FIDUCIA SUPPLICANS E A CONFUSÃO DO CARDEAL ROBERT SARAH

Luciano Takaki
2024

Escrevi um tempo atrás um artigo sobre as reações dos clérigos que, por uma razão ou outra, decidiram não seguir as orientações da declaração Fiducia supplicans (cf. FIDUCIA SUPPLICANS, A FALSA RESISTÊNCIA E A TENTAÇÃO IGUALITÁRIA). A conclusão é que vemos em tudo isso uma tentação igualitária. Alguns clérigos se elevam acima do papa e outros, para rejeitar a orientação do papa, buscam se orientar com leigos. Como deixei claro, tal documento não poderia ser emanado de um verdadeiro romano pontífice. A orientação dada pelo documento, ainda que com condições ali impostas, são sim escandalosas. Um padre poderia abençoar um casal pagão sem causar escândalo pois o católico não veria problemas ver um casal que esteja de acordo com a lei natural sendo abençoados. Diferente de um par de pessoas do mesmo sexo que vivem como um casal.

O CARDEAL[1] ROBERT SARAH

O guineense Robert Sarah nasceu em 15 de junho de 1945. Ele sempre se notabilizou por suas expressão serena e falas bem pautadas e lúcidas. Poderíamos dizer que ele é praticamente um ponto fora da curva na hierarquia novus ordo. Sarah, de forte influência ratzingeriana, sempre se preocupou com a moral e a liturgia, ainda que infelizmente dentro do contexto em que foi formado: dentro da religião novus ordo desde sua fundação. De posicionamento conservador e reprovador de abusos, é admirado mesmo por alguns tradicionalistas, já que não recusa rezar a missa tridentina e reconhece a sua superioridade ainda que modestamente. Sarah, em uma entrevista publicada em forma de livro com Nicolas Diat diz com efeito:

“A celebração voltada para o Oriente favorece o silêncio. Na verdade, o celebrante fica menos tentado a monopolizar a palavra. Diante do Senhor, ele é menos tentado a se tornar um professor que dá uma lição no decorrer da missa, reduzindo o altar a uma tribuna cujo eixo não seria mais a Cruz, mas o microfone. Pelo contrário, voltado para o Oriente e para Cruz, o celebrante se conscientiza de que ele é, como muitas vezes lembra o papa [sic] Francisco, um pastor que caminha à frente das ovelhas. O padre lembra que ele é um instrumento nas mãos de Cristo-Sacerdote, e que ele deve ficar em silêncio para deixar que a Palavra se manifeste uma vez que suas palavras humanas são irrelevantes diante do único Verbo Eterno. Estou convencido de que nós, sacerdotes, não empregamos o mesmo tom de voz quando celebramos voltados para o Oriente. Quão tentados estamos para fazer um espetáculo e passarmos por atores, como disse o papa [sic] Francisco! 

“Assim procedendo, toda a assembleia é como que mergulhada, seguindo o sacerdote, no mistério silencioso da Cruz. Tal forma de celebrar deveria ser implementada regularmente nas paróquias.”
(ROBERT SARAH & NICOLAS DIAT; A Força do Silêncio, Fons Sapientiae, 2017, p. 162)

O livro (dedicado a Bento XVI) foi publicado três anos antes do motu proprio Traditionis Custodes, que restringiu no mundo inteiro a reza da missa tridentina nos ambientes sob os auspícios da hierarquia novus ordo. Ingenuamente, ele continua na página seguinte:

Recuso-me a ocupar o nosso tempo, opondo uma liturgia a outra, ou o rito de são Pio V ao do beato [sic] Paulo VI. Mas trata-se de entrar no grande silêncio da liturgia; é preciso saber se deixar enriquecer por todas as formas litúrgicas latinas ou orientais que privilegiam o silêncio. Sem esse espírito contemplativo, a liturgia continuará a ser uma ocasião de enfrentamentos ideológicos em vez de ser o lugar da nossa unidade e de comunhão no Senhor. É hora de entrar nesse silêncio litúrgico, voltado para o Senhor, que o Concílio quis restaurar. [?!] O que vou dizer agora não está em conflito com a minha submissão e obediência à autoridade suprema da Igreja. Quero profunda e humildemente servir a Deus, à Igreja e ao Santo Padre com devoção, sinceridade e apego filial. Mas eis aqui a minha esperança: se Deus quiser, quando Ele quiser e como quiser, será feita a reforma da reforma na liturgia. Apesar do ranger de dentes, isso vai acontecer, pois disso depende o futuro da Igreja. Corromper a liturgia significa arruinar o nosso relacionamento com Deus e a expressão concreta da nossa fé cristã.”
(idem, p. 164)

Dando um testemunho mais particular, digo que antes de tornar-me sedevacantista, sempre tinha admirado o Sarah por sua coragem em dizer certas coisas e que é o mais bem intencionado membro da alta hierarquia novus ordo. Como sedevacantista, concedo que ele seja bem intencionado e sincero. As expressões do Sarah, que descrevi acima como “serenas”, em verdade mostram antes um homem que, podemos considerar como alguém realmente honesto, é antes ingênuo e cheio de conflitos interiores. O seu otimismo na suposta intenção do Vaticano II em querer restaurar a liturgia (no sentido de uma reforma que busque um real desenvolvimento) e numa “reforma da reforma” mostram e confirmam o que digo. Sarah reconhece (e creio que todos estejam de acordo por razões distintas) a superioridade do rito de São Pio V sobre a do falso papa Paulo VI. Sarah não percebe, no entanto, que tal superioridade não de acidente, como poderíamos dizer que o rito da Semana de São Pio X é superior ao de Pio XII. Essa superioridade é antes de natureza. O rito de São Pio V é católico e o de Paulo VI não é católico.

A CONFUSÃO DO SARAH

Em 16 de junho de 2020, Sarah renunciou o seu cargo de prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos. Exatamente um mês depois, Bergoglio (que tinha nomeado Sarah para o cargo ao qual Sarah renunciou) publicou o documento Traditionis Custodes. Esse fato é interessante porque também, no mesmo ano, foi publicado um livro do Sarah com Bento XVI.

Desde então, Sarah em diversas entrevistas e declarações têm mostrado opiniões que, de algum modo, pareciam conflitar com o que Bergoglio ensina. Sarah, no dia 26 de outubro de 2023, na apresentação do livro Credo: Compendium of the Catholic Faith (de autoria do Athanasius Schneider) disse:

“O depósito de fé continua sendo um presente divino sobrenatural. Mas hoje, a crise da Igreja entrou em uma nova fase: a crise do Magistério. Certamente, o Magistério autêntico, como uma função sobrenatural do Corpo Místico de Cristo, exercido e guiado invisivelmente pelo Espírito Santo, não pode estar em crise; a voz e a ação do Espírito Santo são constantes, e a verdade para a qual ele nos leva é firme e imutável.” (Tradução livre e disponível no site Catholic Herald).

Aqui temos uma amostra de sua confusão, Sarah fala que vivemos uma “crise do Magistério”. A causa eficiente do Magistério é o Papa. No mesmo discurso, um pouco antes, Sarah, no entanto, busca livrar Bergoglio e seus predecessores de culpa:

“Quando falamos de uma crise na Igreja, é importante salientar que a Igreja, como o Corpo Místico de Cristo, continua a ser ‘una, santa, católica e apostólica’. As fontes da teologia e o ensinamento doutrinário e moral da Igreja permanecem inalterados e imutáveis. A Igreja, como a continuação e extensão de Cristo no mundo, não está em crise. Somos nós, seus filhos pecaminosos, que estamos em crise. Ela goza da promessa da vida eterna: ‘as portas do inferno nunca prevalecerão contra ela’.”

Estamos em crise, claro, nossos pecados participam da causa, claro. No entanto, falsos ensinamentos potencializam a crise.

Já em 4 de dezembro do mesmo ano, ele mostra que, apesar das boas intenções e preocupações, anda impregnado de modernismo. No I Congresso Internacional de Liturgistas Africanos, realizado em Dakar, Sarah denunciou o empenho de “adicionar elementos africanos e asiáticos à liturgia, distorcendo assim o mistério pascal que celebramos” (grifo meu. Disponível no site Aleteia).

A doutrina do mistério pascal foi introduzida no meio litúrgico católico pelo beneditino Odo Casel. Casel era conhecido pela sua doutrina dos mistérios e entre eles está o mistério pascal, que simplesmente confunde a redenção com a própria cruz. O interessante saber é que os próprios entusiastas não sabem definir. Basta citar Roguet:

“Este mistério é tão misterioso que não pode ser definido, a menos que queiramos esvaziar esta expressão de todo o conteúdo ou, o que é o mesmo, fazê-lo dizer tudo ao mesmo tempo, criando assim um confusionismo. … Por sua desinência mesma, redenção é uma palavra abstrata (como as palavras que designam outros dogmas que definem, no entanto, realidades bem concretas; ao Deus vivo, ao Deus feito homem, chamamos respectivamente Trindade e encarnação). Mistério pascal nos remete ao mesmo tempo a um acontecimento, a um rito, a uma festa: dados concretos que, respectivamente, falam à memória, à imaginação, e colocam em movimento a atividade.”
(AIMON MARIE ROUGUET, O.P., “¿Qué es Misterio Pascual?”, p. 19[2]. Tradução livre.)

Resumindo, é uma doutrina irracional e humanista. O mistério pascal é o que está não apenas por trás da doutrina litúrgica do rito novus ordo. É a alma do novus ordo. Ela enfatiza mais a Ressurreição do que a própria Paixão por sua concepção humanista que tem horror ao sofrimento. A missa assim deixa de ser autêntico sacrifício a Deus para tornar-se um banquete de festa eliminando toda a piedade. É por conta dessa doutrina que hoje não vemos mais as cruzes. A doutrina de Casel e Rouguet é indubitavelmente herética e condenada. Lê-se, com efeito, no Magistério:

“De quanto foi exposto aparece claramente, veneráveis irmãos, quanto estejam longe do verdadeiro e genuíno conceito da liturgia escritores modernos, que, enganados por uma pretensa disciplina mística mais alta, ousam afirmar que não nos devemos concentrar no Cristo histórico mas no Cristo ‘pneumático e glorificado’; e não duvidam asseverar que na piedade dos fiéis se tenha verificado certa mudança, pela qual Cristo foi como que destronado com o apegamento de Cristo glorificado que vive e reina nos séculos dos séculos, assentado à direita do Pai, enquanto em seu lugar foi colocado o Cristo da vida terrena. Alguns, por isso, chegam ao ponto de querer tirar das Igrejas as imagens do divino Redentor que sofre na cruz.”
(S.S. PIO XII; carta encíclica Mediator Dei, 20 de novembro de 1947)

Ver alguém, conhecido por sua postura conservadora ao mesmo tempo condenar a inculturação enquanto defende uma doutrina claramente heterodoxa não é surpreendente se virmos a sua última polêmica.

A REAÇÃO DE SARAH À DECLARAÇÃO FIDUCIA SUPPLICANS

No dia de 6 de janeiro, Festa da Epifania, Sarah publica sua mensagem de Natal comentando a declaração Fiducia supplicans. Não é muito de praxe isso. Sarah sempre foi mais voltado a exortar a piedade e espiritualidade. No entanto, ele viu-se, desta vez, impelido pelas polêmicas levantadas. Sarah acusa uns de ambiguidade, mas ele mesmo não sai desta mesma ambiguidade. O tom é energético apenas aparentemente, pois quem lê com atenção, percebe um tom claramente pusilânime. Isso é evidente quando ele escreve:

“Precisamente a confusão, a falta de clareza e verdade e a divisão perturbaram e obscureceram a festa de Natal deste ano. Alguns meios de comunicação afirmam que a Igreja Católica encoraja a bênção das uniões de pessoas do mesmo sexo. Eles mentem. Eles fazem o trabalho do divisor. Alguns bispos vão na mesma direção, semeiam dúvida e escândalo nas almas dos fiéis, pretendendo abençoar as uniões homossexuais como se fossem legítimas, em conformidade com a natureza criada por Deus, como se pudessem levar à santidade e felicidade humanas. Eles apenas geram erros, escândalos, dúvidas e decepções.” (Grifos meus. Tradução livre. Disponível no site Diakonos.be.)

Sarah evita nomear tais bispos. Quando ele diz “alguns bispos”, não está fazendo mais que usar de eufemismo. O que vemos claramente é que a esmagadora maioria entendeu sim que há uma pretensão de abençoar uniões homossexuais. Mais à frente, diz o guineense, depois de usar duas citações de Bergoglio:

“Na lógica deste ensinamento do Papa Francisco, também não discutimos com o divisor. Não entramos em discussão com a declaração ‘Fiducia supplicans’, nem com os seus diferentes usos que vimos se multiplicar. Nós simplesmente respondemos com a Palavra de Deus e com o magistério e o ensino tradicional da Igreja.” (Grifo meu)

Sabemos que o Catecismo da Igreja Católica e os documentos de Wojtyla não possuem ensinamentos contrários à moral com respeito à sodomia. Sarah se utilizará disso para sustentar a sua defesa ao “magistério” pós-conciliar. No entanto, mesmo sustentados nisso, Sarah se mostrou coagido pelo documento, aquele maravilhoso parágrafo 31 da Fiducia Supplicans:

“A declaração ‘Fiducia supplicans’ escreve que a bênção é, em vez disso, destinada às pessoas que rogam que tudo o que é verdadeiro, bom e humanamente válido está presente em suas vidas e relacionamentos, seja investido, curado e elevado pela presença do Espírito Santo.’ (n. 31). Mas o que há de bom, verdadeiro e humanamente válido numa relação homossexual, definida pelas Sagradas Escrituras e pela Tradição como uma depravação grave e ‘intrinsecamente desordenada’? Como tal texto pode corresponder ao Livro da Sabedoria que afirma: ‘O raciocínio distorcido separa de Deus; mas o poder, posto à prova, desloca os tolos. A sabedoria não entra numa alma que faz o mal nem habita num corpo oprimido pelo pecado. O espírito santo, que ele ensina, foge de todo engano’ (Sab. 1,3-5). A única coisa a pedir às pessoas que vivem uma relação contra a natureza é que se convertam e cumpram a Palavra de Deus.”

E reforça: “A Palavra de Deus transmitida pela Sagrada Escritura e Tradição é, portanto, o único fundamento sólido, o único fundamento de verdade sobre o qual toda conferência episcopal deve ser capaz de construir uma pastoral de misericórdia e verdade para com as pessoas homossexuais.”

Sarah assim, seguindo a colegialidade conciliar, mostra apoio à resistência africana ao documento:

“Devo agradecer às conferências episcopais que já fizeram este trabalho de verdade, em particular as dos Camarões, Chade, Nigéria, etc., das quais concordo e faço as minhas decisões e a firme oposição à declaração ‘Fiducia supplicans’. Devemos encorajar outras conferências episcopais nacionais ou regionais e todos os bispos a fazer o mesmo. Ao fazê-lo, não nos opomos ao Papa [sic] Francisco, mas nos opomos firme e radicalmente a uma heresia que mina gravemente a Igreja, Corpo de Cristo, porque é contrária à fé católica e à Tradição.”

Como Sarah consegue se opor a um documento assinado pelo “papa” e dizer que não se opõe a ele e de quebra lembrar de um “aviso” do mesmo “papa” que assinou o documento no final da mensagem é algo que tangencia o misterioso. Mas o que é enigmático não é misterioso porque enigma é solucionável pela razão. O mistério não. Claro, Sarah, em uma entrevista ao Corriere della Sera do dia 7 de outubro de 2019, disse que “quem se opõe ao papa, está ipso facto fora da Igreja”. No entanto, se opor a um documento que tem por causa eficiente a aprovação do papa não é se opor a ele?

Sarah parece viver um solipsismo e recusa-se a ver em Bergoglio uma das causas eficientes da crise que o coage. Se Bergoglio assinou tal documento, é evidente que as orientações de tal documento são infalivelmente seguras. Isso foi provado no artigo anterior. A confusão enfrentada por Sarah talvez ajude a outros clérigos perceberem a impostura da hierarquia. No entanto, alguém da alta hierarquia, como Sarah, que consegue ao mesmo tempo defender Bergoglio e apontar uma heresia num documento que o mesmo Bergoglio assinou, será causa de muito mais confusão, pois Sarah está simplesmente sinalizando que um papa pode, supostamente, assinar um documento assim como quem estivesse sendo enganado.

E apesar de todo destaque também dado ao seu colega de cardinalato Víctor Manuel Fernández, Sarah também evitou mencioná-lo, mas tais declarações mostram que no mínimo o considera um herege, pois ele redigiu um documento herético. E isso não para por aí. Afinal, é óbvio que tal documento também gerou preocupações para o futuro.

Sarah escreve ainda:

“Ou devemos acreditar que, apesar das promessas de escuta e respeito, os seus avisos não serão tidos em conta, como vemos hoje? ‘Acautelai-vos dos homens’ (Mt 10,17), diz o Senhor Jesus, porque toda essa confusão, suscitada pela declaração ‘Fiducia supplicans’, poderia reaparecer sob outras formulações mais sutis e mais ocultas na segunda sessão do Sínodo sobre a sinodalidade, em 2024, ou nos argumentos daqueles que ajudam o Santo Padre a escrever a exortação apostólica pós-sinodal. Satanás não tentou o Senhor Jesus três vezes? Teremos de vigiar as manipulações e os projectos que alguns já estão a preparar para esta próxima sessão do Sínodo.”

Se Bergoglio for papa, o Espírito Santo o protegerá. No entanto, parece que não o protegeu quando assinou a Fiducia supplicans. Mas por mais que todas as potestades do inferno atentem contra um papa, por mais débil que ele seja, o papa sempre será protegido, como lembra Leão XIII:

“A Igreja recebeu de cima uma promessa que a garante contra toda a fragilidade humana. O que importa se o leme do barco simbólico o barco de São Pedro que simboliza a Igreja foi tomado por mãos fracas, enquanto o Divino Piloto está sobre a ponte desde que nos assiste e governa, embora invisivelmente?”
(S.S. LEÃO XIII; alocução aos cardeais, 20 de março de 1900.)

Creio que isso baste. Devemos agora refletir um pouco sobre tudo isso.

UMA REFLEXÃO E UMA CONSIDERAÇÃO FINAL

Não quero aqui julgar o caráter do Cardeal Sarah. Sarah, apesar do seu temperamento melancólico, é um homem de convicções muito firmes. Formado no contexto conciliar, absorvendo quase que exclusivamente a doutrina ensinada pelo Vaticano II e alcançando um alto cargo na hierarquia, Sarah é admiravelmente coerente com tudo. No entanto, se mostrou também confuso.

Bergoglio tem sido para muitos uma virada de chave. Enxergando a contradição ensinada por Bergoglio (não apenas por quem redigiu o documento, mas também por quem o aprovou), esses muitos têm questionado finalmente a legitimidade de Bergoglio e outros ao menos tem enxergado finalmente que estão ao menos diante de um magistério que não condiz com a tradição.

Não é difícil agora perceber a impostura. No entanto, conservadores novus ordo, principalmente os da alta hierarquia, como Sarah, podem continuar a ser uma pedra de tropeço para os que possuem disposição para mudar de opinião no momento em que perceberem a impostura dessa verdadeira gangue que ocupa os cargos que deveriam pertencer a católicos. No entanto, querendo ou não, sendo sincero ou não, tendo boas intenções ou não, Sarah infelizmente trabalha para o Inimigo ao publicar uma mensagem.

Segundo Sarah, os clérigos que apoiam as disposições da Fiducia supplicans “erros, escândalos, dúvidas e decepções”. Sarah, ao se opor de forma tão veemente ao documento e no mesmo parágrafo apoiar Bergoglio e ainda o chamar de “Santo Padre” não está fazendo a mesma coisa? Como podemos nos opor ao documento e apoiar o “papa” ao mesmo tempo se o próprio aprovou o documento?

Eis aqui os problemas dos conservadores. Conservadores como Sarah não conservam a Tradição, que era o que devemos esperar alguém da alta hierarquia da Igreja, mas somente a crise. Se Sarah chegasse às devidas conclusões, faria um grande bem. Mas enquanto ficar no seu solipsismo, na sua confusão, ele continuará sendo uma fonte de confusão maior do que os próprios progressistas, como o “Tucho” Fernández e outros que são piores que o próprio Bergoglio.

Aos que ainda esperam um Sarah como sucessor de Bergoglio, adianto duas coisas: (1) ele provavelmente não será eleito devido à fase em que a religião humanista novus ordo se encontra e (2) se ele for eleito, será pior para todos, pois o próprio movimento tradicionalista será prejudicado. Alguém como Sarah muito provavelmente anestesiaria o movimento e prenderá muitos no novus ordo, prejudicando mesmo os que poderiam tornar-se sedevacantistas. Sarah seria uma espécie de Bento XVI, mas mais conservador e, portanto, muito mais perigoso.

De Sarah não podemos esperar muito, senão mais confusão.

Notas

[1] Apesar de utilizar esse título, uso-o apenas para descrever alguém na hierarquia novus ordo. Sarah tem poder de designação para eleger um papa verdadeiro (ou material), mas não possui jurisdição de um verdadeiro cardeal ou verdadeiro bispo por infelizmente seguir a religião novus ordo em toda sua extensão.

[2] Centro de Pastoral Litúrgica de Paris, “El Misterio Pascual”, Ediciones Sígueme, Salamanca 1967, 529 pp. apud: Pe. ÁLVARO CALDERÓN, F.S.S.P.X.; “El Misterio Pascual”, Caduernos de La Reja, n. 4, pp. 9-10.

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