgraçado dos seres: É um Deus Justiceiro ou Magistrado.
“Logo, este Deus possui todos os atributos; e não é somente bom: é a Bondade Infinita; não é somente misericordioso: é o Misericórdia Infinita; não é somente poderoso: é o Poder Infinito; não é somente sábio: é a Sabedoria Infinita.
“Em conclusão: tal é o Deus que eu nego e que por doze provas diferentes (em rigor bastaria uma só), vou demonstrar a inexistência.”

Aqui buscarei refutar com argumentos de razão e com as dos teólogos, principalmente Santo Tomás de Aquino, como bom tomista. Ficaria cabalmente provado que, ainda que Faure tenha sido noviço jesuíta e seminarista, não entendeu nada sobre quem é Deus e que a sua lógica e metafísica são deficientes e chãs.

A REFUTAÇÃO DOS ARGUMENTOS

1º argumento: O gesto criador é inadmissível

Escreve Faure:

“Ora, eu imagino que é impossível encontrar-se uma única pessoa dotada de razão que conceba e admita que do nada se possa tirar e fazer qualquer coisa. Suponhamos um matemático. Procurai o calculador mais autorizado; colocai-o diante de uma lousa e pedi-lhe que escreva zero sobre zeros. Terminada a operação, solicitai-lhe que os multiplique da forma que entender, que os divida até se cansar, que faça enfim toda a sorte de operações matemáticas, e haveis de ver como ele não extrairá, desta acumulação de zeros, uma única unidade.”

Faure, limitado como é, se restringe a negar o ato criador sem fundamentar seus argumentos. É verdade que, como ensina Santo Tomás, o ato criador é conhecível pela fé e além do alcance da razão humana (cf. De Eternitate Mundi). Além disso, o mundo não poderia ter existido eternamente com seres humanos, pois isso implicaria na existência de um número infinito de almas atualmente, devido à imortalidade da alma. Faure, claramente, nega a existência da alma devido às suas limitações, mas como já foi demonstrado anteriormente, é impossível negar a existência da alma imortal. Se o homem possui uma alma imortal, então não poderia ter existido desde sempre, o que implica que o mundo teve um início.

Atualmente, com o advento da Teoria do Átomo Primordial (comumente chamada de Teoria do Big Bang), e considerando o afastamento dos corpos celestes, até mesmo os ateus precisaram revisar suas posições. Físicos como Lawrence Krauss tentam explicar de alguma forma como o universo poderia ter surgido do nada. Isso levanta a questão para Faure: o que é mais absurdo, Deus criar o universo do nada ou o universo surgir do nada como causa própria?

Ademais, a onipotência cabe somente a Deus e a analogia feita por Faure é totalmente falha. Não há nenhuma analogia possível entre Deus criar o universo do nada e um professor extrair uma unidade a partir de operações matemáticas com zeros.

Aqui refuta-se o primeiro argumento.

2º argumento: O “puro espírito” não podia determinar o Universo

Escreve Faure:

“O puro espírito não está separado do universo por uma diferença de grau, de quantidade, mas sim por uma diferença de natureza, de qualidade. De maneira que o puro espírito não é, nem pode ser, uma ampliação do Universo, assim como o Universo não é, nem pode ser, uma redução do puro espírito. Aqui a diferença não é somente uma distinção; é uma oposição: oposição de natureza — essencial, fundamental, irredutível, absoluta.
“Entre o puro espírito e o Universo não há somente um fosso mais ou menos largo e profundo, fosso que possa, a rigor, encher-se ou franquear-se. Não. Entre o puro espírito e o Universo há um verdadeiro abismo, duma profundidade e de uma extensão tão imensos, que por colossais que sejam os esforços que se empreguem, não há nada nem ninguém que consiga enchê-lo ou franqueá-lo.”

Que Deus é puramente espírito é demonstrado pelas cinco vias tomistas. O Ato Puro não pode conter qualquer potencialidade material, mas é necessário que haja um primeiro motor que seja Ato Puro.

A suposta oposição entre o espiritual e o material é apenas um juízo arbitrário de Faure. A quinta via mostra que o mundo material necessita de um organizador imaterial, pois a matéria, por si só, não pode se organizar (um fato evidente). Esse organizador não pode ser material, pois isso exigiria outro organizador para sua matéria. A existência de uma grande diferença de natureza entre o material e o espiritual não implica em oposição entre essas duas realidades.

Pelo contrário, o mundo material, com todos os seus aspectos e propriedades, é conhecido pelos sentidos, e nosso intelecto trabalha essas impressões para formar nossas concepções mentais. Nosso intelecto não pode ser explicado exclusivamente pelo materialismo, pois a simples elaboração de um silogismo não se explica pelas propriedades existentes na matéria.

3º argumento: O perfeito não pode produzir o imperfeito

Aqui sequer preciso reproduzir os argumentos de Faure. Novamente ele emite um juízo arbitrário alegando que Deus, sendo perfeitíssimo, não poderia ter criado algo com qualquer imperfeição. No entanto, se Deus criasse algo sem nenhum tipo de imperfeição, Ele teria de ter criado outro ente com as perfeições divinas. Isso é metafisicamente impossível. Ademais, Deus permite certas imperfeições na criação em prol do mérito dos eleitos e segundo a liberdade dos entes inteligentes. Deus pode sim permitir imperfeições na criação. Ademais, todos os entes criados, por essência são perfeitos por operarem segundo a sua natureza. Assim, um cão não precisa ser inteligente para ser mais perfeito porque já não seria da sua essência, basta ter a natureza de cão. Não há razões para insistir neste ponto.

4º argumento: O ser eterno, ativo, necessário, não pode, em nenhum momento, ter estado inativo ou ter estado inútil

Também não preciso comentar muito. Deus não vive numa realidade temporal, cronológica, como os entes criados. Deus vive na Eternidade. O tempo não existe para Deus porque Ele vive no chamado Instante Eterno. Ele vê todo o passado e futuro num só ato. A eternidade ela existe toda simultaneamente enquanto no tempo, sendo a medida do movimento um antes e um depois, há a anterioridade e posteridade (cf. S. TOMÁS DE AQUINO; S.Th. I, q. 10, a. 4). Isso significa que Deus nunca está inativo e nunca foi ocioso, absolutamente nada tem o seu ser sem Deus o sustentando. Afinal, ao contrário dos entes criados, Deus não está sujeito ao tempo porque nada é movido em Deus.

5º argumento: O ser imutável não criou

Novamente outra afirmação arbitrária sem qualquer nexo. O Ato Puro cria sim sem sofrer qualquer mudança porque somente Ele poderia obrar sem ser movido por outrem. Aprofundaremos este ponto na resposta ao próprio argumento.

6º argumento: Deus não criou sem motivo; mas é impossível encontrar um único motivo que o levasse a criar

Escreve Faure, com tom desafiador e debochado:

“Com o pensamento, examinaremos Deus antes da criação. Tomemo-lo mesmo no seu sentido absoluto. Está completamente só; bastando-se a si próprio. E perfeitamente sábio, perfeitamente feliz, perfeitamente poderoso. Ninguém lhe pode acrescentar sabedoria, ninguém lhe pode aumentar a felicidade, ninguém lhe pode fortificar o poderio.
“Este Deus não experimenta nenhum desejo, visto que a sua felicidade é infinita. Não pode perseguir nenhum fim, visto que nada falta à sua perfeição. Não pode ter nenhum intuito, visto que nada falta ao seu poder. Não pode determinar-se a fazer seja o que for, visto que não tem nenhuma necessidade.”

Faure, como anarquista e libertário (que é a forma mais extrema de liberalismo), não entende que a vontade não apenas nos faz desejar o bem para nós mesmo, mas também desejar que o bem que possuímos seja comunicado a outros. Se tivermos em nós a caridade, desejamos que o bem que almejamos também seja alcançado por outros. Desejamos, como católicos, a salvação e também queremos que todos se salvem porque sabemos que é um bem.

Deus não tem por que querer algo para si, é verdade. Se Ele criou o universo e também a nós, é para comunicar o bem a absolutamente tudo que Ele criou. Isso é explicado por Santo Tomás de Aquino (cf. S.Th. I, q. 19, a. 2). Começando pelo bem de ter o ser por Ele comunicado e a nossa participação nesse mesmo ser (cf. “A prova mais perfeita do ser de Deus”). Fica a pergunta se Faure chegou a estudar isso enquanto foi jesuíta.

No primeiro capítulo do Gênesis, em todos os versículos em que encerram a descrição de cada dia da criação, lemos que tudo o que Deus criou é bom. Tudo o que Deus criou é perfeito em sua essência. A Sagrada Escritura nos ensina que Deus é amor (I João IV, 8) e esse amor se reflete no bem que Deus nos deseja. No entanto, temos o livre arbítrio para acolher ou rechaçar esse amor. Faure não entende isso. Talvez se não fosse criminosamente depravado, entendesse isso.

Assim, refuta-se a primeira série de argumentos contra o Deus-Criador.

Duas objeções capitais

Faure, antes de continuar, tenta refutar duas objeções: uma de que o Deus que ele tenta refutar é antes uma caricatura e não o Deus verdadeiro, pois ele tenta refutar um Deus que apenas o cérebro dele abarca. Assim, ele escreve:

“Somente, senhores deístas, permiti que, por meu turno, eu vos dê os mesmos conselhos de humildade, para terdes a franqueza de me responder estas perguntas: Vós não sois homens como a mim? A vós, Deus não se depara como para a mim? Esse Deus não vos escapa como a mim? Tereis vós a pretensão de moverdes no mesmo plano da divindade? Tereis igualmente a mania de pensar e a loucura de crer que, de um voo, podereis chegar às alturas que Deus ocupa? Sereis presunçosos ao extremo de afirmar que o vosso cérebro, o vosso pensamento que é finito, possa compreender o infinito?”

Esta objeção a qual Faure intenta responder sequer existe. Ele não entende que o nosso intelecto tem, em potência, uma capacidade infinita porque Deus criou assim para O conhecermos. No entanto, essa infinitude nunca fica em ato. Não basta termos tal capacidade, também é necessário que sejamos honestos em compreender que não podemos conhecer perfeitamente a Deus nesta vida, somente na outra com o intelecto deificado pelo próprio Deus para a visão beatífica. No entanto, podemos conhecer algo de Deus nesta vida usando somente a razão natural.

Com respeito à segunda objeção, Faure tenta responder a um silogismo que conclui que Deus é a causa do universo. Ele responde:

“Se é evidente que não há efeito sem causa, é também rigorosamente exato que não há causa sem efeito. Não há, não pode haver, causa sem efeito. Que diz causa, diz efeito. A ideia de causa implica necessariamente e chama a ideia de efeito. Porque uma causa sem efeito seria uma causa do nada, o que seria tão absurdo quanto o efeito do nada. Que fique, pois, bem entendido: não há causa sem efeito.
“Vós, deístas, afirmais, enfim, que o Deus-Causa é eterno. Desta afirmação concluo que o Universo-Efeito é igualmente eterno, visto que a uma causa eterna, corresponde, indubitavelmente, a um efeito eterno. Se pudesse ser de outro modo, quer dizer, se o Universo tivesse começado, durante os milhares e milhares de séculos que, talvez, precederam a criação do Universo, Deus teria sido uma causa sem efeito, o que é impossível; uma causa de nada, o que seria absurdo.”

Faure, na sua pobre metafísica, não entende que não se pode ter dois eternos. A eternidade é exclusivamente pertencente a Deus. Mesmo a eternidade do Céu e do inferno são eternidades participadas, i.e., não são eternos por si mesmos, mas enquanto esta mesma eternidade é participada em Deus. Deus poderia ter criado um mundo coeterno a Ele, mas preferiu criar um mundo temporal, com movimentos.

Faure, ademais, mostra a sua ignorância filosófica ao dizer que “uma causa eterna, corresponde, indubitavelmente, a um efeito eterno”. O efeito é necessariamente inferior à causa. Um pintor como Rembrandt poderia, se quiser, pintar um quadro de um homem feito com pauzinhos significando os membros e um círculo significando a cabeça. Fazendo isso, ninguém seria tolo de dizer que é um pintor inepto, pois conhecemos seu talento por suas outras obras. Deus criando um universo não eterno não demonstra um poder limitado. Muito pelo contrário, Deus poderia criar apenas uma única partícula subatômica, e isso seria mais do que suficiente para provar sua onipotência. Mas Deus quis fazer muito mais do que isso.

7º argumento: O governador nega o criador

Escreve Faure:

“Se o Universo criado por Deus tivesse sido uma obra perfeita; se, no seu conjunto, como nos seus pormenores, esta obra não apresentasse nenhum defeito; se o mecanismo desta criação gigantesca fosse irrepreensível; se a sua perfeição fosse de modo que a ninguém despertasse a menor suspeita de qualquer desarranjo ou de qualquer avaria; se, enfim, a obra fosse digna deste operário genial, deste artista incomparável, desse construtor fantástico a que chamam Deus, a necessidade de um governador nunca se teria sentido.
“É que é lógico supor que, uma vez a formidável máquina fosse posta em movimento, nada mais haveria a fazer do que abandoná-la a si própria, visto que os acidentes seriam impossíveis. Não seria preciso este engenheiro, este mecânico, para vigiar a máquina, para a dirigir, para a reparar, para a afinar, enfim. Não, este engenheiro seria inútil, este mecânico não teria razão de ser.”

Como vemos, novamente Faure, em sua vacuidade intelectual, ignora a liberdade de Deus. Deus governa a criação por seu amor para que tudo se guie a Ele. O governo de Deus sobre a criação aperfeiçoa ainda mais a criação. Novamente, com a sua péssima e rasa metafísica, ignora Faure que tudo o que foi criado, foi criado para um fim que necessariamente é um bem. No caso, tal fim é o Sumo Bem que é a Deus mesmo.

Na resposta ao sexto argumento, vimos que por amor, Deus quis comunicar Seu bem às criaturas. Aqui, dizemos que comunicando o Seu bem, todas as coisas se ordenam a Ele por amor. Natural que Deus também governe as coisas. Principalmente por conta dos entes dotados de livre-arbítrio, para que estes possam merecer alcançar o fim para qual Deus os criou.

A negação do governo divino por parte de Faure se baseia em uma visão superficial da perfeição, da liberdade e do amor de Deus. A metafísica tomista, a única verdadeira, por outro lado, demonstra que o governo divino é uma realidade necessária e fundada na infinita sabedoria, amor e providência do Criador (cf. S.Th. I, q. 22, aa. 1 e 2).

8º argumento: A multiplicidade dos deuses prova que não existe nenhum deles

Não tenho muito o que comentar. É a mais pura tolice que se refuta com o simples fato de que Deus só pode ser um porque se tivesse mais de um, um precisaria se distinguir doutro a partir de um defeito. Deus, no entanto, compreende em si toda perfeição do Ser, impossibilitando a existência de mais de um Deus (cf. S.Th. I, q. 11, a. 3).

9º argumento: Deus não é infinitamente bom: é o inferno que o prova

Outra tolice de Faure. O inferno existe para punir justamente os que odiaram a Deus até o fim da vida. Estes escolheram o destino eterno. A punição eterna dos réprobos é totalmente justa porque Deus não é obrigado a acolher em Sua quem sempre o rejeitou. Se Deus salvasse a todos, estaria premiando a iniquidade. Assim, a justiça divina harmoniza com a Sua misericórdia: a primeira dá a devida punição e a segunda premia imerecidamente os seus eleitos com um prêmio que supera nossos méritos.

10º argumento: O problema do mal

Isso já foi devidamente respondido ao longo do texto. O mal existe por permissividade de Deus em prol dos seus eleitos e por conta do mau uso do livre arbítrio dos entes inteligentes (dos homens e demônios). Deus tem toda a liberdade para permitir o mal sem que isso tolha a sua infinita perfeição.

Aqui refuta-se a série dos argumentos contra o Deus-Governador.

11º argumento: Irresponsável, o homem não pode ser castigado nem recompensado

Uma tolice ainda maior que do nono argumento. Deus nos criou com livre-arbítrio. Se temos livre-arbítrio, podemos sim ser punidos (e devemos) ou ser premiados.

12º argumento: Deus viola as regras fundamentais de equidade

Sinceramente, fico aqui refletindo se Faure escreveu este argumento com honestidade ou se estudou realmente teologia enquanto foi noviço jesuíta.

A equidade divina não se baseia em critérios humanos, mas sim em sua infinita sabedoria e justiça. Deus, com efeito, está infinitamente acima dos homens. Se Deus premia os bons com o Céu e pune os maus com o inferno, não é segundo o julgamento humano. Entre os homens, um infiel pode até viver impune segundo a lei civil desde que não cometa crimes. Mas este infiel ofende gravemente a Deus, merecendo o inferno.

Deus não desconhece as regras básicas da equidade, senão que Faure que desconhece o básico de teologia crendo que Deus deve se submeter regras humanas.

CONCLUSÃO

Aqui encerra-se as refutações. Depois, Faure acusa as religiões de toda sorte de crimes. Bem, as outras religiões podem até ter sido instrumentos de inúmeros horrendos crimes, não a católica, ainda que falsos católicos tenham tais intenções. Faure, como apoiador da Facção Republicana, não ignorou as atrocidades praticadas por esta facção contra os católicos na Espanha, não ignorou os crimes dos revolucionários na França e tampouco dos comunistas. Faure defendia liberdade para todos, menos para os religiosos, principalmente os católicos.

A biografia de Faure nos mostra um ímpio que via na Religião, um obstáculo para os seus caprichos doentios, como a de obter prazeres venéreos com menininhas. É este homem nojento, asqueroso, em que muitos ateus sustentam a sua convicção.

O leitor ateu que se deparar com esse artigo deverá reconhecer aqui não apenas as limitações patentes dos argumentos de Faure; mas também a sua impiedade e a sua desonestidade.

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