A IGREJA PECADORA E ECUMÊNICA DE JOSEPH RATZINGER

Luciano Takaki
2024

Faz um tempo que eu adquiri um livro do Joseph Ratzinger (o “Papa” Bento XVI), intitulado Introdução ao Cristianismo, Edições Loyola, 2015). Na época, por influência de amigos, da Associação Cultural Montfort e do canal Flos Carmeli, assim como Padre Paulo Ricardo, resolvi ter livros dele. Não quero aqui comentar tudo. Podemos ver aqui e ali que Joseph Ratzinger tem um caminhão de heresias (cf. “RATZINGER, UM PREFEITO SEM FÉ NA CONGREGAÇÃO PARA A FÉ”).

Aqui, a partir dos livros que adquiri (Iniciação ão Cristianismo e Ser cristão na era neopagã, que são três volumes, e mais uns outros), quero tecer alguns comentários sobre os erros que eu percebi lendo-os. Não tenho como esgotar tudo num simples artigo, pois deveria antes escrever um livro. Quero, no entanto, compartilhar o suficiente e o que mais me chamou atenção. Não quis também deixar de deixar o maximamente contextualizado possível pois convém também mostrar que a exposição dos erros não decorrem da má fé do autor.

Aqui quero deixar inequívoca a certeza de que Joseph Ratzinger, Bento XVI, não ensinava a doutrina católica tal como deveria. Perceberemos ao longo do artigo que os erros dos seus tempos de cardeal foram confirmados também depois da sua eleição como papa (cargo que ele jamais assumiu formalmente).

O ECUMENISMO DO RATZINGER

Ratzinger sempre foi um modernista radical e mostrou isso mesmo após a sua eleição como Bento XVI. Além de subscrever tudo o que está no Concílio Vaticano II, o alemão ensinou diversas heresias e erros com respeito ao ecumenismo. Uma amostra disso foi o seu discurso no Palácio Episcopal de Colônia, logo no seu primeiro ano de antipontificado:

“Todos sabemos que existem numerosos modelos de unidade e vós sabeis também que a Igreja católica tem por objectivo a consecução da plena unidade visível dos discípulos de Jesus Cristo segundo a definição que dela fez o Concílio Ecuménico Vaticano II em vários dos seus documentos (cf. Lumen gentium, nn. 8 e 13; Unitatis redintegratio, nn. 2 e 4, etc.). Tal unidade subsiste, segundo a nossa convicção, na Igreja católica sem possibilidade de ser perdida (cf. Unitatis redintegratio, n. 4); de facto, a Igreja não desapareceu totalmente do mundo. Contudo, esta unidade não significa aquilo a que se poderia chamar ecumenismo de volta: isto é, renegar e recusar a própria história da fé. Absolutamente não!”
(Discurso por ocasião do Encontro Ecumênico no Palácio Episcopal de Colônia, 19 de agosto de 2005. Grifos meus)

O ponto em que diz que a unidade [da Igreja] não significa um ecumenismo de volta, é emblemático. Ratzinger também mostra suas convicções nas heresias do Vaticano II. Esse ensinamento contradiz frontalmente o Magistério sagrado:

“Assim, Veneráveis Irmãos, é clara a razão pela qual esta Sé Apostólica nunca permitiu aos seus estarem presentes às reuniões de acatólicos por quanto não é lícito promover a união dos cristãos de outro modo senão promovendo o retorno dos dissidentes à única verdadeira Igreja de Cristo, dado que outrora, infelizmente, eles se apartaram dela.”
(S.S. PIO XI; carta encíclica Mortalium animos, 6 de janeiro de 1928. Grifo meu)

Mesmo o padre lefebvrista Peter R. Scott mesmo expôs os seus erros na encíclica Caritas in veritate baseados na constituição Gaudium et spes, do Vaticano II (cf. “MANIFESTO HUMANISTA”). O discurso acima confirma o seu ímpio pensamento da época de cardeal, quando aconselhou a tradutora alemã a se manter protestante. Reproduzo aqui o que foi citado antes noutro artigo (cf. “REFUTANDO O SEDEVACANTISMO”):

Foi também o cardeal Ratzinger quem, de acordo com sua própria declaração, aconselhou Sigrid Spath a permanecer protestante e não se mudar para a Igreja Católica, como ela havia considerado em um momento de crise. De acordo com o cardeal, ela poderia fazer mais por ambas as igrejas se permanecesse protestante. A carintiana permaneceu ligada à Igreja Protestante de Cristo em Roma ao longo de sua vida.”
(Radio Vatikan, “Österreich/Italien: Lutherische Papstübersetzerin verstorben”, 2 de fevereiro de 2014. Grifos meus)

Ratzinger sempre promoveu o falso ecumenismo. Para ele, não há nenhum problema em não ser católico. Ou pior, não se tornar católico pode até ser recomendável, como vimos acima. Isso atenta contra o dogma católico de que fora da Igreja Católica não há nenhuma salvação, como foi solenemente ensinado:

“A Igreja crê firmemente, confessa e anuncia que ‘nenhum dos que estão fora da Igreja católica, não só os pagãos’, mas também os judeus ou hereges e cismáticos, poderá chegar à vida eterna, mas irão para o fogo eterno ‘preparado para o diabo e para os seus anjos’ [Mt 25,41], se antes da morte não tiverem sido a ela reunidos; <ela crê> tão importante a unidade do corpo da Igreja, que só para aqueles que nela perseveram os sacramentos da Igreja trazem a salvação e os jejuns, as outras obras de piedade e os exercícios da milícia cristã podem obter o prêmio eterno. ‘Nenhum, por mais esmolas que tenha dado, e mesmo que tenha derramado o sangue pelo nome de Cristo, poderá ser salvo se não permanecer no seio e na unidade da Igreja Católica’.”
(S.S. EUGÊNIO IV, Concílio de Florença, bula Cantate Domino, 4 de fevereiro de 1442, Denzinger-Hünermann 1351. Grifos).

Também contradiz o que Pio IX ensinou:

“Ora, quem cuidadosamente considera e reflete sobre a condição em que se encontram as diversas e entre si discordantes sociedades religiosas separadas da Igreja católica, … deverá persuadir-se bem facilmente de que dentre estas sociedades nenhuma em particular, nem todas juntamente unidas, de algum modo constitui e é aquela una e católica Igreja que o Cristo Senhor edificou, constituiu e quis que existisse, e que nem mesmo podem ser chamadas, de modo algum, membro ou parte da mesma Igreja, do momento em que estão visivelmente separadas da unidade católica.”
(carta apostólica Iam vos omnes, 13 de setembro de 1868, Denzinger-Hünermann 2998. Grifos)

Ainda no Syllabus lemos no erro proscrito nº 17: “Pelo menos deve-se esperar bem da salvação eterna daqueles todos que não vivem na verdadeira Igreja de Cristo”. E no erro proscrito nº 18: “O protestantismo não é senão outra forma da verdadeira religião cristã, na qual se pode agradar a Deus do mesmo modo que na Igreja Católica”. Ratzinger negava explicitamente, como vemos tais ensinamentos.

Tanto é verdade que Ratzinger realmente negava tudo isso e ainda cria que os hereges e cismáticos não precisam se converter porque de alguma forma fazem parte da Igreja que ele mesmo também cria que Roger Schutz foi ao Céu mesmo não sendo católico. Ele disse no já citado discurso no Palácio Episcopal de Colônia:

“Desejo também eu, neste contexto, recordar o grande pioneiro da unidade, Padre (sic) Roger Schutz, que foi assassinado de maneira tão trágica. Conhecia-o pessoalmente desde há muito tempo, e mantinha com ele uma relação pessoal de amizade. Visitou-me com frequência e, como já disse em Roma, no dia da sua morte recebi uma carta sua que me permaneceu no coração porque, nela, realçava a sua adesão ao meu caminho e anunciava desejar visitar-me. Agora visita-nos do alto e fala-nos. Penso que deveríamos ouvi-lo, ouvir a partir de dentro o seu ecumenismo vivido espiritualmente e deixar-nos conduzir pelo seu testemunho de um ecumenismo interiorizado e espiritualizado.” (Grifos meus)

Alguns ingênuos dizem que o Roger Schutz teria se convertido, mas o seu irmão Alois Schutz nega:

“Não. O irmão Roger nunca se ‘converteu’ formalmente ao catolicismo. Se tivesse, teria dito isso; pois jamais escondeu nada sobre o caminho que estava seguindo. Durante todo o seu livro, muitas vezes escrito como um diário, ele explicou durante a jornada o que estava descobrindo e o que estava vivendo.”
(Entrevista ao jornal La Croix, 6 de setembro de 2006, disponível no site da Comunidade Taizé. Grifo meu)

O mesmo Roger Schutz recebeu a comunhão das mãos de Ratzinger (e na mão) na missa de exéquias de João Paulo II, confirmando a intercomunhão permitida no Código de Direito Canônico de 1983:

“Se existir perigo de morte ou, a juízo do Bispo diocesano ou da Conferência episcopal, urgir outra necessidade grave, os ministros católicos administram licitamente os mesmos sacramentos também aos outros cristãos que não estão em plena comunhão com a Igreja católica, que não possam recorrer a um ministro da sua comunidade e o peçam espontaneamente, contanto que manifestem a fé católica acerca dos mesmos sacramentos e estejam devidamente dispostos.”
(Cân. 844 § 4. Grifos meus)

Fica aí a questão sobre qual seria a “necessidade grave” do Roger Schutz e se ele realmente tinha a fé católica acerca do sacramento e se estava realmente disposto. Ratzinger entendia que o próprio sacramento da Eucaristia representava um problema para o seu ecumenismo. Vejamos:

“O Concílio de Trento conclui as suas observações acerca do Corpus Christi com algo que ofende aos nossos ouvidos ecumênicos e que, certamente, contribuiu não pouco para desacreditar esta festa na opinião dos nossos irmãos Protestantes. No entanto, se retirarmos da sua formulação o tom apaixonado do século XVI, ficaremos surpreendidos com algo positivo e grandioso. Escutemos, primeiro, simplesmente o que diz [o Concílio de] Trento. O Corpus Christi deve manifestar o triunfo da verdade de tal modo que, ‘diante de tal magnificência e alegria por parte de toda a Igreja, os inimigos da verdade se desvanecerão ou, acometidos de vergonha, chegarão ao esclarecimento’. Se eliminarmos o elemento polêmico, o que nos resta é o seguinte: a força em virtude da qual a verdade prevalece não pode ser outra senão a sua própria alegria. A unidade não se faz pela polêmica nem pela argumentação acadêmica, mas pela irradiação da alegria Pascal; é ela que conduz ao núcleo da profissão cristã, a saber: Jesus ressuscitou. Isto conduz também ao núcleo da nossa humanidade, que anseia por esta alegria com todas as suas forças. É, portanto, esta alegria pascal que é fundamental a toda a atividade ecumênica e missionária; é aqui que os cristãos devem competir entre si; é isto que devem mostrar ao mundo. Também este é o objetivo do Corpus Christi. Em seu sentido mais profundo, o que a nossa máxima quer dizer (quantum potes tantum aude) é o seguinte: deixai que a beleza brilhe em toda a sua fulgurância quando vierdes exprimir esta alegria dentre todas as alegrias. O amor é mais forte do que a morte; em Jesus Cristo, Deus está entre nós.”
(JOSEPH RATZINGER; The Feast of Faith, Ignatius Press, 1986, pp. 130-1).

Como podemos ver, Ratzinger não hesita em criticar o próprio Concílio de Trento em favor do seu nefasto ecumenismo. Conforme se busca colocar os hereges e cismáticos no mesmo nível da Igreja Católica, inevitavelmente se rebaixa a mesma Igreja. E aqui veremos o problema.

A IGREJA PECADORA DE JOSEPH RATZINGER E VON BALTHASAR

Vejamos a blasfema citação do Ratzinger:

Se formos bem sinceros deveremos admitir que gostaríamos de afirmar que a Igreja não é nem santa nem católica. O próprio Concílio Vaticano Il teve a coragem de já não falar apenas da Igreja santa, mas também da Igreja pecadora; se há uma crítica a fazer ao concílio, só pode ser a de ter sido até muito tímido em sua afirmação, tendo em vista a intensidade da impressão de pecaminosidade da Igreja na consciência de todos nós.”
(JOSEPH RATZINGER; Introdução ao Cristianismo, p. 250).

E ainda, na página seguinte lemos: “É santidade que brilha como a santidade de Cristo em meio ao pecado da Igreja”. E Ratzinger disse ainda: “Confesso que, para mim, essa santidade imperfeita da Igreja é um consolo infinito” (p. 253).

Ratzinger tenta justificar numa nota de rodapé essa eclesiologia baseando-se num ensaio intitulado Casta Meretrix, do seu compatriota Urs von Balthasar. No entanto, a ênfase que Balthasar dá nisso é algo realmente assustador, pois o ensaio todo parece querer enfatizar mais a Igreja “pecadora” do que a “santa”. Mas é necessário fazer as devidas distinções. Vejamos o que o Catecismo da Doutrina Cristã, também chamado Catecismo Maior de São Pio X:

“158. Por que dizeis que a verdadeira Igreja é Santa?
“Chamo a verdadeira Igreja de Santa porque Jesus Cristo, a sua cabeça invisível, é Santo, santos são muitos dos seus membros, santas são a sua Fé e a sua Lei, santos os seus Sacramentos, porque fora d’Ela não há nem pode haver verdadeira santidade.”
(Catecismo Maior de São Pio X, I, cap. X)

O Catecismo do Concílio de Trento também atesta:

“No entanto, não é de estranhar que a Igreja tenha o nome de santa, apesar de haver nela muitos pecadores. Pois são chamados santos os fiéis que se fizeram povo de Deus, e que pela fé e a recepção do Batismo se consagraram a Cristo, embora sejam fracos em muitos pontos, e não cumpram o que prometeram.
“De modo análogo, os que fazem profissão de uma arte, conservam o nome de artistas, ainda que não sigam os cânones de seu ofício.”
(I, cap. X, III. “Santa”, 15)

Assim, cabe uma reflexão sobre a “Igreja pecadora”. De fato, a Igreja militante possui sim muitos pecadores, pois somos a plantação com trigo e joio misturados. A figura usada pelos patrísticos como podemos ler nas citações do ensaio do Urs von Balthasar (não digo aqui segundo o pensamento do alemão, mas buscando interpretar segundo os padres citados) de que a Igreja seria como as meretrizes mencionadas (a Raab, a esposa de Oséias e a Santa Maria Madalena), deve ser entendida mais com respeito ao conjunto dos gentios chamados a fazer parte dela. Não porque a Igreja peca como as meretrizes, pois isso seria blasfemo. A Igreja não peca e nem pode ser o motor de reprovação. Reproduzamos parte de uma das citações, a de Santo Agostinho, do ensaio de Balthasar:

“As duas mulheres são a sinagoga e a Igreja… Ambas eram prostitutas, pois o Apóstolo diz que judeus e gregos estão todos igualmente em um estado de pecado, pois qualquer alma que se afasta da verdade eterna para se entregar à sujeira terrena vai se afastar de Deus… Mas uma mãe acordou e percebeu, não por seus próprios méritos, pois ela era uma prostituta, mas pela graça de Deus, que um filho lhe havia sido dado — a obra da fé evangélica… No entanto, ambas eram prostitutas, porque todas haviam sido convertidas da luxúria mundana à graça de Deus. As únicas coisas que ela poderia realmente confessar serem suas eram seus pecados. O dom da fecundidade vem de Deus. [Serm. 10; PL 38, 92-95]”
(Apud, HANS URS VON BALTHASAR; “Casta meretrix”)

Se analisarmos bem, não trata-se da Igreja em ato, mas em potência. Uma meretriz conversa deixa de ser meretriz, pois lê-se: “ambas eram” e não que são. Isso podemos ler mais enfaticamente na citação seguinte, de Rábano Mauro:

“Da mesma forma, a prostituta no Evangelho (Lucas 7), que lavou os pés de Jesus com suas lágrimas e os secou com o cabelo, a mulher cujo pecado foi perdoado, representa claramente a Igreja reunida dos gentios. Falei abertamente sobre isso, para que não pareça incongruente chamar as duas prostitutas, uma das quais, pelo julgamento de Salomão, recebeu a custódia do filho. O ouvinte atento perguntará como uma prostituta pode representar a Igreja, que não tem mancha nem rugas. Mas não estamos dizendo que a Igreja permaneceu uma prostituta, mas simplesmente que ela costumava ser.”
(Idem)

Percebamos que a linguagem é sempre retórica. Não são propriamente tratados teológicos, mas sermões. Os patrísticos não eram precisos e usam a linguagem retórica para enfatizar a conversão dos gentios e não da Igreja em si. Assim também podemos compreender na citação de Santo Tomás de Aquino usada no ensaio do Von Balthasar:

“… deve-se dizer que ser a Igreja ‘gloriosa, não tendo mancha nem ruga’, é o fim último ao qual somos conduzidos pela paixão de Cristo. Isso acontecerá no estado da pátria, não no estado do caminho, no qual, ‘se dissermos: não temos pecado, enganamos a nós mesmos’, como está na primeira Carta de João. Há, porém, alguns pecados, a saber, os mortais, dos quais carecem os membros de Cristo pela união atual de caridade. Os que se submetem a esses pecados não são membros de Cristo em ato, mas em po­tência, a não ser talvez imperfeitamente, pela fé informe, que une a Cristo sob certo aspecto e não de modo absoluto, de modo que o homem alcance por Cristo a vida da graça, como se diz na Carta de Tiago: ‘A fé sem obras está morta’. No entanto, esses recebem de Cristo algum ato de vida, ou seja, crer; assim como o membro parali­sado é, de alguma maneira, movido pelo homem.”
(S.Th. III, q. 8, a. 3, ad. 2. Grifos meus)

Ou seja, as manchas são antes do homem que da Igreja. No entanto, muitos ainda insistem em também atribuir à Igreja, praticamente como se ela mesma fosse a causa eficiente de tais pecados. O próprio Von Balthasar ainda escreve:

“Um lugar agora foi encontrado onde uma imaculação relativa depende de uma imaculada e beleza absolutas; isso é particularmente verdadeiro quando, através da teologia franciscana medieval tardia, a Imaculada Conceição se torna generalizada. A partir deste ponto, a eclesiologia pré-augustiniana cristã primitiva pode ser reconciliada com a de Agostinho sem compromisso. Temos três motivos: uma noiva que até agora é absolutamente santa (existencialmente e não apenas institucionalmente); uma Igreja que está manchada tanto agora quanto até o fim dos tempos; uma noiva que é escatologicamente pura. Esses três podem existir simultaneamente e de forma interdependente. De fato, eles são mutuamente e frutiferamente complementares.”
(HANS URS VON BALTHASAR; “Casta Meretrix”. Grifo meu)

Von Balthasar, que espera um inferno vazio, mostra que influenciará Ratzinger nesse âmbito. Apesar dos discursos dos padres não terem tanta precisão e se aplicar muito mais aos membros da Igreja do que à Igreja, fez de tudo para justificar uma descrição de uma Igreja manchada, pecadora, fornicadora, uma Igreja adúltera e ao mesmo tempo meretriz que se une a vários homens gentios. Ratzinger pegará esse discurso para também diminuir a Igreja para os seus propósitos ecumênicos. Lembrando que nenhum patrístico ensinou que há salvação fora da Igreja Católica. Ratzinger negará isso usando não apenas o falso ensinamento sobre ecumenismo do Vaticano II como também a própria questão da “Igreja pecadora”, já ensinada pelo outro alemão citado.

Agora demonstremos que não é nesse sentido que Ratzinger diz, pois lemos logo em seguida no seu livro:

Além da santidade da Igreja parece-nos questionável também a sua catolicidade. A túnica de uma só peça do Senhor foi rasgada em pedaços pelos grupos contraentes, a Igreja una foi dividida em muitas igrejas que afirmam todas com mais ou menos intensidade ser a única autêntica. Dessa maneira, a Igreja tornou-se hoje para muitos o obstáculo principal para a fé. Eles só conseguem enxergar os esforços humanos em demanda do poder e as táticas mesquinhas daqueles que, afirmando ser os administradores oficiais do cristianismo, mais parecem atrapalhar a manifestação do verdadeiro espírito cristão.”
(Introdução ao Cristianismo, p. 250. Grifos meus)

Ratzinger disse que “parece-nos questionável também a sua catolicidade” e que “a Igreja foi dividida em muitas igrejas”. Depois ainda:

“Os elementos fundamentais da Igreja são o perdão, a conversão, a penitência, a comunhão eucarística e, a partir dela, a pluralidade e a unidade: a pluralidade de Igrejas locais que só podem ser consideradas Igreja na medida em que se inserem no organismo da Igreja una. O conteúdo da unidade é formado sobretudo pela palavra e pelo sacramento: a Igreja é una pela palavra una e pelo pão uno. A estrutura episcopal aparece no fundo como meio dessa unidade. Ela não tem a sua razão de ser em si mesma, pois faz parte da ordem dos meios cuja função pode ser descrita pela preposição final ‘para’: ela está a serviço da realização da unidade das Igrejas locais em si e entre si. Um próximo estágio na ordem dos meios poderia ser descrito, então, pelo serviço do bispo de Roma.”
(Idem, pp. 254-255. Grifos meus)

Novamente recorramos ao Catecismo do Concílio de Trento:

“O primeiro caráter que se propõe no Símbolo dos Padres, é a unidade. ‘Uma só é a minha pomba, diz a Escritura, uma só é a minha formosa’. [Ct 6, 8]
“Essa enorme multidão de homens dispersos em todas as direções é uma e una, em virtude das mesmas razões que São Paulo alegava aos Efésios para provar que há ‘um só Senhor, uma só fé, um só Batismo’, [Ef 4, 5] Nela há também um só que dirige e governa. Invisivelmente, é Cristo a quem o Eterno Pai constituiu ‘cabeça de toda a Igreja, que é Seu corpo’ [Ef 1, 22-23]; visivelmente, porém, é aquele que ocupa a cátedra de Roma, como legítimo sucessor de São Pedro, o Príncipe dos Apóstolos.”
(I, cap. X, II. “Una”, 11. Grifo meu)

Ratzinger coloca o papa somente no final — e dando uma importância secundária — como forma da unidade da Igreja e coloca nos sacramentos, especialmente no da Eucaristia (sendo que mesmo os cismáticos orientais têm a Eucaristia válida). Leiamos o Catecismo Maior de São Pio X:

“155. Por que dizeis que a Igreja é Una?
“Digo que a verdadeira Igreja é Una porque os seus filhos, de qualquer tempo ou lugar, estão unidos entre si na mesma fé, no mesmo culto, na mesma lei e na participação dos mesmos Sacramentos, sob o mesmo chefe visível, o Romano Pontífice.”
(loc. cit.)

Assim segue a definição de Igreja já indicada na questão 149: “A Igreja Católica é a sociedade ou reunião de todas as pessoas batizadas que, vivendo na terra, professam a mesma té e a mesma lei de Cristo, participam dos mesmos Sacramentos, e obedecem aos legítimos Pastores, principalmente ao Romano Pontífice”. Tal definição coincide com a definição consagrada pelo Doutor da Igreja São Roberto Belarmino:

A nossa afirmação, porém, é que a Igreja é apenas uma, não duas, e que ela, única e verdadeira, é uma assembléia de homens unida pela profissão da mesma fé cristã e pela comunhão dos mesmos sacramentos, sob o regime de pastores legítimos, e sobretudo do único vigário de Cristo na terra, o romano pontífice. Dessa definição pode-se facilmente aferir quais homens pertençam à Igreja, e quais, no entanto, não lhe pertençam. Com efeito, essa definição tem três partes. A profissão da verdadeira fé, a comunhão dos sacramentos e a sujeição ao legítimo pastor, o romano pontífice. Em razão da primeira parte ficam excluídos todos os infiéis, tanto os que nunca estiveram na Igreja, como os judeus, turcos [maometanos] e pagãos; quanto aos que estiveram e se afastaram, como os hereges e os apóstatas. Em razão da segunda parte, ficam excluídos os catecúmenos e os excomungados, porque estes não foram admitidos à comunhão dos sacramentos, e aqueles foram afastados. Em razão da terceira parte, ficam excluídos os cismáticos, que têm a fé e os sacramentos, mas que não se sujeitam ao mesmo pastor, e por isso confessam a fé exteriormente, e recebem os sacramentos. Incluem-se, porém, todos os outros homens, ainda que sejam réprobos, criminosos e ímpios.”
(De Ecclesiae, lib. III, cap. II. Grifos meus. Cf. “A DEFINIÇÃO DE IGREJA”)

Comparemos com o que Ratzinger disse acima: “Um próximo estágio na ordem dos meios poderia ser descrito, então, pelo serviço do bispo de Roma”. Repare a diminuição do papel do papa. E isso não é à toa. Citemos aqui longamente um discurso dele:

“Neste momento alguma coisa tinha mudado, como se vê, e necessariamente nasceu uma historiografia católica contraposta àquela, para mostrar que, apesar dos pecados inegáveis que eram demasiadamente evidentes, ainda assim a Igreja Católica permanece a Igreja de Cristo, e sempre a Igreja dos santos e a Igreja santa. Neste momento de contraposições entre duas historiografias, no qual a católica via-se obrigada à apologética para mostrar que permanecia a santidade da Igreja, naturalmente atenua-se a voz da confissão dos pecados da Igreja. A situação piora com as acusações do iluminismo, pensemos em Voltaire (Ecrasez l’Infame) e com o crescimento destas acusações até Nietzsche, segundo o qual a Igreja não aparece somente como a anti-Igreja, mas como o grande mal da humanidade, que traz em si toda a culpa, que destrói e impede o progresso; e os verdadeiros pecados da Igreja são aumentados em verdadeiras e próprias mitologias. Assim, toda a história das Cruzadas, da Inquisição, da bruxaria, conforma-se em uma única visão da absoluta negatividade da Igreja, e por isso a Igreja sente-se cada vez mais obrigada a mostrar que, apesar dos muitos elementos negativos como aqueles, ela é sempre o instrumento da salvação e do bem e não da destruição da humanidade. Hoje estamos numa nova situação, na qual, com maior liberdade, a Igreja pode voltar à confissão dos pecados e assim também convidar os outros à confissão própria e, por conseguinte, à uma profunda reconciliação. Vimos as grandes destruições geradas pelos ateísmos, que criaram uma nova situação de anti-humanismo e de destruição do humano. Nesta situação de uma nova pergunta: ‘onde estamos?, o que nos salva?’, parece-me que podemos, com nova humildade, com nova franqueza e com nova confiança, confessar os pecados e também reconhecer a grandeza do dom do Senhor.”
(Intervenção na apresentação do documento Memória e reconciliação. A Igreja e as culpas do passado, da Comissão Teológica Internacional, 7 de março de 2000. Apud, JOSEPH RATZINGER; Ser cristão na era neopagã, vol. II, Ecclesiae, 2015, pp. 33-34. Itálico original e negritos meus).

Ratzinger reconhece ainda, num debate no Centro de Cultura Evangélica, em Roma, 29 de janeiro de 1993, com o “teólogo” valdense Paolo Ricca que “o Papado é sem dúvidas o sintoma mais patente dos nossos problemas” (Ser cristão na era neopagã, vol. II, p. 127). E ainda diz:

“A finalidade última é, obviamente, a unidade das igrejas na única Igreja, mas esta finalidade última não implica uniformidade. Creio que a Igreja antiga nos oferece um pouco um modelo. A Igreja antiga era unida nos três elementos fundamentais: Sagrada Escritura, regula fidei e estrutura sacramental da Igreja. No restante, era uma igreja muito pluriforme, como sabemos. Havia as igrejas da área semítica, a igreja copta no Egito, as Igrejas gregas do império bizantino, as demais igrejas gregas, as igrejas latinas, com grande diversidade entre a igreja da Irlanda e a de Roma, por exemplo. Em outras palavras, encontramos uma Igreja unida no essencial mas caracterizada por uma grande pluriformidade. Naturalmente, não podemos restabelecer as formas da Igreja antiga, mas podemos nos inspirar nelas para ver como seria possível harmonizar unidade e pluriformidade. Portanto, este é o objetivo, a finalidade última do trabalho ecumênico: chegar à unidade real da Igreja, que implica pluriformidade em formas que ainda não podemos definir. Mas temos que levar em conta também que essa unidade, esse objetivo último do ecumenismo, não é uma coisa que nós podemos simplesmente fazer. Nós temos que nos empenhar com todas as nossas forças, mas devemos também reconhecer que, em última análise, essa unidade é um dom de Deus, porque a Igreja é dele, não nossa.”
(Idem, p. 128. Itálico original e negritos meus).

Alguém poderia objetar que Ratzinger disse isso como cardeal e não como papa e que cardeais não gozam de infalibilidade como o papa. No entanto, isso concorda perfeitamente com o dito no discurso no Palácio Episcopal de Colônia, quando o mesmo diz que “esta unidade não significa aquilo a que se poderia chamar ecumenismo de volta”. Isto é, nada de conversões! Vejamos ainda: 

“Além disso, [o teólogo ‘ortodoxo’ Meyendorff] afirma que os três níveis são sempre necessários e devem relacionar-se reciprocamente para que a Igreja se realize na sua plenitude. O primeiro nível, a igreja local é a igreja real na celebração da Eucaristia. A Igreja deve também implicar e realizar-se na dimensão regional, ou seja, cultural, nacional e social. Por fim, a Igreja deve realizar-se também na dimensão universal. O regionalismo, diz o teólogo ortodoxo, deve sempre reconciliar-se também com o universalismo. Só assim estamos na Igreja que o Senhor quis e todos juntos devemos descobrir como essas três dimensões podem se reconciliar.”
(Idem, p. 132)

Ratzinger simplesmente está concordando com um cismático oriental e praticamente ensinando a colegialidade não apenas condenada no Vaticano II como também a condenada na Constituição Auctorem Fidei:

“A doutrina do Sínodo com a qual professa ‘estar persuadido que o bispo recebeu de Cristo todos os poderes necessários para o bom governo de sua diocese’;
como se para o bom governo de cada diocese não fossem necessárias as disposições superiores que dizem respeito à fé, à moral e à disciplina geral, cujo direito está, para toda a Igreja, nas mãos dos Sumos Pontífices e dos Concílios gerais:
“[Condenada como] cismática, no mínimo errônea.”
(S.S. PIO VI; constituição Auctorem fidei, n. 6, Denzinger-Hünermann 2606. Grifos meus)

A Igreja depende do poder supremo do primaz, do romano pontífice para se ordenar perfeitamente à unidade. É a ele que todos os bispos devem estar submetidos, coisa que os cismáticos não creem e caem nessa condenação. No entanto, é assim como Ratzinger pensava.

CONCLUSÃO

Como vemos, Ratzinger fazia de tudo para ensinar de um modo que diminuísse a Igreja e o próprio papado mesmo. Ratzinger foi antes protestante, tal como Bergoglio também o é. Ele mesmo disse em um debate em abril de 1994:

“[Pergunta:] O senhor apoiou publicamente a tese de Culmann, ou seja, a possibilidade de uma unidade das Igrejas através da diversidade, criticando outras hipóteses, como a de Rahner-Fries, que propõem um caminho rumo à unidade real. O senhor ainda pensa assim?
“J. R. [Joseph Ratzinger] — Estamos todos de acordo que a finalidade última do ecumenismo é a unidade verdadeira das Igrejas em uma única Igreja, conservando toda a riqueza da pluriformidade, mas unida no essencial, ou seja, a fé e os sacramentos. [Não devemos esquecer do ensinado no discurso já citado acima porque, em tese, ele discursou como “papa” e aqui ele fala como “cardeal”.]
“Mas devemos também estar conscientes de que a Igreja é de Deus e não é feita por nós. A unidade também deve ser preparada por nós, mas só pode se realizar com o dom de Deus; não está, como vemos todos os dias, totalmente nas nossas mãos. Por isso, devemos fazer todo o possível para chegar ao ponto de sermos dignos do dom de Deus. Mas são necessárias metas intermediárias, operacionais hoje, para não nos deixarmos dominar pelo cansaço. Nesse sentido, aceito a proposta de Culmann, que é considerar o reconhecimento das unidades não-completas existentes na não-unidade completa como solução provisória, e aumentar essas formas de unidade.
“Embora eu reconheça o valor das reflexões de Rahner e de Fries, penso que o modelo que eles propõem é muito simplificado e viveria de muitas ficções. Um grande teólogo luterano alemão (Eilert Herms) mostrou, de modo que me parece bastante convincente, que em certo sentido podemos dizer que o modelo de Rahner-Fries se baseia na renúncia a conhecer a verdade, porque isso é muito difícil em um mundo pluralista e obscuro. Isso não seria um fundamento adequado para uma verdadeira unidade das Igrejas. Por isso, parece-me importante não perder de vista a finalidade última, mas ser também realista e contentar-se, por assim dizer, por enquanto, com o crescimento de unidades incompletas, mas reais.”
(Ser cristão na era neopagã, vol. III, Ecclesiae, 2016, pp. 126-127. Itálico original. Negritos e acréscimos entre colchetes meus)

Ratzinger diminui a Igreja e o papado e ainda dá razão aos “teólogos” luteranos Oscar Cullmann e Eilert Herms. Assim como já citado acima, também deu razão a um “ortodoxo”.

Ratzinger de forma alguma pode ser visto como um católico por além de tudo isso, também nega absolutamente a necessidade de pertencer à Igreja Católica para salvar-se. Ele abraça todos esses erros para promover o seu ecumenismo. Mesmo que isso signifique blasfemar contra a Igreja chamando-a de pecadora para se aproximar de hereges sem a intenção de convertê-los.

Há ainda outros erros como podemos ver em inúmeros lugares aqui no site e outros apostolados tradicionais, mas tais erros são o suficiente para mostrar que Ratzinger jamais gozou de nenhuma forma de autoridade na Igreja. Ele chega a dizer sobre os judeus o seguinte no seu livro-entrevista:

“Naturalmente, o Antigo Testamento também pode ser lido à parte de Cristo, o dedo que o aponta para Cristo não é tão claro. E se os judeus não conseguem vê-la consumada nele, não é apenas por causa da malignidade, mas também pela obscuridade das palavras e pela relação de tensão entre a figura de Jesus e as ditas palavras. Jesus dá-lhes um significado novo e graças a ele todos adquirem um contexto, uma direção e um significado.
Há boas razões, portanto, para negar o Antigo Testamento e dizer: ‘Não, não foi isso que ele disse’. E também boas razões para reivindicá-lo – tal é a disputa existente entre judeus e cristãos. Mas não só aqui. Grande parte da exegese puramente histórico-crítica não vê no Antigo Testamento esse caráter de caminho, de referência, e considera a interpretação cristã inadequada ao sentido histórico primitivo, ou pelo menos acredita que o supera em muito.”
(JOSEPH RATZINGER; Dios y el mundo, Círculo de Lectores, 2005, p. 197. Grifos meus)

Ou seja, o ecumenismo de Ratzinger se estende até mesmo às raias do mal chamado diálogo interreligioso. Não à toa que o próprio sacrílego Encontro de Assis iniciado pelo seu antecessor Karol Wojtyla foi repetido por Ratzinger. Ratzinger para agradar os judeus põe em cheque até mesmo as palavras de Cristo:

Examinais as Escrituras, visto que julgais ter nelas a vida eterna: elas são as que dão testemunho de mim. E não quereis vir a mim, para terdes vida. A glória, não a recebo dos homens, mas sei que não tendes em vós o amor de Deus. Vim em nome de meu Pai, e vós não me recebeis; se vier outro em seu próprio nome, recebê-lo-eis. Como podeis crer, vós que recebeis a glória uns dos outros, e não buscais a glória que só de Deus vem? Não julgueis que sou eu que vos hei-de acusar diante do Pai; Moisés, em quem vós confiais, é que vos acusará. Se crêsseis em Moisés, certamente creríeis também em mim, porque ele escreveu de mim. Porém, se não dais crédito aos seus escritos, como haveis de dar crédito às minhas palavras?
(João V, 39-47. Grifos meus)

Como que os judeus poderiam ter boas razões para negar a Cristo como Messias pelas Escrituras se o próprio Deus encarnado disse exatamente o contrário?

Parece claro que ele apenas continuou o trabalho iniciado no Vaticano II e continuado a passos largos por Bergoglio. Infelizmente Ratzinger enganou não poucos por liberar a missa tridentina e seu aparente zelo litúrgico (que não é tão aparente assim). Esses enganados acabaram também enganando outros e fez muitos tradicionalistas retornarem ao novus ordo porque os mesmos criam que ele era papa e não prestaram atenção no seu anti-magistério.

Aqui não faço mais que relembrar o que já foi dito e não custa repetir com um artigo próprio só meu. Se engana quem quer e o alerta foi dado. Mais uma vez.

2 comentários em “A IGREJA PECADORA E ECUMÊNICA DE JOSEPH RATZINGER

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  1. Ótimo texto, Takaki. Enquanto von Balthasar denomina a Igreja como “casta meretrix”, é possível verificar que, na verdade, Ratzinger e von Balthasar se prostituíram, pois repousaram seus corações em ímpias doutrinas. Tais doutrinas são um veneno feito para os católicos incautos e para corromper a verdadeira fé.

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