SE ANIMAIS BRUTOS VÃO PARA O CÉU

CRÍTICA A UM ARTIGO DOS IRMÃOS PEDRO E MIGUEL DIMOND

Luciano Takaki
2024

INTRODUÇÃO 

Recebi um artigo dos irmãos Pedro e Miguel Dimond, sobre a possibilidade dos animais brutos ir para o Céu (cf. “Os animais [brutos] vão para o Céu?”). O artigo dá a seguinte observação:

“O artigo que se segue é a nossa opinião pessoal sobre este tema. Se, no futuro, houver alguma decisão do Magistério sobre esta questão, ou alguma do passado que nos tenha passado despercebida, sujeitamo-nos a ela.” (Com correção minha)

Repito também essas palavras. No entanto, aqui exporei as graves razões para rechaçar a crença que julgo perigosa de que os animais brutos vão para o Céu. Aqui usarei argumentações baseadas na teologia e na metafísica

O que exporei não é mera opinião pessoal minha. Estou convicto de que o que será exposto é muito provavelmente certo. A razão disso é de que tanto a bem-aventurança quanto a condenação devem depender essencialmente da imortalidade da alma.

Cabe antes uma explicação: animal bruto é qualquer animal que não é homem, que é animal racional.

BREVE SÍNTESE DOS ARGUMENTOS DOS DIMOND

Os argumentos dos Dimond se baseiam em passagens bíblicas. Especialmente no Apocalipse e passagens do Gênesis. Para eles, é suficiente as passagens em animais brutos foram vistos no Céu (cf. Apocalipse XIX), a aliança de Deus após o dilúvio também se estende aos animais brutos, que também foram salvos do dilúvio (cf. Gênesis VII e IX). Também a descrição do novo céu (Jerusalém Celeste) mostra a presença de animais brutos (cf. Isaías LXV).

Também há nos argumentos dos Dimond inúmeros relatos de santos que ressuscitaram animais, que participaram de suas vidas de modo significativo e que até ouviram sermões e veneraram ao Nosso Senhor Jesus Cristo. 

Ainda, depois, há relatos atuais, no sentido de que não são mais necessariamente relatos de santos, mas de atualidades. Inclusive particulares deles. No entanto, temos problemas. E um desses problemas afeta até mesmo uma doutrina que eles defendem como um dogma.

A IMORTALIDADE DA ALMA HUMANA E A CORRUPTIBILIDADE DA ALMA DOS ANIMAIS BRUTOS

A imortalidade humana é atestada racionalmente por meio do raciocínio quia, tal como a existência mesma dela. Como mostro numa nota minha (cf. “ESBOÇO SOBRE A ALMA HUMANA”), a alma humana possui diversas potências, que são próprias de cada uma de suas partes potenciais (vegetativa, sensível e intelectiva).

Santo Tomás de Aquino ensina que por conta da parte intelectiva, a alma humana é necessariamente imortal. Ele reforça a própria argumentação de Aristóteles, Santo Tomás ensina:

“Ora, evidentemente é este o caso, a saber: que o princípio pelo qual o homem intelige é uma forma que possui em si o ser, e não somente aquilo pelo qual algo existe. Pois o inteligir, como o prova o Filósofo no livro III de Sobre a Alma, [De Anima, lib. III, 429 b 4] não é um ato realizado por órgão corporal. Não se poderia encontrar nenhum órgão corporal que fosse receptivo a todas as naturezas sensíveis; principalmente porque o recipiente deve estar despojado do recebido, assim como a pupila carece de cor. Ora, todo órgão corporal possui alguma natureza sensível; no entanto, o intelecto, pelo qual nós inteligimos, é cognoscitivo de todas as naturezas sensíveis. Logo, é impossível que sua operação, que é o inteligir, seja exercida por algum órgão corporal. Donde transparece que o intelecto possui operação per se, na qual não se comunica com o corpo.”   (Questões Disputadas sobre a Alma, q. XIV)

Todas as outras potências da alma humana, fora o intelecto e a vontade, são em comum com animais e vegetais. Há de se deduzir que essas outras potências, por terem uma dependência intrínseca com a matéria (a visão depende da cor e a nutrição depende da matéria nutriente), não podem subsistir após a morte. O intelecto, no entanto, não depende da matéria. Assim, se não depende da matéria, pois o objeto da potência intelectiva é o ente e a verdade, a alma humana deve subsistir independentemente do corpo.

Os animais brutos, ao contrário, não possuem nenhuma potência em suas respectivas almas que independam da matéria. Se é assim, a alma dos animais brutos necessariamente morrem a partir do momento da corrupção do corpo, pois quando o corpo se corrompe, ele fica incapaz de manter a alma. Assim, quando há a morte do homem, há uma separação da alma do corpo. Quando há a morte do animal bruto, há uma morte simpliciter, porque a alma morre junto com o corpo.

O HOMEM, A GRAÇA E O FIM ÚLTIMO

A Graça é um auxílio divino que o justificado recebe gratuitamente de Deus. Assim, o homem participa de algum modo da natureza divina e isso o faz merecer a beatitude eterna. Sem a Graça, é absolutamente impossível o homem merecer a beatitude, que é o seu fim último (secundum quid, não simpliciter porque o fim último simpliciter é Deus mesmo). Cabe lembrar que tudo na Criação está ordenado a um mesmo fim último, mas de formas diferentes.

Aqui convém fazer algumas precisões. O homem não merece a salvação em sentido estrito, pois o bem nesse caso excede infinitamente a sua natureza. Somente com a Graça o homem pode merecer a salvação, não por mérito próprio, mas porque os méritos infinitos de Nosso Senhor Jesus Cristo foram aplicados a ele.

No entanto, a Graça exige uma natureza adequada e disposta para recebê-la porque, com efeito, os efeitos da Graça se dá no intelecto e na vontade, o que exige uma natureza intelectual. Assim, apenas duas espécies possuem uma natureza com disposição para receber a Graça: homens e anjos.

A Graça exige uma natureza tal porque são necessárias as virtudes teologais para sustentá-la: fé, esperança e caridade. Tais virtudes só podem ser alcançadas com a cooperação do intelecto: pela fé conhecemos e cremos na Revelação; pela esperança esperamos e desejamos, com a moção sobrenatural da vontade, o que nos é prometido infalivelmente pela Revelação; pela caridade, amamos a Deus sobre todas as coisas e ao próximo por causa de Deus.

Assim, fica claro que apenas criaturas intelectuais (homens e anjos) podem, com auxílio divino, merecer o Céu, pois somente eles possuem uma semelhança tal com Deus que subsistem após a morte e participam essencialmente da ordem ao bem da criação. Afinal, somente tais criaturas são incorruptíveis por conta do intelecto e continuam a subsistir participando da ordem como partes principais. Os animais brutos, pelo contrário, participam apenas secundariamente (per accidens) de tal ordem, com potências apenas para a conservação de suas respectivas espécies (cf. S.Th. I, q. 23, a. 1).

Esclarecendo assim, os animais não poderão subsistir nem após a morte e nem mesmo após a ressurreição dos homens, razão por que a renovação da criação será em vista do homem e para o homem glorificado (cf. S.Th. Supp., q. 91, a. 5).

A REFUTAÇÃO AO ARTIGO DOS IRMÃOS DIMOND

O primeiro argumento é de viu-se exércitos montados em cavalos brancos. A única citação usada para confirmar que tais animais “foram para o Céu” é uma de Santo Ireneu (Adversus haereses, lib. IV, 20, 11). No entanto, nada diz no lugar que os animais brutos irão ao Céu. A tradução usada no site diz:

“Assim, o Verbo de Deus sempre preserva os esboços, por assim dizer, das coisas vindouras, e aponta para os homens as várias formas (espécies), por assim dizer, das dispensações do Pai, ensinando-nos as coisas pertencentes a Deus” (Grifos no original).

A tradução da Paulus que encontramos, que não tem nenhuma intenção de defender o ponto de vista de Santo Tomás, diz o seguinte:

“Assim, desde sempre, o Verbo de Deus mostrava aos homens as imagens do que haveria de fazer e as figuras das economias do Pai, instruindo-nos nas coisas de Deus.”

Se analisarmos bem, nenhuma tradução favorece o ponto de vista dos Dimond. Afinal, Deus pode muito bem fazer cavalos nesse momento tal como os anjos fazem corpos para si, considerando que anjos são por sua natureza incorpóreos, mas apareceram como homens.

Depois, vemos milagres de santos ressuscitando animais (São Francisco de Paula e Beato Martinho de Porres). No entanto, como animais brutos possuem alma material, o milagre da ressurreição de um animal bruto não é maior que o milagre da ressurreição de um homem, pois alma deste é espiritual.

Outros milagres relatados não possuem nenhuma relação com a intenção do artigo. Animais obedecendo santos servem apenas para mostrar a sua união com Deus a tal ponto que podem mandar nos animais brutos tal como Cristo deu ordem à tempestade (cf. Marcos IV, 35-41).

Sobre a jumenta de Balaão (cf.  Números XXII, 21-35), também é sem valor para a argumentação pois foi Deus que falou pela boca da jumenta, que foi mero instrumento.

Depois, os relatos de particulares, incluso deles próprios, são igualmente sem valor.

Pior é quando pretendem refutar a Santo Tomás, pois a autoridade de Santo Tomás foi um fator decisivo para que a opinião de que os animais não vão ao Céu. Que Santo Tomás errou na informação da alma humana, concordamos, mas com respeito aos animais brutos, é absolutamente certo: a alma dos animais brutos são corruptíveis sim pelas razões já expostas.

Mas o pior vem depois.

O MISTERIOSO “ALGO MAIS” NOS ANIMAIS SEGUNDO OS DIMOND

Escreve o autor:

“Embora definitivamente não estejamos a afirmar que os animais possuem almas racionais ou intelectivas — estas são possuídas somente pelos seres humanos, que são exclusivamente criados à imagem de Deus — não concordamos com a afirmação de que estes não podem existir após a morte ou que o princípio da vida (ou alma) dos animais não passa de uma força de vida sensível e instintiva. Acreditamos que existe algo mais, pelo menos nalguns animais.

“Qualquer um que tenha estado em torno de certos animais sabe que alguns animais demonstram individualidade, capacidade de aprender e raciocinar, e até mesmo personalidades. Dois animais da mesma espécie terão diferentes propósitos e interesses. O seu modo de operação não é completamente instintivo ou baseado exclusivamente na resposta e reacção sensorial. Por exemplo, alguns gatos são muito curiosos, enquanto outros não o são. Alguns cães gostam de uma determinada actividade, enquanto outros não.” (Negrito e sublinhado no original e itálico meu).

Isso é totalmente espantoso. Disso para cair no darwinismo não parece muito longe. Para validar essa opinião que beira o ridículo, se valem da autoridade de outro Padre da Igreja (como já usaram Santo Ireneu), São Gregório Nanzianzeno, que teria dito:

“Devo contar-vos as diferenças dos outros animais, tanto de nós como dos outros — diferenças de natureza, e de produção, e de região, e de temperamento e, assim como da vida social? Como é que alguns são sociáveis e outros solitários, alguns herbívoros e outros carnívoros, alguns ferozes e outros domesticados, alguns apaixonados pelo homem e domesticados, outros indomáveis e livres? E alguns podemos dizer que beiram a razão e o poder de aprender, enquanto outros são completamente destituídos de razão… alguns fortes, outros fracos, alguns aptos em autodefesa, outros tímidos e astutos… alguns afeiçoados a um ponto, alguns anfíbios; alguns agradam por beleza e outros destituídos de adornos… Não é isso a prova mais clara da obra majestosa de Deus?”        (Segunda Oração Teológica, or. 28, nnº 23-26. Negritos no original do artigo)

Com todo respeito aos Dimond, parece que estou lendo um artigo de modernista e não de católico tradicional, como eles mesmo se referem. Apesar de possuírem boa bagagem literária, não adquiriram essa bagagem de forma ordenada, pois se fizessem assim, estudando primeiro a filosofia escolástica para depois se aventurar nessas literaturas, não diriam tamanha bobagem.

Os escritos de São Gregório Nanzianzeno são sim veneráveis, mas, por mais que ele mesmo seja um Doutor da Igreja, nem de longe alcançou as luzes de Santo Tomás. Por isso padece de muitas imprecisões terminológicas, como é muito comum nos autores patrísticos. Mas tal coisa é muito fácil de se explicar.

De fato, animais brutos comportam graus de perfeição muito variáveis, muito mais que as plantas e outros vegetais. A variações específicas são unívocas e as de perfeições são análogas (cf. “A PROVA MAIS PERFEITA DO SER DE DEUS”). Mas vejamos as variações específicas. No começo do seu Comentário à Metafísica de Aristóteles, Santo Tomás observa essas variações. Há animais que só possuem o tato (como certos mariscos), outros que não veem e nem ouvem, mas possuem paladar e olfato, os ainda que veem mas não ouvem e os perfeitos, que possuem todos os sentidos. Dentre os animais perfeitos, há os que são domesticáveis e os que não são.

Os animais domesticáveis possuem também os mesmos sentidos internos do homem, com exceção da cogitativa, que nos animais brutos chamamos de estimativa (os outros são sentido comum, memória e imaginação). Os animais com capacidade de aprender são os que possuem a estimativa mais desenvolvida. Pela estimativa, os animais fogem do perigo e evitam os outros e também conhecem o que pode comer e qual indivíduo não representa um perigo. Como a alma dos animais é material, eles nunca vão além do conhecimento dos particulares. Os cães entendem que o dono é de sua espécie e não um homem. Eles não são capazes de raciocínio, como dito pelo autor, pois o raciocínio implica necessariamente a elaboração de silogismos para alcançar uma conclusão. Nem sequer são capazes de apreender uma quididade sequer. Apenas são capazes de alcançar o precisam por meios instintivos. O fato de um animal resolver até mesmo quebra-cabeças ou fazer instrumentos para conseguir o que precisam, não prova de forma alguma que há algo mais, mas apenas que a sua estimativa é bem desenvolvida porque não fazem isso mais do que para preservar a sua espécie e não buscar um fim último sobrenatural.

A ALIANÇA COM ANIMAIS E A SUA PRESENÇA NA JERUSALÉM CELESTE

Os Dimond depois cita que Deus fez aliança com animais após o dilúvio (cf. Gênesis IX, 11-17). Isso é confirmado pelo comentador Pe. Haydock, muito utilizado por eles. Essa aliança é citada pelo profeta Oseias (II, 18) e implicitamente em Jó (XII, 10).

Ainda eles dão a entender deve a existência de animais brutos na Jerusalém Celeste deve explicar a opinião deles. Os Dimond entendem que antes do pecado original, os animais não se matavam entre si também, o que julgo errôneo, razão por que a forma de um leão, por isso é claramente de um animal caçador. Todo o seu corpo mostra isso. Para que servem a sua estrutura óssea, seus fortíssimos músculos, suas garras e suas presas senão para caçar? Ou será que o pecado original do homem fez o leão evoluir e manter as zebras num estado indefeso limitando a capacidade de correr para fugir desses predadores? Não parece fazer muito sentido.

Deus ao mandar o dilúvio, não matou apenas os homens, mas tudo o que havia na terra. Se analisarmos bem, a espécie mais numerosa na arca é justamente a de homens. Se Deus também fez aliança com animais, é porque prometeu também não destrui-los como fez com todos os outros homens.

Com respeito à presença de animais na Jerusalém Celeste em Isaías LXV, nada aqui exposto contradiz isso. Esses animais são animais glorificados, assim como tudo será glorificado porque estamos falando de uma autêntica renovação. Deus cria novos céus e nova terra para o homem glorificado e para manifestar a esse homem a Sua glória. Os animais glorificados, no entanto, não são animais que viveram aqui, mas sim novas criaturas. E que Deus zela pelos animais pela Providência, mas em favor dos homens, que devem dominá-los (cf. Gênesis I, 26 e 28).

CONCLUSÃO

O artigo escrito pelos Dimond é muito mais sentimental do que argumentativo. A sua filosofia e teologia são zero e se eu lesse sem saber quem são os autores, juraria que seria de um modernista. É claro que o assunto jamais foi definido pela Igreja e parece ser opinável, mas essa mesma opinião convém ser sustentada na reta filosofia e teologia, que aqui nesse espaço julgamos ser a de Santo Tomás.

Aqui não negamos que Deus pode sim, por sua onipotência, preservar a alma de animal individual para colocar no Céu após a sua ressurreição. No entanto, não há nenhum sinal de que Ele faz isso, seria mera conjectura. O que sabemos até aqui é que o mais provável é que eles sejam recriados e glorificados. E isso difere muito de serem ressuscitados individualmente. Os Dimond bem que poderiam usar dessa argumentação, mas a sua pobre teologia não permitiu isso, dado que não se preocuparam em fazer um estudo filosófico para uma melhor formação. Preferiram um eruditismo aos moldes da neodireita brasileira (como vemos no Olavo de Carvalho e seus seguidores).

Ademais, não posso aqui bater o martelo para um assunto opinável, mas a minha conclusão é de que se os animais brutos vão para o Céu, isso é muitíssimo improvável, devido à natureza desses e tudo o que foi exposto até aqui.

5 comentários em “SE ANIMAIS BRUTOS VÃO PARA O CÉU

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  1. Pode ser que os animais tenham um tipo de percepção e entendimento é óbvio diferente dos seres-humanos, pois os seres humanos podem conhecer a si mesmos e o ambiente externo e os animais não, mas isso não significa que os animais sejam desprovidos de percepção e entendimento pois a alma dos animais dá a vida ao corpo deles portanto há interação alma-corpo e é complexa não tão complexa como a alma humana mas há de fato complexidade. E uma salvação cósmica universal é mais lógica e coerente.

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    1. O que me consola é saber que é melhor ler um comentário desses do que ser cego.

      As almas dos animais são materiais porque eles se voltam apenas para o que é material. Diferente do homem. E a salvação “cósmica universal” é coisa de satanista.

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  2. A alma anima o corpo ou seja dá vida ao mesmo tanto dá vida a um ser humano quanto a um animal é óbvio que existem diferenças entre seres humanos e animais porém em ambos os casos se faz necessário um elemento espiritual para iniciar a vida em um corpo e manter. Em relação ao conceito de alma material isso me parece contraditório pois entendesse que a essência da alma seria matéria e neste caso a chamada “alma material” entra num corpo material e da´vida ao mesmo o que é ilógico pois dá a impressão que a matéria geraria vida o que não é o caso. A alma é espiritual portanto não é material.

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  3. Quando Deus criou o universo Ele disse que a criação era boa e de fato era logo seguindo a lógica e a razão teria que haver uma restauração de todo o Cosmo i.e. Universal para que o Sumo Bem triunfe eternamente.

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