“JESUS CRISTO NÃO É DE NENHUMA DENOMINAÇÃO!”

Luciano Takaki
2019

Estava em uma festa com meu irmão e lá estava uns amigos dele. Um desses amigos me abordou. Ele soube, provavelmente por meu irmão, que estudo filosofia e teologia e tergiversou comigo falando dos seus estudos particulares e das conversas que teve com membros de grupos de estudos. Falou de muitos que, segundo ele, são apegados a “denominações cristãs”, dentre as quais ele inclui a própria Igreja Católica. Não tivemos tempo de nos aprofundarmos na conversa. Indiquei o presente site a ele e tenho alguma esperança de que ele leia esse presente texto. Mas vou concordar com ele numa coisa: de fato, o cristão não deve apegar a nenhuma “denominação ‘cristã’”. Com a grave ressalva de que a Santa Madre Una Igreja Católica Apostólica Romana não é uma denominação, logo, o Corpo Místico de Nosso Senhor Jesus Cristo rejeita todas as ditas denominações “cristãs”. Como a pessoa é protestante, não adiantaria muito citar comentadores autorizados, mas me firmarei neles em geral pois expondo aqui de forma genérica a letra, é facílimo demonstrar que a Sagrada Escritura está a nosso favor. Não recomendo a nenhum católico que faça um livre exame, aqui exporei apenas como é fácil demonstrar que a própria letra está a favor da Doutrina Católica.

Primeiro, entendamos o seguinte mistério: Jesus Cristo, o Nosso Senhor e Rei, é a Cabeça da Igreja. Lembremo-nos do que escreveu o Apóstolo: «Pois, como em um só corpo temos muitos membros e cada um dos nossos membros tem diferente função, assim nós, embora sejamos muitos, formamos um só corpo em Cristo, e cada um de nós é membro um do outro» (Rm XII, 4-5). E depois: «O que falta às tribulações de Cristo, completo na minha carne, por seu corpo que é a Igreja» (Cl I, 24). Somos incorporados à Igreja, diz a Epístola aos Hebreus (III, 14). Quando o Apóstolo não era convertido, ele perseguiu os cristãos e ouviu do próprio Cristo: «Saulo, Saulo, por que me persegues?» (At IX, 4). A quem o então Saulo, que mais tarde se chamaria Paulo, perseguia? Os cristãos. Mas por que Cristo disse “me persegues”? Para Saulo, Jesus estava morto e foi sepultado, mas cria que o seu corpo tinha sido roubado pelos discípulos como está escrito no Evangelho (Mt XXVIII, 15).

Aqui temos uma noção de que a Igreja é o corpo místico do Nosso Senhor Jesus Cristo, e que a sua Doutrina é a Rocha. Cristo conclui Sermão da Montanha com as seguintes palavras: «Aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as põe em prática é semelhante a um homem prudente, que edificou sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, vieram as enchentes, sopraram os ventos e investiram contra aquela casa; ela, porém, não caiu, porque estava edificada na rocha» (Mt VII, 24-25). Isso significa que quem busca por em prática as palavras de Cristo (a Doutrina) é como o homem prudente, que é próprio Cristo, que edificou a sua casa sobre a rocha, que é a Igreja. Pois foi sobre a rocha que Cristo edificou a sua Igreja (XVI, 18). Pedro o proclamou Filho de Deus vivo (v. 16) e Cristo anunciou que sobre essa rocha edificaria a Igreja.

Aqui temos um sinal claro de que a Igreja foi edificada na profissão de fé de Pedro. No original lê-se: «σὺ εἶ Πέτρος, καὶ ἐπὶ ταύτῃ τῇ πέτρᾳ οἰκοδομήσω μου τὴν ἐκκλησίαν [sy ei Petros, kai epi tautē tē petra oikodomēsō mou tēn ekklēsian]» (Mt XVI, 18). Isto é: «tu és Pedro, e sobre esta pedra (ou rocha) edificarei a minha Igreja». Creio que uma interpretação sincera desta passagem pelo original grego percebemos que há um evidente trocadilho com o novo nome de Simão. E Cristo que mudou com essa intenção, pois Ele disse a Pedro “eu te declaro”. Assim como disse em outra ocasião quando disse que o chamaria Cefas: «σὺ κληθήσῃ Κηφᾶς [sy klēthēsē Kēphas]». Isto é: «serás chamado Cefas» (Jo I, 42). Cefas em siríaco significa pedra, como observou o evangelista no mesmo parágrafo.

A Igreja foi edificada aqui na terra sobre uma rocha vicária por necessidade humana, não em si mesma porque devemos imitar Aquele que a edificou. E essa rocha vicária como podemos ler claramente aqui foi tanto a profissão de fé de Pedro como o próprio Pedro. E podemos dizer que é o próprio Pedro assim como analogamente a Doutrina que Cristo ensinou é a Rocha assim como o próprio Cristo também é a Rocha. Assim, eis que o Rei dos Reis, o Senhor dos Senhores, fundou a sua Igreja enquanto uma instituição com poder jurídico aqui na terra e com um chefe geral. E Pedro não foi o primeiro entre iguais e nem é qualquer um que pode ter tal poder. Novamente recorramos ao original grego: «δώσω σοι τὰς κλεῖδας τῆς βασιλείας τῶν οὐρανῶν [Dōsō soi tas kleidas tēs basileias tōn ouranōn]» (Mt XVI, 19). Aqui diz “eu te darei”, e Cristo disse isso no singular. Apenas Pedro receberia esse poder. Logo, a Igreja de Cristo tinha desde o início um chefe geral para o homens que carregava as chaves do Reino dos Céus, que era Pedro e essa mesma Igreja deve ter um chefe geral que seja sucessor de Pedro. Sendo a Igreja uma instituição, precisa de um chefe. Alguns dirão que é Cristo, mas Cristo nunca quis atuar sozinho. Sempre quis que os membros intercedam um pelo outro. Um bom exemplo disso é o caso do paralítico curado por Ele (IX, 1-9), pois o homem não tinha capacidade de ir até Cristo com suas próprias forças, mas foi levado até Ele por intercessores. Cristo vendo a sua miséria, antes de curar o corpo, achou por bem curar a sua alma.

Assim, Cristo sendo o mediador entre Deus e os homens (1Tm II, 5) quis se o seu corpo místico, a Igreja, funcionasse como um organismo vivo do qual os membros intercedam entre si. Uma coisa é mediar e outra é interceder. Todavia, a Igreja não é apenas o corpo místico, mas também a instituição que Deus fundou cujo fim é a santificação dos seus membros. Com efeito, a Igreja não pode ter membros atuando de forma anárquica. Se Cristo quis que os membros intercedessem entre si, também quer que uns membros liderem outros membros a começar pelos apóstolos que ouviram do próprio Cristo: «Quem vos ouve, a mim ouve; e quem vos rejeita, a mim rejeita; e quem me rejeita, rejeita aquele que me enviou» (Lc X, 16). Repare bem que apenas essa passagem refuta a herética doutrina da sola Scriptura porque Cristo disse “quem vos ouve”, não “quem vos ler”. Por isso lemos: «Logo, a fé provém da pregação» (Rm X, 17), que também podemos dizer que entra pelos ouvidos, vem “do ouvir”. «ἄρα ἡ πίστις ἐξ ἀκοῆς [Ara hē pistis ex akoēs]», “akoēs” é “ouvir”. A fé (pistis) vem do (ex) ouvir (akoēs). Não necessariamente da leitura. Muitos se converteram pela leitura, claro, mas não é exclusivamente disso. Mas no caso das fontes da revelação do que Nosso Senhor ensinou, podemos listar duas: a Sagrada Escritura e a Tradição. Com efeito, a principal é a Escritura, mas cronologicamente a Tradição veio primeiro, pois os primeiros cristãos não tinham ainda a Escritura completa, visto que nenhum livro do Novo Testamento foi escrito durante toda a primeira metade do primeiro século e somente no início do século III foram definidos todos os livros canônicos e rejeitando assim os apócrifos. Como as verdades reveladas foram transmitidas? Pelo Magistério, cujo ensinamento chegará aos fiéis principalmente pela prefação. E o fato destas verdades terem sido pregadas pelos padres da Igreja praticamente sem sofrer corrupções e com tão poucos erros mostra o milagre moral que é a Doutrina da Igreja e a infalibilidade da Igreja e do Pastor Supremo, os Romanos Pontífices.

Pois bem, até aqui vemos a Igreja que nasceu de Cristo constituiu o seu chefe, que é Pedro. Mas há outras passagens que confirmem a Igreja como essa instituição chefiada pelos sucessores de Pedro? Podemos ver diversas passagens:

Primeiro: Até antes da narração do Atos do Apóstolos em que Paulo ganha maior protagonismo, vemos que Pedro liderou sempre todos os apóstolos. Após o Pentecostes, diz a Escritura que Pedro pôs-se de pé em companhia dos Onze (At II, 14). Por que justamente aquele a quem Cristo deu as chaves foi destacado dos outros e ainda o primeiro pregar?

Segundo: Pedro excomunga Simão Mago dizendo que ele não teria mais parte do ministério (At VIII, 20-23).

Terceiro: Foi Pedro quem desmascarou Ananias e Safira (At V, 1-10).

Quarto: Pedro claramente liderou o Concílio de Jerusalém quando disse: «Irmãos, vós sabeis que já há muito tempo Deus me escolheu dentre vós, para que da minha boca os pagãos ouvissem a palavra do Evangelho e cressem» (At XV, 7).

Quinto: Cristo encarregou Pedro de confirmar na fé os seus irmãos dizendo: «Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para vos peneirar como o trigo; mas eu roguei por ti, para que a tua confiança não desfaleça; e tu, por tua vez, confirma os teus irmãos» (Lc 22, 31-32).

Sexto: o Apóstolo João correu com Pedro até o sepulcro e sendo o primeiro mais jovem chegou antes, mas não entrou. Esperou que Pedro chegasse e este entrasse mostrando aqui um claro respeito hierárquico (Jo XX, 3-6).

Sétimo: Cristo confirmou Pedro três vezes como aquele que apascentaria as ovelhas e os cordeiros (Jo XXI, 15-17).

Oitavo: Cristo subiu na barca de Pedro para ensinar o povo. Aqui lê-se que é na barca de Pedro em que se encontra a Doutrina de Cristo (Lc V, 1-3).

Acredito que aqui basta para confirmar que a verdadeira Igreja tem o sucessor de Pedro como chefe. Mas ainda falta responder à busca pelo “cristocentrismo”. Como dito, Cristo escolheu atuar mediante membros e o uso por parte destes membros as matérias dessa atuação. Muitos protestantes usam como argumento que devemos ter uma devoção “cristocêntrica” e assim devemos evitar a procura por sacerdotes e, principalmente, a devoção aos santos, que, segundo eles, atrapalham a devoção a Cristo.

Todavia, isso é falso, pois primeiro porque Cristo mesmo instituiu o sacerdócio. Em quase todos os casos houve comunidades cristãs com um sacerdote que ministre os sacramentos. Inclusive para perdoar os pecados, pois Cristo disse aos apóstolos: «Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos» (Jo XX, 23). Assim, o que os sacerdotes exercem na Igreja é o papel que Cristo exerceu aqui na terra, não apenas para ensinar e curar as almas, mas principalmente para santificá-las. Estes mesmos sacerdotes devem conduzir as almas a Cristo. Porém, é necessário também além de ensinar o amor ao próximo, também é necessário ensinar que podemos alcançar o nível de perfeição que Cristo exigiu de nós, não apenas pelas palavras que foram ditas por Ele, mas pelos exemplos práticos de diversas pessoas veneráveis a quem chamamos santos, pessoas que mostraram um evidente exemplo de renúncia de si e amor a Cristo. Seja por uma vida extremamente austera e de resignação por amor a Cristo ou no martírio por não renunciar a fé. Tais pessoas merecem a nossa veneração e por ter diversos tipos de santos, merecem ser cada um um tipo de modelo para imitação. Todos os santos imitaram a Cristo, mas cada um imitou ao seu modo. Imitando os santos, imitamos a Cristo como disse o Apóstolo: «Tornai-vos os meus imitadores, como eu o sou de Cristo» (1Co XI, 1).

E quem foi a pessoa que melhor imitou Cristo? Alguém que obedeceu com mais perfeição as suas palavras, alguém que o ouviu mais do que qualquer pessoa, que conviveu com Ele mais do que qualquer um. Pois bem, Cristo foi concebido miraculosamente sem nenhuma ajuda humana, mas quis ser gerado de forma humana com carne humana. Podemos dizer que ninguém o imitou melhor e pôs as suas palavras em prática melhor que Maria, a mãe de Deus. Com muita justiça a chamamos de corredentora, pois foi ela quem deu à luz o Redentor; com muita justiça a chamamos medianeira de todas as graças porque foi ela quem gerou a fonte de todas as graças encarnada. Os membros da Igreja têm o dever de venerá-la porque diz a Sagrada Escritura: «me proclamarão bem-aventurada todas as gerações» (Lc I, 48). São as palavras dela, obedecidas por membros da Igreja. Não é idolatria, mas o reconhecimento da importância do papel que desempenhou aquela que é bendita entre as mulheres, a mãe do nosso Senhor e que creu (Lc I, 42-43. 45).

Uma última coisa é vermos que frutos deu a Igreja de Cristo, pois uma árvore boa não pode dar maus frutos, assim uma árvore divina dará frutos divinos. Sendo Cristo a videira e os membros os ramos como disse Ele: «Eu sou a videira; vós, os ramos. Quem permanecer em mim e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer» (Jo XV, 5). O que vemos é uma história de santos com uma vida heróica, santos que cuidavam de leprosos, dava de comer aos pobres, que por amor a Cristo foi morar no deserto, que orava por horas rogando por nós, que estudou por honra a Deus constituindo obras colossais e, principalmente, que derramaram o seu sangue para não renunciar o seu Salvador. A Virgem Maria não precisou ser mártir, pois o sangue de Cristo era o seu sangue, a sua carne era sua carne e por todo o seu sofrimento ao longo de sua vida deu a ela mérito suficiente para ser poupada de uma morte violenta. Porém, vemos que todos aqueles que se entregaram por amor à Igreja também se entregaram por amor a Cristo.

De fato, Cristo não é de denominações. Para seguir a Cristo devemos seguir a sua Doutrina, cuja matéria é o seu depósito da fé. A Doutrina que Cristo ensinou é a Doutrina que a Igreja ensina. Esta Igreja é a chefiada pelo sucessor de Pedro. A Igreja é aquela que institucionalmente sobreviveu por dois mil anos. É aquela na qual as portas do inferno nunca prevaleceram e jamais prevalecerão pois a Igreja, assistida pelo Espírito Santo, jamais ensinou ou ensinará o erro. Por dois mil anos a sua Doutrina sempre se manteve absolutamente incólume. Ao longo da história a Igreja ganhou acréscimos no seu nome: Católica, por sua universalidade; Apostólica, por seu caráter militante e ser de sucessão vinda dos apóstolos; Romana, porque sua sede é em Roma, onde morreram o seu primeiro chefe, Pedro, e o Apóstolo dos Gentios, Paulo.

Preciso dizer, da minha parte, que não cogitei ser protestante quando abandonei o ateísmo, apesar de ter conhecido muitos protestantes antes de me tornar católico, cheguei a ser tentado, mas essa tentação não durou nada. Fui movido todavia pela fé católica informe presente em mim. A fé informe oriunda do batismo. Fui convertido primeiro pela fé. Depois, as argumentações serviram para confirmá-la. Aqui dei uma minúscula parcela. Uma só bastaria, mas convém expor uma multidão delas, e essa multidão é absolutamente inesgotável.

5 comentários em ““JESUS CRISTO NÃO É DE NENHUMA DENOMINAÇÃO!”

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  1. Este argumento geralmente é usado por protestantes. Jesus fundou não só uma Igreja mas também uma religião que é o Cristianismo nesse sentido a Igreja teria que ter uma denominação que seria identificada como a denominação que segue o que Cristo ensinou. A ideia católica romana de uma Igreja una é totalmente correta. Em Apocalipse 21:14 diz que o nome dos apóstolos aparecem escritos, os nomes na bíblia são importantes e tem um significado então a Igreja deveria deve ter um nome também.

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    1. Isso eu não nego. Esse meu artigo é bem antigo e apenas republiquei. Tinha escrito com a esperança de que o amigo do meu irmão leia na época. Parece que não adiantou muito, mas creio que ainda tenha a sua utilidade.

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      1. Entendi, mas veja quando você publicou o artigo de uma certa forma você digamos assim universalizou i.e tornou católico o artigo esclarecendo a outra pessoas.

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  2. Geralmente também os protestantes argumentam que o fato de uma Igreja se achar a única certa isso seria característica de um seita, pelo menos eu entendi assim,mas esse raciocínio protestante é um absurdo cristianicamente falando. Quando a Igreja Católica Apostólica Romana se declara como a única verdadeira isso está totalmente correto com o raciocínio de Cristo. Seguindo este raciocínio somente católicos romanos poderiam se salvar.

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