Pe. Hervé Belmont | 2003 (?)
Caso se procure um parentesco existente entre os erros graves que foram correntes, e os que são correntes, entre os homens, erros contrários à lei natural ou à doutrina católica, constata-se que, para numerosos dentre eles, esse parentesco existe. Constata-se que esses erros têm em comum fontes, ressurgências, características, odores, redes e meios de propagação. Será isso assim tão espantoso? Os erros humanos fundamentais não seriam eco da usurpação do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal? Não seriam realização análoga dessa tentativa de conquista: a conquista de uma ciência anterior à distinção do bem e do mal, de uma ciência fonte e senhora dessa distinção, de uma ciência que se libertasse da ordem criada por Deus? Não é isso a gnose, primeiro analogante de todos os erros humanos? Afirmar essa analogia entre os erros que evocamos não é, de modo algum, afirmar uma identidade: na analogia, a razão comum é essencialmente diferenciada (simpliciter diversa, secundum quid una). Esses erros mantêm sua natureza própria e seu conteúdo distintivo; os remédios a serem dados a cada um deles são específicos; as refutações que se lhes devem opor são diferentes. Caso se deseje prosseguir a análise, pode-se observar, com o Rev. Pe. Calmel [1], que uma das razões da sedução do islão é que satisfaz à necessidade natural de adoração, sem exigir a conversão do coração. Eis aí o que caracteriza bem a gnose (e os múltiplos erros que entram em sua unidade analógica): é uma ciência que responde (pretende responder) às interrogações fundamentais do homem, mas uma ciência sem submissão à ordem criada, uma ciência sem conversão, uma ciência que divinize, velho orgulho da revolta do paraíso terrestre. A gnose é a vontade de encontrar uma ciência fundamental que eleve até acima da condição comum, ao mesmo tempo que dispensando da conversão do coração: uma ciência que lisonjeia o apetite de divindade e que acolhe a perversão do coração.
Abbé Hervé Belmont
[1] “O grande interesse da carta do Padre de Foucauld a Henri de Castries data da de 15 de julho de 1901 é mostrar que a adoração dos maometanos é, em si mesma (pois nem nos passa pela cabeça prejulgar dos casos individuais), muito mais ritualística que mística, não exigindo a conversão da alma, a purificação interior. Não é, de si, a adoração em espírito e verdade que o Salvador revelou à Samaritana. Uma das razões do sucesso do Islão é a de responder às exigências religiosas do homem, à sua tendência a adorar ao Deus Único e Soberano, e, não obstante, não tocar nas paixões desordenadas”. (Itinéraires, n.° 55, pág. 55).
Tradução por Felipe Coelho.
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